sábado, 19 de julho de 2014

Avaliação de Professores leva a boicotes e protestos...

Para ler em: 
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/professores-avaliacao-leva-boicotes-protestos

Professores. Avaliação leva a boicotes e protestos

Ministério de Nuno Crato marcou a prova para terça-feira, surpreendendo directores, docentes e sindicalistas
O espaço de manobra é curto, mas associações, sindicatos e movimentos de professores prometem usar todos os trunfos para impedir a prova de avaliação de conhecimentos e capacidades (PACC) que ontem o Ministério da Educação marcou para esta terça-feira: boicotes, protestos frente às escolas ou mais providências cautelares na Justiça.
O braço-de-ferro entre professores e o ministro Nuno Crato está de volta. A Fenprof já convocou para terça-feira reuniões sindicais nas cercas de 80 escolas onde as provas vão decorrer e assegura que vai disparar por todo o país providências cautelares para tentar impedir outra vez a avaliação dos docentes contratados.
O Ministério da Educação conseguiu surpreender todos ao marcar a prova com três dias úteis de antecedência. O prazo é curto, impedindo os sindicatos de convocarem uma greve dos docentes do quadro à vigilância da prova. A estratégia, aliás, já foi usada em Dezembro, quando se realizou a primeira PACC. Mas, tal como no ano passado, o movimento Boicote & Cerco está convencido de que vai ter tempo de sobra para organizar uma "uma luta fortíssima e sem precedentes no dia 22, por todo o país" ameaçou ontem o movimento em comunicado.
A Fenprof por seu turno quer dificultar a tarefa da tutela ao convocar reuniões sindicais para a hora e o dia da prova, que vão durar "o período necessário", estando as faltas de todos os professores que comparecerem, "justificadas ao abrigo da lei sindical", explicou Mário Nogueira.
O secretário-geral da federação salientou também que, não se tratando de "uma reunião de avaliação final, os professores que, por qualquer motivo, não forem à escola, podem justificar a falta da forma que quiserem", não necessitando de um atestado médico. "Quem não tem cão, caça com gato", avisou o dirigente sindical.
A corrida começou e o relógio está a contar para os dois lados desta barricada. A Federação Nacional de Professores reuniu-se de emergência ainda da parte da manhã para delinear estratégias e os sindicalistas já estão no terreno.
A tutela de Nuno Crato também não tem tempo a perder se quiser que os resultados desta prova tenham efeitos no concurso de professores para o próximo ano lectivo. A urgência fez até com que abdicassem da componente específica da prova, que tinha como objectivo testar os conhecimentos dos docentes nas áreas que leccionam.
As provas feitas em Dezembro por cerca de oito mil docentes já estão corrigidas e as que forem feitas esta terça-feira vão ser vistas rapidamente, assegura a tutela. Os cerca de 5 mil docentes que não a fizeram começaram ontem a ser notificados por email. Boa parte já se terá candidatado ao concurso extraordinário para integração nos quadros ou à contratação inicial. Se não a fizerem, não serão colocados, o que provocou uma onda de indignação nas redes sociais. Muitos dos convocados, aliás "já estavam de férias porque os seus contratos terminaram", criticou César Paulo, da Associação Nacional de Professores Contratados.
O tempo também é curto para os directores dos agrupamentos escolares. Ontem, logo pela manhã, as cerca de 80 direcções das escolas onde se vai realizar a prova receberam uma mensagem electrónica enviada pela tutela dando conta da realização da PACC. Em anexo, a indicação de que teriam de estar em Lisboa às 16h30, para uma reunião com a tutela. E tinham até às 19 horas de ontem para nomear os professores que vão vigiar as provas na terça-feira.
A marcação da prova provocou um autêntico alvoroço entre os professores, mas o certo é que no final da semana passada, Nuno Crato já tinha avisado durante a sua visita a Londres que a avaliação aos docentes contratados iria ser retomada "muito em breve". Até Abril, aliás, o ministro esteve de mãos atadas. Após um percurso na justiça com mais de 20 providências cautelares interpostas pelos sindicatos, o Tribunal Central Administrativo Sul revogou a última providência que impedia a realização da prova ou qualquer outra decisão sobre esta matéria.
A 18 de Dezembro, quase metade dos professores inscritos terão falhado o exame em consequência de uma greve de professores e de protestos e incidentes junto a várias escolas onde estava a ser realizada.
A prova foi incluída no estatuto da carreira docente em 2007, durante a governação socialista de José Sócrates, mas nunca avançou devido à forte contestação dos sindicatos. O exame constava do programa de governo de Pedro Passos Coelho, tendo sido assumido como uma prioridade do ministro Nuno Crato.  

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The Idea of North - No more blues


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Homenagem ao país tropical...



                                

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Erros inaceitáveis nos exames nacionais do ensino secundário...

(imagem obtida em www.algarvedigital.pt)
"Opinião
A mediocridade técnica e política
O Iave passou de direcção-geral a instituto público para melhor ajudar a sacralização da asneira.

Quando antecipei, no meu último artigo, que teríamos polémicas longas sobre os exames, não fui profeta. A previsão não tinha mérito. Era, tão-só, corolário primário para quem assiste, atento, à actuação reiterada do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), antes com outra designação, mas todos os anos responsável por erros inaceitáveis. Não se equivalessem em mediocridade a qualidade técnica do Iave e a qualidade política do ministro e não estaríamos, pais, professores e alunos, sujeitos a tanta irresponsabilidade.
Para a questão 2.3 do grupo II do exame de Português do 12.º ano, a que se submeteram cerca de 74.000 alunos, a resposta considerada certa pelos critérios oficiais de correcção é “acto ilocutório compromissivo”. Porém, a Associação de Professores de Português (APP) e a Associação Portuguesa de Linguistas (APL) afirmaram que a resposta correcta é “acto ilocutório assertivo”. A discussão gerada tornou evidente que os especialistas das áreas chamadas à colação (Linguística, Teoria da Comunicação, Pragmática e Hermenêutica) não se entenderam quanto à certeza da resposta. Pois é esse facto, que obrigou o Iave a aceitar ambas, que evidencia a dimensão do disparate em que incorreu, quando decidiu incluir nos itens do exame uma pergunta com estas características. O problema, antes de ser do foro daquelas disciplinas, aterra, em cheio, no domínio da avaliação. Qualquer aprendiz de teoria de construção de testes sabe, desde a primeira lição, que é erro grosseiro incluir uma pergunta deste tipo num exame nacional do secundário. Mas os especialistas do Iave, inimputáveis na sua incompetência, não souberam. Dir-me-ão que a decisão do Iave ultrapassou a questão, que é relevante em termos do futuro académico dos alunos, ao atribuir o meio valor em causa também àqueles que não responderam como previsto nos critérios iniciais de classificação. É só parcialmente verdade. Porque ficará sempre por suprir a perplexidade, o tempo perdido e a tensão acrescida a uma situação por natureza tensa, que uma pergunta ambígua, permitindo interpretações diversas, trouxe aos alunos. A validade de um exame passa por saber se esse exame “mede efectivamente aquilo que queremos medir, tudo o que queremos medir e nada mais do que aquilo que queremos medir” (Thorndike e Hagen, 1977: 56-57. Measurement and Evaluation in Psychology and Education. New York: Wiley).
A pergunta 1 do grupo III do exame de História, também do 12.º ano, reza assim:
Explique, a partir do manifesto da oposição (documento 2), três dos fatores político-sociais que favoreceram a afirmação de um regime autoritário em Portugal.
Só que a pergunta não “fala” para o documento 2. A pergunta orienta o aluno para as condições de formação do Estado Novo, enquanto o documento 2 o remete para acontecimentos que ocorreram 35 anos mais tarde (início da guerra colonial e início da decadência do Estado Novo). Os alunos foram induzidos em erro. A pergunta não tem relação com o documento que é invocado. Do cruzamento da pergunta com os critérios orientadores para julgar as respostas resulta uma incoerência. É um caso de desleixo grosseiro, sobre o qual, que me tenha dado conta, o Iave ainda nada disse.
O exame de Matemática A do 12.º ano veio trazer actualidade acrescida à pergunta de sempre: um exame serve para apurar elites ou certificar conhecimentos que se subordinem a programa e objectivos estabelecidos? E na resposta à pergunta radica a polémica que este provocou. De um lado (Sociedade Portuguesa de Matemática à cabeça) aqueles que defendem que a selecção é o fim, porque à universidade só devem chegar as elites. Do outro (Associação de Professores de Matemática inclusa) os que reclamam que o exame deve medir a aprendizagem que teve o programa por referência, porque é obrigatório para quem queira apenas concluir o secundário. Fora o exame equilibrado e serviria os dois propósitos. Um exame bem feito deve permitir que os alunos de positiva modesta ao longo do ciclo de estudos o superem. Isso não impede que contenha questões suficientemente discriminatórias, que forcem a distribuição do universo dos examinandos ao longo de todo o espaço da escala classificativa, de modo a separar os de 10 dos de 15 ou 20. Mas se os de 10 ou 11, regulares ao longo dos três anos da frequência do secundário, forem massacrados com negativas baixas, como muitos prognosticam, então terá razão a APM, que classificou a prova como “completamente desadequada” e “altamente injusta”. Tanto mais que se aproxima dos 90.000 o número de alunos que apenas querem concluir o secundário, sem pretenderem entrar no ensino superior.
A “generalização da avaliação externa”, que a coligação inscreveu no programa de governo, e o “rigor” com que Crato a interpretou traduzem-se na simples substituição do rótulo da mesmíssima tralha: o Iave passou de direcção-geral a instituto público para melhor ajudar a sacralização da asneira: corta-se tempo lectivo para preparar exames; mandam-se alunos para casa para que outros façam exames; retiram-se professores das aulas para corrigir exames; paga-se a estrangeiros para credibilizar exames inúteis, que nacionais corrigem sem ganhar; adestram-se meninos, professores e escolas para fazerem estes exames.
Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)"
in: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/