sábado, 7 de novembro de 2015

C4 Pedro: "Tu és a mulher"

PÉROLA, a cantora angolana que mais discos vende

in: noticiasmagazine.pt
(foto de Diana Quintela, Global Imagens)

Luanda e a poesia de Nicolau Santos

in: www.naotaposolhos.com 

O jornalista do EXPRESSO, Nicolau Santos, é especializado em assuntos económicos, mas também gosta de escrever poesia; o texto seguinte é dedicado a todos os que conhecem Luanda: 


P'ra quem viveu em luanda...

"Nasci branco de segunda
Calcinhas ou caluanda
Nasci com os pés no mar
... em São Paulo de Loanda

Brinquei de pé descalço
Em poças de águas castanhas
Tive lagartas da caça
Não escapei às matacanhas

Comi manga sape-sape
Fruta-pinha tamarindo
Mamão a gente roubava
No quintal do velho Zindo

Pirolito que pega nos dentes
Baleizão, paracuca
E carrinhos de rolamentos
Numa corrida maluca

Tinha o Gelo, tinha a Biker
Miramar e Colonial
O Ferrovia, o Marítimo
Chás dançantes no Tropical

O N'Gola era só ritmo
O Liceu uma lenda
Kimuezo e Teta Lando
E os Ases do Prenda

Havia velhas que fumavam
E velhos com ar de sábio
Enquanto novas músicas
Se insinuavam na rádio

"E a cidade é linda
É de bem-querer
A minha cidade é linda
Hei-de amá-la até morrer"

Quem não estudou no Salvador?
Quem não se lembra do Videira?
E das garinas de bata branca
Nossas colegas de carteira?

Depois havia o Kinaxixe
Futebol era nos Coqueiros
Havia praias, um mar quente
Savanas imensas, imbondeiros

E havia o som do vento
O cheiro da terra molhada
As chuvas arrasadoras
O fogo das queimadas

E havia todos os loucos
Do progresso e da guerra
A Joana Maluca, o Gasparito
A desgraça daquela terra

Nasci branco de segunda
Calcinha ou caluanda
Nasci com os pés no mar
Em São Paulo de Loanda"
(Nicolau Santos, um kaluanda)

in pedacosdavida.com

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Homenagem a Maureen O'Hara

in: www.palmbeachdailynews.com
Maureen O'Hara foi uma atriz irlandesa que se tornou famosa interpretando  papéis de mulheres com forte sensibilidade. 

Trabalhou com o realizador John Ford e contracenou com John Wayne, seu parceiro em vários filmes.

"O Homem Tranquilo" (1952), de John Ford, era o seu filme preferido. 

Morreu aos 95 anos a 24 de outubro de 2015, no Idaho,  e a família contou que Maureen viveu o seus últimos momentos a ouvir  a banda sonora do seu filme favorito.


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Governo de gestão em Portugal?

www.publico.pt
O que pensa João Miguel Tavares de um governo de gestão em Portugal - um artigo de opinião e que extraí do Jornal Público.

"Quem tem medo de um governo de gestão? 

JOÃO MIGUEL TAVARES 03/11/2015 

Sendo péssimo, o governo de gestão tem esta inestimável vantagem: garante eleições daqui a cinco meses. 

Se o governo da coligação cair no Parlamento na próxima semana, Cavaco Silva deve convidar António Costa para formar governo. Mas o que ele não deve fazer, porque seria uma traição ao seu mandato, é entregar as chaves do Palácio de São Bento em troca de um acordo a cair da tripeça. O acordo da esquerda não pode ser um Frankenstein keynesiano-leninista colado a cuspo. O acordo da esquerda não pode ser uma fraude intelectual. O acordo da esquerda não pode ser um discurso de Miss Universo, composto em exclusivo por parágrafos intumescidos de piedade pelos pobrezinhos e suspiros por um mundo melhor. 

Se o acordo da esquerda for apenas um conjunto de intenções mal-enjorcadas e de promessas não-contabilizadas, sem metas concretas para o défice e ignorando o caderno de encargos que o próprio presidente da República deixou inscrito no seu último discurso (nomeadamente o respeito pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento e o cumprimento do Tratado Orçamental), Cavaco Silva não pode, de forma alguma, dar o seu aval a tal projecto de governo, ainda que ele venha a tilintar com o apoio maioritário do Parlamento. 

A razão é simples. Se é verdade que não compete ao presidente da República definir o programa de governo, compete-lhe sem dúvida alguma impedir que três partidos – e muito em particular o PS – possam sequestrar no parlamento os votos dos portugueses. Existe certamente alguma elasticidade para os partidos poderem desviar-se dos seus compromissos eleitorais e de, em função dos resultados e da própria realidade, ensaiaram algumas aproximações que não haviam sido explicitamente contempladas durante a campanha – daí eu considerar que o PS tem inteira legitimidade para procurar acordos à sua esquerda. Mas, como é óbvio, têm de ser colocados limites a essa elasticidade e àquilo que os deputados do PS podem fazer com os seus votos. Não vale tudo. Em troca de um projecto de poder, um partido não pode implodir todo o seu programa eleitoral e as promessas mais básicas que fez ao povo português – e que passam, desde logo, por um orçamento equilibrado e pelo cumprimento escrupuloso dos limites do défice, que ninguém percebe como podem ser alcançados com mais despesa e menos impostos. Deitarmo-nos com António Costa e acordarmos com Jeremy Corbyn é ir longe demais. Cavaco Silva está lá para o impedir. 

Aliás, depois de ter andado a fazer-se de morto durante o consulado de José Sócrates, Cavaco não pode voltar a fazer-se de morto durante o pré-consulado de António Costa. Se vivemos num regime semipresidencial, é precisamente para que o presidente possa exercer os seus poderes em momentos como este, resistindo a uma parlamentarização radical do regime, que não seria outra coisa se não uma partidarização absoluta do sistema político português, com 230 deputados devidamente cerceados pela disciplina de voto a marcharem à voz do dono. Ainda que essa voz estivesse a sabotar, por razões puramente estratégicas, o mandato que lhe foi confiado. 

Não tenho a menor dúvida de que um governo de gestão seria péssimo para o país. Mas se ele tiver de ser o preço a pagar para impedir o sequestro do voto dos portugueses durante quatro anos, Cavaco não deve hesitar. Sendo péssimo, o governo de gestão tem esta inestimável vantagem: garante eleições daqui a cinco meses. Se o acordo da esquerda for apenas um logro e uma palhaçada para português ver, António Costa não pode ser primeiro-ministro." 

(in publico.pt)

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Instalou-se uma "barulheira infernal" no nosso país...




(Mª de Fátima Bonifácio)
imagem in: www.publico.pt
Gosto muito de ler os artigos de opinião escritos por Maria de Fátima Bonifácio, do jornal OBSERVADOR, por achar que apresenta os seus textos com muita simplicidade, clareza e objetividade, indo direta ao tema!

No meio desta "embrulhada política" que se gerou no nosso país, às vezes são tantas as opiniões que se ouvem na rua e ainda as dos meios de comunicação social (principalmente as dos comentadores televisivos), que, a páginas tantas,  um pessoa perde-se completamente, por achar que quase todas são válidas...

"Qual das interpretações será a mais verdadeira"? "O que originou realmente tudo isto?" ou: "Qual é a verdadeira intenção do partido X, Y ou Z?" são as nossas interrogações no meio do "caos" que se instalou politicamente em Portugal... Vamos procurando ajuda lendo o que os jornalistas escrevem, e talvez  possamos compreender melhor o que se passa à nossa volta.

Escolhi hoje o artigo "Tanta hipocrisia" da Maria de Fátima Bonifácio, extraído do jornal OBSERVADOR e com a data de 31.10.2015. Entendi por bem partilhá-lo neste espaço e espero que nos esclareça um pouco mais em relação a todo este "imbróglio".

"O famoso “acordo” ainda está em laboratório. Quanto mais o tempo passa, mais Costa é obrigado a ceder. O PCP há-de espremê-lo até à última das concessões. Tremendismo?! A ver vamos. 

Confesso que deixei de acompanhar com pormenor o sórdido enredo da política nacional, criado por António Costa com o único e exclusivo propósito de chegar a primeiro-ministro e, deste modo, salvar a pele e manter-se à frente do PS. Uma vez desencadeado, Bloco e PC são os Judas em cujas mãos depositou o futuro próprio, e, o que lhe importa muito menos, o do partido. Costa odeia o Bloco, o Bloco odeia o PC, e o PC odeia e despreza ambos. O Bloco espera “pasokisar” o PS, o PCP espera destruí-lo. Mas lá vai Costa, cantando e rindo. 


No meio da barulheira infernal que se instalou, a que me tenho poupado o mais possível, chegou-me todavia o coro de lamentações e indignações levantado contra o discurso do Presidente da República de 22 de Outubro. Discurso alegadamente vingativo e “divisionista” (um termo caro ao PC), um discurso que perpetrara a suprema heresia de excluir do sistema político a sua componente comunista e bloquista. Sobre esta falácia, Francisco Assis já disse tudo no seu artigo de há dias, no «Público»; e na imprensa, houve jornalistas profissionais que explicaram, pacientemente, a Constituição: esta prevê dois momentos em que o PR detém poderes discricionários: a dissolução do Parlamento, a indigitação do primeiro-ministro. 


Mas há muito mais que justifica plenamente as palavras firmes e claras de Cavaco Silva, aliás hoje reiteradas na cerimónia da posse do segundo governo de Passos Coelho. Palavras claras, um género caído em desuso num país político que adoptou o eufemismo como língua franca de todas as facções, de que a verdade e a sinceridade foram banidas para dar lugar à ambiguidade como norma e como método: a cada momento, ela permite reinterpretar o que chegou a ser dito, mas já não interessa que continue a ser dito. Ou seja, a ambiguidade, a expressão equívoca, são os instrumentos privilegiados de uma política radicalmente oportunista, que só aos poucos, e mesmo assim ainda ambiguamente, confessa os seus fins. O Partido Socialista, enquanto grande partido democrático e definidor da fronteira da liberdade, está podre, enfermo de doença grave e com toda a probabilidade letal. É uma questão de tempo. A menos que arrepie caminho – se for a tempo. 


Cavaco Silva, em 22 de Outubro como ainda hoje, falou claro e disse o suficiente. Os visados, ou, num plebeísmo, os que enfiaram a carapuça, com excepção de verdadeiros ingénuos, que os há, fingiram-se ofendidos, indignados, aviltados e sei lá que mais – tanta hipocrisia ! 


O Presidente limitou-se a tirar as consequências de uma lição que todos aprendemos na instrução primária: é impossível somar pêras com laranjas e tangerinas. Pêras, laranjas e tangerinas são entidades heterogéneas, irredutivelmente distintas entre si. As pêras são o PS, as laranjas são o PC, e as tangerinas são o Bloco, umas tangerinas que brotaram de um originário tronco comum – o marxismo-leninismo – mas que continham, e contêm, um aditivo trotskista que as diferencia do vetusto tronco incontaminado da ortodoxia. Estaline liquidou o trotskismo: o próprio Trotski, já refugiado no México, foi aqui mandado assassinar por Estaline a golpes de picareta na cabeça. Depois desta “guerra civil”, na realidade e em essência mais propriamente um conflito de natureza específica que atravessa e dilacera uma família e respectiva parentela, apartando-a em grupos irremissivelmente inimigos e antagónicos, ninguém se reconcilia. Daqui nasce o ódio entre o PC e o Bloco, que têm velhíssimas contas a ajustar e cuja competição não tardará a derrubar Costa, se este vier a ser empossado primeiro-ministro. (Santana Lopes, no CM de hoje, deixa uma dúvida a pairar.) 


O PS – as pêras – não abdicou expressamente, até ao momento em que escrevo, da sua natureza democrática, atlantista e europeísta, nem proclamou que rejeitava as obrigações decorrentes da nossa pertença à Europa e ao Euro, vertidas em vários documentos com diversos estatutos jurídicos, mas todos eles solenes e vinculativos. Todos eles têm a assinatura do Partido Socialista Português e comprometem, obrigam Portugal. 


O Bloco defende a preparação do exit português do euro, possivelmente da Europa, mas, de momento, coloca essas insuperáveis divergências entre parêntesis e fecha-os olhos como se não existissem e fosse possível abstrair delas. Porém, Jerónimo de Sousa, ontem à noite na SIC foi taxativo: essas “diferenças” existem e não desaparecem só porque fingimos que não vemos e não ouvimos – “estão lá”. O PS finge; o Bloco finge; mas o PC não finge e pelo contrário recorda-as e sublinha-as. As pêras, as laranjas e as tangerinas não se podem somar. Ou seja, os deputados podem-se somar – mas aquilo que representam não pode. Logo e por consequência, a soma aritmética de deputados não corresponde a nenhuma maioria política com um mínimo – um mínimo – de homogeneidade. Os deputados continuarão ser os deputados do PC, os deputados do Bloco, os deputados do PS, três partidos incompatíveis e que “não se somam”. Não há volta a dar-lhe. 


Esta semana Jerónimo repetiu pela enésima vez o programa verdadeiro do PCP, para além das exigências imediatas e pontuais de aumento dos salários, reposição das pensões, revisão das leis laborais, reforço da Intersindical e da contratação colectiva. Nos dois últimos casos não chamou as coisas pelos nomes e nem era preciso: toda a gente sabe ao que se referia. 


Mas, como relembrou Jerónimo, o programa do PC transcende imensamente estas reivindicações de conjuntura. Resume-se em três palavras: autarquia (auto-suficiência) para Portugal; até mesmo numa: isolacionisnmo. Salazar diria: “orgulhosamente sós”. O PC diz: sós, orgulhosos e pobres, soberanos ! Como ? Saindo da Europa e do Euro, voltando ao escudo, nacionalizando, quer dizer, expropriando os bancos, os seguros, as empresas ditas estratégicas e as telecomunicações. Depois de tudo descapitalizado e de bancarrota ou inflacção venezuelana – soberanos, o escudo pode ser desvalorizado à vontade – Portugal recairia na ancestral miséria, igual ou maior ainda, de que já começara a erguer-se nos últimos anos do salazarismo e no marcelismo. 


As telecomunicações, claro: um programa destes exige censura, a liquidação da imprensa e das televisões privadas e livres, e uma polícia política. Nunca em lado nenhum o “socialismo real” (e não há outro) dispensou estes instrumentos.  


O Presidente da República sabe isto e muito mais. Sabe o que qualquer português letrado e maior de idade sabe ou deveria saber. Infelizmente, a clamorosa ignorância histórica e política de alguns dos nossos mais jovens opinadores, mesmo de colunistas estupendos, leva-os a pensar que a história do Mundo começou depois da queda do muro de Berlim, e que a história de Portugal começou depois do fim do PREC, lá para finais dos anos setenta do século XX. Acontece que, do ponto de vista que agora nos interessa, a história começou, para Portugal e para o Mundo, em 1917, ano da revolução bolchevique na Rússia. 


O famoso “acordo” ainda está em laboratório. Quanto mais o tempo passa, mais Costa é obrigado a ceder. O PCP há-de espremê-lo até à última das concessões, para que o desesperado aspirante a primeiro-ministro mais rapidamente dê cabo de Portugal. 


Tremendismo?! A ver vamos."