sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Quem foi Michel Giacometti?

    imagem encontrada em: www.mun-setubal.pt
    "Michel Giacometti foi um etnomusicólogo corso que fez importantes recolhas etno-musicais em Portugal. Possui uma escola de 2º/3º ciclo e secundário com o seu nome em Quinta do Conde - Sesimbra.

    "De origem francesa, Michel Giacometti viveu em Portugal durante mais de 30 anos. O etnólogo dedicou-se e viveu para o povo, defendeu a identidade das culturas e das nações e acreditou nas minorias.
    Michel Giacometti, de origem francesa, rendeu-se aos encantos de Portugal, onde viveu até morrer, desde o momento em que chegou em 1959, dedicando-se, desde então, à investigação da música popular.

    Nascido em Ajaccio, na Córsega, em 1929, Michel Giacometti foi criado por um tio, funcionário colonial da rota do Império Francês.

    Desde muito novo que as aventuras – ou desventuras - começaram a persegui-lo. Apenas com três anos de idade foi raptado por uma tribo, sendo salvo por Herratin, uma criada negra descendente de antigos escravos.

    Enquanto estudante fundou várias revistas e esteve ligado a atividades culturais. Foi poeta, crítico de arte, ator e diretor de uma companhia teatral.

    Expulso de todas as universidades francesas, por um período de cinco anos, por participar numa greve contra a discriminação dos árabes na vida pública de Argel, Giacometti decidiu viajar, chegando a frequentar as universidades de nove países, exercendo, ao mesmo tempo, mais de três dezenas de profissões para poder subsistir e financiar os estudos.

    Após a diáspora, regressou a Paris, terminando o curso de Letras e Etnografia, na Universidade de Sorbonne.

    “Mediterranée 56” é o nome da missão que criou, a seguir à conclusão da licenciatura, com o objetivo de investigar as tradições populares de todas as ilhas do Mediterrâneo. A dimensão do projeto, contudo, obrigou-o a considerá-lo como um fracasso, mas, por outro lado, com os conhecimentos antropológicos que adquiriu, passou a ter um curriculum invejável.

    A descoberta de Portugal dá-se em 1959, ao decidir fixar-se em Bragança, quando lhe diagnosticaram tuberculose e recomendaram um clima mais propício à cura. O casamento com uma portuguesa influenciou a escolha, iniciando, então, a investigação musical no Nordeste Transmontano.

    Giacometti recolheu informações etnográficas em mais de 600 freguesias, apesar das dificuldades financeiras por que passou, que o forçaram a dormir em pensões degradadas, choupanas de pastores, na casa de um contrabandista e, inclusivamente, na rua.

    Apesar da dedicação e da enorme qualidade da compilação musical que possuía, das mais ricas da Europa Ocidental, nunca chegou a viver deste trabalho.

    Os conhecimentos que possuía permitiram-lhe fazer programas de rádio para estações europeias e, durante três anos, realizou, para a RTP, “Povo que cantas”. A inspiração para o título foi buscá-la à letra de uma cantiga da resistência espanhola que diz que “pueblo que canta no puede morir”.

    “Antologia da Música Regional Portuguesa”, uma coleção de cinco discos, feita com a colaboração do compositor Fernando Lopes-Graça, e o “Cancioneiro Popular Português”, editado pelo Círculo de Leitores, são algumas das obras de maior valor de Michel Giacometti.

    Para ter algum desafogo económico teve de vender o espólio que detinha, como a coleção dos arquivos sonoros, a biblioteca particular e instrumentos musicais, estes últimos adquiridos pela Câmara Municipal de Cascais.

    Por coincidência, Giacometti, que pertenceu e viveu para o povo, que acreditou nas minorias e defendeu a identidade das culturas e das nações, viu pela primeira vez a luz do dia a cem metros da casa onde nasceu Napoleão Bonaparte.

    Michel Giacometti morreu em 1990 e foi sepultado, como desejava, no país do coração: em Portugal, mais precisamente em Peroguarda, no concelho de Beja.

    O Museu do Trabalho Michel Giacometti, em Setúbal, não existiria sem o valioso contributo do etnólogo corso, que, em 1987, ajudou na elaboração da exposição “O Trabalho faz o Homem”, a primeira daquele espaço cultural.

    Museu do Trabalho Michel Giacometti

    O Museu do Trabalho Michel Giacometti, fundado em 1987, reúne um importante espólio, a coleção etnográfica Michel Giacometti e peças relacionadas com os ofícios tradicionais, atividade marítima, construção naval, mundo rural e indústria conserveira.
    O museu está instalado numa antiga fábrica de conservas, a Perienes, cujo edifício foi adquirido, em 1991, pela Câmara Municipal.
    Quatro anos mais tarde, após várias obras de remodelação, no dia 18 de maio de 1995, data da inauguração, o Município atribuiu-lhe o nome de Museu do Trabalho Michel Giacometti.
    Este espaço, que tem por finalidade o estudo, a preservação e divulgação de técnicas e conhecimentos relacionados com o mundo do trabalho, engloba uma galeria de exposições temporárias e áreas polivalentes para animação.
    No dia 11 de maio de 2002 foi inaugurada a exposição permanente “Mercearia Liberdade – Um Património a Salvaguardar”, reconstituição de um estabelecimento de Lisboa, cujo espólio foi doado pelos proprietários à Câmara Municipal de Setúbal.

    Fontes: 
    Público Magazine, agosto de 1990; www.terravista.pt/guincho/1452/michel.htm;
    Documentação cedida pelo Museu do Trabalho Michel Giacometti; Guia de Museus Costa Azul, 1996"

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A felicidade do homem é possível?

"O Homem deseja ser feliz, mesmo vivendo de tal forma que torna impossível a felicidade." 
Santo Agostinho, in A Cidade de Deus, (séc.IV)

imagem obtida em: pt.wikipedia.org
(Santo Agostinho Por Simone Martini,
atualmente no Museu Fitzwilliam,
em Cambridge)

domingo, 22 de novembro de 2015

Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo

imagem in ordem-do-carmo.pt



Este domingo, 22 de novembro de 2015,  tem lugar a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo.

Com a devida vénia, transcrevo a liturgia dominical de 21.11.2015 da paroquiaderamalde.pt , que nos explica qual é a lógica da realeza de Jesus.

No XXXIV Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo. A Liturgia da Palavra que nos é proposta neste último domingo do ano litúrgico convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus; deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus. O Evangelho, especialmente, explica qual é a lógica da realeza de Jesus.

A primeira leitura (Dan 7,13-14) anuncia que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueza, a ambição, a violência, a opressão que marcam a história dos reinos humanos. Através de um “filho de homem” que vai aparecer “sobre as nuvens”, Deus vai devolver à história a sua dimensão de “humanidade”, possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade. Os cristãos verão nesse “filho de homem” vitorioso um anúncio da realeza de Jesus.

Na segunda leitura (Ap 1,5-8),o autor do Livro do Apocalipse apresenta Jesus como o Senhor do Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o “príncipe dos Reis da terra”, Aquele que há-de vir “por entre as nuvens” cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. É, precisamente, a interpretação cristã dessa figura de “filho de homem” de que falava a primeira leitura.

O Evangelho (Jo 18,33-37) apresenta-nos, num quadro dramático, Jesus a assumir a sua condição de rei diante de Pontius Pilatus. A cena revela, contudo, que a realeza reivindicada por Jesus não assenta em esquemas de ambição, de poder, de autoridade, de violência, como acontece com os reis da terra. A missão “real” de Jesus é dar “testemunho da verdade”; e concretiza-se no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida. (in Dehonianos)

A celebração da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, não deve deixar-nos indiferentes. Na realidade, reconhecer que Jesus Cristo crucificado é o nosso Rei leva-nos a estar no mundo de forma muito concreta e compromete-nos a participar na construção do Reino de Deus. Não é suficiente rezar no Pai Nosso “venha a nós o vosso Reino”, mas temos de aceitar e dar testemunho, para que assim esse Reino, em que reina o amor, a entrega, o serviço, a felicidade, a vida e a paz, possa ser disseminado por todo o mundo.