sábado, 2 de julho de 2016

"Raças impuras" na opinião de José Eduardo Agualusa

Jose Eduardo Agualusa

Raças impuras
"Assim como os brasileiros gostam de contar piadas de portugueses, os portugueses gostam de contar piadas de alentejanos. Os alentejanos são, digamos assim, os portugueses dos portugueses. Amo o Alentejo. Tenho uma enorme simpatia pelos alentejanos. Se tivesse nascido em Portugal gostaria que fosse em Évora. As largas planícies alentejanas lembram, até certo ponto, as savanas africanas. O Alentejo é o único lugar onde Portugal parece grande.
Durante séculos, o sul de Portugal recebeu escravos negros. Em 1761, ano em que o Marquês de Pombal determinou o fim da entrada de escravos em Portugal, ainda haveria pelo menos cinco mil a trabalhar nas planícies alentejanas. Persistem sinais dessa presença em alguma toponímia e até em certos nomes de família, de origem banto.
A influência árabe, essa, é evidente. Inclusive na música. O fado, aliás, está tão próximo de alguma tradição árabe que há quem junte as duas e é como se sempre tivesse sido assim. Ouçam por exemplo o jovem Ricardo Ribeiro, cantando, em árabe e português, na feliz companhia do alaúde do libanês Rabih Abou-Khalil. Ouçam a seguir a cantora tunisina Amina Alaoui em “Arco-íris”, um dos mais belos discos de fado que eu conheço.
Pensei nisto tudo no aniversário de Zambujo, enquanto um grupo de alentejanos, numa mesa próxima, começava a cantar. Aquele pátio belíssimo podia ser em Tanger. Podia ser em Marrakech ou em Casablanca. Neste mesmo dia, à tarde, assisti a uma reportagem sobre o drama dos refugiados sírios. Uma moça de voz estridente, entrevistada na rua, insurgiu-se contra a possibilidade de Portugal receber alguns desses refugiados ou quaisquer outros “árabes”, gente, afirmava ela, sem laços de sangue e de cultura com Portugal. Escutei-a horrorizado. Não há maneira de me conformar com a ignorância.
Lembrei-me de um episódio que me contou Mário Soares. Um dia, num encontro que o antigo presidente português teve com Yasser Arafat, para discutir o interminável conflito israelo-árabe, este chamou-lhe a atenção para a herança árabe da Península Ibérica: “Vocês, portugueses, têm de nos apoiar. Afinal, vocês são árabes”.
“É verdade.” Reconheceu Soares, e logo acrescentou: “Mas também somos judeus”.
Os portugueses são, de fato, essa mistura antiga de árabes, judeus e negros. Os brasileiros são a mistura, ainda mais desvairada, de portugueses, africanos, índios, libaneses, japoneses etc. Um português que odeie “árabes” é um português que se odeia a si próprio. Um neonazi português ou brasileiro é o mais esdrúxulo, ridículo e repulsivo dos oximoros. Contudo — pasme-se! — eles existem. Os comentários nas redes sociais, ou nos jornais on-line, são uma versão moderna dos antigos gabinetes de curiosidades, ou quartos de maravilhas, salas onde, nos séculos XVI e XVII, os fidalgos endinheirados acumulavam coleções de bizarrias, sortilégios e impossibilidades, como sereias empalhadas, cornos de unicórnios ou lágrimas de crocodilo. Nas caixas de comentários dos jornais, os prodígios, deformidades e monstruosidades não são físicos, mas ideológicos e morais. As pessoas exibem ali, com um estranho orgulho, as suas piores deformidades morais, a estreiteza aflitiva dos espíritos, as ideias mais monstruosas. Ali está a exaltada patricinha carioca, defendendo a interdição das praias da Zona Sul aos negros e pobres, ou o operário lisboeta que quer destruir a mesquita de Lisboa. Há de tudo.
Em Dresden, na Alemanha, um grupo de neonazis colombianos foi espancado por neonazis alemães quando tentava juntar-se a uma manifestação contra a entrada de refugiados sírios. Um deles queixou-se amargamente: “Já não basta que na Colômbia nos chamem morenonazis. Nós somos de raça pura, sim, apenas escurecemos um pouco por causa do clima”.
É a história do ratinho que achava que era um gato, até que um gato o comeu.
António Zambujo fez 40 anos. Para festejar o acontecimento, juntou um grupo de amigos num pátio de Lisboa. Quando cheguei, o rio Tejo, lá ao fundo, ainda guardava o último fulgor do dia. Era como um incêndio desaguando na escuridão. A escuridão era o mar. Conheci António Zambujo em São Paulo. Foi Marília Gabriela quem pela primeira vez me falou dele: “Você já ouviu um fadista português chamado António Zambujo?” — perguntou-me. Disse-lhe que não: “Não existe. Se existisse eu saberia”. Então ela ofereceu-me um disco, era o “Outro sentido”, de 2007, e eu fiquei maravilhado. Não sabia que havia em Portugal alguém a fazer música assim. Tentei justificar a minha ignorância: “Você disse-me que era um cantor português e este António é alentejano”."
José Eduardo Agualusa (in: leituras.eu)

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Portugal nas meias-finais neste Euro 2016

in: www.rtp.pt
"Após o empate 1-1 com a Polónia, o jogo foi decidido nos pénaltis. 
Rui Patrício defendeu o remate de Blaszczykowski e Quaresma não 

perdoou na última grande penalidade.
Pela quinta edição consecutiva, Portugal está nas meias-finais de um 

Campeonato da Europa de futebol. 
Esta quinta-feira, a seleção nacional derrotou a Polónia (5-3) no 

desempate por penáltis, após um empate 1-1 nos 120 minutos. 

Em Marselha, Rui Patrício foi decisivo, ao defender o quarto 

remate dos polacos, batido por Blaszczykowski. 

Depois, Ricardo Quaresma voltou a ser o talismã e carimbou o 

5-3 final.
No entanto, antes de mais um desfecho festivo, os portugueses 

tiveram de sofrer, como já tem sido habitual neste Euro 2016. 

Lewandowski adiantou a Polónia, logo ao minuto 2. 

E Portugal só conseguiu reagir a meio da primeira parte. 
Aos 33', Renato Sanches - que se estreou a titular- marcou o 1-1, 

num belo tiro de fora da área.
No segundo tempo, os portugueses estiveram mais perto do golo 

mas pecaram na finalização. E, no prolongamento, as cautelas de 

ambas as equipas não geraram ocasiões de perigo.
Chegado o desempate na marcação de grandes penalidades, 

Cristiano Ronaldo, Renato Sanches, João Moutinho, Nani e Ricardo 

Quaresma (por esta ordem) não falharam. 
Quando Patrício saltou para a sua esquerda para travar o remate de 
Blaszczykowski, Portugal ficou a um "passinho" do apuramento. 
E Quaresma deu esse passo, o 5-3. 
Segue-se País de Gales ou Bélgica (jogam esta sexta-feira) como 

rival das meias-finais: o jogo é na quarta-feira, dia 6, 

em Lyon (20.00)."
in: dn.pt