sábado, 29 de abril de 2017

Fátima

in: fatima.pt
Gostaria de partilhar neste espaço um artigo do jornal observador, de hoje, 29.04.2017, escrito pelo Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, tentando esclarecer as nossas mentes confusas sobre um tema que nos é muito querido a quase todos, a que vou simplesmente  chamar "Fátima"!
"Fátima (1): Aparições ou visões?
Ainda não foi o centenário da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima e já abundam as alegadas ‘desmitificações’ do fenómeno ocorrido na Cova da Iria, agora reduzido a uma mera narrativa, que cada qual reinterpreta a seu bel-prazer. Os factos ocorreram de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917, tendo por protagonistas três crianças: os irmãos Francisco e Jacinta Marto, que o Papa Francisco vai muito felizmente canonizar no próximo dia 13, e a prima deles, Lúcia dos Santos, que foi a relatora das aparições.
Para alguns, tudo não passou de um embuste político-religioso, para que foram aliciadas umas criancinhas analfabetas que, a troco de sabe-se lá o quê, se prestaram a ser videntes de mirabolantes aparições celestiais. Para outros, é evidente que a manobra teve mãozinha clerical e intenção marcadamente antirrepublicana, em tempos em que a Igreja Católica era ferozmente perseguida pelos Afonsos Costas deste país. Também os há que, embora afirmando-se fiéis, olham com desdém para este tipo de fenómenos, que reprovam em nome da sua impoluta racionalidade, mais livre-pensadora do que verdadeiramente católica. É caso para perguntar: afinal, em que ficamos?!
Quem ler as Memórias da Irmã Lúcia, a vidente que sobreviveu e relatou os acontecimentos extraordinários ocorridos na Cova da Iria em 1917, percebe de imediato que, se alguma pressão sofreram aquelas três crianças, quer por parte do seu pároco, quer ainda por parte das suas famílias – que, para o efeito, até recorreram a vias de facto! – foi precisamente no sentido de as obrigar a desmentir as aparições. Também as zelosas autoridades públicas tudo fizeram para obrigar os videntes a se desdizerem ou, pelo menos, revelarem o segredo que lhes tinha sido dito pela sua celestial interlocutora.
A própria Igreja portuguesa, de início, não reagiu positivamente às aparições. Só a 13 de Maio de 1922 se iniciou a investigação canónica relativa aos acontecimentos de Fátima, que concluiu oito anos e meio depois, a 13 de Outubro de 1930, com a aprovação do culto e das aparições, que não constituem, contudo, matéria de fé.
Neste sentido, o Padre Anselmo Borges, em entrevista ao Expresso, a 16-4-2017, afirmou: “Posso ser um bom católico e não acreditar em Fátima, porque não é um dogma”. É verdade que Fátima não é, nem nunca poderá ser, um dogma, mas é pouco provável que possa ser um “bom católico” quem não aceita o veredicto da hierarquia eclesial em relação a estas aparições, até porque a totalidade da mensagem atribuída à ‘Senhora mais brilhante do que o sol’ é de uma total e irrepreensível coerência evangélica. Aliás, nenhuma revelação particular, como é o caso, pode ser reconhecida pela Igreja se não for absolutamente coincidente com a fé católica.
O P. Anselmo Borges igualmente declarou: “É preciso também distinguir aparições de visões. É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objetivo. Uma experiência religiosa interior é outra realidade, é uma visão, o que não significa necessariamente um delírio, mas é subjectivo.”
A distinção entre aparições e visões não é nenhuma novidade pois, como recordou Bento XVI, quando era cardeal perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé, “a antropologia teológica distingue, neste âmbito, três formas de percepção ou «visão»: a visão pelos sentidos, ou seja, a percepção externa corpórea; a percepção interior; e a visão espiritual (visio sensibilisimaginativaintellectualis). É claro que, nas visões de Lourdes, Fátima, etc, não se trata da percepção externa normal dos sentidos: as imagens e as figuras vistas não se encontram fora no espaço circundante, como está lá, por exemplo, uma árvore ou uma casa. Isto é bem evidente, por exemplo, no caso da visão do inferno (descrita na primeira parte do «segredo» de Fátima) ou então na visão descrita na terceira parte do «segredo», mas pode-se facilmente comprovar também noutras visões, sobretudo porque não eram captadas por todos os presentes, mas apenas pelos «videntes». De igual modo, é claro que não se trata duma «visão» intelectual sem imagens, como acontece nos altos graus da mística. Trata-se, portanto, da categoria intermédia, a percepção interior que, para o vidente, tem uma força de presença tal que equivale à manifestação externa sensível” (Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Comentário teológico, in A mensagem de Fátima, 26-6-2000).
Assim sendo, não oferece dúvidas que, de facto, Nossa Senhora não apareceu, em sentido técnico, na Cova da Iria. Que se tenha tratado de uma visão e não de uma aparição não permite, contudo, afirmar que foi, como disse o P. Anselmo Borges, apenas uma “experiência religiosa interior” dos videntes, nem que, mesmo não sendo “necessariamente um delírio”, teria sido contudo algo meramente “subjectivo”.
Bento XVI, no seu já citado comentário teológico à mensagem de Fátima, esclarece: “Este ver interiormente não significa que se trata de fantasia, que seria apenas uma expressão da imaginação subjectiva. Significa, antes, que a alma recebe o toque suave de algo real mas que está para além do sensível, tornando-a capaz de ver o não-sensível, o não-visível aos sentidos: uma visão através dos «sentidos internos». Trata-se de verdadeiros «objectos» que tocam a alma, embora não pertençam ao mundo sensível que nos é habitual”. Atente-se aos termos usados pelo Cardeal Ratzinger para descrever as ‘aparições’ de Fátima: não “se trata de fantasia”, nem de “uma expressão da imaginação subjectiva”, mas de “algo real”, de “verdadeiros ‘objectos’”!
Prossegue Bento XVI, no seu Comentário teológico: “Como dissemos, a «visão interior» não é fantasia” – ao contrário do que o termo ‘visão imaginativa’, usado por D. Carlos Azevedo, na sua entrevista ao Público, no passado dia 21, poderia levar a crer – “mas uma verdadeira e própria maneira de verificação. Fá-lo, porém, com as limitações que lhe são próprias. Se, na visão exterior, já interfere o elemento subjectivo, isto é, não vemos o objecto puro mas este chega-nos através do filtro dos nossos sentidos que têm de operar um processo de tradução; na visão interior, isso é ainda mais claro, sobretudo quando se trata de realidades que por si mesmas ultrapassam o nosso horizonte”.
Nada tem de muito surpreendente este esclarecimento se se tiver em conta que, também no Evangelho, se recorre com frequência a metáforas que facilitam a compreensão dos mistérios da fé: é óbvio que o inferno não pode ser fogo, nem o céu um banquete e, quando Jesus diz que ele é “a videira verdadeira” (Jo 15, 1), não se está a atribuir a si mesmo uma natureza vegetal, mas apenas a sugerir que, da mesma forma como os ramos estão unidos ao tronco e dele recebem a vida, assim também os cristãos em graça estão enxertados em Cristo, de quem lhes vem a energia que alimenta a sua vida sobrenatural.
“Isto” – prossegue o Cardeal Ratzinger – “é patente em todas as grandes visões dos Santos; naturalmente vale também para as visões dos pastorinhos de Fátima. As imagens por eles delineadas não são de modo algum mera expressão da sua fantasia, mas fruto duma percepção real de origem superior e íntima”. Portanto, se se trata, como explica Bento XVI, de uma “percepção real de origem superior e íntima” e “não são de modo algum mera expressão da sua (deles, pastorinhos) fantasia”, impõe-se a conclusão óbvia: o seu valor não é menor do que se se tivesse tratado, em sentido técnico, de autênticas aparições, pois “tem uma força de presença tal que equivale à manifestação externa sensível”. Razão que explica também que a Conferência Episcopal Portuguesa, na sua nota pastoral sobre o centenário de Fátima (Fátima, Sinal de Esperança para o nosso tempo, Carta pastoral no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, 2016), mantenha o uso do termo “aparições”, mesmo não sendo o tecnicamente mais preciso. Também o inquilino se refere à casa em que vive como sendo sua, embora juridicamente não seja o seu proprietário.
Como sintetizou o então Cardeal Secretário de Estado, Ângelo Sodano, na celebração eucarística da beatificação de Jacinta e Francisco Marto, na Cova da Iria, a 13-5-2000, presidida por São João Paulo II, “a visão de Fátima refere-se sobretudo à luta dos sistemas ateus contra a Igreja e os cristãos e descreve o sofrimento imane das testemunhas da fé do último século do segundo milénio. É uma Via Sacra sem fim, guiada pelos Papas do século vinte.” "
in observador.pt 29.04.2017 

quarta-feira, 26 de abril de 2017

terça-feira, 25 de abril de 2017

25 de abril de 2017

in: es.wikipedia.org

Votos de um BOM FERIADO! 

E aqui vai um poema de Manuel Alegre:

Trova do Vento que Passa

Para António Portugal 

Pergunto ao vento que passa 
notícias do meu país 
e o vento cala a desgraça 
o vento nada me diz. 

Pergunto aos rios que levam 
tanto sonho à flor das águas 
e os rios não me sossegam 
levam sonhos deixam mágoas. 

Levam sonhos deixam mágoas 
ai rios do meu país 
minha pátria à flor das águas 
para onde vais? Ninguém diz. 

Se o verde trevo desfolhas 
pede notícias e diz 
ao trevo de quatro folhas 
que morro por meu país. 

Pergunto à gente que passa 
por que vai de olhos no chão. 
Silêncio - é tudo o que tem 
quem vive na servidão. 

Vi florir os verdes ramos 
direitos e ao céu voltados. 
E a quem gosta de ter amos 
vi sempre os ombros curvados. 

E o vento não me diz nada 
ninguém diz nada de novo. 
Vi minha pátria pregada 
nos braços em cruz do povo. 

Vi meu poema na margem 
dos rios que vão pró mar 
como quem ama a viagem 
mas tem sempre de ficar. 

Vi navios a partir 
(Portugal à flor das águas) 
vi minha trova florir 
(verdes folhas verdes mágoas). 

Há quem te queira ignorada 
e fale pátria em teu nome. 
Eu vi-te crucificada 
nos braços negros da fome. 

E o vento não me diz nada 
só o silêncio persiste. 
Vi minha pátria parada 
à beira de um rio triste. 

Ninguém diz nada de novo 
se notícias vou pedindo 
nas mãos vazias do povo 
vi minha pátria florindo. 

E a noite cresce por dentro 
dos homens do meu país. 
Peço notícias ao vento 
e o vento nada me diz. 

Mas há sempre uma candeia 
dentro da própria desgraça 
há sempre alguém que semeia 
canções no vento que passa. 

Mesmo na noite mais triste 
em tempo de servidão 
há sempre alguém que resiste 
há sempre alguém que diz não. 

Manuel Alegre, in 'Praça da Canção' 



segunda-feira, 24 de abril de 2017

Ainda a propósito dos nossos jovens "finalistas"...

in. sabado.pt
Acabo de ler na Revista SÁBADO nº 676 (de 12 a 19 de abril de 2017) um artigo de opinião escrito por José Pacheco Pereira, intitulado As desculpas insuportáveis dos meninos de Torremolinos e com o qual estou completamente de acordo, baseada no que tenho lido, visto e ouvido nos meios de comunicação social sobre estes casos, que, pelos vistos, se vêm repetindo. 

É lamentável que, de há uns anos a esta parte, se leiam notícias de comportamentos inaceitáveis por parte de muitos dos nossos jovens, quando se deslocam em viagens de finalistas, normalmente em viagens a Espanha. Pessoalmente, lamento estes factos profundamente, pois adoro os jovens, mas não concordo, em absoluto, com atitudes menos próprias.

É incompreensível o vandalismo que praticam, pois o facto de estarem cheios de adrenalina e quererem libertá-la, não justifica as atitudes que tomam, nem lhes dá o direito de quererem destruir tudo aquilo que lhes aparece pela frente!

São este jovens que daí a pouco tempo vão entrar na Universidade?

É bom que todos nós façamos uma reflexão profunda sobre este tema. Por isso, proponho a leitura do artigo de opinião de José Pacheco Pereira, que passo então a transcrever na íntegra:

"A LAGARTIXA E O JACARÉ

As desculpas insuportáveis dos meninos de Torremolinos

Na SIC (não vi outras notícias mas admito que sejam semelhantes), nos jornais, um pouco por todo o lado ouve-se e lê-se um discurso complacente e insuportável sobre o comportamento de um grupo de "finalistas" portugueses num hotel espanhol. "Que são coisas normais numa viagem de finalistas", e as "coisas normais" são "uma parede escrita", "coisas no elevador", o quê não me atrevo a perguntar, "estragos e coisas partidas", nada de especial. O problema é que o hotel pelos vistos "não estava habituado". A polícia espanhola refere azulejos quebrados, uma televisão atirada à banheira, colchões pela janela e extintores despejados. Parece que ninguém viu os colchões atirados pela janela, mas face ao resto que está confirmado é irrelevante. No caso dos extintores, a desculpa era que, como iam para uma festa, atirar jactos de espuma uns aos outros era muito excitante. Tiveram sorte em não provocar nenhum incêndio no hotel.
     A culpa de tudo era haver "uma segurança muito apertada" e o dono do hotel "armou um aparato enorme e quis mandar tudo embora". Os depoimentos publicados pelo Público são esclarecedores: quando o hotel quis pôr os meninos/as a pagar os estragos e pô-los na rua, "ai sim fizemos estragos no hotel", até porque parece que o serviço não tinha a qualidade suficiente para as exigências dos meninos/as e não os deixavam fazer festas nos quartos. São, no fundo, as vítimas, como também diz a "agência" que organizou a viagem, numa intervenção engasgadas balbuciante, mas toda destinada a defender o direito dos meninos/as a portarem-se mal. Não estava o hotel habituado? pois habituem-se.
Estes meninos/as agora finalistas, se forem para a universidade vão ser a carne de canhão de uns outros imbecis que se divertem a fazê-los rastejar, comer terra e outras coisas, andar tipo fila de condenados, usar chapéus escatológicos, e gritar umas obscenidades, sob o comando de uns tipos/as vestidos de padres ou de viúvas. Podia dizer que é bem feito, se estes mesmos meninos/as não andassem a lamber o chão para ganharem o direito daqui a um ano ou dois de pôr a negra pata em cima de outros, repetindo assim o ciclo de indigência mental que assola uma parte da nossa cultura juvenil e que se chama a praxe.
Temos demasiada complacência com aquilo que passa por ser um desvario juvenil "natural", mas talvez devêssemos estar mais atentos para os negócios ilícitos e ilegais que andam à volta destas actividades, dos dinheiros que em comissões de festas, viagens e da praxe, e hoje, mesmo nas associações de estudantes, circulam, em patrocínios de cervejas e telecomunicações, às agências de viagem e as angariações para fake jobs , até às ligações com os negócios obscuros das claques de futebol. É que muitos destes meninos/as, felizmente não todos, mas mais do que o que se pensa. aprende aqui uma forma de viver de expedientes e golpes, de ilicitudes e outros tráficos. E o pior de tudo é que muitos paizinhos/mãezinhas acham tudo bem e defendem os coitados dos meninos/as que afinal "só" partiram umas coisas, ainda por cima num hotel espanhol, que ainda não percebeu que deve ter jaulas em vez de quartos."

Aqui fica o artigo para reflexão e aqui fica também um pedido: não sejamos pessimistas e ...mãos à obra: é preciso mostrar aos jovens, com insistência, o caminho certo! 

Façamo-lo com firmeza!