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terça-feira, 29 de novembro de 2022

TRABALHO - a história complexa desta palavra e a sua etimologia!

Ao procurar a etimologia da palavra "trabalho" encontrei uma explicação que achei interessante. Tem uma história que eu quase diria "inimaginável", de tão complexa que é!

Transcrevo de seguida o texto em português (tentativa de tradução minha, com "ajuda" do Google...) e mais abaixo, o original em língua francesa, resultado da minha pesquisa sobre a origem desta palavra tão importante como é o "trabalho" e o que ele representa para todos nós. 

Gostei da explicação e da sua verdadeira história: sim, porque todas as palavras têm uma "história" por mais "dura" que possa ser!

Outrora um instrumento de tortura, o trabalho abriu caminho 

Ao contrário da palavra “emprego”, a que está associada, a etimologia de “trabalho” é atormentada. Derivado do latim "tripalium", que designava máquina de ferrar bois, o trabalho hoje serve como laço social 

Florêncio Artigot * 
Publicado a 15 de janeiro de 1999 
Esfoladas, desmembradas, esmagadas, inchadas por uns, castradas por outros, as palavras acabam por se tornar, como estas camadas geológicas depositárias de um passado, as testemunhas das mentalidades que atravessaram. 
Refletindo certos costumes, a linguagem não passa pela história sem marcas. "Trabalho" e "emprego", na boca de todos hoje, estão entre aquelas palavras que a história não poupou. Se esses termos são hoje carregados de valores positivos, é porque eles são o último elo social, uma espécie de cordão umbilical, entre o indivíduo e a sociedade. O emprego, esta fonte de rendimento e integração na sociedade, está cada vez mais raro e, por força das circunstâncias, está a tornar-se um bem raro. Nesse sentido, a etimologia da palavra trabalho, ou seja, a história de sua vida, é no mínimo surpreendente. Voltar atrás no tempo toca em origens distantes, sejam latinas ou francas. “Trabalho” vem da palavra latina baixa tripalium, que é literalmente uma máquina feita de três estacas. No entanto, o tripalium foi este instrumento usado em 1000 para ferrar bois e cavalos difíceis e caprichosos. Mas era comumente usado quando era necessário punir pecadores e recalcitrantes. Para os animais, era uma ferramenta de trabalho, para os homens, um instrumento de tortura. Origens e raízes privam esta palavra de seu brilho e brilho.

O Trabalho como valor 

Durante o segundo milénio, o seu significado deteriora-se  e enfraquece. No século XII, o francês antigo usava invariavelmente "trabalhar" e "fazer sofrer". Moral ou fisicamente, nem é preciso dizer. Mais tarde, trabalhar significa 'molestar', 'danificar' ou 'bater'. A frase "trabalhar as costelas de alguém" vem daí. Dá então origem a outra metáfora: "trabalhar o adversário ao corpo", que sugere que o referido adversário terá de passar um mau quarto de hora. Então o espírito, na vida desta palavra, assume o corpo. "Trabalhar a mente" e seu uso coloquial "trabalha a mente" são apenas algumas expressões entre muitas que marcam a mudança. Ao mesmo tempo, como Alain Rey, autor do recente "Dicionário Histórico da Língua Francesa" ** aponta, "a ideia de transformação da matéria prevalece gradualmente sobre a de fadiga ou dor". No final, o domínio do homem sobre a natureza só pode ser alcançado através do trabalho. Isso requer esforço, é claro, mas esse esforço será recompensado e a mãe natureza dominada.

Abundância de trabalho, escassez de emprego

Trabalhamos o ferro enquanto trabalhamos a massa. Nós deformamos as coisas, nós as transformamos. A máquina começa a funcionar, o que reduz o sofrimento humano. A técnica é introduzida nos processos de fabricação e o trabalho é elevado ao patamar de grandes valores. Conseguimos criar criando a nós mesmos, pelo menos é o que dizem alguns teóricos para quem o trabalho é o caminho para a liberdade. Curioso destino desse instrumento de tortura, o tripalium, que finalmente permitirá ao homem sofrer menos. A vida da palavra "emprego" é um rio mais calmo. Poucas variações de significado. Se “empregar” vem do latim implicare, que significa “dobrar” ou “torcer, enredar”, esta palavra é usada principalmente no sentido de “colocar, fazer uso”. Na Chanson de Roland, as armas eram usadas à medida que os golpes eram usados. A partir do século XVII, empregar alguém era fazê-lo trabalhar por conta própria. A noção de serviço foi inoculada no termo. No mundo do show business, a expressão figurativa "ter a cara do ofício" mostra até que ponto a cara é a ferramenta de trabalho do ator, esse prestador de serviços. Mas a palavra "emprego", embora a sua história nos leve às fontes do latim, afirmou-se e ocupou o seu lugar no nosso vocabulário desde o momento em que se associou à economia e ao inglês.
Na verdade, esse termo como é usado hoje é a tradução de emprego e empregar. Assim, a ideia de função e carga vinda do inglês torna-se dominante. A forma "pleno emprego", tradução literal de pleno emprego apenas confirma essa relação de parentesco. Mas a confusão pode ser grande entre esses dois termos. Se o emprego é escasso, o trabalho é abundante. Muitas vezes visto como um bem, o trabalho é, na verdade, apenas um recurso. É apenas um contributo utilizado com maior ou menor eficiência num processo produtivo. Se a população ativa aumenta, por exemplo, o recurso mão-de-obra também aumenta, porque há mais mãos para trabalhar e mais cabeças para pensar. O mesmo não ocorre com o emprego, que é uma demanda de serviços e know-how por parte das empresas. No entanto, é esta procura (emprego) que tende a escassear. É ela que em certos segmentos da economia tende a encolher. Quando certos políticos se propõem a repartir a obra, sendo esta superabundante, fazem, ao lapidar esta catástrofe semântica, apenas para aumentar a confusão e perturbar o debate. 
Como escreve Alain Rey: “Essas palavras, acreditamos que as usamos, quando muitas vezes são elas que nos conduzem, pela carga que a história colocou nos sons e nas letras”.

** “Dicionário histórico da língua francesa”, Alain Rey. Edições Robert, Paris, 1998. 
* Economista, Universidade de Neuchâtel.

FONTE:
in https://www.letemps.ch/economie/jadis-instrument-torture-travail-su-faire-chemin


Agora, segue-se o texto pesquisado e cujo original é em língua francesa


tripalium – DIÁRIO DE UM LINGUISTA
image obtenue in diariodeumlinguista.com


Jadis instrument de torture, le travail a su faire son chemin

Contrairement au mot «emploi», auquel on l'associe, l'étymologie du «travail» est tourmentée. Issu du latin «tripalium», qui désignait une machine à ferrer les bœufs, le travail sert aujourd'hui de lien social

Florencio Artigot *

Publié 15 janvier 1999 

Ecorchés, dépecés, broyés, boursouflés par certains, castrés par d'autres, les mots finissent par devenir, comme ces couches géologiques dépositaires d'un passé, les témoins des mentalités qu'ils ont traversées. Reflet de certaines coutumes, la langue ne traverse pas l'histoire sans cicatrices. «Travail» et «emploi», aujourd'hui sur toutes les lèvres, font partie de ces mots que l'histoire n'a pas ménagés. Si ces termes sont aujourd'hui chargés de valeurs positives, c'est qu'ils sont le dernier lien social, sorte de cordon ombilical, entre l'individu et la société. L'emploi, cette source de revenu et d'intégration à la société, se raréfiant, devient par la force des choses une denrée rare.

En ce sens, l'étymologie du mot travail, c'est-à-dire l'histoire de sa vie, est pour le moins surprenante. La remontée dans le temps effleure les origines lointaines, qu'elles soient latines ou franciques. «Travail» est issu du bas latin tripalium, qui est littéralement une machine faite de trois pieux. Or, le tripalium était cet instrument utilisé en 1000 pour ferrer les bœufs et les chevaux difficiles et capricieux. Mais on en faisait couramment usage lorsqu'il fallait punir les pécheurs et les récalcitrants. Pour les animaux, il s'agissait d'un outil de travail, pour les hommes, d'un instrument de torture. Les origines et les racines enlèvent à ce mot partie de son lustre et de sa brillance.

Le travail comme valeur

Pendant le deuxième millénaire, son sens s'altère et s'affaiblit. Au XIIe siècle, l'ancien français utilise invariablement «travailler» et «faire souffrir». Moralement ou physiquement, cela va de soi. Plus tard, travailler veut dire «molester», «endommager» ou «battre». L'expression «travailler les côtes de quelqu'un» vient de là. Elle donne ensuite naissance à une autre métaphore: «travailler l'adversaire au corps», qui laisse à penser que ledit adversaire devra passer un mauvais quart d'heure. Puis l'esprit, dans la vie de ce mot, prend le dessus sur le corps. «Travailler l'esprit» et son emploi familier «ça le travaille» ne sont que quelques expressions parmi tant d'autres qui marquent le changement. En même temps, comme le souligne Alain Rey, auteur du récent «Dictionnaire historique de la langue française»**, «l'idée de transformation de la matière l'emporte peu à peu sur celle de fatigue ou de peine». L'emprise de l'homme sur la nature ne peut finalement se faire que par le travail. Cela demande un effort certes, mais cet effort sera récompensé et dame nature maîtrisée.

Abondance du travail, rareté de l'emploi

On travaille le fer comme on travaille la pâte. On déforme les choses, on les métamorphose. La machine se met à travailler, ce qui réduit les souffrances de l'homme. La technique s'introduit dans les procédés de fabrication et le travail est élevé au rang des grandes valeurs. On arrive à créer tout en se créant, c'est du moins ce que disent certains théoriciens pour qui le travail est le chemin de la liberté. Curieux destin que celui de cet instrument de torture, le tripalium, qui va finalement permettre à l'homme de moins souffrir. La vie du mot «emploi» est un fleuve plus tranquille. Peu de variations de sens. Si «employer» est issu du latin implicare, qui signifie «plier dans» ou «entortiller, emmêler», ce mot est surtout utilisé dans le sens de «placer, faire usage de». Dans la Chanson de Roland, on employait des armes comme on employait des coups. A partir du XVIIe siècle, employer quelqu'un, c'était faire travailler cette personne à son compte. La notion de service était inoculée dans le terme. Dans le monde du spectacle, la locution figurée «avoir la gueule de l'emploi» montre à quel point le visage est l'outil de travail de l'acteur, ce prestataire de service. Mais le mot «emploi», bien que son histoire nous amène aux sources du latin, s'est affirmé et a pris place dans notre vocabulaire à partir du moment où il s'est acoquiné à l'économique et à l'anglais. En fait, ce terme tel qu'il est utilisé de nos jours est la traduction de employment et de to employ. Ainsi, l'idée de fonction et de charge en provenance de l'anglais devient dominante. La forme «plein-emploi», traduction littérale de full employment ne fait que confirmer cette relation de cousinage. Mais la confusion peut être grande entre ces deux termes. Si l'emploi est rare, le travail abonde. Trop souvent vu comme un bien, le travail n'est en fait qu'une ressource. Ce n'est qu'un input utilisé avec plus ou moins d'efficacité dans un processus de production. Si la population active augmente, par exemple, la ressource travail augmente aussi car il y a plus de bras pour œuvrer et de têtes pour réfléchir. Il n'en va pas de même pour l'emploi, qui est une demande de service et de savoir-faire de la part des entreprises. Or, c'est cette demande (l'emploi) qui tend à se raréfier. C'est elle qui dans certains segments de l'économie tend à se réduire comme peau de chagrin. Lorsque certains politiques proposent de partager le travail, alors que celui-ci est surabondant, ils ne font, en lustrant cette catastrophe sémantique, qu'augmenter la confusion et troubler le débat. Comme l'écrit Alain Rey: «Ces mots, nous croyons nous en servir, alors que bien souvent ce sont eux qui nous entraînent, par la charge que l'histoire a mise dans les sons et les lettres.» 

** «Dictionnaire historique de la langue française», Alain Rey. Editions Robert, Paris, 1998.

* Economiste, Université de Neuchâtel.

SOURCE: in https://www.letemps.ch/economie/jadis-instrument-torture-travail-su-faire-chemin

sábado, 17 de setembro de 2022

Qual o significado de MITRA? Seu uso e sua história

Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice - Calendário 2014
imagem in vatican.va
(Papa Francisco)

A mitra (do grego μίτρα: cinta, faixa para a cabeça, diadema) é uma insígnia pontifical utilizada pelos prelados da Igreja Católica, da Igreja Ortodoxa e da Igreja Anglicana, sejam eles: abades, bispos, arcebispos, cardeais ou mesmo o Papa. A mitra é a cobertura de cabeça prelatícia de cerimônia.

Simbolismo

A mitra usada pelo bispo simboliza um capacete de defesa que deve tornar o prelado terrível aos adversários da verdade. Por isso, apenas aos bispos, salvo por especial delegação, cabe a imposição do Espírito Santo no sacramento do Crisma ou Confirmação.

Definição

A mitra é um tipo de cobertura de cabeça fendida, consistindo de duas peças rígidas, de formato aproximadamente pentagonal, terminadas em ponta, por isso, às vezes chamadas corno ou cúspides, costuradas pelos lados e unidas por cima por um tecido, podendo ser dobradas conjuntamente. As duas cúspides superiores são livres e na parte inferior forma-se um espaço que permite vesti-la na cabeça.

Há duas faixas franjadas na parte posterior, chamadas ínfulas, que descem até as espáduas. Na teoria, a mitra sempre é supostamente branca.

História

A mitra pontifical é da origem romana, sendo derivada de uma cobertura de cabeça não litúrgica, exclusiva do papa, o camelauco, do qual também teve origem a tiara. O camelauco era usado antes do século VIII, como se relata na biografia do Papa Constantino, no “Liber Pontificalis”. O nono ‘’Ordo’’ indica que o camelauco era confeccionado de um material branco e tinha a forma de um capacete. As moedas dos papas Sérgio III e Bento VII, em que São Pedro usava um camelauco, dão a este a forma de um cone, que é a forma original da mitra. O camelauco foi usado pelos papas principalmente durante as procissões solenes. A mitra evoluiu do camelauco, no curso do século X, quando o papa começou a usar a mitra durante procissões à igreja e também durante o serviço religioso subsequente. Não se pode afirmar que tenha havido alguma influência do ornamento de cabeça sacerdotal do sumo sacerdote do Antigo Testamento. Foi só após a mitra estar sendo universalmente usada pelos bispos, é que se levantou a hipótese dela ser uma imitação da cobertura de cabeça sacerdotal judaica.

Janice Bennett, em seu livro “Sacred Blood, sacred Image” , cita uma tradição seguida por Tadeu de Edessa, de que no cristianismo, a mitra desenvolveu-se a partir da prática de São Pedro colocar o Sudário em sua própria cabeça, como símbolo de um ministério curativo. Tal fato não encontra nenhum respaldo histórico ou teológico.

Desde o século XVII tem se escrito muito sobre em que tempo a mitra começou a ser usada na liturgia. Alguns autores creem que seu uso é anterior aos tempos apostólicos, portanto anterior ao cristianismo. Segundo outros, remonta aos séculos VIII ou IX. E uma terceira corrente afirma que ela surgiu por volta do início do segundo milênio, sendo que antes era usado um ornamento para a cabeça na forma de grinalda ou coroa.

O certo é que um ornamento episcopal para a cabeça, na forma de uma faixa, nunca existiu em Europa ocidental, e que a mitra foi usada primeiramente em Roma por volta da metade do século X, e fora de Roma no ano 1000. A prova Exaustiva para isto é dada no trabalho "Die liturgische Gewandung im Occident und Orient" (pp. 431-48), onde todas as teorias da origem da mitra são estudadas. A mitra é descrita para a primeira vez em duas miniaturas do começo do século XI; uma destas miniaturas está em um registro batismal, a outra num pergaminho do Exultet, da catedral de Bari, Itália. A primeira referência escrita sobre a mitra é encontrada numa bula de 1049, do Papa Leão IX. Nesta o papa, que tinha sido anteriormente bispo de Toul, na França, confirmou a primazia da igreja de Tréveris ao bispo Eberardo de [Tréveris]], anteriormente seu metropolita que o tinha acompanhado a Roma. Como um sinal desta primazia, o Leão IX concedeu ao bispo Eberardo a mitra romana, a fim de que pudesse a usar de acordo com o costume romano, ao executar os ofícios da igreja. Pelos anos 1100 a 1150, o uso da mitra já havia se generalizado entre os bispos.

Os cardeais já usavam a mitra no fim do século XI, provavelmente tendo adquirido este direito na primeira metade daquele século. Leão IXconcedeu este privilégio aos cônegos da catedral de Besançon, em 1051. Os cardeais, certamente, gozaram deste privilégio, anteriormente a esta data. A primeira concessão de uma mitra a um abade data do ano 1063, quando o Papa Alexandre II concedeu a mitra ao abade Egelsino, na Abadia de Santo Agostinho, em Cantuária. Desde então as concessões aos abades foram aumentando até se generalizarem.

Também aos príncipes cristãos foi concedida, por vezes, a permissão de usar a mitra, como uma marca da distinção. Por exemplo, o Duque Wratislaw, na Boêmia recebeu este privilégio do Papa Alexandre II, e Pedro de Aragão recebeu idêntica distinção de Inocêncio III. O Imperador alemão também gozou deste direito.

Forma


Mitra estilo simples tradicional: 
branco com damasco 
seus babados brancos 
terminando em franjas vermelhas.


A evolução da mitra, 


Considerando a forma, há tal diferença entre a mitra do século XI e a mitra atual que, por vezes, é difícil reconhecer serem as duas a mesma peça litúrgica.. Na sua forma mais antiga, a mitra era uma cobertura simples, de material macio, que terminava acima numa ponta; tendo geralmente, mas não sempre, em torno da borda mais baixa, uma faixa ornamental (circulus). Parece também que as ínfulas não estiveram sempre unidas à parte traseira da mitra. Por volta do ano 1100, a mitra começou a ter uma forma curvada para cima, tomando forma de um barrete redondo. Em muitos casos apareceu logo um depressão, na parte superior similar a essa que é feita quando um chapéu de feltro macio é pressionado para baixo na cabeça, forçando-o na testa e na parte de trás da cabeça. Em diversas mitras, uma faixa ornamental passou da parte dianteira à parte traseira através do recorte; isto fez mais proeminente as cúspides, na parte superior das lâminas, dos lados direito e esquerdo da cabeça. Esta mitra em forma de calota foi usada até tarde, atingindo o início do século XII; e, em alguns lugares, até o último quarto deste século.

Por volta de 1125, uma mitra de um outro formato e aparência um tanto diferente é frequentemente encontrada. Nela as abas nos lados tinham-se tornado chifres (cornua), que terminavam, cada um, em uma ponta, tendo sido endurecidos com pergaminho ou alguma outra intertela. Esta mitra forneceu a forma de transição ao terceiro estilo, que é essencialmente o da mitra usada ainda hoje. A terceira mitra é distinta de sua predecessora, não realmente por sua forma, mas somente por sua posição na cabeça. Ao manter sua forma, a mitra foi, desde então, colocada na cabeça com os cornos já não acima da região temporal, mas acima da testa e da parte traseira da cabeça. As ínfulas tiveram, naturalmente, que ser prendidos na borda inferior abaixo do corno da parte traseira. O primeiro exemplo de tal mitra apareceu por volta de 1150. As mitras elaboradas desta forma tiveram não somente uma faixa ornamental (circulus) na borda mais baixa, mas uma faixa ornamental similar (titulus), que foi verticalmente aplicada sobre o meio dos cornos. No século XIV, esta forma de mitra começou a ser distorcida. Até então, a mitra tinha sido um tanto mais larga do que elevada, quando dobrado, mas neste período nela começou, lentamente, mas firmemente, ter a sua altura aumentada; até que, no século XVII, cresceu como uma torre real. Uma outra mudança, que surgiu no século XV, foi que os lados já não eram feitos na vertical, mas na diagonal. No século XVI, começou a ser habitual curvar-se, com mais ou menos intensidade, os lados diagonais dos cornos. 

Estas mudanças não ocorreram em toda parte, ao mesmo tempo, nem a mitra teve todas as formas do desenvolvimento, em todos os lugares. Um grande número mitras do início da Idade Média foram preservadas, mas todas pertencem á terceira forma. Muitas têm ornamentação riquíssima, sendo costume ornamentar as mitras com bordados, faixas ricas (aurifrisia), pérolas, pedras preciosas, pequenos discos ornamentais de metais preciosos; e fazê-las planas, para receber pinturas. Uma mitra medieval do início da igreja de São Pedro, em Salzburgo além de estar ornamentada com cem pérolas , apresenta cerca de quinhentas pedras preciosas, pesando cerca de cinco libras e meia. Outras mitras similares são mencionadas também no inventário de 1295 de Bonifácio VIII. Oito mitras medievais são o preservadas na catedral de Halberstadt. Nos séculos XVII e XVIII, as mitra passaram a ser ornamentadas com bordados ricos, de fios de ouro, o que lhe deu uma aparência mais imponente. Uma mitra do século XVIII preservada no tesouro da catedral em Limburgo é notável pelo grande número de pedras preciosas que a adornam. O material original da mitra parece ter sido apenas linho branco, mas a partir do século XIII (à exceção do curso da mitra simples), geralmente foi feita de seda ou ornamentada com bordados de seda.

Tipos

O cerimonial distingue dois tipos de mitra

A Ornada quando é guarnecida de adornos, mais ou menos ricos. As mitras ornadas se dividem em: 

  • Preciosa (Pretiosa): é decorada com pedras preciosas e ouro
  • Aurifrisada (Auriphrygiata): é de tecido liso de ouro ou de seda branca bordada a ouro e prata
  • Faixada: com duas faixas ornamentais ou galões, uma (circulus) na borda mais baixa, e outra (titulus) em posição vertical, no meio de cada pala.
A Simples é inteiramente de tecido branco, interna e externamente, sem ornamentos, nem mesmo nas ínfulas, que portam franjas vermelhas. Ela será de linho para os bispos e de seda adamascada branca apenas para os cardeais.

Papa

Atualmente a tiara papal é usada na heráldica eclesiástica do papado, tal como nos brasões pessoais dos papase no brasão da Cidade do Vaticano, combinada com as chaves do céu de São Pedro.

Tradicionalmente, o Papa, conforme a circunstância, serve-se de três tipos de mitra:
  • A Gloriosa: ornada de pedras preciosas e de um círculo de ouro que lhe forma a base. (Nesta categoria está inclusa a mitra com a tripla faixa dourada.)
  • A Preciosa: ricamente decorada, mas sem o círculo da base.
  • A Argêntea: de lhama de prata, correspondente à mitra simples dos bispos.
No caso do Papa a mitra pode ter o formato de uma coroa tripla, sendo, neste caso, chamada de tiara papal ou triregnum. O uso da tiara papal foi abandonado, mas não abolido, pelo Papa Paulo VI, que adotou a mitra comum, com a intenção de enfatizar mais o caráter pastoral do que temporal da autoridade pontifícia.


Atualmente a tiara papal 
é usada na
e no brasão da Cidade do Vaticano
combinada com as 


Uso


O "Cerimonial dos Bispos" manda que a mitra, o anel episcopal e o báculo sejam abençoados antes da ordenação episcopal de quem o deva receber; sendo que a primeira imposição deve ser feita apenas durante o rito da ordenação. Antes das celebrações litúrgicas, deve sempre ser um diáconoquem impõe a mitra no bispo.

Pelas normas litúrgicas atuais, a mitra deve sempre ser uma só na mesma ação litúrgica. A mitra preciosa é usada nas celebrações mais solenes. A aurifrisada é usada no advento, na administração dos sacramentos, e nas “memórias”. A faixada, nos dias comuns. A mitra simples usa-se na “Quarta-Feira de Cinzas”, na “Sexta-Feira Santa”, no dia de “Finados”, nas “Assembleias Quaresmais”, no rito da “Inscrição do Nome”, na solene celebração do sacramento da Penitência, na celebração de Exéquias e quando um bispo concelebrar com outros, não sendo ele o celebrante principal. Portanto, nas concelebrações, somente o celebrante principal pode usar a mitra ornada.

O direito de usar a mitra pertence somente ao papa, aos cardeais, aos bispos e abades. Porém houve alguns privilégios a prelados menores como dignitários de cabidos, prelados da Cúria Romana, e Protonotários Apostólicos, porém este uso era bem limitado. A mitra chegou a ser permitida ainda às abadessas de mosteiros femininos.

A mitra é distinta de outras insígnias e sempre é retirada quando o bispo está rezando, em decorrência do preceito apostólico do homem sempre rezar com a cabeça descoberta.

Na ordenação de um bispo ele recebe primeiro o livro do Evangelho, depois o anel episcopal, a mitra e por último o báculo.

Pelas leis litúrgicas a mitra é usada pelo bispo, sobre o solidéu, quando se dirige ou retorna, processionalmente, para alguma função sagrada; quando está sentado; quando faz homilia; quando faz saudações; locuções e avisos; quando dá a bênção solene; e quando faz gestos sacramentais. O bispo não usa a mitra: nas preces introdutórias; nas orações; na “Oração Universal”; na “Oração Eucarística”; durante a leitura do Evangelho; nos hinos, quando estes são cantados de pé; nas procissões em que leva o Santíssimo Sacramento, ou as relíquias da Santo Lenho; e diante do Santíssimo Sacramento exposto.

A mitra no rito Grego Ortodoxo

No rito grego Ortodoxo não se usou uma cobertura de cabeça litúrgica até o século XVI. Antes disto, somente o Patriarca de Alexandria, usou desde o princípio do século X, uma cobertura litúrgica para a cabeça, a qual era um simples A mitra pontifical grega é uma cobertura de cabeça elevada com uma dilatação para fora , no alto, que se expande diagonalmente em dois arcos; no ápice há uma cruz em relevo ou achatada. Ela é baseada na coroa imperial fechada do período tardio do Império Bizantino. Consequentemente, é baseada também no camelauco, embora divirja muito dele, posto que se desenvolveu com elementos adicionais. Tem, pois forma de coroabulbosa, decorada com brocados e ricas joias.

Como uma insígnia imperial, tal qual o saco ou a dalmática imperial, significa a autoridade temporal dos bispos, especialmente do Patriarca de Constantinopla, dentro da administração da comunidade Cristão, no Império Otomano.
Cristianismo Oriental

Nas Igrejas Católicas Orientais o uso da mitra é prerrogativa dos bispos, mas pode ser concedida aos arciprestes, aos protopresbíteros e arquimandritas. A mitra presbiteral não é sobreposta pela cruz e é concedida por determinação de um sínodo.

Os bispos ortodoxos orientais usam, às vezes, mitras do estilo ocidental ou oriental. No passado, os bispos coptas usaram o ballin, um omofório enrolado em torno da cabeça como um turbante. Os bispos ortodoxos da Síria usam o masnafto (maşnaphto), literalmente “turbante”) ao presidir a Liturgia. Esta é uma capa grande, rica e bordada frequentemente com a uma imagem do Espírito Santo, em forma de pomba. Os padresortodoxos armênios usam mitras bizantinas, enquanto seus bispos usam mitras ocidentais.

Igreja Anglicana

O uso da mitra foi abandonado na Igreja Anglicana, após a Reforma de Henrique VIII, mas foi reintroduzida no princípio, em consequência do chamado Movimento de Oxford, sendo atualmente usada pela maioria dos bispos anglicanos.

Heráldica

A mitra foi suprimida dos brasões de armas dos bispos católicos, em 1969, sendo mantida nos brasões das dioceses.

Nos brasões anglicanos a mitra sempre esteve presente como timbre.

As ínfulas são descritas com forro vermelho.

O Papa Bento XVI , por influência do heraldista Monsenhor Andrea Cordero Lanza di Montezemolo (depois criado cardeal), retirou a tiara de seu brasão, substituindo-a por uma mitra de prata com três traços dourados (numa referência às três coroas da tiara). Esta atitude de Montezemolo gerou crítica em todas as instituições heráldicas do mundo, que dentre as muitas argumentações, a principal evocada é a de que a Heráldica tem leis seculares e fixas. A Sociedade Americana de Heráldica chegou a sugerir que Montezemolo utilizasse pelo menos o camelauco no brasão papal.

iREFERÊNCIA: in pt.wikipedia.org

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Significado de "indigo"

Cor índigo: conheça tudo sobre essa cor milenar
imagem in: eusemfronteiras.com.br

Pesquisando o significado desta palavra, encontrei algumas versões interessantes:

1ª versão
índigo
ín.di.go 
nome masculino
1.
BOTÂNICA designação comum, extensiva a diferentes plantas do género Indigofera, da família das Leguminosas, próprias de regiões tropicais e subtropicais, das quais se extrai o anil, sendo também conhecidas por anileira, indigueiro, etc.
2.
substância de cor semelhante ao azul-violeta, empregada como corante, que se obtém a partir dessas plantas; anil
3.
cor correspondente à sensação provocada na visão humana pelas radiações monocromáticas cujos comprimentos de onda variam entre os 425 e os 415 nanómetros, aproximadamente
Do grego indikós, «índico; indiano», pelo francês indigo, «índigo»
REFERÊNCIA: Porto Editora – índigo no Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2022-09-12 19:13:09]. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/indigo
2ª versão
Segundo um artigo publicado na revista científica Science, a cor índigo, ou anil, foi descoberta há 6.000 anos no Peru, ou seja, 1.500 anos antes de começar a ser utilizada pelos egípcios, aos quais se atribuía seu primeiro uso.

imagem in lifestyle.sapo.pt

A investigação afirma que o pigmento azul analisado nos restos de um tecido encontrado no sítio arqueológico Huaca Prieta - um centro cerimonial pré-hispânico na região La Libertad (norte) - corresponde a um corante, no "uso mais antigo conhecido do índigo no mundo".
A descoberta está descrita no artigo "Early Pre-Hispanic Use of Indigo Blue in Peru", da autoria de uma equipa de arqueólogos liderada por Jeffrey C. Splitstoser, onde se enaltece que o uso de indigotina (composto químico da tintura do anil) foi identificado após vários testes.
"A presença de um corante indigoide foi firmemente indicado em cinco das oito amostras analisadas que representam dois tecidos lisos e três têxteis entrelaçados", afirmam os pesquisadores.
A matriz original para elaborar esses têxteis foi o algodão (Gossypium barbadense) cultivado na cordilheira dos Andes, em Huaca Prieta.
O ponto de partida da experiência foi uma amostra de fio de cor azul que decora um tecido às riscas. Depois foram analisados mais sete tecidos de Huaca Prieta descobertos em 2009, onde foi detetada a presença de corantes indigoides. Este material remonta a uma época compreendida entre 6.200 e 1.500 anos.
Os investigadores afirmam não existir qualquer dúvida de que se usou, na decoração dos tecidos, o anil extraído da seiva da planta Indigofera tinctoria. Acredita-se que essa planta esteja localizada algures na costa norte do Peru.
FONTE: in lifestyle.sapo.pt
3ª versão:
Definição e significado de índigo – a palavra índigo significa matéria corante que se extrai de plantas para se tingir de azul, anil na Língua Portuguesa.
É o conceito de índigo tendo como definição e referência a origem do termo.
Significado de índigo
substantivo
Matéria corante que se extrai de várias plantas, especialmente do indigueiro, que serve para se tingir de azul, anil.
Qualquer cor que se assemelha à do índigo.
Uma das cores fundamentais do espectro solar.
Árvore do Brasil.
O mesmo que indigueiro.
Sinónimos de índigo
anil, anileira, indigueiro
FONTE: in portuguesaletra.com
4ª versão:
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O índigo é o azul originário da natureza. É um dos mais antigos corantes azuis. Sua história nos leva à Índia, pois era nesse país que ele era encontrado. A palavra índigo é derivada do grego "indikon", que em latim se tornou "indicum" e posteriormente índigo, por volta do final do século XIII. Índigo significa "vindo da Índia" ou ainda "substância da Índia". 
O pigmento azul era extraído, através de processos de fermentação, da folha de uma planta chamada indigofera tinctoria, uma espécie de arbusto florido amplamente cultivado nos trópicos asiáticos. Na antiguidade, a cor azul era associada à realeza e à nobreza, pois só os mais afortunados podiam pagar por corantes dessa cor, devido à dificuldade de se encontrar pigmentos azulados no meio ambiente. Suas fontes eram remotas e distantes. O índigo é um dos únicos azuis derivados de plantas; quase todos eles derivam de metais ou pedras, como por exemplo o lápis lazuli. Na atualidade, o corante índigo é obtido de maneira sintética.
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Índigo é uma das sete cores do arco-íris (as outras são vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta).
Em português a cor índigo é também conhecida como azul anil.
FONTE: oblogdosnomes.blogspot.com

Significado da cor indigo, sinceridade e individualidade - Mulher Portuguesa
 in: mulherportuguesa.com
(Significado da cor indigo - anis)