sábado, 17 de outubro de 2015

Estamos a assistir a um "assalto ao poder", no nosso país?

A viver em Portugal há 40 anos, nunca assisti a tal comportamento político em Portugal, como este que o Dr António Costa tem assumido, desde as eleições legislativas.

Mas quem sou eu para me pronunciar? Na verdade, nada mais que uma simples cidadã que vai acompanhando a vida do seu país, tentando assimilar e compreender o melhor que lhe é possível os jogos político-partidários que, infelizmente, vão surgindo cada vez mais no dia-a-dia dos portugueses.

Deixo esse papel para uma das "grandes entendedoras" do ambiente político em Portugal, uma autoridade (essa sim) nestes assuntos, tratando e interpretando estes temas com muita clareza e que os leitores entendem bem.

Falo de Maria João Avillez que, no jornal Observador, a 14/10/2015, diz o seguinte:


"ANTÓNIO COSTA 

O usurpador


1. De longe o mais extraordinário que está a acontecer em Portugal é que é tudo verdade: não é um sonho, uma ficção, uma mentira, um equívoco, uma ambiguidade, um pesadelo do qual se acorda com indizível alívio apesar do estômago colado às costas e da garganta seca.
Podendo ser isso tudo, a coisa mais forte porém é que é verdade. O último acto desta nunca entre nós estreada peça pode vir a ter como epílogo um governo socialista acolitado de estalinistas e anti-europeístas radicais. Algo totalmente fora deste tempo e deste espaço, mas sobretudo fora das regras eleitorais do Estado de Direito onde vivemos desde há quatro décadas; fora da Europa onde pertencemos; fora do Ocidente de onde somos (ou pode-se porventura arrumar a Nato num qualquer temporário entre-parêntesis ou encaixar a pertença à moeda única numa questão que se pode ou não, tanto faz, “deixar estar” ou ” deixar cair”?).
Sim, uma estreia absoluta em Portugal mas, hélas, fornecida por uma realidade, que embora enviezada e politicamente ilegítima é concreta, de carne e osso. Razões: nenhumas a não ser o pior da natureza humana. Eis o que não estava no nosso programa de vida, nem na agenda do país. Não estava de todo. Não me confundam por favor: não se trata de achar que o PS e o seu líder não têm direito a governar com quem quiserem. Têm, desde que antes disso, tenham ganho eleições ou se se provar que quem as ganhou não encontra condições de navegabilidade.
Também não é – seria demasiado imbecil – questão de não gostar de governos de esquerda. Trata-se de os achar politicamente ilegítimos quando, como é o caso, seriam fundados – e escorados – numa usurpação: o PS chegou à meta em segundo lugar e não em primeiro e pronuncia-se, age e comporta-se em festa e frenesim, como se os socialistas tivessem vencido. Ou como se tivesse sido experimentada uma nova governação da coligação que tivesse já derrapado mil vezes.
O país sabe que se trataria de uma usurpação, a Europa também, o mundo também. E last but not least, os portugueses também sabem. Mesmo que fazendo deles parvos-parvíssimos se evoque “a Constituição” como fonte legitimadora de um governo eleitoralmente anormal.
2. Talvez ninguém tenha sintetizado tão certeiramente a frenética, envenenada valsa de António Costa, como Viriato Soromenho Marques quando sobre ele escreve (DN) que “ (…) correndo ainda o risco de ser visto como o único caso da III República de um secretário-geral que, em vez de se tornar primeiro-ministro depois de ganhar as eleições, quer ser primeiro-ministro para se manter como secretário-geral, mesmo depois de as ter perdido”.
É de tal maneira assim que o veneno da valsa contaminará antes de tudo o próprio Costa, mas sobretudo o PS que eventualmente passará a dois partidos, fruto de uma cisão, mesmo que talvez numericamente menos expressiva. Tornando as coisas claras: o PS, um dos pilares da democracia erguido há mais de quarenta anos e eixo maior da governabilidade do país desde então, iria ao ar em dois segundos, transformando-se numa irreconhecível força política. Disputando taco a taco o espaço do BE e do PCP que chegaram primeiro e já lá têm lugar cativo. Nunca mais se contaria com eles para coisas sérias.
3. Ao contrário, o espaço à direita do PS, sairá, não se duvide, ileso de tudo isto. Enganado mas incólume. Se vierem a desaguar na oposição, PSD e CDS serão implacáveis. Mais unidos que nunca, quando falam do país sabem o que dizem e do que falam. Estão serenos como um lago suíço e, ao contrário de António Costa, não estão desesperados, nem têm pressa. Sabem que o tempo corre a seu favor. Têm agido com responsabilidade e inteligência política. Não foi devido a eles que as bolsas já hoje se inquietaram e ainda a procissão não saiu da igreja.
À hora a que escrevo não começou a segunda reunião entre o quinteto socialista e o friso da coligação mas já se conhece aquilo que mais importa e que habilitará o país a julgar da boa fé dos protagonistas políticos. Refiro-me à pertinência do trabalho politico feito pelo PSD e pelo CDS sobre o guião de António Costa. Há quem veja na atitude do PSD e do CDS destes últimos dias uma anemia, um excesso de placidez, uma desistência. Puro engano. Ninguém dançou valsas em falso, apresentaram trabalho político e com ele encostaram ainda mais António Costa ao seu próprio limite. Tudo ficou à vista de todos.
4. Quando há já bem mais de um ano escrevi aqui um texto de opinião em que deixava vir à tona das palavras a minha simpatia pessoal por António Costa (e sim, sempre foi pessoal e nada política, o que de resto só piora hoje as coisas), um bom amigo alertou-me: “vais pagar caro esse artigo, e lembra-te disto quando daqui a uns tempos ele te for seriamente cobrado”.
Pois bem, já está a ser. A factura é caríssima, a responsabilidade é minha e não tenho idade nem para dizer que me enganei, nem para fingir que não é “bem assim”. É muito pior que “bem assim”. Sucede que assumir um engano (o meu) desta natureza não o torna automaticamente mais explicável, mais compreendível ou compreensível e é por isso que, – repito – é preciso ir buscar a chave deste alarmante comportamento de António Costa ao pior que pode haver dentro de alguém. E mesmo sabendo nós que na política há ainda mais surpresas do que na vida, o mal está feito: haja ou não haja estreia da peça, António Costa não terá, face ao país ou face a mim mesma, uma segunda oportunidade para se redimir deste seu assalto ao poder." (in observador.pt)
Depois de muito bem lido este artigo de opinião, cabe a cada um de nós refletir e tirar as suas próprias conclusões. Claro que tudo depende do acompanhamento que temos feito da situação em Portugal nas últimas semanas e do modo como a temos interpretado (se concordamos com ela, ou não)!

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Hoje é dia 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação!

Todos nós temos o dever de lutar pela nossa saúde e bem-estar.  Para isso, temos de estar atentos à nossa alimentação e estilo de vida que levamos. Pesquisando com atenção, encontrei um texto interessante e elucidativo para se comemorar este dia:
www.centro-edu-integral.pt 
"O Dia Mundial da Alimentação celebra-se anualmente a 16 de outubro.
O dia 16 de outubro marca o dia da fundação da organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura, em 1945.
A celebração do Dia Mundial da Alimentação foi estabelecida em novembro de 1979 pelos países membros na 20ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura. Neste dia realizam-se muitas atividades relacionadas com a nutrição e a alimentação.

Objetivos do Dia Mundial da Alimentação

  • Alertar para a necessidade da produção alimentar e reforçar a necessidade de parcerias a vários níveis;
  • Alertar para a problemática da fome, pobreza e desnutrição no mundo;
  • Reforçar a cooperação económica e técnica entre países em desenvolvimento;
  • Promover a transferência de tecnologias para os países em desenvolvimento;
  • Encorajar a participação da população rural, na tomada de decisões que influenciem as suas condições de vida.
Em 2015 o tema do Dia Mundial da Alimentação é: "Proteção social e agricultura: quebrando o ciclo da pobreza rural”."

FONTE: in www.calendarr.com

Se tivermos lido atentamente estes objetivos, sentimos que os governantes de todos os países do mundo (com a colaboração e participação dos seus povos) têm de "meter mãos à obra", pois há muito a fazer para que eles se concretizem. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

"Viagens pelas receitas de Portugal", por Nelson Carvalheiro


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imagem in: shoppingspirit.pt












"A partir de uma viagem por Portugal e a convite da APTECE 
– Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Economia, 
Nelson Carvalheiro, reconhecido em 2015 pela Feira de Turismo 
espanhola FITUR como FITUR World Travel Blogger, escreveu 
o livro Viagens pelas Receitas de Portugal. 
O seu lançamento faz parte das atividades desenvolvidas pela 
APTECE e que pretendem levar as iguarias nacionais aos quatro
cantos do mundo.

O livro pretende “prestar homenagem aos verdadeiros 
bastiões da gastronomia portuguesa, mostrando um país 
orgulhoso da sua identidade e da sua herança culinária.”
Editado pela Caminho das Palavras e com fotografia de Emanuel 
Siracusa, o livro que acaba de chegar às bancas, é o resultado 
de uma viagem pelo Portugal fiel às suas origens gastronómicas. 
A visita a mais de 300 cidades e vilas deu a conhecer mais de 
250 pratos que, por sua vez, originaram cerca de 30.000 fotografias. 
Se a escrita inspira, as fotografias aguçam o apetite. 
Um cartão-de-visita às origens, singularidade e diversidade 
da gastronomia portuguesa.
“Portugal é dos poucos países no mundo, em que numa distância 
de 30 km encontramos realidades gastronómicas diferentes, 
produtos diferentes, tradições diferentes e histórias magníficas em 
torno da comida e dos produtos. 
E isso deve ser um elemento de diferenciação da promoção 
turística, sobretudo quando, cada vez mais, o turista procura 
experiência e autenticidade”, acrescenta José Borralho, 
Presidente da APTECE." (por Antónia Barroso, 4 october 2015)
FONTE: shoppingspirit.pt

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Prémio Nobel da Paz 2015 para o "Quarteto de Diálogo para a Tunísia"

Quem são estas pessoas que venceram o Prémio Nobel da Paz 2015?
Fazem parte de "uma coligação de organizações da sociedade civil, que teve um papel fundamental no caminho da democratização da Tunísia." (in Económico.sapo.pt). 
Segundo a porta-voz do Comité Norueguês, da Academia Sueca, este prémio "pretende ser 'um elemento encorajador' para todos os tunisinos, mas também poderá funcionar 'como uma inspiração para todos os que aspiram à democracia na Tunísia, Norte de África e no resto do mundo".
Deste Quarteto fazem parte quatro organizações: 
A UGTT (União Geral dos Trabalhadores da Tunísia), a UTICA (Confederação de Indústria, Comércio e Artesanato da Tunísia),  a LDHT (Liga dos Direitos Humanos da Tunísia) e a ONAT (Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia). 
Este Quarteto formou-se pacificamente em 2013, por alturas do verão, quando o país se encontrava à beira de uma guerra civil.
"A distinção da Academia Sueca surge pelo papel desempenhado pelo Quarteto na construção de uma democracia pluralista após a Revolução de Jasmim de 2011: 'Estas organizações representam diferentes sectores e valores da sociedade tunisina: trabalho, segurança social, direito e direitos humanos. Com esta base, o Quarteto exerceu o seu papel como um mediador e força motriz para avançar com um processo de paz democrático na Tunísia'." (in Economico.sapo.pt)
imagem in: www.record.xl.pt

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Notícias nacionais de "última hora" (12 de outubro de 2015)

imagem in: opanorama.pt
O país está "ao rubro" com a grande confusão que reina entre os partidos, por causa das últimas eleições. 
Com efeito, ninguém se entende e há líderes desses mesmos partidos "a desdobrarem-se" em conversações com outros para obterem o que pretendem; estamos a assistir a um "vale-tudo"...! 
O que resultará de tamanha movimentação? Vivemos dias turbulentos, sem dúvida!
Para reflexão da situação que estamos a atravessar, proponho que se leia esta notícia que encontrei no OBSERVADOR:
"O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, recebe esta segunda-feira, às 16h00, o secretário-geral do PS, António Costa, que, antes de ir a Belém, terá ainda encontros com o BE e o PAN.
A reunião entre António Costa e o BE, que chegou a estar marcada para quinta-feira e foi adiada a pedido do partido de Catarina Martins, irá realizar-se às 11:00, na sede dos ‘bloquistas’, enquanto o encontro com o PAN irá decorrer a partir das 14h30.
A audiência de Cavaco Silva a António Costa acontece seis dias depois de o chefe de Estado ter recebido em Belém o líder do PSD, Pedro Passos Coelho.
Depois do encontro com Passos Coelho, o Presidente da República fez uma comunicação ao país, na qual anunciou que encarregou o líder do PSD de desenvolver diligências para avaliar as possibilidades da constituição de uma “solução governativa que assegure a estabilidade política e a governabilidade do país”.
Na comunicação, Cavaco Silva reiterou também que não se substituirá aos partidos no processo de formação do Governo, mas sublinhou que este “é o tempo do compromisso”, onde a cultura da negociação deverá estar sempre presente.
No dia seguinte ao encontro, Passos Coelho e o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, assinaram um acordo de Governo e colaboração mútua, no qual propõem ao Presidente da República um executivo de coligação entre os dois partidos, liderado pelo atual primeiro-ministro.
Na cerimónia de assinatura do acordo, o líder do PSD e atual primeiro-ministro anunciou que iria reunir-se com o secretário-geral do PS para promover “uma cultura de diálogo, de compromissos”, que assegure “estabilidade para governar”.
O encontro entre Passos Coelho, Paulo Portas e António Costa realizou-se na sexta-feira de manhã e, no final, o secretário-geral do PS disse ter-se tratado de uma reunião “bastante inconclusiva”, alegando que PSD e CDS-PP não apresentaram qualquer proposta concreta.
No lado do PSD, Passos Coelho afirmou que os sociais-democratas e o CDS-PP querem acolher propostas do PS para obter um acordo sobre as linhas gerais do seu Programa do Governo e do Orçamento do Estado para 2016, sem traçar “linhas vermelhas”.
Os três partidos marcaram, entretanto, novo encontro para terça-feira.
Também na sexta-feira, António Costa esteve reunido com o partido ecologista Os Verdes, num encontro que o líder socialista classificou como “muito produtivo” e a dirigente ecologista Heloísa Apolónia como “útil”.
Na quarta-feira, o secretário-geral do PS já tinha estado já reunido com o PCP. No final, o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, reafirmou a disponibilidade para viabilizar um elenco governativo socialista e impedir novo executivo da coligação PSD/CDS-PP." (in observador.pt, 12/10/2015, 6:54)

Qual deles é o maior perdedor? É o que veremos, nos próximos tempos...

domingo, 11 de outubro de 2015

Será que António Costa está mesmo desesperado?...

imagem in: www.publico.pt
O nosso país mergulhou numa situação intrincada desde os resultados das eleições!

E António Costa parece disposto a tudo! Começou logo na noite em que perdeu as eleições: depois da derrota que sofreu, declarou, todo sorridente, que não se demitiria... Entretanto, tem-se desdobrado em reuniões com outros partidos, parecendo um salvador da pátria...

Se Costa conseguir avançar e triunfar, não ficará "refém" do PCP e do BLOCO DE ESQUERDA?

Para ajudar a perceber este imbróglio, nada melhor que lermos opiniões de jornalistas que conhecem bem os meandros da política nacional...

Para isso, transcrevo este artigo de 11.10.2015, extraído do OBSERVADOR,  e escrito por Maria de Fátima Bonifácio:
"Costa no seu labirinto
Parto para a análise da intrincadíssima situação em que o País mergulhou, pela mão traiçoeira de Costa, de quatro dados que ou têm sido omitidos ou pouco valorizados. São, para mim, dados essenciais e decisivos. Essenciais significa essenciais. Decisivos significa que determinaram tudo até agora e continuarão a determinar no futuro. Apenas não sei qual é o limite temporal deste futuro, nem qual será o seu desfecho. 

Esses dados são: 
1º. Costa é um homem absolutamente desesperado. 
2º. Costa já não tem nada, mas mesmo nada de nada a perder. 
3º. Tudo o que não seja chegar a primeiro ministro não basta para o salvar. 
4º. Costa não tem carácter, não é homem de palavra, não olha a meios.

O desespero é mau conselheiro em todas as circunstâncias. No caso de Costa, em que o desespero ainda por cima se conjuga com o vexame pessoal, a primeiríssima prioridade do ex-Messias é salvar a sua pele, custe o que custar, doa a quem doer, pague quem pagar. País, partido, eleitores e simpatizantes foram banidos do perímetro das suas preocupações, no interior do qual ele esbraveja como um náufrago para se salvar. Está disposto a tudo, a renegar tudo, a arrasar tudo, desde que ele se erga dos escombros – e escombros já há – e possa anunciar: venci todos, ganhei tudo! Da plateia do seu palco imaginário, o PCP e o Bloco soltarão uma sonora gargalhada. O triunfo anunciado por Costa repousa por inteiro nas mãos deles. No momento propício e oportuno para cada um destes dois adversários entre si, cada um deles lhe puxará o tapete para que todos possam ver que “o rei vai nu”.

Costa já não tem nada a perder. Jogou tudo, apostou tudo naquele fatídico dia em que escarneceu da vitória “poucochinha” por que Seguro ganhara as europeias à Coligação. Ficou obrigatoriamente comprometido com o imperativo irrevogável de lhe contrapor um triunfo esmagador nas legislativas de 2015. Durante um ano andou levado em ombros, empunhando a taça dos vencedores, muito antes de ter vencido e de a batalha começar. Perdeu abjectamente. A muito ténue esperança que lhe restava (ou já nem isso ?) a poucos dias do 4 de Outubro transmutou-se num ápice numa tormenta. O vexame era insuportável. De uma penada, perdia um curriculum de décadas, o sonho de uma vida, um presente triunfal, e diante de si abria-se um futuro vazio. É formado em Direito, mas não é jurista, e teria de recomeçar a advocacia por um segundo estágio. Não exerce profissão para que se possa virar. Aos cinquenta e quatro anos já não se pode começar nada. Sem um passado sobre o qual se continue a construir para a frente, o resto da vida não passará de um frustrante remedeio. Ou seja, não é vida. A solução para este desastre pessoal surgiu rápida: não vencera as eleições, mas ainda podia vencer o eleitorado.

Nos dias que se seguiram ao tétrico veredicto das urnas, Costa entrou na sua, muito dele, “espiral labiríntica”. Em abono da verdade, já antes dera sinais: anunciara que chumbaria qualquer Orçamento de Estado que a Coligação apresentasse, no caso, enunciado como mera hipótese académica, de o “seu” PS não vencer com a maioria absoluta que diariamente implorava aos portugueses. Na noite televisiva, Costa apresentou-se amarelado e com ar grave. Declarou que não faria “coligações negativas”, das que servem só para bota-abaixo. Mas não tardou a ser ele mesmo: com sorriso aberto e ar galhofeiro, garantiu à audiência que não se demitiria… Percebeu-se que se extinguira nele qualquer vestígio, ténue ou remoto, da mais elementar dignidade. E logo a partir de 5 de Outubro percebeu-se também, à medida que muitos socialistas começavam a rosnar, que em seu entender havia uma única coisa que o poderia ainda salvar: chegar, efectivamente, a primeiro-ministro de Portugal. Tudo o que fosse um milímetro menos disto não bastava, não dava para as necessidades (já direi quais eram). Tornar-se o mero líder de uma bancada comprometida com um “entendimento” com o governo Passos Coelho/Paulo Portas? Nem pensar.

Vamos então pôr mãos à obra e vencer o eleitorado. Um político honrado não faz uma coisa tão feia? Mas Costa já fizera coisas feíssimas! Como acontece com qualquer droga, o pior é começar: o vício entranha-se e naturaliza-se imediatamente. Em Fevereiro de 2013 assinara com Seguro o Documento de Coimbra, “Portugal Primeiro”, para o qual disse que tinha contribuído e no qual também disse que se revia. Deu “os parabéns” a Seguro pelo “entendimento” a que se chegara e desistiu da sua candidatura a secretário-geral. Este documento de orientação estratégica, assinado por Costa e Seguro, foi aprovado pela Comissão Política do PS e serviria de base à moção de estratégia aprovada no Congresso do PS de 26-28 de Abril. Costa discursou: “Estamos aqui juntos, juntos somos fortes, juntos somos imbatíveis, juntos venceremos tudo: autárquicas, europeias e legislativas.”

Oito meses depois, em Janeiro de 2014, Costa rasga o Documento de Coimbra assinado por si, renuncia ao mandato de Presidente da CMP que jurara cumprir até ao fim. E o resto já toda a gente sabe: ganhou por margem albanesa as primárias e defenestrou Seguro do Rato. Calçou os patins e durante algum tempo encontrou piso liso e desembaraçado. Ao primeiro teste à sua envergadura, falhou logo. António Nóvoa saiu-lhe ao caminho com muita poesia, candura e total abertura: outro homem disposto a tudo para chegar a Belém, com poucos escrúpulos (não sabia se era crente, nem se gostava mais do PS ou do PC), muitíssima ambição disfarçada de modéstia, e completa abertura: venha um governo de esquerda, acabe-se com esse aberrante “arco da governação”. Problema: Nóvoa dividia o PS. Solução: um dia sim, outro dia não. Nóvoa ficou a cozer em lume brando para o que desse e viesse. E ainda hoje não se fartou de servir de roda sobresselente; outro homem de carácter.

Costa contratou Centeno para lhe dar números que ele não percebia. Who cares? Tinha números, tratava as coisas a sério. O generoso programa assente em tão claros números era sólido. Provavam matematicamente que a austeridade era dispensável sem com isso comprometer as obrigações para com a Europa, o Euro e o Tratado Orçamental. Mas a esquerda dentro do PS logo descobriu, sob o fresco verniz socialista de Centeno, um economista neo-liberal. Disto mesmo se queixava o Bloco, e também o PC: Costa não tinha a coragem de “cortar com as políticas de direita” com que o PS desde sempre andara amancebado. Costa encheu-se de mais coragem. A poucos dias do fim da campanha eleitoral deu uma valente guinada para a extrema-esquerda. E no dia seguinte às eleições perdidas, encheu-se da coragem toda: declarou guerra contra os eleitores.

Tenho-o visto como os grandes campeões de xadrez que se deslocam de mesa em mesa jogando com vários parceiros ao mesmo tempo. Mas Costa não é campeão de nada (com a possível excepção de um sórdido tacticismo). Transformou-se num pedinte que mendiga apoio para um governo seu. Renega a Tradição do PS como fronteira da liberdade e arrasta o partido pelo chão até às moradas dos seus piores inimigos. Nada disto o envergonha. E, espantosamente, não lhe ocorre que o feitiço se possa virar contra o feiticeiro. A primeira porta a que bateu foi a do PC, catedrático da astúcia estalinista. Jerónimo, aconselhado pelo ainda mais indefectível Francisco Lopes, mostrou-se afável, tolerante, aberto, com a singela condição de que o PS “corte com as políticas de direita” que ao longo das décadas têm feito dele um servo do Capital. Costa saiu satisfeito, a reunião foi “muito positiva”. Ou seja, muito naturalmente, da noite para o dia, o PCP fizera uma transfusão de sangue e eliminara Cunhal, a Tradição e Toda a Tralha Estalinista. Costa meteu-se pela boca do lobo dentro e pediu o Diabo em casamento. Mas necessita de bigamia, porque os deputados comunistas não bastam. Amanhã, segunda, ainda terá de levar o PS a rastejar até à morada do Bloco.

Disse que já havia escombros. O PS sempre foi um partido com uma ala mais centrista e uma ala mais a puxar à esquerda. Sócrates deixou lá dentro uma facção própria que complicou esta antiga arrumação a que todos estavam habituados. Mas com António Costa, o Partido Socialista está inextricavelmente balcanizado: são os socratistas, os alegristas, os seguristas, os galambistas, os soaristas de Mário e de João Soares, alguma “tralha guterrista”, e, surpresa das surpresas, os novíssimos “nunistas”. Sim, nunistas, uma seita ruidosa cujo representante máximo, um tal Pedro Nuno Santos, Costa leva sempre consigo na augusta delegação socialista que peregrina pelas outras sedes partidárias. Galamba há muito que se celebrizou por ser sempre uma espinha cravada da garganta de qualquer moderado. De Nuno Santos só me lembro do momento em que berrou no Parlamento, com hercúlea coragem, “Quero lá saber da Troika ou da Europa!” Pelos vistos, singrou. Finalmente, há pelo menos ainda um grupo de “costistas”. Mas quem são, afinal, os costistas? Indaguei junto dos meus amigos socialistas (que são a maioria). Ninguém me soube dizer ao certo. Concluí, portanto, por minha conta e risco. “Costistas” são todos aqueles que se servem de António Costa para que ele usurpe o poder contra o eleitorado e lhes devolva a “importância”, os “lugares”, as prebendas e o acesso ao “spoils system” a que já se tinham habituado. Uma excepção honrosa cumpre desde já destacar: Sérgio Sousa Pinto não teve estômago para semelhante caldeirada. Demitiu-se ontem do secretariado do PS.

Toda esta tropa heterogéna só perdoará a Costa a hecatombe em que lançou o partido se for transitória e rapidamente invertida. Costa carece do seu apoio para conferir existência coerente ao “costismo” e dispor de novo de um partido submetido à sua autoridade, que aliás nunca chegou a ser indiscutível. Para tanto, precisa de ser primeiro-ministro. Menos um milímetro do que isto já não lhe chega para salvar a sua pele. Pague quem pagar, pague o PS e o País todo. Porque se lá chegar, a história ainda estará muito longe de terminada."