sábado, 4 de novembro de 2017

Holandeses põem corvos a apanhar beatas

imagem in: https://acrediteounao.com

Acabei de ler uma notícia sobre animais, que acho interessante e considero-a mesmo "insólita".

Dois designers holandeses estão alarmados com as pontas de cigarros que se espalham por toda a cidade de Amsterdão (Holanda)!

Resolvem tomar medidas para acabar com o problema; e que decidiram então fazer? 

Nada mais, nada menos, que treinar corvos para as apanhar baseando-se na ideia de que os corvos conseguirão associar a comida às beatas; e como estes animais são considerados um dos mais inteligentes do nosso planeta, a experiência parece ir avante...

A ideia não é má, vamos lá a ver é se os corvos não se vão viciar nas beatas, tornando-se fumadores passivos...!!! 

Encontrei esta notícia em: 
https://www.pressreader.com/portugal/sábado/2017

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Croissant francês ameaçado...

inhttp://testadoprovadoeaprovado.blogspot.pt

Ora bem, neste mundo de hoje, o que é que não está ameaçado?

Mas saber que o croissant pode desaparecer, devido à crise da 

manteiga, é forte!... mesmo para quem não é francês! 


Seria uma pena...



França - Crise da manteiga chega ao governo e ameaça croissant

"Prateleiras de supermercados vazias e o preço do croissant a subir. Estas são algumas das consequências da crise da manteiga em França. O caso já chegou ao governo, com o ministro da Agricultura, Stéphane Travert, a garantir que a escassez "não vai durar". Os agricultores do sector, esses, duvidam.

Mas afinal, como começou esta crise? A origem parece estar na China, onde a procura de leite e de produtos à base de manteiga, como a doçaria, dispararam nos últimos anos. Após três décadas de desdém por parte dos nutricionistas, as matérias gordas animais foram também reabilitadas e consideradas essenciais para um estilo de vida saudável.

O consequente aumento na procura coincidiu com a quebra na produção de leite na Nova Zelândia, primeiro exportador mundial.

E na Europa, onde o fim das quotas na produção de leite, há dois anos, 
provocou uma sobreprodução seguida da quebra dos preços, que levou os agricultores a reduzir a produção.

A França, mais do que qualquer outro país europeu, foi apanhada neste problema global, com alguns produtores e intermediários do sector alimentar a pararem as entregas e a considerarem aumentar os preços de revenda.

As pastelarias que fabricam croissants, nos quais a manteiga representa 
um quarto dos ingredientes, já explicaram que podem ter de aumentar 
os  preços.

Tudo porque a tonelada de manteiga, paga a 2500 euros em 2016, 

passou para os 7000 euros desde o verão. Com uma grave quebra na 
produção de leite nos últimos anos, os franceses são os que mais têm  
sofrido com esta crise. 

Então porque não aumentar a produção? Não é tão simples assim. 

França é de facto um dos principais produtores europeus de manteiga,
mas não é autossuficiente e importa cerca de 200 mil toneladas por 
ano. Além disso, se aumentar a produção de leite, isso não afeta apenas
manteiga. Um litro de leite contém 42 gramas de matéria gorda, que 
serve para fazer manteiga - e 33 gramas de proteínas - usadas para o 
leite líquido e em pó. 

Ora este sector é excedentário, com a Comissão Europeia a ter criado 

um mecanismo de regulação do mercado, obrigando a armazenar 
centenas de milhares de toneladas de leite em pó. 

A solução, garantem os produtores, só pode passar pelo aumento 

dos preços da manteiga no supermercado e, a médio prazo, por uma 
mudança nas técnicas de criação do gado. Esta crise vem confirmar a 
dificuldade do governo Macron para honrar a promessa de mudar as 
práticas na cadeia alimentar em benefício dos agricultores. 

E se o mercado começa a mostrar sinais de ajuste, com a época das 

festas aí à porta, quando a procura de doçarias atinge o pico, muitos 
franceses temem que lhes falte o croissant ou o tradicional 
tronco de Natal."
in: dn.pt - por Helena Tecedeiro - 30.10.2017

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

2 de novembro - Dia dos Fiéis Defuntos ou Dia de Finados

Celebra-se hoje, dia 2 de novembro, o Dia de Finados!


in: vmessages.com

"A comemoração do Dia dos Fiéis Defuntos acontece a 2 de novembro em Portugal e no resto do mundo. A data também é conhecida como Dia dos FinadosDia dos Mortos e Dia das Almas (conhecida como All Souls Day a nível mundial).
Celebra-se tradicionalmente pela Igreja um dia depois do Dia de Todos os Santos, 1 de novembro, mas recentemente tornou-se habitual comemorar os dois dias juntos, a 1 de novembro.

Tradição do Dia dos Mortos

A tradição deste dia remonta ao século V, quando a Igreja começou a dedicar um dia do ano para rezar pela alma de todos os mortos, caídos no esquecimento, pelos quais ninguém rezava.
É um dia de celebração dos mortos, onde se realizam missas e se lembram os familiares e amigos que já partiram. Neste dia, que não é um feriado nacional, reza-se pelos pecados das almas que deixaram o mundo.
Em certos países, como o México, o Dia dos Mortos é um grande acontecimento, apresentando festas aguerridas a lembrar o Carnaval e recebendo turistas de todo o mundo para as coloridas celebrações."
in: https://www.calendarr.com/portugal/

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

O que se comemora no dia 1 de novembro

imagem obtida in: faroldanossaterra.net

Neste dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos, os cemitérios enchem-se de pessoas que visitam as campas dos seus familiares mais queridos ou de amigos!

É uma homenagem aos que já partiram.

Dia de Todos os Santos

"Feriado

Próximo 1 de Novembro de 2017 (Quarta-feira)
O Dia de Todos os Santos é comemorado anualmente no dia 1 de novembro e honra todos os santos conhecidos e desconhecidos, mártires e cristãos heróicos celebrados ao longo do ano.

Neste dia é também celebrado (por antecipação) o dia dos Fiéis Defuntos, que se celebra a 2 de novembro.

Origem da data

A origem do dia remonta ao século II, quando os cristãos começaram a honrar os que tinham sido perseguidos e martirizados por causa da sua fé. 

Foi o Papa Gregório III que no século VIII dedicou uma capela em Roma a Todos os Santos e que ordenou que a data fosse celebrada a 1 de novembro.

Tradições do Dia de Todos os Santos

Este dia é dedicado a homenagear todos os que já partiram. Por norma, as famílias portuguesas enfeitam as campas dos seus familiares nos cemitérios e ao longo do dia 1 de novembro visitam os cemitérios para deixar ramos e velas nas campas. 

Antes da visita ao cemitérios realizam-se missas nas paróquias. Depois da missa realiza-se uma procissão até ao cemitério.

No dia 31 de outubro, véspera do dia de Todos os Santos, existe a crença de que as almas dos mortos descem à terra nos locais de nascimento. 

À noite festeja-se o Dia das Bruxas ou Halloween (nome pelo qual é conhecida a noite das bruxas a nível mundial).

Feriado de Todos os Santos

O Dia de Todos os Santos é um feriado nacional. Este dia deixou de ser um feriado nacional em 2013, mas o Governo retomou em 2016 o feriado do Dia de Todos os Santos, por acordo com Santa Sé.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Na vida, é importante assumir uma atitude positiva



"Ao levantares-te pela manhã, assume uma atitude positiva e observa o que existe de melhor à tua volta. 

Contempla o amanhecer e a luz do sol a iluminar o dia.

Observa as cores da natureza e as paisagens que o dia te oferece. 

Vê a beleza do vento a soprar suave sobre as árvores, das aves a cantar no quintal, das flores a inundar o ar com o seu perfume, das crianças a caminho da escola. 

Assim o teu dia será muito mais animado."

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Luta contra os eucaliptos...há 28 anos!

in: https://www.noticiasmagazine.pt/2017/
valpacos-luta-eucaliptos/
A 31 de março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta
no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel
tinha plantado na região. [Arquivo JN]
 

"Há 28 anos um povo lutou contra os eucaliptos. E a terra nunca mais ardeu
Em 1989 houve uma guerra no vale do Lila, em Valpaços. Centenas de pessoas juntaram-se para destruir 200 hectares de eucaliptal, com medo que as árvores lhes roubassem a água e trouxessem o fogo. A polícia carregou sobre a população, mas o povo não se demoveu. 

22/10/2017
Em quase três décadas o Lila escapou ileso aos incêndios. Hoje, todos dizem que é por se terem livrado dos eucaliptos. E lamentam que o resto do país não lhes tenha resistido
A 31 de março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha plantado na região. [Arquivo JN]
A polícia respondeu com uma carga à população, mas revelou-se incapaz de travar os avanços de 800 populares sobre a propriedade. [Arquivo JN]
Quando a cavalaria da GNR se viu cercada, entrou em campo o corpo de intervenção. Só aí os ânimos acalmaram. [Arquivo JN]
No vale do Lila não há mais de sete ou oito aldeias e todas vivem do olival. Os eucaliptos secar-lhes-iam os terrenos e trar-lhes-iam incêndios.
António Morais foi o cabecilha dos protestos. Percorrendo as aldeias depois da missa foi convencendo o povo que o lucro fácil traria prejuízos a médio prazo.
Hoje, o povo sente que a destruição dos eucaliptos foi a sua salvação. E dizem que, se tivessem deixado aquela floresta avançar, não teriam escapado aos incêndios de 2017.
Hoje os terrenos da quinta do Ermeiro são diversos. Há oliveiras e nogueiras, amêndoa e pinho. Em três décadas, nenhum incêndio.
João Sousa esteve na organização dos protestos à socapa, era presidente da freguesia da Veiga do Lila. «Dizem que somos um povo sem educação mas afinal nós é que estávamos certos.»
Os eucaliptos tinham sido plantados há pouco tempo, não foi preciso usar sacholas nem enxadas. Foram arrancados pelas mãos de homens e mulheres, canalha e velharia.
A oliveira e o azeite sempre foram a riqueza da região. É sobretudo disso que ainda vivem hoje as populações de Valpaços.
Ester Oliveira viu o marido ser detido durante os confrontos por posse de arma ilegal. «Foi o povo que o salvou por dizer que ele não arredava pé enquanto ele não fosse libertado.»
A população tinha recuado depois da chegada do corpo de intervenção, mas voltara à carga para defender José Oliveira. A guerra terminou com a sua libertação.
Alguns dos organizadores foram levados a tribunal por invasão de propriedade privada e condenados a pena suspensa. E todos dizem que voltariam a repetir o crime.
Natália Esteves organizou assembleias, bateu à porta dos vizinhos, conseguiu convencer dezenas de agricultores que o eucalipto traria seca e fogo.
Dos 200 hectares de eucalipto não sobram hoje mais do que uma dúzia de árvores junto ao casario do Ermeiro. Se alguém os quiser plantar, o povo arranca-os.
Maria João Sousa tinha 15 anos quando viu a revolução chegar à sua aldeia. Diz que foi o 25 de Abril da sua gente.
Em quase três décadas o Lila escapou ileso aos incêndios. Hoje, todos dizem que é por se terem livrado dos eucaliptos. E lamentam que o resto do país não lhes tenha resistido.
A 31 de Março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha plantado na região. [Arquivo JN]
Texto de Ricardo J. Rodrigues 
«Foi o nosso 25 de Abril», diz Maria João Sousa, que tinha 15 anos quando a revolução chegou à sua terra. No dia 31 de Março de 1989, a rebate do sino, 800 pessoas juntaram-se na Veiga do Lila, uma pequena aldeia de Valpaços, e protagonizaram um dos maiores protestos ambientais que alguma vez aconteceram em Portugal.
A acção fora concertada entre sete ou oito povoações de um escondidíssimo vale transmontano, e depois juntaram-se ecologistas do Porto e de Bragança à causa. Numa tarde de domingo, largaram todos para destruir os 200 hectares de eucalipto que uma empresa de celulose andava a plantar na quinta do Ermeiro, a maior propriedade agrícola da região.
À sua espera tinham a GNR, duas centenas de agentes. Formavam uma primeira barreira com o objectivo de impedir o povo de arrancar os pés das árvores, mas eram poucos para uma revolta tão grande.
A polícia respondeu com uma carga à população, mas revelou-se incapaz de travar os avanços de 800 populares sobre a propriedade. [Arquivo JN]
«Naquele dia ninguém sentia medo. Eles atiravam tiros para o ar e parecia que tínhamos uma força qualquer a fazer-nos avançar», lembra Maria João Sousa.
Maria João, que nesse dia usava uma camisola vermelha impressa com a figura do Rato Mickey, nem deu pelo polícia que lhe agarrou no braço. «Ide para casa ver os desenhos animados», atirou-lhe, mas a rapariga restaurou a liberdade de movimentos com um safanão: «Estava tão convicta que não sentia medo nenhum. Naquele dia ninguém sentia medo nenhum. Eles atiravam tiros para o ar e parecia que tínhamos uma força qualquer a fazer-nos avançar.»
A tensão subiria de tom ao longo da tarde. «Houve ali uma altura em que pensei que as coisas podiam correr para o torto», diz agora António Morais, o cabecilha dos protestos. Havia agentes de Trás os Montes inteiros, da Régua e de Chaves, de Vila Real e Mirandela.
Mas também lá estava a imprensa, e ainda hoje o homem acredita que foi por isso que a violência não escalou mais. Algumas cargas, pedrada de um lado, cacetadas do outro, mas nada que conseguisse calar um coro de homens e mulheres, canalha e velharia: «Oliveiras sim, eucaliptos não».
«Não queríamos arder aqui todos»
A guerra tinha começado a ser preparada um par de meses antes, quando António Morais, proprietário de vários hectares de olival no Lila, percebeu que uma empresa subsidiária da Soporcel se preparava para substituir 200 hectares de oliveiras por eucaliptal para a indústria do papel. «Tinham recebido fundos perdidos do Estado para reflorestar o vale sem sequer consultarem a população», revolta-se ainda, 28 anos depois.
«Nessa altura o ministério da agricultura defendia com unhas e dentes a plantação de eucalipto.» Álvaro Barreto, titular da pasta, fora anos antes presidente do conselho de administração da Soporcel e tornaria ao cargo em 1990, pouco depois das gentes de Valpaços lhe fazerem frente.
António Morais foi o cabecilha dos protestos. Percorrendo as aldeias depois da missa foi convencendo o povo que o lucro fácil trairia prejuízos a médio prazo.
«A tese dominante dos governos de Cavaco Silva era que urgia substituir o minifúndio e a agricultura de subsistência por monoculturas mais rentáveis, era preciso rentabilizar a floresta em grande escala», diz António Morais. O eucalipto adivinhava-se uma solução fácil.
Crescia rápido e tinha boas margens de lucro. Portugal, aliás, ganharia em poucos anos um papel de destaque na indústria de celulose e os pequenos proprietários poderiam resolver muitos problemas de insolvência abastecendo as grandes empresas com uma floresta renovada. A teoria acabaria por vingar em todo o país, sobretudo no interior centro e norte. Mas não em Valpaços.
«Numa região onde a água é tudo menos abundante, teríamos [por causa do eucalipto] problemas de viabilidade das outras culturas», diz António Morais.
«Comecei a ler coisas e percebi que o eucalipto nos traria grandes problemas», continua António Morais. «Por um lado, numa região onde a água é tudo menos abundante, teríamos grandes problemas de viabilidade das outras culturas. Nomeadamente o olival, que sempre foi a riqueza deste povo. E depois havia os incêndios, que eram o diabo. São árvores altamente combustíveis e que atingem uma altura muito grande.»
Na terra quente transmontana o ano são oito meses de inverno e quatro de inferno. O fogo, tinha ele a certeza, chegaria com aquele arvoredo.
Uns meses antes da guerra, começou a conversar sobre o seu medo com algumas das mais relevantes personalidades do vale. Grandes proprietários, políticos da terra, as famílias mais reconhecidas. «Lentamente começou a formar-se um consenso de que o lucro fácil do eucalipto seria a médio prazo a nossa desgraça. Não queríamos deixar secar a nossa terra. E não queríamos arder aqui todos. Tínhamos de destruir aquele eucaliptal, custasse o que custasse.»
Anatomia da conspiração
O núcleo duro estava formado, era constituído por dezena e meia de agricultores capazes de mobilizar o resto do povo. «Aos domingos, íamos às aldeias e no fim da missa explicávamos às pessoas o que podia acontecer à nossa terra», lembra Natália Esteves, descendente de uma família de grandes produtores de azeite feita de repente líder de protesto ecológico. «E também íamos de casa em casa, esclarecer quem não tinha estado nas assembleias.»
Ao início houve renitência, a madeira valeria sempre mais do que a azeitona, e a castanha ainda não rendia o que rende hoje. «Mas tentámos sempre centrar a conversa no que aconteceria daí a uns anos, dizer que os eucaliptos secariam os solos e o povo ficaria refém de uma única cultura, que se alguma coisa corresse mal não teriam mais nada.»
João Sousa esteve na organização dos protestos à socapa, era presidente da freguesia da Veiga do Lila. «Dizem que somos um povo sem educação mas afinal nós é que estávamos certos.»
O que mais assustava aquela gente, no entanto, era o fogo. «Onde há eucalipto, tudo arde. E então o povo já não chamava a árvore pelo nome, mas por fósforos.» A primeira batalha estava ganha: tinham o apoio da população.
João Sousa era nessa altura presidente da junta da Veiga do Lila. «Oficialmente não podia dizer que era contra os eucaliptos, nem ir contra a polícia. Mas, quando falava com as pessoas, dizia-lhes o que haviam de fazer», conta agora com uma gargalhada e sem ponta de medo.
«Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30 anos que não arde», diz João de Sousa.
«Então se tínhamos o melhor azeite do país íamos dar cabo dele para enriquecer uns ricalhaços de fora?» Tem 86 anos e uma destreza de 30, hoje estuga o passo para mostrar a zona que podia ter sido caixa de fósforos. «Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30 anos que não arde. Se o povo não se tem unido hoje estávamos a viver a mesma desgraça que vimos por esse país fora.»
Essa é aliás a conversa mais recorrente por estes dias no vale do Lila. A tragédia florestal portuguesa dá a este povo a impressão que eles sim, tinham razão há muitos anos, quando o governo e as autoridades lhes diziam o contrário.
«Podem achar que somos gente do campo, sem educação nem conhecimento, mas nós cá soubemos defender a nossa terra», diz o velhote. «Temos chorado muito por esta gente que perdeu vidas e animais e casas. E há uma coisa que o meu povo sabe: se temos deixado ficar os eucaliptos, também hoje choraríamos pelos nossos.»
A guerra
Há uns dias que os combates tinham começado. Ataques furtivos do povo, desorganizadamente, para arrancar pés de eucalipto nos limites do Ermeiro. Duas semanas antes da guerra, no Domingo de Ramos, as coisas aqueceram.
«Juntámos duas centenas de pessoas aqui destas aldeias e os donos da empresa chamaram a GNR», lembra António Morais. «Quando eles chegaram já tínhamos dado cabo de uns bons 50 hectares de eucaliptal.» Nesse dia não houve confrontos, porque o povo fugiu. Mas anunciaram a alto e bom som que voltariam depois da Páscoa.
Esse ataque tinha feito notícia no Jornal de Notícias e trazido uma mão-cheia de jornalistas à terra, nomeadamente Miguel Sousa Tavares, da RTP. «Percebi que as coisas estavam a tornar-se muito grandes e foi então que contactei a Quercus. Precisávamos de ajuda.»
A 31 de Março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha plantado na região. [Arquivo JN]
Do outro lado da linha atendeu Serafim Riem, que dirigia o núcleo do Porto da organização ambientalista. O ecologista partiu imediatamente para o terreno. Nesses dias ouviriam do parlamento em Lisboa várias palavras de solidariedade. Sobretudo do PCP, d’Os Verdes e de um jovem deputado socialista chamado José Sócrates.
Agora não valia a pena esconder mais nada. A 31 de março de 1989, domingo depois da Páscoa, o povo juntar-se-ia todo na Veiga do Lila para dar cabo do eucaliptal que restasse. A aldeia enchera-se de jornalistas, havia até um helicóptero a cobrir os acontecimentos do ar.
A direção nacional da Quercus demarcar-se-ia da organização dos protestos através de um comunicado, mas os núcleos do Porto e Bragança encheriam cada um o seu autocarro de ambientalistas carregados de cartazes. Às duas da tarde o sino começou a tocar a rebate. Oito centenas de vozes entoavam «oliveiras sim, eucaliptos não» e largaram por um caminho de terra batida para a quinta do Ermeiro.
Numa hora, foram arrancados 180 hectares de pequenas árvores. «Alguns gozavam com os agentes na cara e levaram umas bastonadas», recorda Natália Esteves.
Não era preciso usar enchadas nem sacholas, os eucaliptos tinham sido plantados há pouco tempo e arrancavam-se com as mãos. A polícia tentava fazer uma linha de defesa, mas duas centenas de agentes não chegavam para aquela gente toda.
Numa hora, foram arrancados 180 hectares de pequenas árvores. «Alguns gozavam com os agentes na cara e levaram umas bastonadas das boas», recorda Natália Esteves. Os que eram de perto diziam-lhes assim: «Tendes razão, por isso vamos fingir que não vemos.» Viravam as costas e o povo ia subindo o terreno.
Num instante, o casario da quinta tornava-se no último reduto da investida. Uma dezena de guardas saíram a cavalo, era demonstração de força mas não surtiu resultado. A Soporcel tinha construído socalcos para plantar os eucaliptos e, agora, os animais não conseguiam descê-los.
«O povo ia atirando pedras aos guardas, houve um que acertou no cavalo e mandou-o abaixo», diz João Morais. Foi nesse momento que entrou em campo o corpo de intervenção, disposto a levar toda a gente pela frente. «Aí as coisas podiam ter descambado definitivamente.»
Todos por um
A guarda especializada avançava agora colina abaixo com escudos e capacetes. José Oliveira, um agricultor da pequena aldeia de Émeres, tentou escapar pela lateral, mas foi logo caçado pela guarda. No bolso trazia um revólver e foi isso que o tramou. «Levaram-no logo detido para dentro do jipe por posse de arma ilegal», conta agora a sua viúva, Ester.
Aquela detenção marcaria o início do fim da guerra. «As pessoas tinham recuado por causa do corpo de intervenção, mas quando se aperceberam que um dos nossos estava preso começaram a gritar que não arredariam pé enquanto ele não fosse solto», diz João Morais. Ester anui, «foi o vale inteiro que salvou o meu homem.» Agora já não havia pedras, havia gritos. Que libertassem o tio Zé e rápido.
Ester Oliveira viu o marido, José Oliveira, ser detido durante os confrontos por posse de arma ilegal. «Foi o povo que o salvou por dizer que não arredava pé enquanto ele não fosse libertado.»
Serafim Reim, o homem da Quercus, é que foi lá negociar a libertação com os guardas. Sobravam menos de 20 hectares de eucalipto, o povo deixá-los-ia em paz se soltassem o velhote. Uma hora depois, houve consenso. Identificaram José Oliveira, caçaram-lhe a arma e mais tarde levaram-no a tribunal, mas naquele dia saiu pelo seu pé para os braços da mulher, e daí para casa.
António Morais, Natália Esteves, João Sousa e mais uma dezena de organizadores do protesto também seriam chamados à barra da justiça, um ano depois enfrentaram acusação de invasão de propriedade privada e foram condenados com pena suspensa.
«Ainda vieram uns engenheiros da Soporcel dizer que retirariam a queixa se nos comprometêssemos a não destruir uma nova plantação de eucalipto. Disse-lhes que nem pensar, aqui nunca teríamos árvores dessas no nosso vale.»
Nas noites seguintes arrancou-se à socapa quase tudo o que faltava, ficaram apenas meia dúzia de hectares a rodear o casario da quinta, mais passível de vigia. A Soporcel acabaria por desistir e vender a propriedade e a família que a comprou, quando ousou confessar a Natália Esteves que pensavam plantar eucaliptos, foram logo avisados: «Se os botais nós os arrancamos.»
«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é reduzir o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone», diz o ambientalista Serafim Riem.
Hoje, o Ermeiro é terra de nogueiras e amendoeiras, oliveiras e pinho. Nunca ardeu. Serafim Riem, o ambientalista da Quercus, diz que até hoje a guerra do povo de Valpaços é um marco, a maior ligação jamais vista no país entre o mundo rural e o ativismo ecológico.
«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é reduzir drasticamente o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone, que não só tem melhor imunidade ao fogo como gera uma riqueza mais diversificada para as populações.»
Naquele 31 de março de 1989, o povo uniu-se e, diz agora, salvou-se. «Nós é que tínhamos razão», repetem uma e outra vez, repetem todos. Às seis da tarde, depois de José Oliveira ser libertado, um vale inteiro voltou pelo mesmo caminho e juntou-se no principal largo de Veiga do Lila. Mataram-se dois borregos e um leitão, abriram-se presuntos e deitaram-se alheiras à brasa, houve até quem trouxesse uma pipa de vinho. A festa durou noite dentro e foi maior do que qualquer romaria de Santa Bárbara.

À volta da fogueira acabariam por juntar-se também os guardas que horas antes defendiam o Ermeiro. E ali ficaram a comer e beber, vencedores e vencidos, que em Trás-os-Montes nunca se nega hospitalidade. Maria João Sousa nunca tinha visto uma coisa daquelas, nem nunca voltaria a vê-la na sua terra. Foi o 25 de Abril da sua gente. «Há lá coisa mais bonita do que uma revolução.»"

domingo, 29 de outubro de 2017

A mostarda e os seus benefícios