sábado, 11 de julho de 2020

Adolfo Coelho - Cantos de berço


in pt.wikipedia.org

Melodias - Cantos de berço


"Ó meu menino
Ru-Ru...
Cantam os anjos, 
Dormirás tu.

O meu menino é d'oiro,
D'oiro é o meu menino;
Hei-de levá-lo aos anjos
Enquanto ele é pequenino.

Vai-te embora, passarinho,
Deixa a baga do loureiro;
Deixa dormir o menino, 
Que está no sono primeiro.

Rola, rola, meu menino,
Quem te há-de dar a mama?
O teu pai foi par o moinho, 
Tua mãe caiu na cama.

O meu menino tem sono,
Tem sono e quer nanar:
Venham os anjos do céu
Ajudá-lo a embalar."

(Jogos e rimas infantis, de Adolfo Coelho, Edições ASA)


Adolfo Coelho, por João Leal

Adolfo Coelho 

Promotor e interveniente das célebres Conferências do Casino, historiador da literatura, introdutor em Portugal dos estudos linguísticos e da pedagogia, Francisco Adolfo Coelho (1847-1919) foi sobretudo - a par de Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso, Leite de Vasconcelos e Rocha Peixoto - uma das figuras decisivas na constituição e desenvolvimento inicial da etnografia e da antropologia em Portugal, no decurso do período que se estende dos anos 70/80 do século XIX até às primeiras décadas do século XX.

De acordo com as linhas gerais desse período, a obra de Coelho começou por privilegiar o estudo da literatura e das tradições populares. Na área da literatura popular, Adolfo Coelho organizou nomeadamente a primeira recolha sistemática de contos populares portugueses (Os Contos Populares Portugueses, 1879) assim como as primeiras recolhas de literatura e tradições infantis (Jogos e Rimas Infantis, 1883). Na área das tradições populares, além de inúmeros outros estudos avulsos, Coelho foi o autor dos Materiais para o Estudo das Festas, Crenças e Costumes Populares Portugueses (1880) - publicados na Revista de Etnologia e Glotologia por ele fundada e dirigida - e que constituem uma das mais importantes recolhas de tradições populares da antropologia portuguesa oitocentista. A este interesse inicial pela literatura e pelas tradições populares, Adolfo Coelho acrescentou, posteriormente aos anos 80 do século XIX, um interesse mais alargado por outros domínios da cultura popular portuguesa. Esse processo de alargamento temático da sua pesquisa é testemunhado antes do mais pelos programas de estudos etnográficos e antropológicos de que foi o autor, com particular destaque para aquele que foi publicado sob o título Exposição Etnográfica Portuguesa (1896). Mas encontrou também eco num conjunto de investigações concretas, entre as quais se salientam Os Ciganos de Portugal (1892), diversos estudos sobre cultura material (A Caprificação, 1896, Alfaia Agrícola Portuguesa, 1901), e, sobretudo, os ensaios consagrados à análise, a partir de um ponto de vista antropológico, de questões de natureza pedagógica (Os Elementos Tradicionais da Educação, 1883, A Pedagogia do Povo Português, 1898 e Cultura e Analfabetismo, 1916).

Caracterizada por uma importante abertura temática, a obra de Adolfo Coelho pode também ser vista como um lugar onde se cruzam de forma simultaneamente eclética e rigorosa os diferentes modelos teóricos que, na época, se encontravam à disposição dos estudiosos da cultura popular. Nas áreas da literatura e das tradições populares, as referências teóricas usadas por Coelho vão do difusionismo pré-evolucionista de Theodor Benfey à mitologia comparada de Max Müller e ao evolucionismo de Tylor e Lang. Na sua restante produção antropológica, é possível detetar, a par de uma importante influência evolucionista, uma certa abertura relativamente ao difusionismo alemão e, mesmo, em relação à Escola Sociológica Francesa de Durkheim e Mauss.

Resultando de um esforço multifacetado e irrequieto para enraizar em Portugal uma tradição de estudos antropológicos atenta aos desenvolvimentos que a disciplina conhece internacionalmente entre os anos 70 do século XX e o início do século XX, a obra de Adolfo Coelho deve também ser vista como um lugar onde ganha corpo uma reflexão sobre Portugal e sobre a cultura popular portuguesa marcada por um dos grandes temas estruturantes do pensamento português oitocentista: o tema da decadência e da regeneração nacionais. A opção de Coelho por esse tema remonta à sua participação nas Conferências do Casino. Mas tem também expressão na sua obra antropológica, onde é possível encontrar uma permanente oscilação entre duas formas de encarar a cultura popular portuguesa. Esta ora é vista como um fator de regeneração suscetível de contrariar a decadência do país, ora é vista como um domínio ele próprio afetado pelo irreversível declínio da nacionalidade.

Pela vontade de saber que nela se expressa, pelo espírito inovador e irrequietismo intelectual que a atravessam, pelo seu comprometimento com as grandes questões do seu tempo, a obra etnográfica e antropológica de Adolfo Coelho deve pois ser vista como um dos "lugares de memória" da antropologia e da cultura portuguesas.

(Pesquisa encontrada in: 
http://cvc.instituto-camoes.pt)

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Uma frase importante de António Guterres

in observador.pt

"A luta contra o vírus é a nossa maior preocupação atual, mas o tema que vai marcar o nosso tempo continua a ser o das alterações climáticas." 

(António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, em entrevista ao jornal espanhol El País)


imagem https://envolverde.cartacapital.com.br


imagem in esquerda.net

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Maria da Fé: uma fadista portuguesa

Cantarei até que a voz me doa 
Pra cantar, cantar sempre meu fado 
Como a ave que tão alto voa 
E é livre de cantar em qualquer lado 

Cantarei até que a voz me doa 
Ao meu país, à minha terra, à minha gente 
À saudade e à tristeza que magoa 
O amor de quem ama e morre ausente 

Cantarei até que a voz me doa 
Ao amor, à paz cheia de esperança 
Ao sorriso e à alegria da criança 
Cantarei até que a voz me doa