sábado, 26 de fevereiro de 2011

"A Grande Evasão" (de Professores) - um artigo importante de Manuel António Pina

Para que a sociedade reflicta...


"A Grande Evasão

Por outras Palavras - Manuel António Pina 

'Quem pode, foge. Muitos sujeitam-se a perder 40% do vencimento. Fogem para a liberdade. Deixam para trás a loucura e o inferno em que se transformaram as escolas. Em algumas escolas, os conselhos executivos ficaram reduzidos a uma pessoa. Há escolas em que se reformaram antecipadamente o PCE e o vice-presidente. Outras em que já não há docentes para leccionar nos CEFs. Nos grupos de recrutamento de Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia. Há centenas de professores de Contabilidade e de Economia que optaram por reformas antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como profissionais liberais ou em empresas de consultadoria. Só não sai quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento ou porque não tem a idade mínima exigida. Conheço pessoalmente dois professores do ensino secundário, com doutoramento, que optaram pela reforma antecipada com penalizações de 30% e 35%. Um deles, com 53 anos de idade e 33 anos de serviço, no 10º escalão, saiu com uma reforma de 1500 euros. O outro, com 58 anos de idade e 35 anos de serviço saiu com 1900 euros. E por que razão saíram? Não aguentam mais a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada, reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar. Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários administrativos.

'Se não ficasse na história da educação em Portugal como autora do lamentável 'pastiche' de Woody Allen 'Para acabar de vez com o ensino', a actual ministra teria lugar garantido aí e no Guinness por ter causado a maior debandada de que há memória de professores das escolas portuguesas. Segundo o JN de ontem, centenas de professores estão a pedir todos os meses a passagem à reforma, mesmo com enormes penalizações salariais, e esse número tem vindo a mais que duplicar de ano para ano.

Os professores falam de 'desmotivação', de 'frustração', de 'saturação', de 'desconsideração cada vez maior relativamente à profissão', de 'se sentirem a mais' em escolas de cujo léxico desapareceram, como do próprio Estatuto da Carreira Docente, palavras como ensinar e aprender. Algo, convenhamos, um pouco diferente da 'escola de sucesso', do 'passa agora de ano e paga depois', dos milagres estatísticos e dos passarinhos a chilrear sobre que discorrem a ministra e os secretários de Estado sr. Feliz e sr. Contente. Que futuro é possível esperar de uma escola (e de um país) onde os professores se sentem a mais?' "
                              Manuel António Pina

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cristina Branco: "Invitation au voyage" - Um convite à viagem...

"Um convite à viagem

Em direção a Paris, Buenos Aires ou Lisboa, a voz de Cristina Branco guia-nos em voos livres, mas seguros. VEJA O VIDEOCLIPE da música Invitation au Voyage e oiça Cristina a cantar Baudelaire.
(Clique no botão para dar início ao vídeo em http://aeiou.visao.pt/um-convite-a-viagem=f591657)Pedro Dias de Almeida

10:53 Quinta feira, 24 de Fev de 2011
"Como é que sabias que era isto que eu queria que tu dissesses?", escreveu Cristina Branco a Pedro da Silva Martins, depois de ler, pela primeira vez, a letra de Não Há Só Tangos em Paris. A canção que dá título ao novo disco da cantora (a lançar na próxima segunda-feira, 28) tem a assinatura do músico e compositor dos Deolinda - esse mesmo, autor de Parva Que Sou, a canção promovida a hino de geração e que tomou o país de assalto. Conheceram-se num concerto partilhado no Castelo de S. Jorge, em Lisboa, mantiveram o contato, e Cristina lembrou-se de Pedro para lhe propor a escrita de um fado ou de um tango para o seu novo disco. "Ele fez-me um fado em que fala do tango em Paris... Achei piada como ele foi buscar todos os elementos que eu queria, juntou universos que eu não sabia bem como ligar, e a canção tornou-se o fio condutor de todo o trabalho."

Fado-tango
Em Não Há Só Tangos em Paris ouve-se castelhano, francês e português. Línguas que denunciam as viagens escolhidas para este disco - "No fundo, isto é sempre uma viagem; as pessoas, os encontros...", dirá Cristina Branco sobre o seu trabalho. Neste caso, o ponto de partida foi mesmo on the road ao som de um clássico da América Latina. "Íamos na estrada, eu e os músicos todos, num país qualquer, ouvi a canção Dos Gardenias e soube-me tão bem que pensei logo 'Bolas! Adorava cantar isto!'. De facto, foi nesse instante que nasceu este disco." E, agora, Cristina Branco juntou-se mesmo à imensa lista de cantores que gravaram este bolero composto na década de 30 do século passado pela cubana Isolina Carrillo. Do bolero ao tango vão dois passos rápidos, ritmados e... "Comecei a juntar vários elementos para conceber este fado-tango, é disso que se trata: fado-tango." Afinal, a distância musical que vai de Buenos Aires a Lisboa não é assim tanta: são cidades que cantam, há décadas, os mesmos sentimentos, com bandas sonoras diferentes. "O tango é mais histriónico, mais visual, muito mais desbocado, espontâneo e ousado; o fado é mais contido, mais reservado, mas faz todo o sentido ligar os dois universos."

Quando se deu a conhecer como cantora, no final dos anos 90, muitos apressaram-se a fechar Cristina Branco na gaveta, muito em voga, das novas fadistas. Mas já então era uma arrumação pouco acertada. "Sou uma cantora, e ponto final", diz. Para logo acrescentar: "Uma cantora que também canta fado, mas ser fadista tem qualquer coisa a ver com uma atitude, e eu não sei se tenho essa atitude... Nunca me vi num quotidiano de casas de fado, por exemplo; respeito-as muito, gosto de lá ir, de vez em quando, mas não é o meu mundo. Gosto de, e preciso de, cantar outras coisas". Ponto final.

'Sou eu' Quando fala em "juntar vários elementos", Cristina Branco está, certamente, a referir-se aos convites que sempre faz a gente das palavras e da música, que admira: a Carlos Tê pediu uma letra e música ("Ficou muito envergonhado...", mas escreveu e compôs Canção de Amor e Piedade), a António Lobo Antunes, por via do amigo comum Júlio Pomar, pediu um fado (Quando Julgas que Me Amas), a Manuela de Freitas pediu um tango (Talvez) e ainda ganhou um fado de bónus (Se Não Chovesse Tanto Meu Amor, que abre o disco)... "Juntar vários elementos" significa, ainda, a procura de um alinhamento sem fronteiras: em Não Há Só Tangos em Paris canta Jacques Brel (Les Désespérés), um tango celebrizado por Gardel (Anclao en Paris), um poema de Baudelaire (Invitation au Voyage; "convite à viagem", que esteve para ser o título do novo disco), musicado pelo pianista João Paulo Esteves da Silva, ...

O resultado é estranhamente coerente, do princípio ao fim do disco. E não é só a voz, sempre presente e inconfundível, de Cristina Branco, a dar-lhe coerência. A isto chama-se encontrar um som, um estilo próprio. "Sou eu", tenta auto-explicar-se Cristina Branco, "e as decisões que tomo, as pessoas que me rodeiam." http://aeiou.visao.pt/um-convite-a-viagem=f591657 "
(clicar para dar início ao vídeo)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os Professores...

Por: João Ruivo



"Ser professor

Ser professor é a mais nobre dádiva à humanidade e o maior contributo para o progresso dos povos e das nações. E, como ninguém nasce professor, é necessário aprender-se a ser. Leva muitos anos de estudo, trabalho, sacrifício, altruísmo e até dor.

Um professor tem que aprender o que ensina, o modo de ensinar e tudo (mesmo tudo) sobre os alunos que vão ser sujeitos à sua actividade profissional. Mas não se iludam: depois de tudo isso um professor nunca está formado. Tem que aprender sempre. Um professor carrega para toda a vida o fardo de ter que ser aluno de si próprio. De se cuidar, de estar sempre atento, ter os pés bem postos no presente e os olhos bem focados no futuro.

Ser professor obriga a não ter geração. Professor tem que saber lidar com todas elas, as que o acompanham durante quatro décadas de carreira. É pai, mãe e espírito santo. E, para o Estado, ainda é um funcionário que, zelosamente, se obriga a cumprir todas as regras da coisa pública.

Por tudo isso, professor é obra permanentemente inacabada. É contentor onde cabe sempre mais alguma coisa. O professor é um intelectual, mas também é um artesão; é um teórico, mas que tem que viver na e com a prática; é um sábio, mas que tem de aprender todos os dias; é um cientista que tem que traduzir a sua experimentação para mil linguagens; é um aprendente que ensina; é um fazedor dos seres e do saberes; mas é também um homem, ou uma mulher, como todos nós, frágil, expectante e sujeito às mais vulgares vulnerabilidades.

O professor contenta-se com pouco: alimenta a sua auto-estima com o sucesso dos outros (os que ensina), e tanto basta para que isso se revele como a fórmula mágica que traduz a medida certa da sua satisfação pessoal e profissional. Por isso é altruísta e, face ao poder, muitas vezes ingénuo e péssimo negociador.

O professor vive quase todo o tempo da sua carreira em estádios profissionais de enorme maturidade e de mestria. São estádios em que a maioria dos docentes se sentem profissionalmente muito seguros, em que trabalham com entusiasmo, com serenidade e com maturidade, e em que, num grande esforço de investimento pessoal, se auto conduzem ao impulsionar da renovação da escola e à diversificação das suas práticas lectivas.

Infelizmente, de onde devia partir o apoio, o incentivo e o reconhecimento social, temos visto aplicar medidas políticas, e expressar pensamentos, através de palavras e de obras, que menorizam os professores, que os denigrem junto da opinião pública, no que constitui o maior ataque à escola e aos professores perpetrado nas últimas três décadas do Portugal democrático.

Um ataque teimoso, persistente, vitimador e injustificado que tem levado o grande corpo da classe docente a fases profissionais negativas, de desânimo, de desencanto, de

desinvestimento, de contestação, de estagnação, e de conformismo, o que pressagia a mais duradoira e a mais grave conjuntura profissional de erosão, mal-estar e de desprofissionalização.

Se não for possível colocar um fim rápido a estas políticas de agressão profissional, oxalá uma década seja suficiente para repor toda uma classe nos trilhos do envolvimento, do empenhamento e do ânimo, que pressagiem o regresso ao bem estar e à busca do desenvolvimento pessoal.

Importante, agora, será a persistência na ilusão. Os professores são uma classe única e insubstituível. A sociedade já não sabe, nem pode, viver sem eles. O Estado democrático soçobraria sem a escola. O novo milénio atribui aos professores funções e competências indispensáveis ao desenvolvimento da sociedade do conhecimento. O futuro tem que ser construído com os professores e as suas organizações. Nunca contra, ou apesar deles.

Ser professor é, portanto, tudo isto e muito mais. É uma bênção, é um forte orgulho e uma honra incomensurável. Quem é professor ama o que faz e não quer ser outra coisa. Mesmo se, conjuntural e extemporaneamente, diz o contrário. Fá-lo por raiva e revolta contra os poderes que, infamemente, o distraem da sua missão principal e, injustamente, o tentam julgar na praça pública, com cobardia e sempre com grave falta ao rigor e à verdade.

Como diria a minha colega Alen, ao longo da história mais recente a sociedade já precisou que os professores fossem heróis para que assegurassem o ensino nos momentos mais difíceis e nas condições mais adversas; já necessitou que fossem apóstolos para que aceitassem ganhar pouco; que fossem santos para que nunca faltassem, mesmo quando doentes; que se revelassem sensíveis, para que garantissem as funções assistenciais e se substituíssem à família e ao Estado; e que, simultaneamente, se mantivessem abertos e flexíveis para aceitarem todas as novas políticas e novas propostas governamentais. Mesmos as mais ilógicas e infundadas.

Porém, agora é bom que os mantenhamos lúcidos, para que possam ultrapassar com sucesso este injusto desafio a que, ultimamente, têm vindo a ser sujeitos.

João Ruivo

"SITUAÇÃO ACTUAL


Professor Coordenador na Escola Superior de Educação do Instituto Piaget (Campus Universitário de Almada - Lisboa - Portugal).

Membro do Conselho Científico do Centro de Investigação em Políticas e Sistemas Educativos (CIPSE) do Instituto Politécnico de Leiria - Portugal.

Director Fundador do jornal “Ensino Magazine”.

Empresário (EDUTOPIA, Consultores & Serviços, Lda.).

FORMAÇÃO ACADÉMICA
Doutor em Teoria e História da Educação (Faculdade de Educação da Universidade de Salamanca).

Mestre em Análise e Organização do Ensino (Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa).


Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa).


Diplomado em Administração (Universidade Técnica de Lisboa).

Diplomado em Direcção Estratégica de Universidades (Universidade Politécnica da Catalunha - Barcelona)."





























A origem do nome da Povoação "Olhos de Água"



"OLHOS de ÁGUA" 

Segundo o Dicionário do Nome das Terras, de João Fonseca, Olhos de Água é uma freguesia do concelho de Albufeira. 

Também pode aparecer escrito sob outras formas, como Olhos d'Água, e Olhos-de-Água.

É uma povoação de origem piscatória  e o seu nome tem origem nas nascentes de água que há na região. Essas nascentes sugerem outros topónimos, tais como: Boliqueime e Olhão.
 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um Português Exemplar - Manuel de Arriaga



"Era oriundo de famílias aristocráticas e descendente de flamengos. O pai deixou de lhe pagar os estudos e deserdou-o.

Trabalhou, dando lições de inglês para poder continuar o curso.

Formou-se em Direito.

Foi advogado, professor, escritor, político e deputado.

Foi também vereador da Câmara Municipal de Lisboa.

Foi reitor da Universidade de Coimbra.

Foi Procurador-Geral da República.

Passou cinquenta anos da sua vida a defender uma sociedade mais justa.

Com 71 anos foi eleito Presidente da República.

Disse na tomada de posse: "Estou aqui para servir o país. Seria incapaz de alguma vez me servir dele..."

Recusou viver no Palácio de Belém, tendo escolhido uma modesta casa anexa a este.

Pagou a renda da residência oficial e todo mobiliário do seu bolso.

Recusou ajudas de custo, prescindiu do dinheiro para transportes, não quis secretário, nem protocolo e nem sequer Conselho de Estado.

Foi aconselhado a comprar um automóvel para as deslocações, mas fez questão de o pagar também do seu bolso.

Este SENHOR era Manuel de Arriaga e foi o primeiro Presidente da República Portuguesa."

Encontrei aqui: http://costalpina.blogspot.com/2011/01/e-bom-lembrar-aqui-um-politico-de-que.html

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sophia..."Vida de versos"...


A obra de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi entregue à Biblioteca Nacional a 26 de Janeiro último, tendo-se inaugurado uma exposição a ela dedicada, sob o título de "Uma Vida de Poeta". Ao mesmo tempo, a Caminho, que editou num único volume,  em fins de 2010, toda a poesia de Sophia, lançou o respectivo catálogo da Exposição.

Maria Leonor Nunes escreveu num artigo do JL (nº 1052, 26.01. a 8.02.2011), onde refere que, segundo Margarida Gil, Sophia de Mello Breyner Andresen era "a encarnação da poesia", enquanto que para Urbano Tavares Rodrigues era uma "diva". Guilherme d' Oliveira Martins põe em destaque dois traços muito característicos na poetisa:  "coragem e sensibilidade", para além de reconhecer nela, um empenho muito grande como cidadã.

Maria Andresen, filha de Sophia, lembra-se de ouvir sua mãe dizer (citando o grande Fernando Pessoa) que "um poeta não tem biografia"!

E para concluir, Maria Leonor Nunes continua a citar Margarida Gil: "Tudo nela evocava aquilo a que chamava o poeta como anunciador do mundo. Tudo nela era inspiração, convocação - o que podia ser um pouco intimidante".

domingo, 20 de fevereiro de 2011