sábado, 29 de outubro de 2022

Último debate das presidenciais brasileiras entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro

Ataques ofuscam propostas no último debate entre Lula e Bolsonaro
imagem obtida in https://www.correiobraziliense.com.br/


Alta tensão no último debate presidencial no Brasil

Não se esperava propriamente um debate calmo e moderado. E não desiludiu, o último encontro entre os dois rivais antes do desfecho das presidenciais brasileiras, este domingo.

Cada um dos candidatos teve praticamente rédea livre para tentar cativar parte do eleitorado oposto. Com acusações mútuas de corrupção, a prometida subida do salário mínimo foi arma de arremesso.

"Você se comporta como o pai dos pobres, mas em 2020 para atender os pobres que foram obrigados a ficar em casa, nós demos um auxílio emergencial de 600 reais. O que é que fica para os jovens no Brasil? Você disputando uma eleição, com percentagens, segundo as pesquisas fajutas, altas? Que o crime compensa?", perguntou Jair Bolsonaro.

E a diversidade de argumentos e insultos só aumentou ao longo dos 90 minutos de debate.

"A única coisa que você fez foi negar a vacina no tempo certo e permitir que mais de 300 mil pessoas morressem sem necessidade nesse país. E um dia você pagará por isso. Recolhemos milhares de armas e tocámos fogo na praça pública, porque no meu governo a gente vai distribuir livros", afirmou Lula da Silva.

No final do encontro, que foi organizado pela TV Globo, o atual presidente deu uma entrevista à estação, como relata o jornal de Folha de São Paulo. E há uma afirmação que está a dar muito que falar: Bolsonaro declarou que "quem tiver mais votos, leva", a vitória entenda-se, ou seja, abrindo aparentemente a porta à aceitação do resultado, seja ele qual for.

REFERÊNCIA: (in https://pt.euronews.com/2022/10/29/alta-tensao-no-ultimo-debate-presidencial-no-brasil)

"Deu tudo em águas de bacalhau" - o significado desta expressão tão utilizada no nosso dia-a-dia

Episódio 90 - ficar em águas de bacalhau - Observatório da Língua Portuguesa
in observalinguaportuguesa.org

"Dar tudo em águas de bacalhau"

(ou ficar tudo em águas de bacalhau)

Esta expressão popular significa o mesmo que:

  •  fracassar
  •  acabar em fiasco (resultado desfavorável, fracasso)
  •  ir por água abaixo
  • adeus, minhas encomendas! - expressão de registo familiar que nos transmite uma exclamação de deceção para indicar que estão esgotados todos os meios, todas as possibilidades, todas as esperanças, nada mais havendo a fazer
  • lá se vai tudo quanto/que Marta fiou - de registo popular transmitindo-nos o significado de todos os bens disponíveis, os recursos empenhados num empreendimento, as economias acumuladas, os lucros de um negócio
  • dar em nada
  • dar xabu (fracassar, gorar-se, não dar certo)
REFERÊNCIABaseei-me na pesquisa que efetuei em 
Novos Dicionários de Expressões idiomáticas, de António Nogueira Santos, Edições João Sá da Costa.1ª edição, 1990

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Covid 19 não acabou e vai continuar por aí...

Pois, eu sei, é uma realidade desagradável para todos nós, e segundo as notícias que li na Euronews de hoje, 26.10.2022, cujo texto partilho em baixo, a pandemia não acabou mesmo! (in pt.euronews.com) 

Lá teremos de continuar a tomar precauções e cuidados redobrados! 

Máscaras e gel desinfetante mantêm IVA de 6% em 2022
imagem obtida em deco.proteste.pt

A Agência Europeia de Medicamentos alerta que a pandemia da Covid-19 ainda não terminou e adverte que a mutação do vírus é mais rápida do que a atualização das vacinas.

O diretor de estratégias para as vacinas da EMA, Marco Cavaleri, afirma que os dados recolhidos pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças indicam que a Europa será atingida, nas próximas semanas, por uma "nova vaga", de casos com as novas sub-variantes da Ómicron.

"Na semana passada, uma destas novas variantes Ómicron, denominada BQ.1, foi identificada em pelo menos cinco países da União Europeia e do Espaço Económico Europeu. De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças a BQ.1 e cada sub-variante, que se chama BQ.1.1, tornar-se-á a linhagem dominante em meados de novembro, até ao início de dezembro", diz Cavaleri.

A Agência Europeia de Medicamentos recorda que no outono e no inverno o SARS-CoV-2 e o vírus da gripe circulam em simultâneo, recomendando aos cidadãos que sejam inoculados com as duas vacinas, especialmente se pertenceram aos grupos de risco.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a Europa registou um 1,4 milhões de infeções e 3250 mortes, por covid-19, na última semana, recomendando, por isso, a continuação dos programas de vacinação.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Frei Hermano da Câmara: vamos recordar a sua voz excecional!



D. Hermano Vasco Vilar Cabral da Câmara OSB, de nome artístico Frei Hermano da Câmara (Lisboa, 12 de julho de 1934) é um cantor e monge beneditino português, nascido numa família aristocrática ligada ao fado. Defende o apostolado através da música para edificar a civilização do amor e promover a cultura da paz.

Em 1987, saído do Mosteiro de São Bento de Singeverga, em Santo Tirso, criou a comunidade dos "Apóstolos de Santa Maria", em Braga, posteriormente transformada em congregação religiosa com o nome de "Arautos da Misericórdia Divina", sedeada em Cascais, cujo apostolado é a difusão dos ideais cristãos pela música, em conformidade com o Concílio Vaticano II.
(...)...(...)...

REFERÊNCIA: in pt.wikipedia.org

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Por que usamos a expressão "copo d'água" (cerimónia após celebração de um casamento)?

Quanto custa um casamento em Portugal: calcule o orçamento
imagem obtida in zankyou.pt


Procurando saber por que em algumas situações da nossa vida utilizamos a expressão copo d'água numa frase como esta: "Fui convidada para o casamento dos meus amigos Alda e João e o copo d'água vai ser no Restaurante 'Moçambique' ", após algumas pesquisas, encontrei esta explicação muito interessante:

'A origem da expressão copo-d´água'
'Ao que parece, palavra copo-d´água começou por designar uma «pequena refeição, de doces e bebidas generosas, que se oferece a quem se deseja obsequiar, em certas ocasiões festivas» ou «reunião onde se oferecem bebidas e doces» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado). Em Portugal, o termo especializou-se, aplicando-se sobretudo aos banquetes de casamento, embora o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa também o estenda a baptizados e actos mais ou menos solenes.
Em dicionários e obras de referência, não encontrámos explicação para a evolução semântica da expressão copo-d´água em português europeu. É, contudo, plausível que se tenha desenvolvido a partir de uma figura de estilo denominada eufemismo. Se nos colocarmos no lugar das famílias que fazem os convites, verificamos que essas famílias assumem um grande encargo designado apenas por copo-d´água. Assim, conseguem disfarçar as ideias preocupantes com uma expressão suavizante.
A. Tavares Louro/Carlos Rocha 16 de abril de 2008
Classe de Palavras: substantivo
Áreas Linguísticas: Etimologia; Léxico'

REFERÊNCIA:
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscteiul.pt/consultorio/perguntas/a-origem-da-expressao-copo-dagua/23397 
[consultado em 24-10-2022]

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Adriano Moreira, o Professor que nos deixa uma enorme saudade...



Morreu Adriano Moreira aos 100 anos, o homem e o político dividido entre dois regimes

Adriano Moreira, ministro do Ultramar no período da ditadura, antigo presidente do CDS em democracia e antigo conselheiro de estado, morreu este domingo aos 100 anos, avança o Diário de Notícias. Foi o político com a maior longevidade da história democrática portuguesa. 

A informação da morte de Adriano Moreira é adiantada pelo Diário de Notícias, que cita fontes familiares. Esta informação foi confirmada pela agência Lusa junto a uma fonte do CDS.

Condecorado pelo Presidente da República em junho com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, Adriano Moreira cumpriu 100 anos de idade a 6 de setembro, tendo a data sido marcada com um celebração que juntou família e figuras políticas.

Adriano Moreira destacou-se não só como estadista e político, mas também como professor universitário e pensador em matérias de Relações Internacionais e de Educação. Ex-membro do Conselho de Estado indicado pelo CDS-PP, Adriano Moreira teve um percurso académico e político dividido entre dois regimes, tendo sido ministro do Ultramar no Estado Novo, de 1961 a 1963, e presidente do Centro Democrático e Social (CDS) em democracia, de 1986 a 1988.

Professor universitário com dezenas de obras publicadas, fortemente ligado ao atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que dirigiu e ajudou a reformar antes do 25 de Abril, foi também deputado, entre 1980 e 1995, e vice-presidente da Assembleia da República no seu último mandato parlamentar.

"A minha vida foi a escola, sobretudo. A intervenção política foi mais por obrigação cívica", afirmou Adriano Moreira, numa entrevista à agência Lusa, em 2012.

Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, em 06 de setembro de 1922, filho de António José Moreira, que foi subchefe da Polícia de Segurança Pública (PSP) no porto de Lisboa, e de Leopoldina do Céu Alves.Em Lisboa, morou em Campolide, estudou no Liceu Passos Manuel e licenciou-se em Ciências Histórico-Jurídicas pela Faculdade de Direito de Lisboa, em 1944. Recém-formado, começou a exercer a advocacia e o seu envolvimento num processo contra o então ministro da Guerra, Fernando dos Santos Costa, valeu-lhe uma detenção.

No Aljube, de onde foi libertado passados cerca de dois meses, conheceu Mário Soares: "Até então, só o conhecia de nome. Era um jovem que muita gente apreciava, porque tinha uma certa alegria e também porque era muito determinado e consistente para a idade. Mas defendíamos posições inteiramente contrárias", relatou, citado pela Visão, em 1995.

Entretanto, ingressou no corpo docente da antiga Escola Superior Colonial, que passaria a Instituto Superior de Estudos Ultramarinos - o atual ISCSP, pelo qual se doutorou, assim como pela Universidade Complutense de Madrid - e que, com a sua intervenção, seria integrado na Universidade Técnica de Lisboa.

A sua tese "O Problema Prisional do Ultramar", editada em 1954, foi premiada pela Academia das Ciências de Lisboa. Entre 1957 e 1959, Adriano Moreira fez parte da delegação portuguesa às Nações Unidas: "Aí pude ouvir pela primeira vez em liberdade as vozes dos povos que eram tratados como mudos ou como dispensáveis. E isso mais avivou a minha ideia de que tínhamos de transformar completamente o ensino".

António de Oliveira Salazar chamou-o então para o Governo, primeiro para subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1960, e depois para ministro do Ultramar, em 1961. Estalavam as primeiras revoltas em Angola contra a colonização portuguesa.Segundo o próprio Adriano Moreira, Salazar convidou-o para que pusesse em prática um conjunto de reformas de que falava nas suas aulas, mas posteriormente pediu-lhe para mudar de política e a sua resposta foi: "Vossa excelência acaba de mudar de ministro".

"Fui ministro de Salazar, mas fui o ministro que fui: revoguei o Estatuto do Indigenato e aboli as culturas obrigatórias nas colónias", disse ao Expresso, em 1983.

Quando deixou o Governo, em 1963, voltou ao ensino e casou-se em 1968 com Mónica Isabel Lima Mayer, com quem teve seis filhos, António, Mónica, Nuno, Isabel, João e Teresa. Foi presidente da Sociedade de Geografia.

Após o 25 de Abril de 1974, foi saneado das funções oficiais e esteve exilado no Brasil, onde foi professor na Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Em 1980, regressou à política ativa, como candidato a deputado nas listas da Aliança Democrática (AD). Filiou-se no CDS, que acabaria por liderar, entre 1986 e 1988, e continuou deputado até 1995.

Em 2014, Adriano Moreira foi uma das 70 personalidades que defenderam a reestruturação da dívida pública como única saída para a crise.

in 24.sapo.pt   23.10.2022

domingo, 23 de outubro de 2022

Dia Mundial das Missões 2022 - Mensagem de Sua Santidade Papa Francisco

Dia Mundial Missões – Obras Missionárias Pontifícias – Portugal
imagem obtida in opf.pt

Com a devida vénia, transcrevo a mensagem do Papa Francisco, para este dia tão importante - Dia Mundial das Missões

O Santo Padre pede-nos para nos determos em três expressões-chave apresentadas no seu texto: 

Detenhamo-nos nestas três expressões-chave que resumem os três alicerces da vida e da missão dos discípulos: 
  • «Sereis minhas testemunhas» 
  • «até aos confins do mundo»                        
  • «recebereis a força do Espírito Santo».
É um dia de chamada a todos os cristãos, testemunhando Cristo; é uma missão de evangelização universal; e é deixarmos-nos fortalecer e guiar pelo Espírito Santo... 

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2022

[23 de outubro de 2022]

«Sereis minhas testemunhas» (At 1, 8)

Queridos irmãos e irmãs!

Estas palavras encontram-se no último colóquio de Jesus ressuscitado com os seus discípulos, antes de subir ao Céu, como se descreve nos Atos dos Apóstolos: «Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (1, 8). E constituem também o tema do Dia Mundial das Missões de 2022, que, como sempre, nos ajuda a viver o facto de a Igreja ser, por sua natureza, missionária. Neste ano, o citado Dia proporciona-nos a ocasião de comemorar algumas efemérides relevantes para a vida e missão da Igreja: a fundação, há 400 anos, da Congregação de Propaganda Fide – hoje designada Congregação para a Evangelização dos Povos – e, há 200 anos, da «Obra da Propagação da Fé; esta, juntamente com a Obra da Santa Infância e a Obra de São Pedro Apóstolo, há 100 anos foram reconhecidas como «Pontifícias».

Detenhamo-nos nestas três expressões-chave que resumem os três alicerces da vida e da missão dos discípulos: «Sereis minhas testemunhas», «até aos confins do mundo» e «recebereis a força do Espírito Santo».

1. «Sereis minhas testemunhas» – A chamada de todos os cristãos a testemunhar Cristo

É o ponto central, o coração do ensinamento de Jesus aos discípulos em ordem à sua missão no mundo. Todos os discípulos serão testemunhas de Jesus, graças ao Espírito Santo que vão receber: será a graça a constituí-los como tais, por todo o lado aonde forem, onde quer que estejam. Tal como Cristo é o primeiro enviado, ou seja, missionário do Pai (cf. Jo 20, 21) e, enquanto tal, a sua «Testemunha fiel» (Ap 1, 5), assim também todo o cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. E a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo, dando testemunho de Cristo. A identidade da Igreja é evangelizar.

Uma releitura de conjunto mais aprofundada esclarece-nos alguns aspetos sempre atuais da missão confiada por Cristo aos discípulos: «Sereis minhas testemunhas». A forma plural destaca o caráter comunitário-eclesial da chamada missionária dos discípulos. Todo o batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja: por isso a missão realiza-se em conjunto, não individualmente: em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria. E ainda que alguém, numa situação muito particular, leve avante a missão evangelizadora sozinho, realiza-a e deve realizá-la sempre em comunhão com a Igreja que o enviou. Como ensina São Paulo VI, na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi (um documento de que muito gosto), «evangelizar não é, para quem quer que seja, um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos pastores, no rincão mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena comunidade ou administra um Sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um ato de Igreja e o seu gesto está certamente conexo, por relações institucionais, como também por vínculos invisíveis e por raízes recônditas da ordem da graça, à atividade evangelizadora de toda a Igreja» (n.º 60). Com efeito, não foi por acaso que o Senhor Jesus mandou os seus discípulos em missão dois a dois; o testemunho prestado pelos cristãos a Cristo tem caráter sobretudo comunitário. Daí a importância essencial da presença duma comunidade, mesmo pequena, na realização da missão.

Em segundo lugar, é pedido aos discípulos para construírem a sua vida pessoal em chave de missão: são enviados por Jesus ao mundo não só para fazer a missão, mas também e sobretudo para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo. Assim o diz, com palavras verdadeiramente comoventes, o apóstolo Paulo: «Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo» (2 Cor 4, 10). A essência da missão é testemunhar Cristo, isto é, a sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor do Pai e da humanidade. Não foi por acaso que os Apóstolos foram procurar o substituto de Judas entre aqueles que tinham sido, como eles, testemunhas da ressurreição (cf. At 1, 22). É Cristo, e Cristo ressuscitado, Aquele que devemos testemunhar e cuja vida devemos partilhar. Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes de gestão. Em vez disso, têm a honra sublime de oferecer Cristo, por palavras e ações, anunciando a todos a Boa Nova da sua salvação com alegria e ousadia, como os primeiros apóstolos.

Por isso, em última análise, a verdadeira testemunha é o «mártir», aquele que dá a vida por Cristo, retribuindo o dom que Ele nos fez de Si mesmo. «A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 264).

Enfim, a propósito do testemunho cristão, permanece sempre válida esta observação de São Paulo VI: «O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres (…) ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas» (Evangelii nuntiandi, 41). Por conseguinte é fundamental, para a transmissão da fé, o testemunho de vida evangélica dos cristãos. Por outro lado, continua igualmente necessária a tarefa de anunciar a pessoa de Jesus e a sua mensagem. De facto, o mesmo Paulo VI continua mais adiante: «Sim! A pregação, a proclamação verbal duma mensagem, permanece sempre como algo indispensável. (...) A palavra continua a ser sempre atual, sobretudo quando ela for portadora da força divina. É por este motivo que permanece também com atualidade o axioma de São Paulo: “A fé vem da pregação” (Rom 10, 17). É a Palavra ouvida que leva a acreditar» (Ibid., 42).

Por isso, na evangelização, caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade para ser missionária. Este testemunho completo, coerente e jubiloso de Cristo será seguramente a força de atração para o crescimento da Igreja também no terceiro milénio. Assim, exorto todos a retomarem a coragem, a ousadia, aquela parresia dos primeiros cristãos, para testemunhar Cristo, com palavras e obras, em todos os ambientes da vida.

2. «Até aos confins do mundo» – A atualidade perene duma missão de evangelização universal

Ao exortar os discípulos a serem as suas testemunhas, o Senhor ressuscitado anuncia aonde são enviados: «Em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (At 1, 8). Aqui emerge muito claramente o caráter universal da missão dos discípulos. Coloca-se em destaque o movimento geográfico «centrífugo», quase em círculos concêntricos, desde Jerusalém – considerada pela tradição judaica como centro do mundo – à Judeia e Samaria, e até aos extremos «confins do mundo». Não são enviados para fazer proselitismo, mas para anunciar; o cristão não faz proselitismo. Os Atos dos Apóstolos narram-nos este movimento missionário: o mesmo dá-nos uma imagem muito bela da Igreja «em saída» para cumprir a sua vocação de testemunhar Cristo Senhor, orientada pela Providência divina através das circunstâncias concretas da vida. Com efeito, os primeiros cristãos foram perseguidos em Jerusalém e, por isso, dispersaram-se pela Judeia e a Samaria, testemunhando Cristo por toda a parte (cf. At 8, 1.4).

Algo semelhante acontece ainda no nosso tempo. Por causa de perseguições religiosas e situações de guerra e violência, muitos cristãos veem-se constrangidos a fugir da sua terra para outros países. Estamos agradecidos a estes irmãos e irmãs que não se fecham na tribulação, mas testemunham Cristo e o amor de Deus nos países que os acolhem. A isto mesmo os exortava São Paulo VI, ao considerar a «responsabilidade que se origina para os migrantes nos países que os recebem» (Evangelii nuntiandi, 21). Com efeito, experimentamos cada vez mais como a presença dos fiéis de várias nacionalidades enriquece o rosto das paróquias, tornando-as mais universais, mais católicas. Consequentemente, o cuidado pastoral dos migrantes é uma atividade missionária que não deve ser descurada, pois poderá ajudar também os fiéis locais a redescobrir a alegria da fé cristã que receberam.

A indicação «até aos confins do mundo» deverá interpelar os discípulos de Jesus de cada tempo, impelindo-os sempre a ir mais além dos lugares habituais para levar o testemunho d’Ele. Hoje, apesar de todas as facilidades resultantes dos progressos modernos, ainda existem áreas geográficas aonde não chegaram os missionários testemunhas de Cristo com a Boa Nova do seu amor. Por outro lado, não existe qualquer realidade humana que seja alheia à atenção dos discípulos de Cristo, na sua missão. A Igreja de Cristo sempre esteve, está e estará «em saída» rumo aos novos horizontes geográficos, sociais, existenciais, rumo aos lugares e situações humanos «de confim», para dar testemunho de Cristo e do seu amor a todos os homens e mulheres de cada povo, cultura, estado social. Neste sentido, a missão será sempre também missio ad gentes, como nos ensinou o Concílio Vaticano II (veja-se, por exemplo, o Decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária da Igreja, 07/XII/1965), porque a Igreja terá sempre de ir mais longe, mais além das próprias fronteiras, para testemunhar a todos o amor de Cristo. A propósito, quero lembrar e agradecer aos inúmeros missionários que gastaram a vida para «ir mais além», encarnando a caridade de Cristo por tantos irmãos e irmãs que encontraram.

3. «Recebereis a força do Espírito Santo – Deixar-se sempre fortalecer e guiar pelo Espírito

Ao anunciar aos discípulos a missão de serem suas testemunhas, Cristo ressuscitado prometeu também a graça para uma tão grande responsabilidade: «Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas» (At 1, 8). Com efeito, segundo a narração dos Atos, foi precisamente a seguir à descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus que teve lugar a primeira ação de testemunhar Cristo, morto e ressuscitado, com um anúncio querigmático: o chamado discurso missionário de São Pedro aos habitantes de Jerusalém. Assim começa a era da evangelização do mundo por parte dos discípulos de Jesus, que antes apareciam fracos, medrosos, fechados. O Espírito Santo fortaleceu-os, deu-lhes coragem e sabedoria para testemunhar Cristo diante de todos.

Como «ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor” senão pelo Espírito Santo» (1 Cor 12, 3), também nenhum cristão poderá dar testemunho pleno e genuíno de Cristo Senhor sem a inspiração e a ajuda do Espírito. Por isso cada discípulo missionário de Cristo é chamado a reconhecer a importância fundamental da ação do Espírito, a viver com Ele no dia a dia e a receber constantemente força e inspiração d'Ele. Mais, precisamente quando nos sentirmos cansados, desmotivados, perdidos, lembremo-nos de recorrer ao Espírito Santo na oração (esta – permiti-me destacá-lo mais uma vez – tem um papel fundamental na vida missionária), para nos deixarmos restaurar e fortalecer por Ele, fonte divina inesgotável de novas energias e da alegria de partilhar com os outros a vida de Cristo. «Receber a alegria do Espírito é uma graça; e é a única força que podemos ter para pregar o Evangelho, confessar a fé no Senhor» (Francisco, Mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, 21/V/2020). Assim, o Espírito é o verdadeiro protagonista da missão: é Ele que dá a palavra certa no momento justo e sob a devida forma.

É à luz da ação do Espírito Santo que queremos ler também os aniversários missionários deste 2022. A instituição da Sacra Congregação de Propaganda Fide, em 1622, foi motivada pelo desejo de promover o mandato missionário nos novos territórios. Uma intuição providencial! A Congregação revelou-se crucial para tornar a missão evangelizadora da Igreja verdadeiramente tal, isto é, independente das ingerências dos poderes do mundo, a fim de constituir aquelas Igrejas locais que hoje mostram tanto vigor. Esperamos que, à semelhança dos últimos quatro séculos, a Congregação, com a luz e a força do Espírito, continue e intensifique o seu trabalho de coordenar, organizar e animar as atividades missionárias da Igreja.

O mesmo Espírito, que guia a Igreja universal, inspira também homens e mulheres simples para missões extraordinárias. E foi assim que uma jovem francesa, Pauline Jaricot, há exatamente 200 anos fundou a Associação para a Propagação da Fé; celebra-se a sua beatificação neste ano jubilar. Embora em condições precárias, ela acolheu a inspiração de Deus para pôr em movimento uma rede de oração e coleta para os missionários, de modo que os fiéis pudessem participar ativamente na missão «até aos confins do mundo». Desta ideia genial, nasceu o Dia Mundial das Missões, que celebramos todos os anos, e cuja coleta em todas as comunidades se destina ao Fundo universal com que o Papa sustenta a atividade missionária.

Neste contexto, recordo também o Bispo francês Charles de Forbin-Janson, que iniciou a Obra da Santa Infância para promover a missão entre as crianças sob o lema «As crianças evangelizam as crianças, as crianças rezam pelas crianças, as crianças ajudam as crianças de todo o mundo»; e lembro ainda a senhora Jeanne Bigard, que deu vida à Obra de São Pedro Apóstolo, para apoio dos seminaristas e sacerdotes em terras de missão. Estas três obras missionárias foram reconhecidas como «pontifícias», precisamente há cem anos. E foi também sob a inspiração e guia do Espírito Santo que o Beato Paolo Manna, nascido há 150 anos, fundou a atual Pontifícia União Missionária a fim de sensibilizar e animar para a missão os sacerdotes, os religiosos e as religiosas e todo o povo de Deus. Desta última Obra, fez parte o próprio Paulo VI, que lhe confirmou o reconhecimento pontifício. Menciono estas quatro Obras Missionárias Pontifícias pelos seus grandes méritos históricos e também para vos convidar a alegrar-vos com elas, neste ano especial, pelas atividades desenvolvidas em apoio da missão evangelizadora na Igreja universal e nas Igrejas locais. Espero que as Igrejas locais possam encontrar nestas Obras um instrumento seguro para alimentar o espírito missionário no Povo de Deus.

Queridos irmãos e irmãs, continuo a sonhar com uma Igreja toda missionária e uma nova estação da ação missionária das comunidades cristãs. E repito o desejo de Moisés para o povo de Deus em caminho: «Quem dera que todo o povo do Senhor profetizasse» (Nm 11, 29). Sim, oxalá todos nós sejamos na Igreja o que já somos em virtude do Batismo: profetas, testemunhas, missionários do Senhor! Com a força do Espírito Santo e até aos extremos confins da terra. Maria, Rainha das Missões, rogai por nós!

Roma, São João de Latrão, na Solenidade da Epifania do Senhor, 6 de janeiro de 2022.

Franciscus
REFERÊNCIA À FONTE: (in vatican.va)

Sereis minhas testemunhas» – mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial  das Missões 2022 – Unidade Pastoral São José e São João Baptista
imagem obtida in https://www.paroquiasaojoaobaptista.net/