sábado, 28 de janeiro de 2017

A propósito do Acordo Ortográfico

Para ficarmos mais bem elucidados com os enigmas da língua, a sua lógica, e para compreendermos melhor o que devemos defender, transcrevo um artigo de Carlos Maria Bobone, no Observador, a 22 de janeiro de 2017:
imagem in: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/
"A história da língua faz jus ao objecto: já muito se deu à língua sobre como se deve usá-la. Carlos Maria Bobone recorda pontos de viragem fundamentais e os vanguardistas que as protagonizaram.
Corpo confuso e enorme, enrodilhado em heranças contraditórias e novidades, moldado por regras abstractas e experiências quotidianas, ferido constantemente por sentenças eruditas e acometido por invenções populares, tão intrincado que uma simples mudança pode revolver todo o seu edifício, custa a acreditar que possa ser usado por qualquer boca impúbere.
Mais custa, ainda, perceber como é que uma lógica tão facilmente apreendida pode ser tão difícil de explicar: qual é a lógica da língua? Como é que qualquer criança sabe entrar – com maior ou menor mestria – num jogo de símbolos, em que a junção de sons produz significados diferentes, e sábio nenhum consegue explicar cabalmente a chave do código?
A tarefa complica-se ainda mais no caso da escrita: já não é apenas um som que corresponde a um objecto, mas um traço, que corresponde a um som, que corresponde a um objecto. Acresce a isto que, para serem compreendidos, os traços têm de ser limitados. Isto é: o assentimento do traço que corresponde ao som tem de ser comum, tem de ter regra. Por outro lado, para que os sons tenham significado, têm de ter certas especificidades maiores do que eles. O som de cozer e coser pode ser igual, mas a escrita deve ser diferente para indicar significados diferentes. Temos, assim, um número limitado de letras, menor do que o número de sons a que têm de corresponder, e ao mesmo tempo sons iguais a que têm de corresponder letras diferentes.
É desta diferença entre oralidade e escrita que nasce a ortografia. Não por acaso, a nossa primeira Gramática de Linguagem Portuguesa só surge depois de Gutenberg. A difusão da palavra escrita traz com ela a evidência de que o mecanismo oral, sem correções, não funcionaria na escrita. A confusão nas grafias, com “s” e “ç” distribuídos ao acaso, consoantes dobradas a esmo e sem critério, “f” e “ph” à mercê da gana de cada escritor, levou alguns eruditos a quererem pôr ordem na mesa e definir as regras da ortografia.
As primeiras ortografias, como as Regras que ensinam a maneira de escrever e a ortografia da língua portuguesa, de Pêro de Magalhães Gândavo, centram-se mais nas dificuldades do que nos fundamentos da escrita. Como são tratados práticos, estão mais preocupados em explicitar os casos em que se deve usar “m” ou “n” antes de consoante do que em corroborar ou contestar a origem da língua sugerida por S. Agostinho nas Confissões; no entanto, nem o facto de se centrarem nos casos duvidosos nos impede de perceber uma teoria de base na origem das decisões ortográficas.

O que se escreve e o que se devia escrever

Para Gândavo, como para Fernão de Oliveira, o autor da nossa primeira Gramática, o critério primordial de decisão seria a proximidade da origem (o mais das vezes latina, claro). Defendem a manutenção das consoantes mudas quando a palavra latina de que deriva a portuguesa as tivesse, e quando alteram a grafia de origem, fazem-no apenas pelo esforço de distinção das posições gramaticais. Gândavo defendia – contra o latim – que à conjugação do verbo ser na terceira pessoa do singular (ainda sem acento, na altura) se antepusesse um “h” para distinguir do copulativo “e”. É – ou he, para os já convencidos – claríssima a tentativa de precisar o que na oralidade é confuso; ao mesmo tempo, trata-se também de uma gramática quase de elite.
O objectivo destes autores passa sempre por aproximar a língua, não daquela que se fala, mas daquela que lhe dá origem. Não só como modo de distinção entre fonemas, nem apenas numa tentativa de oferecer uma lógica já existente à ortografia do português, mas até como forma de aproximar, pela língua, o Homem de um Universo considerado superior. O latim, tanto para Oliveira como para Gândavo, é considerado a mais perfeita das línguas e um reflexo de uma civilização mais completa. A aproximação do português ao latim seria, também assim, uma forma de civilizar as lusas gentes.
Ora, este é um dos pontos mais interessantes no estudo da ortografia: nunca a sua concepção esteve separada de uma filosofia própria sobre o Homem. Do mesmo modo que uma sociedade alcandorada num princípio tradicional tem como basilar a ideia de que há um saber prévio de que o homem decaído se procura aproximar, também a ortografia do tempo toma a língua por corrompida e a tarefa do homem, mesmo no falar e escrever, como necessitadas de ascese, de um esforço de elevação. A língua, para Oliveira e para Gândavo, é educadora.
A adequação procurada na ortografia não é, assim, entre como se fala e como se escreve, mas entre como se devia falar e como se devia escrever. Não interessa como se faz, mas como se pode e deve fazer
Fernão de Oliveira explica-o muito bem quando define a língua como uma forma de perenidade e ganho de sabedoria: o facto de o latim ser universal torna a sua civilização universal; o facto de ser universal agrega a cultura das margens, que se traduz para latim, e converte-a, já que todos a percebem. A língua está, assim, ligada à civilização. Para estes gramáticos há claramente uma civilização, ou um modo de vida, mais adequado aos destinos do Homem. A adequação procurada na ortografia não é, assim, entre como se fala e como se escreve, mas entre como se devia falar e como se devia escrever. Não interessa como se faz, mas como se pode e deve fazer.
Embora não fosse a única, esta era com certeza a perspectiva dominante durante o século XVI. É também neste espírito que escreve João de Barros a sua gramática, e que se lavram as opiniões mais fortes na famosa querela da língua, que nos chegou de Itália após longa e tumultuosa paragem em França.

Escrever como se diz

Curiosamente, também a ortografia segue o ritmo de uma das grandes ramificações da querela da língua: a querela dos Antigos e Modernos. Se a princípio, na Academia Francesa, Desmarets e os irmãos Perrault eram os únicos (ou quase) a defenderem a supremacia dos Modernos sobre os Antigos, no final do século XVIII a balança já invertera completamente os pesos. Sem querer dar peso excessivo a genealogias infindáveis, é fácil perceber que a força ganha em Oxford pelo nominalismo, o novo fôlego das doutrinas do conhecimento empírico e a moda da soberania popular alteraram até a concepção da ortografia. A ideia nominalista de que os nomes não são mais do que flatus voces, puros abstractos sem existência real, torna mais fácil dessacralizar a língua e expatriá-la de um património prévio. As grandes tentativas racionalistas — em que Leibniz pôs tanto empenho — de uma língua falada por todos, de um esperanto disseminado, criado de origem mais claro e mais simples, são a prova de uma crença na possibilidade de fabricar uma língua a partir da imaginação.
As teses de Locke e Hume sedimentaram a crença de que a engorda de experiências traria sempre vantagem sobre o conhecimento antigo, pelo que desapareceram os pruridos que agarravam as línguas modernas às suas origens; mesmo a ideia de soberania popular, à Rosseau ou à Voltaire, põe a tónica da língua no povo e transfere a correcção, já não para um modo primordial, mas para o modo de falar actual. Não é portanto de estranhar que, no Verdadeiro Método de Estudar, Verney proponha uma revolução completa na ortografia portuguesa. Já diz que os homens devem escrever “da mesma sorte que o pronunciam”, eliminar os dois “s” e quaisquer outras letras dobradas.
A argumentação é tipicamente iluminista: dá o exemplo dos países estrangeiros em que “já se faz” como ele diz, como quem quer criar um complexo de inferioridade e apontar a direcção do progresso. Advoga o escrever como se fala, como quem está a dirigir-se pelo pulsar do povo e não por tradições obsoletas. Ao mesmo tempo, contudo, confirma que “todos os homens de boa doutrina” pensam como ele e assenta a defesa da sua tese na modernidade das propostas. Verney, bom homem do seu século, defende, mesmo na língua, os interesses do povo, ainda que os interesses do povo não sejam os que o povo defende. A sua ortografia é, assim, uma versão esclarecida da oralidade, depurada pela simplificação da escrita a partir da adequação de cada som a cada letra. “S” ler-se-ia sempre “ss” e, quando o som fosse “z”, seria “z” a letra que se escreveria.
Os gramáticos posteriores, porém, já no século XIX, pensavam de maneira muito diferente. Embora para Verney, à boa maneira cartesiana, simplificar seja unir, a gramática oitocentista traz objecções a esta tese. A distinção de significado pela letra, quando não o distingue o som, não cria confusão – retira-a de onde ela está. A existência de duplas grafias é confusa, sim, mas apenas quando se usam duas maneiras diferentes de escrever a mesma coisa; agora, quando a ortografia pode aumentar a precisão linguística, deve separar o que pode ser separado. É útil, já que o não pode perceber pelo som, que o falante possa perceber pela escrita a diferença entre cozer e coser; é útil a intenção de Verney de unificar, sobretudo porque a ortografia, durante vários séculos, é apenas do interesse de uma cúpula de eruditos e para uso pessoal; não há uma institucionalização (embora haja um quantum óbvio de regra consuetudinária), pelo que a multiplicidade de grafias torna qualquer esforço de unificação louvável. O problema é que a ortografia de Verney, baseada apenas nos fonemas, é em vários aspectos contrária àquela que se tornou a palavra de ordem da linguística dos séculos seguintes: o espírito da língua.

Serão os “cavalos” “cadeiras”?

Quando saiu o Curso de Linguística Geral, de Saussure, já a reforma ortográfica de 1911 tinha cinco anos; no entanto, o livro de Saussure vem (no meio de muitos outros desenvolvimentos) dar expressão acabada a uma concepção ortográfica, não tão desenvolvida ainda nas suas consequências, mas já muito em voga no princípio do século XX. Saussure explica que há, nas várias línguas, uma lógica própria que é património comum de todas elas e que ultrapassa o próprio significado das palavras. Quando uma palavra entra numa língua, entra numa teia de relações que supera largamente o significado da palavra; isto é, apesar de a relação entre um objecto e o símbolo que a representa parecer ser arbitrária, não é, ao mesmo tempo, livre.
O acordo de 1990 é, de todos, o que mais se afasta do primeiro: recupera algumas duplas-grafias, verdadeiro demónio dos gramáticos nos últimos cinco séculos e privilegia por vezes a adequação da grafia à escrita, contra a habitual preferência pela distinção como norma de clareza. 
Um sujeito não pode decidir que vai passar a chamar aos objectos (significantes, na linguagem de Saussure) outros nomes que não aqueles que já lhe são dados. Se passar a chamar cavalos às cadeiras, ninguém me vai perceber: isto porque aquilo que na relação simples entre significante e significado é arbitrário, na teia de relações da língua já está decidido.Deixando de lado as futuras implicações estruturalistas das teses de Saussure, e sabendo que só abusivamente podemos assemelhar os filólogos portugueses do princípio do século XX ao linguista suíço, a apropriação de alguns conceitos de Saussure parece-nos útil para explicar as teses de Gonçalves Viana ou Cândido de Figueiredo, entre outros.
Também no princípio do século, enquanto Saussure dava as aulas que viriam a constituir o seu livro, em Portugal se procurava – mais singelamente – adaptar a língua ao seu próprio espírito. As investigações de Carolina Michaelis e Leite de Vasconcelos renovavam o interesse pela tradição linguística portuguesa; Gonçalves Viana, com as suas Bases de Ortografia Portuguesa, retomava o esforço de uniformizar a ortografia; Cândido Figueiredo, por sua vez, numas rubricas de jornal muito apreciadas, popularizava o interesse pelo assunto ensinando o que se não deve dizer a partir de um espírito, em certa medida, semelhante: mais até do que as questões antigas, de primado do étimo ou da fonética, segundo Cândido de Figueiredo havia um espírito da língua constantemente contrariado pelo linguajar moderno. Para dar um exemplo do próprio autor, seria um absurdo escrever ramalhete, já que o sufixo “-alho”, de ramalho, sempre foi um aumentativo e o sufixo “-ete” um diminutivo; acabaríamos, assim, por ter uma palavra, ao mesmo tempo, aumentada e diminuída: nada a contraria foneticamente, nem sequer etimologicamente, mas há duas regras tácitas em conflito que invalidariam o uso da palavra.
A acção conjunta destes sábios, ao mesmo tempo académica e popular, de teoria e observação, fez crescer o interesse pela uniformização da língua; a isto também não terão sido estranhos um certo espírito positivista de institucionalização e de cientifização das esferas sociais e humanas, bem como a vontade Republicana de mostrar o alcance da sua Ordem Nova. Certo é que, em 1911, um conselho dos grandes filólogos portugueses define os termos da primeira reforma ortográfica e, com isso, da primeira uniformização da língua. O espírito é, em parte, comum a todos os gramáticos de todos os tempos – resolver os problemas das duplas grafias e da arbitrariedade confusa da escrita – e em parte do seu próprio tempo: encontrar as regras escondidas que provocam a evolução no falar e alçá-las a decisor e criador de jurisprudência linguística.
A esta reforma juntou-se, por vontade própria, o Brasil. Embora depois surjam cruzados que encontram, volta e meia, erros e absurdos em palavras que vão entrando no vocabulário (Vasco Botelho do Amaral, Sá-Nogueira ou Rodrigues Lapa, só para citar os mais interessantes), podemos dizer que, até 1990 os vários acordos e reformas pouco mais têm sido do que acertos a este acordo primordial. O acordo de 1990 é, de todos, o que mais se afasta do primeiro: recupera algumas duplas-grafias, verdadeiro demónio dos gramáticos nos últimos cinco séculos e privilegia por vezes a adequação da grafia à escrita, contra a habitual preferência pela distinção como norma de clareza. Talvez seja, em certos aspectos, mais iluminista, ou herdeiro de novas correntes de vanguarda ainda pouco conhecidas do vulgo; é político, com certeza, mesmo que não reduzamos a política a baixezas comerciais; é político, sim, porque como já no século XVI dizia Fernão de Oliveira, a língua pode ser um instrumento de poder e factor de perenidade. E hoje, como ontem, o Homem faz tudo para se manter vivo: a ele e àquilo que, como a língua, o representa.
Carlos Maria Bobone é licenciado em Filosofia. 
Colabora no site Velho Critério.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Para os amantes de bacalhau


1. NÃO EXISTE PEIXE CHAMADO BACALHAU. BACALHAU É APENAS O PROCESSO DE SALGA E SECAGEM PARA A CONSERVAÇÃO DE PEIXES (...ESSE PROCESSO INCLUSIVE JÁ ERA CONHECIDO DOS FENÍCIOS QUE NAVEGAVAM O MEDITERRÃNEO NA ANTIGUIDADE...);

2. COM O PASSAR DOS SÉCULOS DESCOBRIU-SE QUE OS PEIXES QUE MAIS SE ADAPTAVAM AO PROCESSO BACALHAU ERAM RESPECTIVAMENTE: O COD GADUS MORHUA, O COD GADUS MACROCEPHALUS, O LING, O ZARBO E O SAITHE;

3. A CIDADE DO PORTO É FAMOSA TAMBÉM POR SE HAVER TORNADO UM GRANDE ENTREPOSTO DE INDUSTRIALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO (VENDAS) DOS REFERIDOS PEIXES, PESCADOS NO CHAMADO MAR DO NORTE, PRÓXIMO DO CÍRCULO POLAR ÁRTICO, SUBMETIDOS AO PROCESSO BACALHAU, OU SEJA, NÃO EXISTE O BACALHAU DO PORTO  

in: 
https://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2013/01/06/historia-do-bacalhau-

in: http://lifestyle.sapo.pt/sabores/receitas/soufle-de-bacalhau

Uma receita de Bacalhau


PREPARAÇÃO:


Retire as espinhas e as peles e ponha o bacalhau num pano grosso. De seguida, esfregue bem o bacalhau, sempre dentro do pano, de modo a ficar em fios.
Leve um tacho ao lume com a margarina, junte depois a farinha e deixe cozer uns instantes. Junte o leite mexendo sempre com a ajuda de um fouet, para que não ganhe grumos. Assim que o molho engrossar, retire do lume.
Junte o bacalhau, tempere de sal, pimenta e noz-moscada e junte as gemas e o queijo Emmental ralado, envolvendo bem.
À parte, bata as claras em castelo firme e, delicadamente, junte-as ao preparado de peixe. Deite num pirex alto, untado com margarina.
Leve ao forno, previamente aquecido a cerca de 200º C, por cerca de 20 a 25 minutos.
Sirva de imediato, acompanhando com uma rica salada a seu gosto.
(encontrei esta receita em:
http://lifestyle.sapo.pt/sabores/receitas/soufle-de-bacalhau)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O chumbo da redução da TSU

in: http://sicnoticias.sapo.pt/





















"...(...)...
Sem surpresa: 
o projeto que cessa a vigência da redução 
da TSU foi aprovado com os votos a favor 
do PSD, BE, PCP e PEV, a abstenção do 
CDS e PAN e os votos contra do PS.

O deputado social-democrata Pedro Roque 

anunciou uma declaração de voto em nome 
próprio e de deputados representantes dos 
Trabalhadores Sociais-Democratas, uma 
estrutura autónoma da UGT.

Carlos César antecipou eventuais novas 

medidas "no contexto do mesmo ou de um 
novo acordo", mas o ministro Vieira da 
Silva— falando aos jornalistas, nos Passos 
Perdidos, no final do plenário — defendeu 
que o Governo "fez um bom acordo", 
"que existe".

Perante o chumbo da redução da TSU, 

Vieira da Silva disse que o Governo vai 
"analisar a situação e conversar com os 
parceiros". 
"No momento certo serão conhecidas as 
alternativas que daí resultarem", rematou, 
perante a insistência dos jornalistas.
Não demorou muito a saber-se que o primeiro-ministro, António Costa, convocou os parceiros sociais para um encontro na residência oficial de São Bento, pelas 18.30
  A lição deste debate, para o BE: "Não estar dependente da direita" by Miguel Marujo
Pedro Filipe Soares (BE) desafiou a esquerda parlamentar a não falhar no futuro, naquilo que esteve na "origem" dos acordos assinados entre PS, BE, PCP e PEV. "Unimo-nos para fazer acordos contra medidas do PSD e do CDS" porque "o programa deles destruía o país", avisou. "O que este debate nos convoca é à origem" dos acordos, para a necessidade de "não estar dependente da direita". "Ao BE verão sempre levantar-se na defesa dos valores que levaram à assinatura dos acordos", rematou o líder parlamentar bloquista.
  BE: acordo na concertação social "não é total, é parcial" by Miguel Marujo
O líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, apontou o dedo ao acordo alcançado na concertação social, dizendo que este entendimento "não é total, é parcial". E concretizou: o acordo "foi aprovado pelos patrões e por aqueles que nunca lhes dispensam apoio", ou seja, a UGT.
  PCP: "À falta do diabo, que nunca mais chega, o PSD decidiu vestir-lhe a pele" by Miguel Marujo
Na sua intervenção final, o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, assestou as baterias à bancada social-democrata. "À falta do diabo, que nunca mais chega, o PSD decidiu vestir-lhe a pele, e votar ao lado do PCP contra a descida da TSU." Isto, argumentou João Oliveira, mostra a "incoerência do PSD", mas "não incomoda o PCP", sublinhando que este debate ajudou a mostrar que a bancada laranja é, afinal, contra o aumento do salário mínimo nacional.
  PS: "Chegará o dia em que o PSD acabará por votar a favor da saída da NATO" by Miguel Marujo
Quase a rematar a sua intervenção, Carlos César ironizou com a estratégia social-democrata de que não servirá de "muleta" do Governo. "Por este andar, chegará certamente o dia em que o PSD, tomado por essa monomania obsessiva, acabará por votar a favor da saída da NATO, da saída do euro, e por aí fora. Só para prejudicar o Governo do PS e da esquerda", atirou o líder parlamentar socialista.
  PS admite novas medidas "no contexto do mesmo ou de um novo acordo" by Miguel Marujo
Carlos César notou que pode vir aí um novo acordo de concertação social. Segundo o líder parlamentar do PS, que antecipou o chumbo da redução da taxa social única (TSU), "não vigorando esta medida da TSU, outras certamente vigorarão, no contexto do mesmo ou de um novo acordo, apoiando as empresas e as instituições de solidariedade social".
  PS: "Com o BE, o PCP e o PEV não há razões para equívocos" by Miguel Marujo
O líder da bancada socialista sublinhou que, nesta matéria, "com o BE, o PCP e o PEV não há razões para equívocos". "Todos sabemos que partilham com o Governo o objetivo principal — o objetivo principal neste caso foi o aumento do salário mínimo nacional", apontou Carlos César. "A perplexidade e a contradição neste processo não são, pois, geradas por quem faz o que se esperava que pudesse fazer, como são os casos dos partidos à esquerda do PS que apoiam o Governo", disse. "O que é perturbador", acrescentou, "para a credibilidade política e dos partidos é quem faz agora o que nunca alguém pensaria que pudesse fazer, negando o que já fez e o que a sua condição determina que devia fazer, como é o caso do PSD."
  César: "O PS votará a favor da concertação social" by Miguel Marujo
O líder parlamentar do PS, Carlos César, defendeu que a proposta de redução da TSU para os empregadores "não será uma decisão ilegítima, nem muito menos dramática, mas o PS votará a favor da concertação social que é como quem diz do acordo celebrado". 
Depois, numa nota aos partidos de esquerda que têm questionado o acordo celebrado na concertação social, Carlos César notou que o voto socialista "é, assim, o do respeito pelo Conselho Económico e Social, sede institucional, nos termos constitucionais e legais, da concertação social, onde se representam trabalhadores e empregadores".
  "Se vem do PS é para votar contra" by Miguel Marujo
O PS apontou o dedo à recente estratégia parlamentar do PSD, depois de ter enunciado várias declarações de dirigentes sociais-democratas que defendiam a redução da TSU para os empregadores. Para Tiago Barbosa Ribeiro, essa estratégia define-se, poucas semanas depois, numa única ideia: "Se vem do PS é para votar contra." 
E o deputado socialista exemplificou com esta afirmação: "O PSD esta tarde prepara-se para chumbar esta medida e nós continuamos sem saber porquê. Eventualmente o PSD quer o plafonamento da Segurança Social, estamos contra. Queriam romper com a concertação social para reduzir o salário mínimo? Estamos contra."
  Governo: "Larguíssima maioria" de empresas pediu redução da TSU by Miguel Marujo
Vieira da Silva justificou-se com uma "larguíssima maioria" de empresas que pediu a redução da TSU dos empregadores, depois da deputada dos Verdes, Heloísa Apolónia, ter afirmado que esta era uma linha vermelha acordada na posição conjunta assinada entre o PEV e o PS.
  Passos Coelho: aumento do salário mínimo é "excessivo" by Miguel Marujo
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, interrompeu uma intervenção do ministro Vieira da Silva, para classificar o aumento do salário mínimo nacional como "excessivo". 
Quando o ministro respondia ao deputado social-democrata Adão Silva — interpretando a intervenção deste como mostrando que o PSD está contra este aumento do salário mínimo — o próprio líder laranja atirou da primeira fila da bancada: "Excessivo!". E repetiu várias vezes. 
Logo ali, Vieira da Silva aproveitou a deixa para sublinhar que, finalmente, "o presidente do PSD considera que o aumento do salário mínimo é excessivo".
  Votação será hoje. E basta aprovar o primeiro projeto de resolução by Miguel Marujo
A iniciativa de cessação de vigência da taxa social única será votada hoje pelo projeto de resolução do BE. Sendo aprovado, os restantes projetos do PCP e dos Verdes ficam prejudicados.
  Vieira da Silva acusa PSD de "lamaçal de contradições insanáveis" by Miguel Marujo
Vieira da Silva apontou o dedo ao PSD por sobrepôr o "golpe" à "coerência", atolando-se num "lamaçal de contradições insanáveis", "entre o que fez e  que diz agora, entre o que disse há semanas e o que faz". "Há quem prefira olhar para as medidas valorizando a excelência do golpe político, a conveniência do momento, o golpe parlamentar. Há quem se deleite com o triunfo da tática sobre a substância, do golpe sobre a coerência", atirou.
Acusando o PSD de "hoje" não ter "nenhuma posição sobre algo tão importante", como o salário mínimo nacional, o ministro do Trabalho notou que o voto social-democrata é "um ataque à concertação e uma penalização a dezenas de milhares de empresas e instituições". E sentenciou que esta posição "será um colossal tiro no pé" dos sociais-democratas.
  Ministro desafia PSD a dizer o que pensa do aumento do salário mínimo. Passos irrita-se by Miguel Marujo
O ministro Vieira da Silva subiu à tribuna para sublinhar que o que está em causa neste debate que é um "decreto-lei que propôs uma medida excecional e temporária", que "faz parte de acordo assinado em sede de concertação social". Depois pediu que "até ao fim do debate fique claro para todos a posição de cada um dos senhores deputados" das várias bancadas, "não apenas sobre esta medida excecional", mas também — apontou — "do aumento do salário mínimo, essa sim, uma medida definitiva". 
Em 20 minutos, lamentou Vieira da Silva, não se ouviu "o maior partido da oposição" a dizer o que pensa, citando declarações anteriores de Passos Coelho, gerando um coro de protestos na bancada do PSD, nomeadamente do líder social-democrata, que atirou vários apartes não audíveis da bancada de imprensa. Apenas uma frase se notou, repetida várias vezes, com ar irritado: "Aumente 20%".
  PSD volta a pôr em causa a legitimidade do Governo by Miguel Marujo
O PSD voltou a pôr em causa a legitimidade do Governo, com Luís Montenegro a acusar a maioria parlamentar de esquerda de ter ido "contra" a vontade eleitoral dos portugueses em 2015. "Juntaram os trapinhos" no Parlamento, apontou o líder da bancada social-democrata.
  CDS: "A partir de hoje, a palavra do primeiro-ministro não serve para nada" by Miguel Marujo
O líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, avisou que a sua bancada "acompanha o diagnóstico e a análise do que este debate significa", para logo acusar o BE e PCP de terem dias no apoio ao Governo. "Quando é bom estar, estão, quando não é bom, não estão." E acusou: "Não existe a tão apregoada maioria."
Para Magalhães, "a partir de hoje, a palavra do primeiro-ministro quando propõe, negoceia, acorda, assina, não serve para nada; precisa que Catarina Martins e Jerónimo de Sousa autorize".
  PSD: "Não contem connosco para a vossa politiquice. A geringonça é vossa" by Miguel Marujo
Luís Montenegro não baixou a guarda nas críticas às bancadas da esquerda — do Governo ao PS, passando pelo BE, PCP e PEV. Apontando o erro à redução da TSU (apesar do PSD ter utilizado uma medida semelhante), o líder parlamentar social-democrata afirmou que "perpetuar esta medida é um erro, é um erro político, social e económico".
Sacudindo sempre as responsabilidades da sua bancada, Montenegro atirou: "Não contem connosco para a vossa politiquice. A geringonça é vossa, vocês é que têm de a pôr a mexer." E pediu coerência a uma maioria que disse que teria uma legislatura "permanente, estável e coesa". "Assumam as vossas escolhas e respondam pelas vossas escolhas."
  PSD diz que BE e PCP "tiraram o tapete ao Governo" by Miguel Marujo
O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, afastou as responsabilidades do PSD de trazerem a debate a taxa social única (TSU), mas também acusou as bancadas do PCP e do BE de não assumirem as suas responsabilidades. 
Também o primeiro-ministro, António Costa, não escapou às críticas: "Agora assina voluntária e conscientemente acordos que sabe não poder cumprir", questionou Montenegro. "Ou foram os seus parceiros que lhe tiraram o tapete", insistiu.
Centrando a sua intervenção nas críticas aos desentendimentos entre os partidos de esquerda, o deputado social-democrata pediu: "Falem menos do PSD, respondam, deixem-se de truques, todos devem uma explicação aos portugueses."
Dirigindo-se às bancadas do PCP e do BE apontou que cada bancada pode ter as suas "divergências", mas logo afirmou que divergir "não é revogar uma decisão do governo. Isso é tirar o tapete ao Governo", atirou.
  PCP: "A redução da TSU significa estímulo à política dos baixos salários" by Miguel Marujo
Para a bancada comunista, "nada justifica que para além disso ainda seja usado dinheiro do Orçamento do Estado" para reduzir a TSU aos empregadores. Segundo a deputada Rita Rato, "a redução da TSU significa a opção do Governo por um estímulo à política dos baixos salários".
  PCP: aumento do salário mínimo "não deve ter contrapartidas" by Miguel Marujo

Apresentando a apreciação parlamentar pelo PCP, a deputada Rita Rato arrancou também com a defesa do aumento do salário mínimo nacional, notando que este "é uma exigência de dignidade e não deve ter contrapartidas para além do trabalho prestado por cada trabalhador". E esse trabalho é "mais que suficiente para justificar muito mais que o salário mínimo"."

in: dn.pt, 25 de janeiro 2017

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Reflexão...

"Existe sempre algo de novo, 
ao olharmos para a mesma coisa vezes sem conta."
(John Updike)

in: www.updikereview.com