sábado, 7 de janeiro de 2023

O Governo português atravessa um período conturbado no início de 2023

Efetivamente, o povo português assiste incrédulo às notícias que quase todos os dias "vêm a lume", referentes ao Governo de António Costa. 

Esta instabilidade política afeta a sociedade em geral, principalmente os mais jovens e os mais idosos. 

Partilho as últimas notícias sobre os "últimos acontecimentos"...


António Costa – Wikipédia, a enciclopédia livre
imagem in pt.wikipedia.org


Os dias que estão a abalar o governo de António Costa

Quando Carla Alves tomou posse no dia 4 como secretária de Estado da Agricultura, mal sabia que, meras 25 horas depois, iria pedir a demissão, tornando-se no mais recente nome a ser riscado da lista de governantes - a quarta baixa no atual governo português de António Costa em apenas uma semana, naquele que é já considerado o maior "abanão" à confiança dos sucessivos executivos chefiados por Costa.

Numa altura em que o governo está, mais do que nunca, sob escrutínio veio rapidamente a lume a situação da nova governante, com várias contas bancárias arrestadas devido a um caso que envolve o marido, Américo Pereira, antigo presidente da Câmara Municipal de Vinhais. A demissão não se fez esperar.

TAP no olho do furacão

O caso de Carla Alves teria passado quase despercebido, se esta não fosse apenas a mais recente de uma lista de demissões que começa a ser demasiado longa e que levou uma parte da oposição a apresentar, recentemente, uma moção de censura ao governo português.

A situação na TAP foi a bomba-relógio a causar a última onda de demissões. A transportadora aérea, que desde finais de 2021 é detida a 100% pelo Estado, pagou uma indemnização de cerca de meio milhão de euros a Alexandra Reis, futura secretária de Estado do Tesouro, quando esta deixou a companhia, tendo pouco depois assumido o lugar de CEO da NAV, empresa pública que gere o tráfego aéreo português.

Mesmo estando dentro da legalidade, a indemnização avultada paga por uma empresa detida pelo Estado e em situação financeira difícil, ao fim de apenas oito meses de trabalho, chocou tudo e todos quando o caso foi sabido. A pedido do ministro das Finanças Fernando Medina, Alexandra Reis pede demissão ao fim de apenas 26 dias no governo.

O caso virou todos os holofotes para a TAP e o ministro com a tutela da transportadora, Pedro Nuno Santos, não duraria muito tempo. Primeiro é o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, a apresentar a demissão, seguido pelo dono do poderoso ministério das Infraestruturas e Habitação. A secretária de Estado da habitação, Marina Gonçalves, demite-se também, mas acaba promovida a ministra da mesma pasta que tutelava. Não conta, assim, como baixa no governo. João Galamba entra para o lugar de Pedro Nuno Santos.

Governo em perigo?

Numa primeira análise, apesar de estar debaixo de fogo, o governo PS não corre perigo, já que a maioria absoluta de que dispõe na Assembleia da República lhe permite governar sem obstáculos até 2026. No entanto, uma pressão crescente, caso esta bola-de-neve continuar, pode até levar o Presidente da Repúblicaa dissolver o Parlamento.

Perguntado na terça-feira sobre como estava a acompanhar a crise no governo e o que tinha a dizer da política de continuidade assumida por António Costa com as novas nomeações, Marcelo Rebelo de Sousa disse: "Se isso funcionar é boa ideia. Se não, retiraremos daí as conclusões”, deixando no ar a possibilidade de vir a intervir diretamente.

A moção de censura apresentada pela Iniciativa Liberal (IL) foi, como seria de prever, chumbada: votada favoravelmente apenas pela própria IL e pelo Chega, teve votos contra do PS, PCP e Livree abstenções do PSD, BE e PAN.


Propostas do governo

Para salvar a credibilidade e evitar futuras nomeações arriscadas, o governo propõe um mecanismo que, nas palavras do próprio António Costa, permita "evitar desconhecer factos que não estamos em condições de conhecer". O anúncio foi feito na discussão da moção de censura e a proposta detalhada foi já enviada, por carta, ao Presidente da República.

O processo, conhecido por vetting, consiste num escrutínio prévio a cada nome proposto para o governo, que deverá ser validado pelo parlamento ou por uma comissão antes de tomar posse. É um sistema em uso em vários países e na Comissão Europeia. 

Não se conhecem os detalhes da proposta governamental, mas Marcelo Rebelo de Sousa retirou-se desse processo de escrutínio, dizendo que "a verificação deve acontecer antes de os nomes serem propostos ao PR, e não depois".

Este vetting pode ser a cartada decisiva do governo para debelar uma crise da qual, há pouco mais de uma semana, ninguém adivinhava as proporções.

in pt.euronews.com
De Ricardo Figueira com Lusa • Últimas notícias: 06/01/2023 

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A China não aceita restrições impostas aos viajantes chineses em vários países

 

COVID-19 Wave Hits Confused Chinese Public Hard
imagem obtida em https://foreignpolicy.com/2022/12/30/
china-covid-deaths-zero-covid-xi-jinping-government-trust-beijing/



O que está a passar-se na China é um verdadeiro drama, mas os outros países do mundo também têm de se precaver. 

O problema parece ser proveniente do facto de a China não prestar informação suficiente e credível sobre  o que se passa no seu país em relação à Covid 19.

Partilho, mesmo assim, o que a euronews. noticia:
(pt.euronews.com  03.01.2023  artigo de Teresa Bizarro)

Restrições aos viajantes chineses são "inaceitáveis"

"Inaceitáveis" - é a palavra que o governo chinês escolhe para qualificar as restrições impostas por vários países aos viajantes provenientes da China por causa da Covid-19. O adjetivo vem com a ameaça da imposição de "medidas recíprocas".

Nas últimas semanas, Pequim começou a levantar as restrições à circulação impostas há quase três anos por causa da pandemia de Covid-19. O número de casos da doença disparou e a comunidade internacional queixa-se de falta de informação credível sobre a evolução da doença no país.

A porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros diz que o país está disposto a "reforçar a comunicação com a comunidade internacional e a trabalhar em conjunto para superar a epidemia". Mao Ning considera no entanto que as restrições carecem de base científica e insinua que as medidas são tentativas de "manipulação" com fins políticos.

"Esta decisão carece de base científica e algumas práticas são inaceitáveis. Opomo-nos firmemente a quaisquer tentativas de manipulação de medidas de prevenção de epidemias com vista a atingir objectivos políticos. Adoptaremos medidas compensatórias com base no princípio da reciprocidade," declarou em conferência de imprensa a porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

Ao todo, 12 países, incluindo França, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, reintroduziram testes obrigatórios de Covid-19 para passageiros que chegam da China. A União Europeia vai analisar uma abordagem conjunta numa reunião na quarta-feira.

O governo chinês, que durante os últimos anos adoptou uma estratégia de "zero COVID" que impunha duras restrições internas e externas, foi pressionado pela popuação a aliviar as medidas. Organizações não governamentais dão conta de uma explosão de casos que esgotaram já a capacidade de resposta dos hospitais e estimam mais de um milhão de mortos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Homenagem ao Papa Emérito, Bento XVI!

A biografia de Bento XVI - Vatican News
imagem obtida in vaticannews.va
(Joseph Ratzinger)

Após alguma pesquisa efetuada, encontrei a Biografia do Papa Emérito, Bento XVI, "que nos deixou" há dias.  

Tomo a liberdade de a partilhar neste espaço, para melhor conhecimento do que foi a vida e a obra exemplares de um homem extraordinário, que dedicou toda a sua vida à Igreja.  

BIOGRAFIA 
DE SUA SANTIDADE

BENTO XVIJoseph Ratzinger nomeado Cardeal em 1977 e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé em 1981, Decano do Colégio Cardinalício desde 2002 nasceu em Marktl am Inn, no território da Diocese de Passau (Alemanha), a 16 de Abril de 1927. 

Seu pai era um comissário de polícia e provinha de uma família de agricultores da Baixa Baviera, cujas condições económicas eram bastante modestas. A mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de casar tinha trabalhado como cozinheira em vários hotéis. 

Transcorreu a sua infância e a sua adolescência em Traunstein, uma pequena cidade perto da fronteira com a Áustria, a cerca de trinta quilómetros de Salisburgo. Recebeu neste contexto, que ele mesmo definiu "mozartiano", a sua formação cristã, humana e cultural. 

O tempo da sua juventude não foi fácil. A fé e a educação da sua família preparou-o para a dura experiência dos problemas relacionados com o regime nazista: ele recordou ter visto o seu pároco açoitado pelos nazistas antes da celebração da Santa Missa e de ter conhecido o clima de grande hostilidade em relação à Igreja católica na Alemanha. 

Mas precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo e foi fundamental o papel da sua família que continuou sempre a viver um testemunho cristalino de bondade e de esperança radicada na pertença consciente à Igreja. 

Quase no final da tragédia da Segunda Guerra Mundial também foi alistado nos serviços auxiliares anti-aéreos. 

De 1946 a 1951 estudou filosofia e teologia na Escola superior de filosofia e teologia de Frisinga e na Universidade de Munique. 

Em 29 de Junho de 1951 foi ordenado sacerdote. 

Um ano mais tarde, Pe. Joseph Ratzinger iniciou a sua actividade didáctica na mesma Escola de Frisinga onde tinha sido estudante. 

Em 1953 formou-se em teologia com uma dissertação sobre o tema: "Povo e Casa de Deus na Doutrina da Igreja de Santo Agostinho". 

Em 1957 fez a livre docência com o conhecido professor de teologia fundamental de Munique, Gottlieb Söhngen, com um trabalho sobre: "A teologia da história de São Boaventura". 

Depois de um cargo de dogmática e de teologia fundamental na Escola superior de Frisinga, prosseguiu a sua actividade de ensino em Bonn (1959-1969), em Monastério (1963-1966) e em Tubinga (1966-1969). A partir de 1969 foi professor de dogmática e de história dos dogmas na Universidade de Ratisbona, onde desempenhou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade. 
A sua intensa actividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos no âmbito da Conferência Episcopal Alemã, na Comissão Teológica Internacional. 

Entre as suas publicações, numerosas e qualificadas, teve particular eco a "Introdução ao cristianismo" (1968), uma colectânea de lições universitárias sobre a "profissão de fé apostólica" 
Em 1973, foi publicado o volume: "Dogma e Revelação", que reúne os ensaios, as meditações e as homilias dedicadas à pastoral. 

Teve grande ressonância a sua conferência pronunciada na Academia Católica da Baviera sobre o tema: "Por que é que eu ainda estou na Igreja?". Nesta ocasião declarou com a sua habitual clareza: "Só na Igreja é possível ser cristãos e não ao lado da Igreja". 

A série numerosa de publicações continuou abundante e pontual ao longo dos anos, constituindo um ponto de referência para tantas pessoas e sobretudo para quantos estão comprometidos no estudo aprofundado da teologia. Basta pensar, por exemplo, no volume "Relatório sobre a fé" de 1985 e no volume "O sal da terra" de 1996. Deve ser recordado também o livro "Na escola da Verdade", impresso por ocasião do seu septuagésimo aniversário. 

De grande valor, central na vida do Pastor Ratzinger, foi a experiência proveitosa da sua participação no Concílio Vaticano II, nas vestes de "perito", experiência que ele viveu também como confirmação da própria vocação por ele mesmo definida "teológica". 

A 25 de Março de 1977 o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de Monastério e Frisinga. 

Recebeu a ordenação episcopal no dia 28 de Maio do mesmo ano: foi o primeiro sacerdote diocesano que assumiu, depois de oitenta anos, o governo pastoral da grande Diocese da Baviera. Escolheu como mote episcopal: "Colaboradores da Verdade". 

O Papa Montini criou-o e publicou-o Cardeal, do Título de Santa Maria Consoladora no Tiburtino, no Consistório de 27 de Junho de 1977. 

Foi Relator na Quinta Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos (1980) sobre o tema da Família cristã no mundo contemporâneo. Naquela ocasião, na sua primeira Relação, desenvolveu uma análise ampla e pormenorizada sobre a situação da família no mundo, realçando a este propósito a crise da cultura tradicional diante da mentalidade tecnicista e meramente racional. Ao lado dos aspectos negativos, não deixou de evidenciar a redescoberta do verdadeiro personalismo cristão como fermento que fecunda a experiência conjugal de muitos casais, e exortou também a uma correcta avaliação do papel da mulher, que deve ser incluída entre as questões fundamentais na reflexão sobre o matrimónio e a família. Na segunda parte da Relação, dedicada ao desígnio de Deus sobre as famílias de hoje, recordou sobretudo que a masculinidade e a feminilidade são expressão da comunhão das pessoas como sinal original do dom de amor do Criador. Portanto realçava o amor do homem e da mulher não é privado, nem profano, nem meramente biológico, mas algo de sagrado que introduz num "estado", numa nova forma de vida, permanente e responsável. O matrimónio e a família recordou com veemência precedem de qualquer maneira o Estado e ele deve respeitar o direito próprio do matrimónio e da família e o seu íntimo mistério. Na terceira parte o Purpurado enfrentou os problemas pastorais ligados à família: da construção de uma comunidade de pessoas ao da geração da vida, da tarefa educativa à necessidade da preparação dos jovens para o matrimónio e para a vida familiar, das tarefas sociais às culturais e morais. A família, concluía, pode testemunhar ao mundo uma nova humanidade face ao domínio do materialismo, do hedonismo e da permissividade. 

Foi Presidente Delegado da Sexta Assembleia (1983) que teve por tema a reconciliação e a penitência na missão da Igreja. Na sua intervenção nos trabalhos repetiu as normas pastorais promulgadas pela Congregação para a Doutrina da Fé que dizem respeito ao Sacramento da Reconciliação e aprofundou, em particular, as questões ligadas a dois interrogativos que surgiram várias vezes durante os trabalhos nas assembleias: o relativo à obrigação de confessar os pecados graves já absolvidos durante a absolvição geral e o concernente à confissão pessoal como elemento essencial do Sacramento. 

A sua palavra ofereceu um contributo fundamental de reflexão e de confronto para o desenvolvimento de todos os Sínodos dos Bispos. 

A 25 de Novembro de 1981 João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Foi também Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional. A 15 de Fevereiro de 1982 renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de Monastério e Frisinga. 

O seu serviço como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé foi incansável e é quase impossível enumerar o seu trabalho no espaço de uma biografia. A sua obra como Colaborador de João Paulo II foi contínua e preciosa. 

Entre os numerosos pontos firmes da sua obra, destacamos o papel de Presidente da Comissão para a Preparação do Catecismo da Igreja Católica. 

A 5 de Abril de 1993 foi chamado a fazer parte da Ordem dos Bispos e tomou posse do Título da Igreja Suburbicária de Velletri-Segni. 

No dia 6 de Novembro de 1998 foi nomeado Vice-Decano do Colégio Cardinalício e a 30 de Novembro de 2002 tornou-se Decano: tomou posse do Título da Igreja Suburbicária de Ostia. 

Até à eleição para a Cátedra de Pedro foi Membro do Conselho da II Sessão da Secretaria de Estado; das Congregações para as Igrejas Orientais, do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização, para a Educação Católica; do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos; da Pontifícia Comissão para a América Latina e da Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei". 

Por ocasião do seu cinquentenário de ordenação sacerdotal, João Paulo II enviou-lhe uma mensagem na qual, referindo-se à coincidência do seu jubileu com a solenidade litúrgica dos Santos Pedro e Paulo, com palavras de certa forma "proféticas" lhe recordava que "em Pedro ressalta o princípio de unidade, fundado na fé firme como a rocha do Príncipe dos Apóstolos; em Paulo a exigência intrínseca do Evangelho de chamar cada homem e cada povo à obediência da fé. Estas duas dimensões conjugam-se no testemunho comum de santidade, que cimentou a generosa dedicação dos dois apóstolos ao serviço da imaculada Esposa de Deus. Como não ver nestas duas componentes perguntava João Paulo II também as coordenadas fundamentais do caminho que a Providência dispôs para Si, Senhor Cardeal, chamando-o ao Sacerdócio?". 

A ele foram confiadas as meditações da Via-Sacra de 2005 celebrada no Coliseu. Nesta inesquecível Sexta-Feira Santa, João Paulo II, estreitando a si o Crucifixo, num "ícone" comovedor de sofrimento, ouviu em silencioso recolhimento as palavras daquele que iria ser o seu Sucessor na Cátedra de Pedro. Significativamente, o leitmotiv da Via-Sacra foi a palavra pronunciada por Jesus no Domingo de Ramos, com a qual imediatamente depois da sua entrada em Jerusalém responde à pergunta de alguns gregos que o queriam ver: "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, permanece só; ao contrário, se morrer, dá muito fruto" (Jo 12, 24). Com estas palavras o Senhor ofereceu uma interpretação "eucarística" e "sacramental" da sua Paixão. Mostra-nos foi a sua reflexão que a Via-Sacra não é simplesmente uma cadeia de sofrimento, de coisas nefastas, mas um mistério: é precisamente este processo no qual o grão de trigo ao cair na terra dá fruto. Por outras palavras, mostra-nos que a Paixão é uma oferenda de si mesmo e este sacrifício dá fruto e torna-se por conseguinte um dom para todos. 

As suas reflexões que ressoaram na noite de Sexta-feira Santa no cenário sugestivo do Coliseu permaneceram impressas nas consciências dos homens. "Não podemos deixar de pensar foi o seu vibrante convite na meditação da nona estação em quanto sofre Cristo pela sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do santo sacramento da sua presença, em que vazio e maldade de coração muitas vezes ele entra! Quantas vezes celebramos apenas nós próprios sem nos apercebermos dele! Quantas vezes a sua palavra é deturpada e abusada! Quanta pouca fé há em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujidade há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autosuficiência!".

"Senhor é a oração que surge do seu coração muitas vezes a tua Igreja parece-nos uma barca na qual entra água por todos os lados. E também no teu campo de grão vemos mais erva daninha do que grão... A veste e o rosto tão sujos da tua Igreja desconcertam-nos. Mas somos nós quem os sujamos! Somos nós que te traímos todas as vezes, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos. Tem piedade da tua Igreja... Levantaste-te, ressuscitaste e podes levantar-nos a nós também. Salva e santifica a tua Igreja. Salva e santifica todos nós". 

Só vinte e quatro horas depois da morte de João Paulo II, recebendo em Subiaco o "Prémio São Bento" promovido pela Fundação sublacense "Vida e Família", recordou com palavras hoje particularmente eloquentes: "Precisamos de homens como Bento de Nórcia, que num tempo de dissipação e de decadência, se imergiu na solidão mais extrema, conseguindo, depois de todas as purificações que teve que sofrer, alcançar a luz. Voltou e fundou Montecassino, a cidade sobre o monte que, com tantas ruínas, reuniu as forças com as quais se formou um mundo novo. Assim Bento, como Abraão, tornou-se pai de muitos povos". 

Na sexta-feira, 8 de Abril, ele como Decano do Colégio Cardinalício presidiu à Santa Missa das exéquias de João Paulo II na Praça de São Pedro. A sua homilia, podemos dizê-lo, expressou a grande fidelidade ao Papa e à sua própria missão. ""Segue-me", diz o Senhor ressuscitado a Pedro, como sua última palavra a este discípulo, escolhido para apascentar as suas ovelhas. "Segue-me" esta palavra lapidária de Cristo pode ser considerada a chave para compreender a mensagem que vem da vida do nosso amado Papa João Paulo II, cujos despojos mortais depomos hoje na terra como semente de imortalidade o coração cheio de tristeza, mas também de jubilosa esperança e de profunda gratidão". 

"Segue-me!", foi a palavra-chave, a ideia-guia da homilia que o Cardeal Ratzinger dirigiu ao mundo inteiro durante as exéquias do Santo Padre. Uma palavra que narra a missão de João Paulo II e ao mesmo tempo uma exortação que alcança todas as pessoas. 

"Segue-me!". Juntamente com o mandamento de apascentar o seu rebanho, Cristo anunciou a Pedro o seu martírio são as palavras urgentes do Cardeal Ratzinger na sua vibrante e comovida homilia exequial. Com esta palavra que constitui ao mesmo tempo a conclusão e o resumo do diálogo sobre o amor e o mandato de pastor universal, o Senhor recorda outro diálogo, feito no contexto da última ceia. Aqui Jesus dissera: "Para onde eu vou, vós não podeis ir". Pedro pergunta: "Senhor, para onde vais?". Jesus responde: "Para onde eu vou agora, por enquanto tu não podes ir; seguir-me-ás mais tarde" (Jo 13, 33.36). Da ceia, Jesus vai para a cruz, vai para a ressurreição entra no mistério pascal; Pedro, ainda não o pode seguir. Agora depois da ressurreição chegou esse momento, esse "mais tarde". Apascentando o rebanho de Cristo, Pedro entra no mistério pascal, encaminha-se para a cruz e para a ressurreição. O Senhor diz isto com as seguintes palavras: "... quando eras mais jovem... ias para onde querias, mas quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te há-de cingir as vestes e levar-te para onde tu não queres" (Jo 21, 18). No primeiro período do seu Pontificado o Santo Padre, ainda jovem e cheio de forças, sob a guia de Cristo ia até aos confins do mundo. Mas depois entrou cada vez mais na comunhão dos sofrimentos de Cristo, compreendeu cada vez mais a verdade das palavras: "Outro cingir-te-á...". Foi precisamente nesta comunhão com o Senhor sofredor que incansavelmente e com renovada intensidade anunciou o Evangelho, o mistério do amor que vai até ao fim (cf. Jo 13, 1)". 
"Ele afirmou o Cardeal Ratzinger interpretou para nós o mistério pascal como mistério da misericórdia divina... O Papa sofreu e amou em comunhão com Cristo e por isso a mensagem do seu sofrimento e do seu silêncio foi tão eloquente e fecunda". E concluiu da seguinte forma, com palavras que constituem uma "síntese" do Pontificado de João Paulo II mas também da sua própria missão de fiel, directo e estreito Colaborador do Papa desde 1981 como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: "Divina Misericórdia: o Santo Padre encontrou o reflexo mais puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que perdera a sua mãe quando ainda era criança, amou tanto a Mãe divina. Sentiu as palavras do Senhor crucificado como se fossem ditas pessoalmente a ele: "Eis a tua mãe!". E fez como o discípulo predilecto: acolheu-a no íntimo do seu ser Totus tuus. E da mãe aprendeu a conformar-se com Cristo. Permanece inesquecível para todos nós como neste último domingo de Páscoa da sua vida, o Santo Padre, marcado pelo sofrimento, se apresentou mais uma vez à janela do Palácio Apostólico e pela última vez deu a bênção "Urbi et Orbi". Podemos ter a certeza de que o nosso amado Papa agora está à janela da casa do Pai, nos vê e nos abençoa. Sim, abençoa-nos Santo Padre. Nós confiamos a tua querida alma à Mãe de Deus, tua Mãe, que te guiou todos os dias e agora te guiará à glória eterna do Seu filho, Jesus Cristo nosso Senhor". 

Na vigília da sua eleição para o Sólio Pontifício, na manhã de segunda-feira, 18 de Abril, na Basílica Vaticana, celebrou a Santa Missa "pro eligendo Romano Pontefice" com os Cardeais eleitores, poucas horas antes do início do Conclave que o teria eleito. "Nesta hora de grande responsabilidade exortou na homilia escutemos com particular atenção o que o Senhor nos diz". Referindo-se às leituras da Liturgia, recordou que "a misericórdia divina põe um limite ao mal. Jesus Cristo é a misericórdia divina em pessoa: encontrar Cristo significa encontrar a misericórdia de Deus. O mandamento de Cristo tornou-se mandamento nosso através da unção sacerdotal; somos chamados a promulgar não só com palavras mas com a vida, e com os sinais eficazes dos sacramentos, "o ano de misericórdia do Senhor"". "A misericórdia de Cristo realçou não é uma graça a bom preço, não supõe a banalização do mal. Cristo leva no seu corpo e na sua alma todo o peso do mal, toda a sua força destruidora. Ele queima e transforma o mal no sofrimento, no fogo do seu amor sofredor". "Quanto mais formos tocados pela misericórdia do Senhor acrescentou tanto mais entramos em solidariedade com o seu sofrimento, tornamo-nos disponíveis para completar na nossa carne "o que falta aos padecimentos de Cristo"". 

"Não deveríamos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decénios, quantas correntes ideológicas, quantas modas de pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos não raramente foi agitada por estas ondas, lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem; do colectivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Todos os dias surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara segundo o Credo da Igreja, é com frequência classificado de fundamentalismo.

Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e além por qualquer vento de doutrina", parece ser a única atitude ao nível dos tempos de hoje. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida só o próprio eu e as suas vontades. Nós, ao contrário, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. "Adulta" não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Esta fé adulta devemos amadurecê-la, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo". "O nosso ministério recordou ao concluir é um dom de Cristo aos homens, para construir o seu corpo, o novo mundo. Vivemos o nosso ministério assim, como dom de Cristo aos homens! Mas nesta hora, sobretudo, rezamos com insistência ao Senhor, para que depois do grande dom do Papa João Paulo II, nos conceda de novo um pastor segundo o seu coração, um pastor que nos guie ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à alegria verdadeira". 

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Fonte: vatican.va