quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2020

Papa Francisco-imagem in vaticannews.va


                   


O modelo de paz do Papa Francisco
Recordamos, através das palavras do Papa, as mensagens para o Dia Mundial da Paz de 2014 a 2020. No dia 1 de janeiro, Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, será celebrado o 53º Dia Mundial da Paz e Francisco presidirá a Santa Missa na Basílica Vaticana 

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano

Corações banhados pela fraternidade, vidas libertadas das escravidões, olhares capazes de vencer a indiferença, sementes de não violência para promover a paz. Mas também mãos estendidas para os migrantes e refugiados, passos inspirados pela boa política e caminhos de diálogo e de reconciliação. O olhar que ilumina as mensagens do Papa Francisco para os Dias Mundiais da Paz é dirigido para esses horizontes cheios de esperança. Mesmo entrelaçando com a realidade de uma sociedade deformada por vários vícios, é um olhar sempre ligado à esperança cristã, ao rosto de Jesus. Dos ensinamentos e das exortações do Papa Francisco para a paz, destaca-se também o nítido perfil de um denso magistério.

A primeira mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, em 2014, abre-se com o desejo de formular a “todos, indivíduos e povos”, votos de uma vida repleta de “alegria e esperança”. O documento é baseado na fraternidade, que Francisco enuncia a partir de uma premissa: a fraternidade, que se começa a aprender em família, é “fundamento e caminho para a paz”. Não apenas as pessoas, mas também as nações – explica Francisco recordando a encíclica “Populorum progressio” do Papa Paulo VI – devem se encontrar em “um espírito de fraternidade”. Referindo-se ao magistério de João Paulo II sublinha que a paz É “um bem indivisível”: ou é de todos ou não o é de ninguém”.

“A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor (Papa Francisco, Mensagem para o dia Mundial da paz de 2014)”

Na família de Deus, onde todos são filhos de um mesmo Pai, não há “vidas descaratdas”: a fraternidade, explica o Papa, é também uma “premissa para derrotar a pobreza”. Mas é preciso de “políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas o acesso aos “capitais”, aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos”. Francisco convida também a redescobrir a fraternidade na economia, a pensar novamente nos “modelos de desenvolvimento” e a mudar “os estilos de vida”. Com a fraternidade, prossegue Francisco, “apaga-se a guerra” se cada um reconhece no outro “um irmão a ser cuidado”. Por fim, observa que a fraternidade ajuda também a “guardar e cultivar a natureza".


Na mensagem para o dia Mundial da Paz de 2015 o Papa Francisco se detém nas profundas feridas que atacam a fraternidade e a vida de comunhão. Entre estas, um “fenômeno abominável” o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem. Ainda hoje, recorda o Santo Padre, “milhões de pessoas são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura”. O pensamento do Pontífice é dirigido em aprticular aos trabalhadores e trabalhadoras, também menores, “escravizados nos mais diversos setores”, aos migrantes que, ao longo do seu trajecto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade, abusados física e sexualmente”.

“Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objetos”(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2015)”

Por fim o Papa exorta a “globalizar a fraternidade”. E lança “um veemente apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo”.


2016: vencer a indiferença

A mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2016 é um convite a vencer as várias expressões de indiferença. “A primeira forma de indiferença na sociedade humana – explica o Pontífice – é a indiferença para com Deus”. Da qual deriva também “a indiferença para com o próximo e a criação”. “Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete”. Em uma sociedade tão dilacerada que assume as feições da inércia e da apatia, a paz é ameaçada “pela indiferença globalizada”.

“Quando investe o nível institucional, a indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica ações e políticas que acabam por constituir ameaças à paz. Este comportamento de indiferença pode chegar inclusivamente a justificar algumas políticas económicas deploráveis, precursoras de injustiças, divisões e violências… (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2016)”

A indiferença pelo ambiente natural, sublinha o Papa, “favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas”. Por fim Francisco convida a passa da indiferença à misericórdia através da conversão do coração e a promoção de uma cultura de solidariedade. No espírito do Jubileu da Misericórdia, anunciado pelo Papa Francisco em 13 de Março de 2015 cada um “cada um é chamado a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a adoptar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho”.


2017: não-violência como estilo de uma política pela paz
A 50ª mensagem para o dia Mundial da Paz 2017 é centralizada no tema da não-violência. “Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais”. O mundo, recorda o Santo Padre, está cada vez mais dilacerado: “Hoje, infelizmente, encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços”.
“Esta violência que se exerce ‘aos pedaços’, de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental. (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2017)”
A violência, sublinha o Papa, “não é o remédio para o nosso mundo dilacerado”: ser verdadeiros discípulos de Jesus “Hoje, ser verdadeiro discípulo de Jesus significa aderir também à sua proposta de não-violência”. A não-violência praticada com decisão e coerência, recorda Francisco, produziu resultados impressionantes: “Os sucessos alcançados por Mahatma Gandhi e Khan Abdul Ghaffar Khan, na libertação da Índia, e por Martin Luther King Jr. contra a discriminação racial nunca serão esquecidos”. “O próprio Jesus – observa o Papa – nos oferece um ‘manual’ desta estratégia de construção da paz no chamado Sermão da montanha”: as oito Bem-aventuranças (cf. Mateus 5, 3-10) traçam o perfil da pessoa que podemos definir feliz, boa e autêntica”.

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018, Papa Francisco convida a abraçar todos os “que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental”. “Oferecer a requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma possibilidade de encontrar aquela paz que andam à procura – escreve Francisco - exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar”.
“Acolher faz apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e violências. Proteger lembra o dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Promover alude ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados. Integrar significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe. (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018).”
Observando os migrantes e os refugiados com um olhar contemplativo alimentado pela fé, sublinha por fim o Santo Padre, descobre-se que “não chegam de mãos vazias”. “Trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem”.

2019: a boa política ao serviço da paz
A mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2019 é dedicada ao “desafio da boa política”. “A boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”. Mas na política, acrescenta o Papa, não faltam os vícios, “devidos quer à inépcia pessoal quer às distorções no meio ambiente e nas instituições”.
“Estes vícios, que enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da ‘razão de Estado’, a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio. (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2019)”
“Quando o exercício do poder político visa apenas salvaguardar os interesses de certos indivíduos privilegiados – afirma o Papa - o futuro fica comprometido e os jovens podem ser tentados pela desconfiança, por se verem condenados a permanecer à margem da sociedade, sem possibilidades de participar num projeto para o futuro. Pelo contrário, quando a política se traduz, concretamente, no encorajamento dos talentos juvenis e das vocações que requerem a sua realização, a paz propaga-se nas consciências e nos rostos. Torna-se uma confiança dinâmica, que significa ‘fio-me de ti e creio contigo’ na possibilidade de trabalharmos juntos pelo bem comum”. Por isso, conclui o Papa “a política é a favor da paz, se se expressa no reconhecimento dos carismas e capacidades de cada pessoa”.

2020: paz como caminho de esperança
Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020, Francisco indica a paz como “um bem precioso” e uma meta a ser alcançada apesar dos obstáculos e as provas. “A esperança – escreve o Papa - é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis”. “A nossa comunidade humana – acrescenta - traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis” .
“Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020)”
O Sínodo recente sobre a Amazônia, recorda o Pontífice, “impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças”. O Papa convida também a ser artesãos da paz: “O mundo – explica o Papa - não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações”. “O caminho da reconciliação – sublinha por fim o Papa - requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos”.

encontrei in: https://www.vaticannews.va

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

1 de janeiro: Dia Mundial da Paz!

Dia Mundial da Paz é comemorado no dia 1 de janeiro, o Dia de Ano-Novo.
Inicialmente chamado somente de Dia da Paz, a celebração foi criada pelo Papa Paulo VI em dezembro de 1967. A partir de então, todos os anos, o primeiro dia do ano passou a celebrar o Dia Mundial da Paz. É assim desde 1968.
De facto, isso vai a acontecer, com a celebração anual do Dia Mundial da Paz a 1 de janeiro, sob um tema escolhido pelo próprio Papa, que passa uma mensagem especial ao mundo neste dia.
O tema escolhido pelo Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2019 foi "A boa política está ao serviço da paz".
Em anos anteriores, os temas foram:
2018: "Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz"

2017: "A não-violência: estilo de uma política para a paz"

2016: "Vence a diferença e conquista a paz"

2015: "Já não escravos, mas irmãos"
2014: "Fraternidade, fundamento e caminho para a paz"

pombas no céu
Apesar do Papa fazer uma declaração relevante para a Igreja Católica neste dia, a data destina-se a uma celebração universal da paz, estando aberta a homens e a mulheres de todas as religiões.
Foi escolhido o dia 1 de janeiro, Dia da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, pois como primeiro dia do ano ele aponta o caminho da vida humana para o futuro, com o mesmo fim em mãos: a paz.
No dia 21 de setembro celebra-se o Dia Internacional da Paz, data estabelecida pelas Nações Unidas e que é comemorada desde 1982.
encontrei em: https://www.calendarr.com/portugal/dia-mundial-da-paz/

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A verdadeira história do queijo português "MARINHAS"! Um queijo magro e muito saudável!

Devemos tentar dar o maior crédito aos produtos nacionais. É bom acreditar! Não podemos desconfiar de tudo ou estar sempre a dizer mal! 


Não é o anúncio que diz "O que é nacional é bom"?

Um dos melhores exemplos e que aqui hoje me traz a partilhar um produto do nosso dia-a-dia é o queijo MARINHAS, bem português e, pelos vistos, a manteiga da mesma marca "é a melhor manteiga do mundo".

Vamos então conhecer esta história que acabei de descobrir n'o observador, jornal online 29.12.2019, texto de Maria Martinho e que me deixou muito orgulhosa ao saber que um produto tão indispensável à nossa alimentação é bem português e é fabricado de forma 100% artesanal.


Marinhas. Do queijo recomendado pelos médicos a uma das melhores manteigas do mundo 


Há 65 anos nasceu em Esposende a primeira fábrica de laticínios certificada em Portugal. A Marinhas é uma empresa familiar, onde o queijo e a manteiga são ainda produzidos de forma 100% artesanal.

É na estrada nacional 13, que liga Porto e Valença, que encontramos um edifício de pedra, com um moinho de vento na fachada, rodeado por campo e com vista para o mar. Na Fábrica de Lacticínios Marinhas, localizada na freguesia de Marinhas no concelho de Esposende, produz-se uma das melhores manteigas do mundo, segundo a revista inglesa Wallpaper, e um queijo magro como há poucos no país.

“O nosso queijo continua a ser único porque é magro, não leva corantes, conservantes, anti bolores, anti fúngicos ou revestimento externo. É feito tal e qual como em 1954 e, por isso, tem um prazo de validade muito curto”, explica Berta Castilho, ao leme do negócio de família.

Os lacticínios Marinhas são um dos tesouros da região e se para uns esta é uma marca perfeitamente desconhecida, para outros faz parte de uma memória gastronómica com carimbo nacional. A empresa familiar, que vai na quarta geração, mantém orgulhosamente os métodos de fabrico há 65 anos, é recomendada por médicos e consta que até a mulher de Belmiro de Azevedo é fã dos seus produtos.


Fernanda Vale é a funcionária mais antiga da fábrica das Marinhas,
faz queijo e manteiga há 44 anos 

(Foto: Rui Oliveira/Observador)


O leite, a principal matéria prima, vem da Póvoa de Varzim, mas é de Esposende que saem queijos e manteiga feitos em máquinas antigas pela mão de 24 trabalhadores, a maioria mulheres, residentes naquela zona. Manuel Fernandes é um dos poucos homens que vemos literalmente com as mãos na massa. “Estou aqui há 36 anos, não sei fazer mais nada”, confidencia ao Observador. Com uma bata branca vestida e uma touca na cabeça, recorda que já partiu um pulso e se queimou numa máquina, mas nada que o assuste ou demova na arte de fazer queijo.Uns metros ao seu lado está Fernanda Vale, a funcionaria mais antiga da fábrica, que faz queijo e manteiga há 44 anos. “Já passei por todas as secções, este foi o meu primeiro emprego e hei de morrer aqui”, diz. Sorridente, retira com uma faca os restos de queijo dos tecidos da máquina de prensa e garante que gosta de ensinar quem ali chega pela primeira vez.

A Marinhas sobreviveu à revolução de abril, resistiu a modas e a tendências e manteve-se fiel à sua origem e à sua história. Berta Castilho, a responsável, diz não cair na tentação de a reinventar ou modernizar, afinal, “há memórias que não podem ser atraiçoadas”. A fábrica que dava emprego à região e era o 112 em caso de acidente.

Tudo começou em 1939, quando pequenos fabricantes de manteiga da região se instalaram ali, criando a Lacticínios de Esposende, Lda, com quotas cedidas pela Junta Nacional de Produtos Pecuários. Anos mais tarde, a sociedade acabou por falir tendo sido vendida em hasta pública. Amílcar e Reinaldo Castilho, pai e filho naturais do Porto, compraram-na em 1954, dando-lhe o nome da freguesia. “O meu avô era advogado e só entrou com capital, quem realmente levou a empresa para a frente foi o meu pai, que era engenheiro civil”, conta Berta Castilho em entrevista ao Observador.

Berta é a mais velha de três irmãos e está há 28 anos à frente dos destinos da Marinhas, a primeira fábrica de lacticínios certificada em Portugal. “No início só tínhamos licença para o fabrico de manteiga, mas não era viável, não tinha expressão. Os lacticínios em Portugal estavam ainda no começo, as pessoas comiam margarina em vez de manteiga, usavam óleo em vez de azeite”, recorda. Reinaldo Castilho, o seu pai, viajou pela Europa para ver o que se fazia lá fora e dois anos depois aventurou-se na produção de queijo, apostando num produto diferente.






“Os portugueses têm a tendência a imitar bastante bem o que se faz lá fora, naquela altura toda a gente fabricava o queijo bola vermelho, tipo flamengo, um original holandês. Ora o meu pai resolveu fazer um queijo que não era bola, nem vermelho e ainda por cima era magro. As pessoas estranharam imenso, foi difícil colocá-lo no mercado.”

Valeu a publicidade boca a boca e as indicações médicas, já que os especialistas da época o consideravam um queijo mais saudável e de fácil digestão, fazendo com que o produto se afirmasse assim, principalmente na zona norte. O sucesso obrigou a família Castilho e mudar-se para Esposende, numa década em que a cidade “era a estrada nacional e pouco mais”. A Marinhas era assim o principal emprego para a região, mas também um verdadeiro 112. “O meu pai chegava a emprestar gelo e carros da fábrica para transportar doentes quando havia um acidente”, recorda Berta, que cresceu entre aqueles corredores.

Quando em 1991 passou a tomar conta do negócio, certificou a empresa em segurança alimentar e preparou a gestão futura, mas sem nunca alterar o essencial. “A marca não se pode reinventar, tem que permanecer fiel, caso contrário não se aguenta de pé.Recebemos pessoas de todo o país que vêm buscar o que comiam em casa dos seus avós, essas memórias não podem ser atraiçoadas. O nosso público é fiel, não podemos mudar muito.”



Manuel Fernandes é um dos poucos homens 
a trabalhar na Marinhas, é responsável 
pela transformação do leite 
(Foto: Rui Oliveira/Observador)


O preço a pagar pela qualidade de um produto fabricado artesanalmente e em pequenas quantidades nem sempre é fácil de gerir. “Sentimos diariamente as consequências desta nossa opção. É difícil gerir a procura, há muita pressão para tentar modificar e levar o produto a um nível diferente, mas vamos manter-nos assim, pelo menos enquanto der e se conseguir viver disto”, realça Bárbara Castilho, filha de Berta e responsável pelo departamento de comunicação da marca.

Os produtos Marinhas vendem-se de norte a sul do país, mas dificilmente são enviados além-fronteiras. “Como não levam conservantes e o tempo de viagem dos transportes terrestres é elevado, quando chega ao destino tem metade do tempo útil. Outra das tentações é o vácuo, não o utilizamos porque quando se tira de lá o queijo sabe a plástico.” Quando em 2008 a revista inglesa Wallpaper considerou a manteiga Marinhas como uma das melhores do mundo, o produto esgotou até hoje. “Até aí tínhamos manteiga para dar e vender. Em 1991 existiam dez toneladas de manteiga no frigorífico armazenadas, mas de repente o produto esgotou.”

Embalados à mão, sem corantes nem conservantes


A fábrica recebe diariamente entre 15 a 20 mil litros de leite de vaca, que depois de ser devidamente analisado segue para uma máquina que retira parte da sua gordura. A nata retirada é colocada em bilhas de metal de 50 litros que vão para uma câmara frigorífica durante 16 horas para acidificar. Posteriormente a nata é batida durante duas horas, adiciona-se sal e transforma-se em manteiga, que depois é embalada à mão com papel vegetal.





“Não compramos nata, fazemos a manteiga a partir da nata que retiramos do leite para fazer o queijo magro. Se fizermos mais queijo temos mais manteiga, se fizermos menos queijo temos menos manteiga”, garante Berta Castilho, acrescentando que, apesar de a manteiga ter sido o primeiro produto a ser comercializado pela marca, atualmente é o queijo magro o rei das encomendas.


O leite é pasteurizado a 78 graus, arrefece a 30 para depois ser centrifugado e homogeneizado. Após ser coagulado, são adicionados fermentos, cloreto de cálcio e, por fim, o coalho. O preparado repousa durante 35 minutos até se tornar numa espécie de gel. Esta massa é laminada e escorrida para retirar o soro, que serve depois para alimentar gado, nomeadamente porcos. Quando atinge uma textura mais consistente, o queijo é colocado em formas de plástico de vários tamanhos para ser disposta numa máquina de prensa, entre 18 a 20 horas, e assim retirar o soro que resta. “Utilizamos um tecido em cada forma para depois ser mais fácil retirar o produto”, explica Sílvia Abreu, responsável pela produção.



Sílvia Abreu é responsável pela produção
da fábrica de Esposende 

(Foto: Rui Oliveira/Observador)


Chega a hora de salgar o queijo e, para isso, há que mergulhá-lo numa solução de água fria com sal entre duas a seis horas, dependendo do tipo de queijo que se pretende: bola, barra, magro, gordo ou amanteigado. Quando já tem o sabor salgado que conhecemos, o produto é distribuído em cestos de plástico e colocado numa câmara de cura a 10 graus. O queijo magro permanece ali oito dias, já o gordo fica o dobro. “Cada um deles tem um lote escrito à mão com o dia, o mês e o tempo de cura”, revela Sílvia Abreu.

No caso do queijo sápido, mais salgado, a cura pode durar um mês e o bolor natural é lavado à mão com uma escova própria, já o queijo bola é pintado à mão, depois de seco, com uma esponja embebida em tinta vermelha alimentar. “Começamos a fazer queijo de cabra há um ano, mas ainda temos alguma dificuldade em encontrar leite de cabra nesta região”, justifica a responsável pela produção da fábrica, acrescentando que a novidade é mesmo o queijo cremoso fundido com menos 10% de gordura, cuja embalagem em forma de bisnaga faz lembrar uma pasta para os dentes.






É na zona de embalamento que são retirados os bolores naturais e se coloca o produto num tapete de secagem. Há caixas, rótulos e embalagens para todos os gostos, das mais pequenas que seguem para os restaurantes às maiores em forma de barra. Para fazer um quilo de queijo magro são necessários 13 litros de leite e o prazo de validade pode ir até aos três meses, já a manteiga com sal deve ser consumida em dois meses e a sem sal em apenas um mês.


A publicidade polémica no jornal e a preferência da mulher de Belmiro de Azevedo

O queijo Marinhas era presença assídua nas prateleiras dos hipermercados do grupo Sonae desde o ano em que foi fundado, em 1959. No entanto, o cenário mudou na década 1990. “Fomos chamados para uma reunião em Lisboa em que nos foi dito que o nosso produto era muito caro, não tinha procura e não lhes interessava mais”, recorda Berta Castilho, admitindo que com estas grandes empresas “não há forma de negociar”, pois “as vendas não são efetivamente expressivas, comparativamente à oferta que eles têm”.

Chegada a Esposende, a responsável decidiu comprar uma página de publicidade em dois jornais – “não tínhamos dinheiro para ir à televisão”- informando os clientes que a marca já não estava à venda na Sonae, mas que podiam procurar os seus produtos na morada indicada ou através dos respeitos contactos. “Não tínhamos outra maneira de comunicar com as pessoas, muitas já pensavam que a marca tinha acabado, o que não era de todo verdade.”



Apesar da manteiga ter sido o primeiro produto
a ser comercializado pela marca,
é o queijo magro o rei das vendas e das encomendas
(Foto: Rui Oliveira/Observador)


Quando a publicidade sai, a marca é acusada de enfrentar um grupo gigante, “mas lá diz o ditado: perdidos por cem, perdidos por mil”. Dois meses depois, Berta foi chamada a ir novamente a Lisboa para uma reunião, mas recusou. “Vieram eles à fábrica, inclusive a pessoa que nos tinha dito que o nosso queijo não interessava. Disseram-nos que tinha sido um mal entendido, que realmente havia muita gente a procurar o produto e a perguntar se podíamos voltar a fornecer.” O queijo Marinhas voltou, assim, às prateleiras dos hipermercados da Sonae, onde permanece até hoje.

A família Castilho soube, através de alguém que trabalhava no grupo, que Maria Carvalhais, a mulher de Belmiro de Azevedo, era paciente do médico Fernando Póvoas e que este lhe recomendava consumir o queijo Marinhas. “Contaram-nos que quando ela se apercebeu que o produto já não estava à venda deve ter ido falar com alguém superior. Pelos vistos deu resultado, pois foi tudo no mesmo timing”, revela Bárbara Castilho, responsável pela comunicação da marca.