Gostaria que me esclarecessem uma pequena dúvida. A discutir com os meus colegas, chegámos todos a conclusões diferentes. Por esta razão, escrevo-vos para que nos possam elucidar. Qual das seguintes frases é a mais correcta e por que razão?
a) Esclarecem-se dúvidas.
b) Esclarece-se dúvidas.
Desde já, quero agradecer e felicitar-vos por este excelente e útil “site”.
Rita Lemos :: :: Portugal
[Resposta] Para que ninguém fique zangado, saibam os contendores que ambas as formas são possíveis, embora signifiquem coisas ligeiramente diferentes, que, no entanto, vão dar praticamente ao mesmo, razão por que é frequente ouvir qualquer das estruturas.
a) Quem diz «Esclarecem-se dúvidas» está a dizer: «Dúvidas são esclarecidas.» Aquele «se» é, no caso vertente, considerado uma partícula apassivante (isto é: leva a frase para a passiva), daí que o verbo concorde em número com «dúvidas»;
b) Quem diz «Esclarece-se dúvidas» está a dizer: «Alguém [que não se sabe quem é ou que não interessa referir] esclarece dúvidas.» Nesta versão, o «se» é considerado um pronome indefinido, que indetermina o sujeito, a tal entidade que esclarece, e é por isto que o verbo está no singular.
O «se», para além de partícula apassivante e de pronome indefinido, pode ser também pronome reflexo (como na frase «Ele lava-se», em que «se» = «a si mesmo»), e esta pode ser uma das razões por que alguns falantes preferem a forma b), evitando a possível ambiguidade de as «dúvidas se esclarecerem a si próprias».
Apesar desta aparente vantagem da forma b), há também autores que consideram que ela é própria do falar corrente e popular, correspondendo a forma a) a um nível mais elevado. Será que é mesmo assim? É irrelevante, o que é importante é que os falantes percebam a subtil diferença que há entre as diferentes versões, já que todas são correctas.
SUPERCLÁSSICO é um filme do realizador dinamarquês Ole Christian Madsen.
A maior parte das cenas foram filmadas na Argentina e o filme esteve pré-selecionado como candidato ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro 2012.
Nesta comédia conta-se a história de um casal de dinamarqueses, que estão a divorciar-se. Ele (Anders W. Berthelsen) é dono de uma loja de vinhos, e vive com o filho adolescente (Jamie Morton) na Dinamarca; ela (Paprika Steen), partiu para Buenos Aires, na Argentina, pois é uma agente de futebol que se deixou apaixonar por um craque do Boca Juniors (Sebastián Estevanez é o ator que desempenha esse papel no filme).
O marido resolve viajar com o filho para a Argentina, tentando recuperar o amor dela. Tem lugar uma série de peripécias a partir daí, gerando-se muitas confusões com todas as personagens envolvidas, tornando a película numa comédia divertida.
Gostei muito do enredo, mas ainda gostei mais da trilha sonora do filme!
Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Jornal Público
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população.
No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes.
Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária.
Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.