sábado, 15 de novembro de 2025

"Enfiar o barrete" ou "enfiar a carapuça" é uma expressão idiomática utilizada com frequência

imagem obtida em : portuguesices.com

"Enfiar o barrete" ou "Enfiar a carapuça" praticamente significam o mesmo, como os exemplos mais abaixo o demonstram.

Torna-se engraçado na medida em que gosto de pesquisar estas expressões pela curiosidade que despertam em mim: fico a conhecer o seu verdadeiro sentido e a sua história - sim, porque as expressões contêm um conjunto de palavras que têm sempre uma significação e uma história. 

Ao conhecê-las, acabam por me divertir imenso, pois daí infiro a riqueza, a variedade de sentidos e até alguns aspetos linguísticos da nossa língua, que gosto muito de aprofundar.

Então aqui vai a partilha desta pesquisa, baseada na fonte de que me socorri:


Hoje, iremos explicar duas expressões que contêm referência a um tipo de chapéu de forma cónica feito de lã ou pano conhecido como barrete ou carapuça.

A primeira é enfiar um barrete ou a carapuça a alguém e descreve uma situação em que uma pessoa é enganada, burlada ou ludibriada. Em Lisboa, é frequente encontrar-se pessoas a vender na rua, mas os artigos que nos tentam vender, ou melhor dizendo impingir, nem sempre são da melhor qualidade ou podem até ser roubados. Portanto é necessário ter muito cuidado.

Esses vendedores abordam e tentam vender os seus artigos sobretudo aos turistas, não é?

Sim, porque frequentemente os locais já conhecem as suas “técnicas de venda” e não caem tão facilmente na ratoeira.

Mas os produtos comercializados por esses vendedores ambulantes são geralmente bastante mais baratos do que os vendidos nas lojas.

É verdade. Os seus produtos são mais baratos não apenas porque estes vendedores não pagam impostos nem têm despesas mas também porque a qualidade dos artigos que nos querem vender é inferior ou apresentam imperfeições ou defeitos e, por isso, é importante ter cuidado para não sermos enganados e evitar que nos enfiem um barrete.

Eis alguns exemplos de como se enfia a carapuça a alguém:

— Comprei um telefone no Martim Moniz e o vendedor assegurou-me que estava desbloqueado mas quando cheguei a casa e tentei colocar o meu cartão, descobri que não era verdade. Era um vendedor muito simpático, mas considerando o preço do telemóvel eu devia ter desconfiado que estava a enfiar-me a carapuça!

— Na Feira da Ladra há imensas bicicletas à venda. E são todas baratíssimas.
— Tem cuidado! Muitas dessas bicicletas são roubadas e nunca se sabe se o dono apresentou queixa à polícia. Não deixes que te enfiem um barrete!

— Hoje tentaram vender-me um relógio de marca a €20.00 mas eu desconfiei da pechincha e não deixei que me enfiassem um barrete.

— Fui ao talho comprar um bife de alcatra mas o talhante tentou vender-me gato por lebre.
— Como assim?
— Eles não tinham alcatra e tentaram impingir-me uma carne cheia de gordura e nervos dizendo que era filé mignon… mas eu não fui na conversa fiada deles e fui a outro talho.
— Fizeste bem em não deixar que te enfiassem a carapuça.

A segunda expressão é: se a carapuça serviu, que sugere uma admissão ou reconhecimento de culpa por parte de quem decide usar a dita carapuça, como nos seguintes exemplos:

— As pessoas que não gostam de ler são burras.
— Eu não gosto de ler, estás a chamar-me burra?
Se a carapuça serve

— Não gosto nada de piadas sobre louras!
— Porquê? A carapuça não te serve pois tu és morena…
— Essas piadas são um insulto a qualquer mulher, independentemente da cor do seu cabelo.

Esta expressão apresenta várias variações, não é?

Na realidade apenas o verbo varia mas sim ouve-se dizer: a carapuça é para quem lhe serve; a carapuça é para quem lha põe; e a carapuça é para quem a enfia, como nos seguintes exemplos:

— A honestidade é uma virtude que tu não tens…
— Estas a acusar-me de ser mentirosa?????
A carapuça é para quem a põe…

— É bem verdade que a carapuça é para quem a enfia. Comentei com a minha sogra que não gostava nada de coscuvilhar a vida dos outros e ela ficou toda ofendida.
— Ninguém gosta que lhe digam para se meter na sua vida… seja direta ou indiretamente.

— O meu chefe acha que sou preguiçosa porque não entreguei o relatório a tempo e horas e repreendeu-me em público. Fiquei muito ofendida.
A carapuça é para quem lhe serve.

Existe ainda o idiomatismo qual + adjectivo, qual carapuça que é usado quase exclusivamente no discurso oral e muito informal para sublinhar incredulidade ou dúvida sobre a afirmação que acabou de ser feita.

— A água está bastante fria.
Qual fria, qual carapuça! Está espetacular.

— A sopa está salgada.
— Qual salgada, qual carapuça!!!! É assim mesmo que eu gosto!

VER MAIS:



FONTE:

https://observalinguaportuguesa.org

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

"O negro do rádio de pilhas" - quem canta é o famoso Rui Veloso

O Negro Do Rádio De Pilhas / Rui Veloso

Vem descendo a avenida 
Negro do rádio de pilhas T
odo contente da vida 
Porque não chove e o sol brilha 
Uá, bã-bã-bã-uoh 
Batilha comprida e carapinha 
Com um visual garrido
Dançando enquanto caminha 
Rádio colado ao ouvido 
Iê, 
gã-gã-gã-uoh 
Uh-uh-uh-ah-ah-uoh 
Sei de quem tem hi-fi, oh
E lê enciclopédia

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

"O tempo da outra senhora" e o verdadeiro significado desta expressão

Homem, mulher café retro
imagem obtida in: https://www.publicdomainpictures.net


A minha pesquisa de hoje incide numa expressão curiosa que pode levar a outras interpretações diferentes da verdadeira, que é a que se segue:


'A expressão «o tempo da outra senhora» é hoje, realmente, muitas vezes utilizada quando nos referimos ao regime do Estado Novo em que havia censura e um regime de partido único. No entanto, a «outra senhora» não significa nem «censura» nem «ditadura», mas, sim, mesmo uma outra senhora. 

Explicando, esta expressão é anterior ao 25 de Abril e tem origem nas relações domésticas. A Senhora era a dona da casa e aí punha e dispunha. Era ela que ditava as leis da organização da casa, a serem cumpridas pela criadagem. Quando a senhora da casa morria, havia uma nova senhora (a filha, a nora, a nova mulher do viúvo que entretanto casaria), a ditar a organização da casa, e essa organização sofria alguma alteração; a forma de gerir era, naturalmente, diferente. E surge então a expressão «o tempo da outra senhora», distinto do actual. 

Quando muda o regime político, mudam as leis, muda a forma de organização do país e, por analogia, começa, então, a falar-se do tempo da «outra senhora» quando se pretende referir situações relativas a essa época anterior, situações essas que agora não existem ou foram alteradas.'

FONTE:
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-tempo-da-outra-senhora/13622 [consultado em 12-11-2025]