sábado, 31 de outubro de 2015

O verdadeiro significado de "Iconoclasta"

Iconoclasta significa : pessoa pertencente a uma seita religiosa que proscrevia (bania, condenava, expulsava, abolia, proibia) o culto das imagens (o sublinhado é meu)
Fig. Pessoa que não respeita tradições e monumentos. 
É um adjetivo e substantivo de 2 géneros, do grego eikonoklastes, de eikon, imagem, e klao, quebrar

Pesquisa efetuada no Dicionário Prático Ilustrado Lello  (edição atualizada e aumentada por José Lello e Edgar Lello, da Lello & Irmão - Editores, 1995).

www.ecclesia.com.br 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

As palavras do Presidente...

in: observador.pt
As palavras de Cavaco Silva, quando há dias indigitou a coligação de Passos Coelho para um segundo mandato, têm tido inúmeras interpretações nos meios de comunicação social... 

Houve muitas reações pelo país inteiro e um desdobrar de notícias e programas na TV em volta deste assunto.

Partilho aqui uma dessas notícias, por me parecer a interpretação mais equilibrada e mais fiel em relação ao discurso do Presidente  da República.

Outra República?



1. O Presidente da República não é um cabide. 
Compete-lhe voz, opinião, critério e fundamentação. 
Foi o que fez no pleno entendimento da natureza das 
             suas funções. 
Com considerações a mais? Porventura, mas seja como 
for o país, daqui uns meses – quando for tarde de mais – 
lembrar-se-á de cada uma das suas palavras. 
Fez um discurso forte, o que é porém muito distinto de ter 
feito um discurso violento e divisionista como 
– por exemplo – o que fez Sampaio quando despediu 
Santana Lopes, que estava escorado numa maioria absoluta, 
política, coerente e não meramente numérica e 
descaradamente artificial como a suposta existir hoje. 
(Sugiro a propósito a leitura das reações de aplauso e 
jubilo dos líderes do PS, do PCP e do BE face a esse 
extraordinário gesto do então Presidente – vistas à luz 
do que a esquerda diz hoje, acusa hoje e insulta hoje, 
essas reações são quase indecorosas).
a) Ao contrário do que se disse – muitas vezes 
insultuosamente e num tom raramente praticado entre 
nós –, Cavaco Silva não alertou os “mercados”, alertou-nos a 
nós e ao país para o que irá ser o previsível comportamento 
dos fatídicos mercados – e do BCE e de Bruxelas e das suas 
regras de jogo. Não é de todo o mesmo que ter 
decidido malevolamente “alertar” esse universo, que para 
o bem e para o mal, é o nosso.
b) Não “uniu” o PS – nem um mágico hoje o uniria! –, 
nem dividiu deputados. Enfatizou a responsabilidade de 
cada um deles neste momento, o que não é pouco, mas 
não é o mesmo. Estando o jogo político circunscrito 
à arena parlamentar, porque não há-de o Chefe do Estado 
pedir aos jogadores que atentem no jogo?
c) Não disse que nunca daria posse a um governo 
de extrema-esquerda. Nem podia, como é óbvio e ele 
bem sabe. Disse que não dava “agora” e explicou porquê. 
Mas ao mesmo tempo e justamente com o que disse “agora”, 
avisou as navegações do mau tempo que as espera. 
Se no uso das suas prerrogativas o Presidente da Republica 
acha que os programas partidários e as vontades 
políticas da extrema-esquerda, uma vez aplicadas, lesam o 
interesse nacional, porque não há-de dizê-lo? 
Soares fez o mesmo, Sampaio fez o mesmo. 
A escolha, cabe agora e bem, aos deputados. 
A serem derrubados, Passos Coelho e a coligação devem 
sê-lo no Parlamento e não por António Costa na rua 
ou num cabeçalho de jornal.
2. A eleição de Ferro Rodrigues não surpreende nem ao 
              de leve. 
Mas ao contrário do que se disse – com esta mania de 
          acharem que meio país é estúpido – não foi nem o verbo, 
              nem o tom do Presidente que “elegeu” Ferro. 
Quem se julga a dez minutos e a dez metros do poder 
e das suas benesses como qualquer deputado socialista 
se julga – nem que ao nível de um sublugar num 
qualquer falido organismo estatal – não corria o risco de ir 
ao dentista nesse dia, falhando a votação. 
Do mesmo modo que nenhum parlamentar do PS irá ao 
médico ou ao Porto ver a mãe na votação do programa 
do Governo. Sendo óbvio que uma parte do PS não 
comprou esta louca aliança política, não se revê nela e está 
à espera de ajustar contas com António Costa, o tempo 
é de medir conveniências próprias. Não é o momento para 
ser livre, nem para estar à altura da herança do PS nestes 
40 anos. Ninguém ousará hoje um passo em falso. 
A coragem dá trabalho. Sabe-se lá o que é o dia de amanhã.
3. Depois do líder do PS ter solenemente avisado o país de 
que nunca votaria uma moção de rejeição ao Governo sem 
dispor de uma alternativa, não dispondo de uma alternativa 
vai votar a moção de rejeição ao governo. 
A boa companhia da extrema-esquerda vai saltar-lhe ao 
caminho e – mais cedo que tarde – arreganhar-lhe o dente, 
já todos os disseram, em todos os tons. Até lá espera-se 
o parto do acordo que – de momento – persiste em não 
ver a luz da glória. Ou terá sido por acaso ou por 
“razões pessoais” que Cavaco Silva referiu como 
“inconsistente” algo que ainda não existia? 
De “consistente” o que há verdadeiramente é a obsessão 
de António Costa com o lugar de Passos Coelho.
Basta (saber) ouvir Jerónimo de Sousa, o adorado “avô” 
da media durante a campanha eleitoral, para observar o 
pouco que ali se costuma brincar em serviço: o PCP 
precisa de oxigénio para a CGTP, precisa de não ser 
subalternizado, precisa de moedas de troca para os seus 
e como tal agirá. E assim sendo, ambas as facturas a 
pagar, a do BE que já conhecemos e a do PCP se 
este vier a apresentá-la, serão caríssimas. 
Cá estaremos para ver, e infelizmente para as pagar.
Mas… e Mário Centeno? Há dias mandaram-me um mail 
com o vídeo de uma conferência de imprensa sua, 
realizada há meses, no Largo do Rato. Perguntei a quem 
me enviou se era uma montagem ou uma dobrarem 
(que foi o que me pareceu). Não era. Era a sério. 
Espantei-me com o comportamento desnorteado de 
Mário Centeno, balbuciando, sorriso cativante mas olhar 
de náufrago, a sua impossibilidade de responder a uma 
questão com o argumento de “serem muitos números”. 
Mas o que não julguei possível foi que o coordenador de 
um programa económico “de governo” tenha vindo 
a assistir, impávido e mudo, à descaracterização, step by step, 
daquilo que seriamente procurou inspirar e coordenar. 
Que dirá a si mesmo ao fim do dia deste vexame?
A vida continua e Mário Centeno continua a frequentar a 
extrema-esquerda ao lado de Costa: como se nada 
fosse e caucionando tudo.
4. Andam para aí apostas sobre se Cavaco Silva 
indigitará António Costa para liderar um governo integrado 
ou apoiado por radicais se a coligação for chumbada 
como sofregamente a esquerda anuncia. 
Também circulavam apostas sobre se o Presidente indigitaria 
Passos Coelho para formar novo Executivo quando era bem 
de ver que não podia fazer outra coisa. 
Não valiam a pena nem as apostas, nem as ânsias. 
Agora também não. E só os que não medem nem alcançam 
o que significaria para o país um governo de gestão podem 
prosseguir com as apostas.
5. Há gente dividida, um clima crispado, tensão no ar, 
radicalismo, linguagem insultiva. Uma revolução, em acabando 
– mal ou bem –, esgota-se. Por natureza e definição nada disso 
pode ser comparável ao tempo politico que vivemos hoje, 
numa democracia estabelecida e num Estado de direito, 
mesmo se uma e outro em acentuada perda de sentido e de 
valores.
Aflige-me e perturba-me este estado de coisas. Está a ir-se 
tão longe na irracionalidade nos modos e nos procedimentos 
políticos que o retrocesso vai ser difícil e o reequilibro 
porventura impossível. Talvez já só noutra República. 
De um dia para o outro – literalmente –, metade do país 
passou, aos olhos da esquerda, a ser constituída por inimigos 
em vez de adversários, olhados com acinte, tratados 
com inclassificável desprezo, (quase) acusados de traição 
e sem direitos políticos. 
Os grandes mestres do ressentimento, os grandes 
encenadores do ódio, os praticantes da crispação, 
podem dormir descansados. 
Eu é que talvez não consiga."
in observador.pt

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Como vai a esquerda portuguesa viabilizar um governo?

in: observador.pt
Um artigo muito importante, tocando pontos sensíveis da nossa política portuguesa e que serve para nos ajudar a compreender a situação complicada  atual:

"Como pagar um acordo? 

Onde a esquerda pode ir buscar dinheiro para aliviar a austeridade

O PS negoceia sem pressas com o PCP e Bloco, fazendo contas às propostas que podem viabilizar um governo de esquerda. O programa de Centeno tinha ideias para compensar desvios. Quais sobram?
Autores: Nuno André Martins e Miguel Santos
Congelamento de pensões, limites nas prestações sociais 
não contributivas ou impostos sobre as heranças. 
Numa altura em que se fala dos aumentos de despesa 
ou de perda de receita de um eventual acordo 
entre o PS e a esquerda, 
que ideias podem os negociadores 
ir buscar ao programa do PS para compensar 
eventuais desvios nas contas públicas?
Tendo em conta as condições impostas pelo PCP e BE 
para viabilizar o governo de António Costa, 
as contas não serão fáceis de fazer – 
sobretudo tendo em conta que o primeiro Orçamento 
está mesmo à porta e que em cima da mesa estão 
várias medidas que envolvem aumento 
da despesa do Estado ou perda de receita. 
Sem sabermos ainda quanto poderão custar 
as medidas, é possível pelo menos recuperar, 
no documento macroeconómico do PS, 
algumas medidas de compensação que podem 
ajudar agora a compor as novas contas – 
pelo menos parcialmente, visto que PCP e BE 
também podem travar algumas dessas propostas 
(já lá vamos).
As medidas foram incluídas no documento do PS 
em várias secções, com o objetivo de avançar como 
compensação apenas caso um conjunto de medidas 
específico para aquele setor também avançasse. 
Vejamos quais eram, uma a uma, e quais devem 
ficar pelo caminho. No que diz respeito ao capítulo 
dos rendimentos, em cinco medidas apenas uma 
previa uma poupança para os cofres do Estado, 
aplicação da condição de recursos nas prestações 
sociais não contributivas
Entre 2016 e 2019, esta medida deveria gerar 
uma poupança de 1.020 milhões de euros 
(pouco mais de 250 milhões/ano). 
Mas a medida foi muito criticada pelo Bloco 
na campanha, pelo que dificilmente um acordo 
passará por aqui; 
O congelamento das pensões – 
com exceção das mínimas 
(poupança estimada de 1.660 milhões de euros). 
Mais um ponto que não passará nas negociações, 
pelo menos não como propunha o PS: 
Catarina Martins fez-lhe ataque cerrado no debate 
com Costa e o PS aceitou reabrir o dossiê que valia 
415 milhões/ano na proposta do PS. 
De resto, havendo descongelamento de pensões, 
o novo Governo terá que inscrever a despesa no 
próximo orçamento;
Substituição dos atuais incentivos à contratação 
pela redução da TSU (o que se poupa aqui, 763 
milhões, gastar-se-ia com a perda de receita 
na TSU). 
A verdade é que a redução da TSU não avança, 
por imposição do Bloco, mas nada impede que 
fiquem estas penalizações, que podem garantir 
à volta de 190 milhões de euros/ano
Na parte que dizia respeito ao estímulo ao emprego, 
onde se incluía a redução da Taxa Social Única (TSU) 
paga pelos empregadores como pedra chave 
e para a qual as outras serviam de compensação, 
o PS propunha medidas como a penalização da rotação 
excessiva de trabalhadores numa empresa aumentando 
a contribuição para a Segurança Social 
(250 milhões de euros/ano, até 2019). 
Neste caso, não há obstáculos à esquerda do PS; 
O programa socialista também propunha um imposto 
sucessório para heranças superiores a um milhão de euros 
(receita de 280 milhões de euros em 4 anos, 70 milhões/ano)
 – que está também nos programas dos futuros parceiros; 
(O PS propunha também consignar 4 pontos percentuais 
da receita de IRC à Segurança Social, mas parte desta 
seria feita evitando a redução prevista da taxa de IRC, 
por isso as contas não são de uma receita extra face 
ao cenário atual). 
Na despesa do Estado, o PS propunha também poupar 
mais 1.810 milhões de euros durante a legislatura 
(452 milhões/ano, em média) com poupanças 
na contratação de serviços externos, racionalização e 
simplificação de serviços públicos e reorganização de 
serviços desconcentrados. Tudo isto desde 2016 até 2019, 
de forma acumulada. Esta poupança é, mesmo assim, 
mais dificilmente atingível – e só em pleno mais à frente 
na legislatura, visto que se tratam de cortes 
que demoram tempo a implementar.
Feitas as contas às principais medidas, o PS conseguirá 
aqui ir buscar, num cenário otimista, menos de 1.000 
milhões de euros no próximo ano, para compensar 
as cedências de que precisa para chegar a acordo 
com PCP e Bloco. Se os termos do acordo incluírem 
as medidas conhecidas, estes valores podem servir 
para compensar devolução de salários, 
descongelamento de pensões e pouco mais.
Ora, as negociações com Bloco e PCP incluem 
mais matérias com custos diretos potenciais, 
como a descida do IVA da restauração ou da eletricidade. 
E o PS terá ainda de contar com o esforço adicional 
exigido pela Comissão Europeia para manter a trajetória 
de redução do défice, mesmo que pela margem mínima 
exigida pelo Tratado Orçamental. 
Além dos outros problemas de caminho
como o pagamento eventual do crédito fiscal 
de IRS, concedido pelo atual Governo."





in observador.pt




terça-feira, 27 de outubro de 2015

A opinião de Medina Carreira: "Isto pode ficar ainda pior"



Como vê a possibilidade de o país vir a ter um governo de esquerda?
Eu não me dedico muito a esse problema do governo disto ou daquilo ou daqueloutro. Eu preocupo-me é com qualquer governo que vá aumentar muito a despesa pública, porque a despesa pública já não tem condições para ser aumentada. Para aumentar a despesa pública sem outros inconvenientes terá de se aumentar muito os impostos. Ora, os impostos já são excessivos. Qualquer política que aumente significativamente a despesa pública é um erro gravíssimo.
É isso que está no horizonte, pelas propostas que conhecemos?
Pois, parece que está, mas não tomo posição nenhuma. O que digo é: seja qual for o governo que aumente a despesa pública, faz o país correr um risco gravíssimo no plano internacional. Condeno essa política, pura e simplesmente. E acho que quem a praticar corre o risco de nos levar à ravina outra vez.
A um outro programa da troika?
Eventualmente a um outro resgate, e um outro resgate será bem mais difícil de suportar do que o resgate anterior.
Conhecendo as propostas do PCP e do BE, é de prever que um governo com o apoio destes partidos aumente as despesas ou não?
Suponho que será essa a política. Mas eu coloco o problema em abstracto e o que digo é que essa solução vai condenar o país a uma crise imensa.
O país está num impasse. Como vê a actual situação?
Há opiniões para todos os gostos. Eu não me meto nisso, porque já toda a gente disse tudo e ninguém resolveu nada.
O Presidente deve ter uma posição mais activa?
Eu, como pessoa que há muito tempo segue estes assuntos das finanças públicas, tenho uma opinião muito clara há muitos anos. Já em 2011 foi o erro que foi e conduziu o país à situação desgraçada em que se encontra. Se agora vem um governo que vai repetir a mesma dose, o país vai ficar ainda pior.
Criou-se a ideia de que a crise já passou. É verdadeira?
Isto é tudo uma fantasia. Um país que cai numa situação de crise, como nós caímos em 2011, por muito que melhore em três anos, nunca melhora o suficiente. As coisas estão melhores, mas é uma coisa mínima. Qualquer pequeno erro deita isso tudo abaixo.
Temos de continuar com a política de austeridade?
Sim, uma política desse género. Se o Estado gasta muito mais do que pode, só tem duas hipóteses: ou aumenta muito os impostos e desgraça a economia, ou tem de endividar-se e desgraça também o seu país, porque já temos dívidas a mais.
Já foi ministro das Finanças num governo de Mário Soares. O próximo ministro terá uma tarefa difícil?
O próximo tem uma tarefa muito difícil. Se vier para aumentar os gastos dessa maneira que se diz, é muitíssimo mais difícil. Daqui a pouco tempo ninguém acredita em nós lá fora. Se fizermos isso, vamos começar o caminho da Grécia. O caminho da Grécia foi que apareceram uns sujeitos que vieram dizer que acabavam com a austeridade. Esses mesmos sujeitos fizeram um acordo em que aumentam a austeridade. Isto não é gente parva?
Nós podemos ir pelo mesmo caminho?
Claro, com certeza. Se temos esta austeridade, que é aquela que temos de ter, prometemos acabar com ela mas depois voltamos a pedir ajuda, vamos ter ainda mais austeridade. Isto pode ficar pior do que está agora. Daqui a um ano ou dois. O país está a atravessar as horas mais temíveis desde há muitos anos.(Luís Claro, in jornal i)

Temos mesmo de continuar com a austeridade, se quisermos ir melhorando devagar, para não voltarmos a "cair" e não ter sido "em vão" todo o sacrifício  feito até agora...