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O Professor Medina Carreira, destacado jurista português, tem sido um grande crítico das finanças públicas portuguesas (despesa pública, endividamento, carga fiscal).
Aqui está uma das suas opiniões e preocupações expressas a 23/10/2015, quando Luís Claro, do jornal i, o entrevistou: " Ex-ministro das Finanças fala da possibilidade de um governo de esquerda. |
Como vê a possibilidade de o país vir a ter um governo de esquerda?
Eu
não me dedico muito a esse problema do governo disto ou daquilo ou
daqueloutro. Eu preocupo-me é com qualquer governo que vá aumentar muito
a despesa pública, porque a despesa pública já não tem condições para
ser aumentada. Para aumentar a despesa pública sem outros inconvenientes
terá de se aumentar muito os impostos. Ora, os impostos já são
excessivos. Qualquer política que aumente significativamente a despesa
pública é um erro gravíssimo.
É isso que está no horizonte, pelas propostas que conhecemos?
Pois,
parece que está, mas não tomo posição nenhuma. O que digo é: seja qual
for o governo que aumente a despesa pública, faz o país correr um risco
gravíssimo no plano internacional. Condeno essa política, pura e
simplesmente. E acho que quem a praticar corre o risco de nos levar à
ravina outra vez.
A um outro programa da troika?
Eventualmente a um outro resgate, e um outro resgate será bem mais difícil de suportar do que o resgate anterior.
Conhecendo as propostas do PCP e do BE, é de prever que um governo com o apoio destes partidos aumente as despesas ou não?
Suponho
que será essa a política. Mas eu coloco o problema em abstracto e o que
digo é que essa solução vai condenar o país a uma crise imensa.
O país está num impasse. Como vê a actual situação?
Há opiniões para todos os gostos. Eu não me meto nisso, porque já toda a gente disse tudo e ninguém resolveu nada.
O Presidente deve ter uma posição mais activa?
Eu,
como pessoa que há muito tempo segue estes assuntos das finanças
públicas, tenho uma opinião muito clara há muitos anos. Já em 2011 foi o
erro que foi e conduziu o país à situação desgraçada em que se
encontra. Se agora vem um governo que vai repetir a mesma dose, o país
vai ficar ainda pior.
Criou-se a ideia de que a crise já passou. É verdadeira?
Isto
é tudo uma fantasia. Um país que cai numa situação de crise, como nós
caímos em 2011, por muito que melhore em três anos, nunca melhora o
suficiente. As coisas estão melhores, mas é uma coisa mínima. Qualquer
pequeno erro deita isso tudo abaixo.
Temos de continuar com a política de austeridade?
Sim,
uma política desse género. Se o Estado gasta muito mais do que pode, só
tem duas hipóteses: ou aumenta muito os impostos e desgraça a economia,
ou tem de endividar-se e desgraça também o seu país, porque já temos
dívidas a mais.
Já foi ministro das Finanças num governo de Mário Soares. O próximo ministro terá uma tarefa difícil?
O
próximo tem uma tarefa muito difícil. Se vier para aumentar os gastos
dessa maneira que se diz, é muitíssimo mais difícil. Daqui a pouco tempo
ninguém acredita em nós lá fora. Se fizermos isso, vamos começar o
caminho da Grécia. O caminho da Grécia foi que apareceram uns sujeitos
que vieram dizer que acabavam com a austeridade. Esses mesmos sujeitos
fizeram um acordo em que aumentam a austeridade. Isto não é gente parva?
Nós podemos ir pelo mesmo caminho?
Claro,
com certeza. Se temos esta austeridade, que é aquela que temos de ter,
prometemos acabar com ela mas depois voltamos a pedir ajuda, vamos ter
ainda mais austeridade. Isto pode ficar pior do que está agora. Daqui a
um ano ou dois. O país está a atravessar as horas mais temíveis desde há
muitos anos." (Luís Claro, in jornal i)
Temos mesmo de continuar com a austeridade, se quisermos ir melhorando devagar, para não voltarmos a "cair" e não ter sido "em vão" todo o sacrifício feito até agora...
Temos mesmo de continuar com a austeridade, se quisermos ir melhorando devagar, para não voltarmos a "cair" e não ter sido "em vão" todo o sacrifício feito até agora...
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