sexta-feira, 7 de novembro de 2025

"Favela": conhecemos o verdadeiro significado e origem deste "brasileirismo"?

Favela - Submundo Periférico
(favela - planta)
imagem em: submundoperiferico.com

Há dias, num pequeno debate numa aula entre colegas de uma escola de língua francesa que frequento, fiquei a saber que a palavra "favela" não tem só o sentido de aglomerações de barracas no Rio de Janeiro, mas também se refere a uma espécie de "fava", uma leguminosa ou até a um género de  mandioca brava.

Resolvi encetar esta pesquisa e, claro, encontrei uma explicação muito completa, pormenorizada e até científica, da história desta palavra (e com as devidas fontes):

Então,  aqui fica a minha partilha da pesquisa de hoje e com " devida vénia" em relação às "fontes" de que me socorri para elaborar este post (a transcrição da pesquisa está em português do Brasil e selecionei o que mais interessava conhecer).

"(FAVELA, (...) Conjunto de casebres toscos e miseráveis, geralmente em morros, onde habitam marginais (...)."
"as faveleiras são arbustos muito esgalhados (Jatropha phyllacantha), e pela segunda, a mesma faveleira é o nome vulgar de uma árvore (Cuidosculus phyllancanthus), da família das euforbiáceas. Daí se infere que as denominações favela, faveleira, faveleiro abrigam vegetais de diferentes nomes científicos e até de diferentes famílias."

Etimologia da palavra FAVELA 

Aqui temos um excelente conjunto de matérias sobre a ETIMOLOGIA da palavra FAVELA, escrita por Márcio José Lauria inicialmente enviada pelo Guia Jimmy Havellock Campbell, seguindo a Rosario Amaral que enviou matéria sobre Histórico Ilustrado da Favela e adicionado por mim com um relato em Espanhol e a seleção de outro escrito por Francisco de Paula Melo Aguiar. (Gerardo Millone)

O significado de âmbito nacional que assumiu o vocábulo FAVELA, embora decorrência da campanha de Canudos, nem chegou, muito provavelmente, a ser do conhecimento de Euclides da Cunha. 

O primeiro emprego de Favela, em Os Sertões, tem acepção geográfica: “Todas traçam, afinal, elíptica curva, fechada ao sul por um morro, o da Favela, em torno de larga planura ondeante onde se erigia o arraial de Canudos – e daí, para o norte, de novo se dispersam e decaem até acabarem em chapadas altas à borda do S. Francisco” ...(...)
...(...) “As favelas, anônimas ainda na ciência – ignoradas dos sábios, conhecidas demais dos tabaréus – talvez um futuro gênero cauterium das leguminosas, têm, nas folhas de células alongadas em vilosidades, notáveis aprestos de condensação, absorção e defesa.” 
Pedro A. Pinto, no raríssimo Os Sertões de Euclides da Cunha (Vocabulário e Notas Lexiológicas), Rio, Francisco Alves, 1930, assim define o verbete Favela: 
“1. Monte ao sul de Canudos. 
2. Faveleira. Planta euforbiácea, ou segundo Euclides, leguminosa”. 
(...)
Um parêntese relevante: meu exemplar da citada obra de Pedro A. Pinto é xerocopiado. São mais de 300 páginas bem legíveis e belamente encadernadas, preciosa oferta do pranteado amigo e euclidiano Moisés Gicovate. 
Quanto à classificação botânica moderna, louvo-me nas informações do Prof. Geraldo Majella Furlani, que me indicou os trabalhos “Contribuição ao estudo da caatinga pernambucana”, de Walter Alberto Egler, estampado na Revista Brasileira de Geografia, ano XII, n.º 4, IBGE, Rio, 1951, e A Vegetação Brasileira, de Mário Guimarães Ferri, Editora da USP, 1950. 
Pela primeira fonte, as faveleiras são arbustos muito esgalhados (Jatropha phyllacantha) (...) e pela segunda, a mesma faveleira é o nome vulgar de uma árvore (Cuidosculus phyllancanthus), da família das euforbiáceas (...) Daí se infere que as denominações favela, faveleira, faveleiro abrigam vegetais de diferentes nomes científicos e até de diferentes famílias. 
Mas o objetivo principal deste estudo prende-se aos desdobramentos de significações linguísticas com repercussões sociais sofridos pela palavra Favela. O que parece fora de dúvida é que no morro da Favela, ao sul de Canudos, havia árvores ou arbustos conhecidos por favela. E desses vegetais originou-se o nome do mesmo morro. Ocorreu, assim, um caso de eponímia, ou seja, situação em que o nome de coisas ou de lugares é tirado de outras coisas ou de pessoas. Por ter dado nome a um lugar, no caso um morro, favela (planta) desempenhou a função de epônimo. 

Quanto à etimologia de favela, há duas hipóteses: 
Antônio Geraldo da Cunha, no Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio, 1982, liga o termo a fava. 
José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 4.ª ed., 1987, relaciona-o com favo. 
Compartilho a opinião de Cunha. 
Antenor Nascentes não consigna o termo em seu pioneiro Dicionário Etimológico, Rio, 1932, no qual trata apenas de substantivos comuns. Mas no tomo II, 1952 (nomes próprios), fornece preciosas informações no “Aditamento”. Transcrevo: “FAVELA. Morro da Bahia, em Canudos. De favela, diminutivo de fava, que deve ser um brasileirismo, pois os léxicos portugueses não dão. Favela é nome de um arbusto que Euclides da Cunha, Os Sertões, 41, aponta como sendo da família Leguminosae (a que pertence a fava). Morro do Distrito Federal, antigo da Providência. Tomou este nome depois da campanha de Canudos (1896-7). Veteranos da campanha pediram permissão ao ministério da Guerra para construir casas para suas famílias no morro da Providência. Daí por diante, o morro, seja como recordação da campanha, seja por alguma semelhança de aspecto ou por estar sobranceiro à cidade, como o de Canudos, passou a chamar-se da Favela, nome que se tornou por assim dizer nacional”. 
Dois esclarecimentos ao texto de Nascentes: 
A citação de Os Sertões é a mesma que indico estar às páginas 37 e 38 da edição que uso. 
Distrito Federal é referência à cidade do Rio de Janeiro, capital do País até 1960. 
Na verdade, favela passou a termo de aplicação nacional, voltando a ser empregado como substantivo comum, com sentido nitidamente pejorativo: “FAVELA, (...) // Conjunto de casebres toscos e miseráveis, geralmente em morros, onde habitam marginais (...).” (Dicionário Caldas Aulete, Rio, Delta, Edição Brasileira, 1958.) 
O Lello Universal, Porto, s.d., em edição da década de 40, é mais radical: 
“FAVELA, s.f. Brasileirismo. Neologismo. Planta das caatingas. - Morro habitado por gente baixa, arruaceira. Por analogia: lugar de má fama, sítio suspeito, freqüentado por desordeiros”. 
O Novo Dicionário Aurélio, Rio, Nova Fronteira, 2.ª edição, 1986, ameniza sobremaneira a definição do termo, adaptando-a à realidade, que faz não só marginais habitarem favelas: “favela. (...) 1. Conjunto de habitações populares, toscamente construídas (por via de regra em morros) e desprovidas de recursos higiênicos”. (...) 
O Michaelis – Dicionário Prático da Língua Portuguesa -, São Paulo, Melhoramentos, 1987, segue a mesma linha: “ Favela, s.f. Aglomeração de casebres ou choupanas toscamente construídas e desprovidas de condições higiênicas”. 
O Novo Aurélio Século XXI, Rio, Nova Fronteira, 3.ª ed., 1999, adota a mesma redação do Aurélio de 1986 e dá como sinônimos morro (RJ) e caixa-de-fósforo (SP), além de registrar favelado como “habitante de favela”, assim como desfavelar (“acabar com favela existente em”), desfavelamento (“ato ou efeito de desfavelar”) e favelizar-se (“adquirir aspecto ou condição de favela”). 
A imprensa, vez por outra, vem empregando favelizar (não pronominal) no sentido de “implantar-se uma favela”. O substantivo correspondente é favelização. 
Nenhuma referência dicionarizada a favela é, porém, mais completa no aspecto social do que a do Padre Fernando Bastos de Ávila, S.J., em sua Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, Rio, MEC/FENAME, 2.ª edição revista e atualizada, 1972; creio, contudo, que a explicação dada à ocupação do morro no Rio de Janeiro é menos adequada do que a de Antenor Nascentes: 
“FAVELA. Etimologicamente é um termo latino que significa pequena fava. Historicamente, é o nome de uma pequena colina de uma região da Bahia, de onde provieram os migrantes que se instalaram, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, nas imediações da Estação Pedro II da Central do Brasil. 
Ocuparam, na ocasião, uma pequena elevação, que, pela semelhança com a colina baiana, chamaram de favela. 
Daí o nome se estendeu a todas as aglomerações de barracos construídos na cidade do Rio de Janeiro, seja em escarpas, seja em regiões planas, em geral alagadiças, e que apresentam as seguintes características: 
1) ocupação efetiva do terreno, sem título jurídico que dê aos ocupantes a posse legal do mesmo; 
2) carência de serviços básicos de qualquer aglomeração urbana, principalmente água e esgotos; 
3) precariedade das construções dos barracos, feitos pelos próprios moradores, não só sem nenhum plano de conjunto que os proteja contra incêndios e facilite a circulação, como sem garantias de estabilidade contra a ação das intempéries, especialmente das chuvas torrenciais; 
4) condições subhumanas de vida, em especial devidas à exigüidade do espaço que obriga a uma vida de promiscuidade. (...) 

As favelas são o resultado de dois fatores básicos: 
1) o ritmo das migrações internas (...); 
2) o baixo nível dos salários. (...) Não existe uma solução única para todas as favelas; nem se pode tratar de erradicá-las para as transplantar para as zonas periféricas, porque a favela não é um fenômeno vegetal, e sim humano: nem se trata de urbanizá-las todas ‘in loco’, porque muitas estão localizadas em sítios que exigiriam custos vultosíssimos para o mínimo de condições indispensáveis de urbanização. (...)” 
Num dos buscadores internacionais de assuntos da Internet – Google -- estão consignadas mais de cento e oitenta mil referências ao termo, quase todas no seu sentido mais atual, como Rádio Favela, Favelatour, Rocinha – the biggest slum in South America. 
Sinônimos em outros países subdesenvolvidos: comuna, población, barrio de miseria, toma de tierra, slum, pueblo joven... 

EM SUMA: 
No Brasil, o vocábulo FAVELA teve a seguinte trajetória significativa: 
1. Substantivo comum, designativo de arbustos e árvores da caatinga; 
2. Substantivo próprio; epônimo de um morro situado nas proximidades de Canudos.
3. Substantivo próprio: topônimo de um morro na cidade do Rio de Janeiro. 
4. Substantivo comum, com sentido depreciativo, ligando-se a habitações de marginais; 
5. Substantivo comum, perdido o sentido depreciativo e evidenciada a significação socioeconômica do tipo de habitação popular que designa; 
6. A partir da acepção atual, abertura da possibilidade de formação de substantivos, verbos e adjetivos cognatos, alguns ainda não dicionarizados. 
...(...)...(...)...
MÁRCIO JOSÉ LAURIA 
© Copyright CASA DE CULTURA EUCLIDES DA CUNHA. All Rights Reserved. 
FONTE: oguialegal.com

De onde vem a palavra “favela”? | Super
imagem em: super.abril.com.br

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Marco Aurélio - imperador romano e algumas meditações suas

Retrato do Imperador Marco Aurélio - Wikisource
imagem in: wikisource.org
Retrato do Imperador Romano Marco Aurélio, feito por ele próprio,
no primeiro livro das suas reflexões


Nas suas MEDITAÇÕES, Marco Aurélio  (séc. II) transmite-nos mensagens Maravilhosas:


espanto-me  muitas vezes com o facto de, 

apesar de o homem se amar a si próprio

mais do que a qualquer outro ser humano,

subestimar mais a sua própria capacidade

de julgamento do que a opinião alheia.


outra maravilhosa  Meditação deste mesmo pensador:

Rende-te à fatalidade do teu próprio

livre arbítrio.


E para terminar,

Mesmo habitando um palácio, é possível viver bem.

domingo, 2 de novembro de 2025

Vitamina D: comemora-se hoje o seu dia! Vantagens: lê-las para as conhecer

Deficiência de Vitamina D - Dra. Sílvia Souza - Endocrinologia e Metabologia
imagem obtida in: https://drasilviasouza.med.br

Com a devida vénia, partilho este artigo sobre a importância da Vitamina D
 nas nossas vidas, mantendo o equilíbrio mineral do nosso organismo.

(A FONTE é referida no final do artigo)


Vitamina D: O que a torna tão importante?

Colaboração


Apesar de Portugal ser um país com bastante sol, cerca de 78% da população apresenta níveis insuficientes de vitamina D.

Trata-se de uma epidemia silenciosa que pode ter consequências para a saúde, uma vez que esta desempenha um papel essencial no sistema imunitário, na saúde dos ossos e até na prevenção de doenças como a depressão.

O que é e para que serve?

A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel. Essencial para manter o equilíbrio mineral do organismo, em particular para a regulação dos níveis de cálcio e de fósforo no sangue. As formas mais importantes são a vitamina D3 (colecalciferol) e a vitamina D2 (ergocalciferol). 

As principais funções destes compostos incluem: Absorção intestinal de cálcio e fósforo;
Manutenção do normal funcionamento do sistema imunitário;
Crescimento e normal desenvolvimento dos ossos e dentes;
Diminuição do risco de desenvolver doenças infeciosas.

Inúmeros estudos têm procurado estabelecer o papel desta vitamina na prevenção de doenças como a gripe sazonal e a depressão. Assim como do seu impacto na redução do risco de doenças crónicas como a Diabetes Mellitus tipo 2 e doenças cardíacas.

Quais as principais fontes de Vitamina D?

Uma pessoa saudável necessita de 600 a 800 unidades internacionais (UI) de vitamina D por dia, que podem ser obtidas através da: Exposição Solar 

A principal fonte natural desta vitamina é a síntese dérmica, que ocorre através da exposição da pele à luz solar, levando à formação da vitamina D3 (colecalciferol). Estima-se que uma breve exposição dos braços e do rosto seja equivalente à ingestão de cerca de 200 unidades internacionais (UI) por dia. No entanto, é importante lembrar que apanhar sol de forma prolongada e desprotegida pode ter riscos para a saúde. Por isso, deve ser feita com precaução e com as devidas medidas de proteção. 

Alimentação

A grande maioria dos alimentos não contém Vitamina D, sendo poucos os que são naturalmente ricos neste composto. Alguns que podem contribuir para o seu reforço incluem: 
Óleo de fígado de peixe; 
Peixes gordos (atum, salmão, sardinha, entre outros); 
Carne vermelha; 
Ovos, principalmente a gema;
Alguns cogumelos. 

Atualmente, existem vários alimentos processados fortificados com Vitamina D, como certos produtos lácteos e cereais de pequeno-almoço.

Suplementação

Quando as análises revelam uma deficiência de vitamina D e existem fatores não modificáveis que contribuem para esse défice ou dificultam a sua absorção, o médico poderá recomendar a suplementação. Atualmente, existe uma ampla variedade de suplementos disponíveis no mercado, mas a sua toma deve ser sempre feita sob orientação de um profissional de saúde, que avaliará a solução mais adequada a cada caso.

Cuidados na suplementação:

É importante não exceder a dose recomendada de vitamina D, pois o seu excesso pode levar a efeitos colaterais como hipercalcemia (excesso de cálcio no sangue).
Pessoas com patologias como, insuficiência renal, hipercalcemia e hiperparatireoidismo, devem ter especial cuidado ao tomar suplementos de vitamina D.

Possíveis problemas de saúde associados ao défice de Vitamina D

As manifestações clínicas variam consoante a gravidade e a duração da carência. A maioria dos doentes tem um défice ligeiro a moderado, sendo geralmente assintomáticos. Contudo, quadros mais severos estão associados a alguns problemas, tais como:

Osteomalacia: A osteomalacia no adulto e a osteomalacia e raquitismo na criança são algumas das consequências possíveis, apesar de atualmente serem incomuns. Os sintomas associados incluem dor óssea, fraqueza muscular, fraturas e dificuldade na marcha.

Esclerose Múltipla: Em 2006, nos Estados Unidos da América, um estudo demonstrou que indivíduos com défice de vitamina D têm duas vezes maior probabilidade de desenvolver esta doença.

Doenças coronárias: Tais como a angina de peito, o enfarte do miocárdio, a insuficiência cardíaca e a doença arterial periférica.

Grupos de Risco: As crianças, por estarem em fase de crescimento, são particularmente suscetíveis a doenças esqueléticas associadas à falta de vitamina D. Contudo, condições como a osteomalacia (ossos desmineralizados e mais frágeis) ou o raquitismo, são atualmente raras nos países desenvolvidos. 

Os idosos são particularmente vulneráveis ao défice de vitamina D, devido à diminuição da ingestão diária de alimentos e da exposição solar, à redução da espessura da pele, a dificuldades na absorção intestinal e a alterações do metabolismo. A osteomalacia, associada à fraqueza muscular, leva a um aumento muito significativo do risco de fraturas. 

Quanto às grávidas, a carência de vitamina D é frequente, sobretudo durante os meses de inverno. Está associada a um aumento do risco de pré-eclampsia, diabetes gestacional e parto prematuro. Os fetos de mulheres com défice desta vitamina podem apresentar atraso no crescimento, baixa estatura, , maior risco de vir a desenvolver asma e um sistema imunitário menos capaz.

REVISÃO CIENTÍFICA: Dra. Sofia Guimarães

FONTE: Hospital Lusíadas Paços de Ferreira