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Este poema de Camões debruça-se sobre o tema da MUDANÇA:
"O tempo - a mudança - o desconcerto"
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"
Que me quereis perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais
e, se tornam, não tornam as idades.
Razão, é já, ó anos, que vos vades,
porque estes tão ligeiros que passais,
nem todos para um gosto são iguais,
nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado
que quase é outr cousa; porque os dias
têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
mas não deixa a Fortuna e o Tempo errado,
que do contentamento são espias.
(* espias: amarras)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem - se algum houve - as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mór espanto:
que não se muda já como soía.
(* soía: era costume)