sábado, 16 de novembro de 2024

Luís de Camões e o seu soneto "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" -

Programa das comemorações dos 500 anos de Camões em 2024 está por fazer –  Observador
imagem in: observador.pt


Este poema de Camões debruça-se sobre o tema da MUDANÇA: 

 "O tempo - a mudança - o desconcerto"


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"

 Que me quereis perpétuas saudades?

Com que esperança ainda me enganais?

Que o tempo que se vai não torna mais

e, se tornam, não tornam as idades.


Razão, é já, ó anos, que vos vades,

porque estes tão ligeiros que passais,

nem todos para um gosto são iguais,

nem sempre são conformes as vontades.


Aquilo a que já quis é tão mudado

que quase é outr cousa; porque os dias

têm o primeiro gosto já danado.


Esperanças de novas alegrias

mas não deixa a Fortuna e o Tempo errado, 

que do contentamento são espias. 

(* espias: amarras)


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

muda-se o ser, muda-se a confiança;

tomando sempre novas qualidades.


Continuamente vemos novidades,

diferentes em tudo da esperança; 

do mal ficam as mágoas na lembrança,

e do bem - se algum houve - as saudades.


O tempo cobre o chão de verde manto,

que já coberto foi de neve fria,

e enfim converte em choro o doce canto.


E, afora este mudar-se cada dia,

outra mudança faz de mór espanto:

que não se muda já como soía.

(* soía: era costume)

 

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