sábado, 15 de julho de 2017

Para que Portugal não arda...

Acabei de ler um artigo de opinião no jornal observador.pt a propósito do FOGO DE PEDRÓGÃO GRANDE e nele se pode ler as propostas de seis especialistas "para atenuar o problema dos incêndios em Portugal".

Todos nós desejamos que as populações afetadas retomem a sua vida normal, o que vai ser muito difícil, com as recordações desta tragédia de enorme dimensão! 

Mas a vida tem de continuar e temos vistos nos órgãos de comunicação social como o esforço por parte de todas essas pessoas está a ser grande; decerto chegará o dia em que a estabilidade acabará por se instalar e as pessoas retomarão o seu curso normal de vida. 

Desejamos também uma total recuperação da nossa floresta e, para isso, teremos de confiar nestas propostas que acabei de ler neste artigo e para que os nossos corações se encham de esperança:

"Dez propostas para Portugal não arder

  • José Miguel Cardoso Pereira, Francisco 
  • Cordovil, Tiago Oliveira, Paulo Fernandes, 
  • Henrique Pereira dos Santos

Pedro Bingre do Amaral

Propostas de seis especialistas para atenuar 
o problema dos incêndios em Portugal, 
umas mais restritas e de custo limitado, 
outras que exigem alterações profundas 
ao modo como o país está organizado.

Os incêndios atentam contra o património de valor inestimável que é a floresta e os espaços agrícolas e contra as pessoas, suas habitações e bens.
Os grandes incêndios de Pedrógão Grande e Góis mostram, mais dramaticamente do que nunca, as terríveis consequências da nossa incapacidade para os prevenir e evitar. Já não é apenas a proteção dos bens e da segurança civil que estão em causa. É o próprio direito à vida.
É preciso reconhecer que temos falhado, compreender as razões desse fracasso e agir com mais determinação, mais meios e novas atitudes. Em síntese: este é um desafio onde não temos direito ao conformismo pois estão em causa deveres e valores vitais da comunidade nacional.
Mais de 80% da área total que arde em cada ano concentra-se num pequeno número de dias de Verão. Costumam ser menos de duas semanas, com vento de Leste a trazer tempo muito quente e seco que favorece a rápida propagação do fogo e dificulta o combate. Em 2016, 90% dos 160 mil hectares queimados arderam na segunda semana de agosto e na primeira semana de setembro.
Nestas épocas de incêndio, um ataque inicial rápido e musculado aos fogos costuma ter mais de 95% de sucesso, mas o pequeno número de fogos que se transforma em grandes incêndios acaba por queimar uma enorme proporção de floresta e mato. Os piores anos de sempre foram 2003 e 2005. Em 2003, 1% dos incêndios foi responsável por 90% do total de 440 mil hectares queimados. Em 2005, 1% dos incêndios foi responsável por 85% do total de 300 mil hectares queimados.
As alterações climáticas em curso vão tornar mais frequente estes extremos de calor e secura e agravar a severidade das épocas de incêndios. O facto de os grandes incêndios se concentrarem em poucos dias leva a picos de atividade tão grandes que as corporações de bombeiros não têm capacidade para proteger as populações e a floresta. Fora destes picos de atividade, os meios de combate são subutilizados. O que fazer para mudar esta situação?
Tal como a natureza, que age durante todo o ano no desenvolvimento dos matos e de outra vegetação combustível, também nós temos que agir durante todo o ano, e todos os anos, em duas áreas complementares. Só assim, a natureza será uma aliada em vez de uma inimiga alimentada pelo abandono e desordenamento dos espaços florestais.
A primeira área é mais estratégica e ampla: reordenar e gerir ativamente os espaços florestais, para regenerar as suas funções produtivas, para potenciar a sua viabilidade económica e utilidade pública e para reduzir os incêndios. A segunda área é mais operacional e corresponde à vertente da prevenção estrutural do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, que tem de ser muito reforçada.
Apresentamos de seguida dez propostas para atenuar o problema dos incêndios em Portugal. Umas são de âmbito relativamente restrito, de custo limitado e implementáveis a curto prazo. Outras exigem alterações mais profundas ao modo como estamos organizados e como agimos para gerir o risco de incêndio. Acreditamos que há recursos financeiros e competência técnica para levar por diante estas propostas. Assim haja liderança política para transformar esta crise na oportunidade de mudança que a sociedade exige.

Defender as populações

Propomos a criação de um programa para a segurança dos aglomerados urbanos face ao perigo de incêndio. O programa deverá divulgar boas práticas de construção e manutenção das habitações, promover o delineamento as faixas de proteção das edificações e aglomerados urbanos atendendo às circunstâncias locais e vigiar a sua efetiva implementação. Deve também ser identificada, ou criada, em cada aglomerado populacional uma área segura, para onde as pessoas se devem deslocar em caso de incêndio e divulgar-se junto da população as boas práticas a seguir nessas circunstâncias.

Atender ao perigo meteorológico para a prontidão dos bombeiros

Propomos que o nível de prontidão dos bombeiros para o combate dependa do perigo meteorológico de incêndio. Isto exige formação de pessoal e flexibilidade do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios para mobilizar mais efetivos no Outono e na Primavera, quando o nível de perigo meteorológico o justifique.
Propomos o investimento na formação de técnicos especializados em meteorologia aplicada a incêndios e na sua interpretação quantitativa, capazes de prever o comportamento potencial do fogo (no Instituto Português do Mar e da Atmosfera), de fazer interpretação operacional do comportamento de incêndios em curso, para apoio ao combate (na Autoridade Nacional de Proteção Civil) e de fazer a interpretação operacional do comportamento de fogos controlados e contra-fogos (no Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas – ICNF). Deve também integrar-se os técnicos florestais especializados em análise de comportamento do fogo no processo de ajuda à tomada de decisões em grandes incêndios.

Alterar normas do direito sucessório

Propomos a revisão das normas de Direito sucessório e de cadastro de modo a estipular um prazo-limite para que, uma vez falecido o antigo titular do património que passou a constituir a herança, os herdeiros procedam à devida habilitação, findo o qual não tendo sido apurados sucessíveis a herança jacente seja declarada vaga. Estipular um prazo-limite para a resolução de partilhas, findo o qual haverá lugar a resolução judicial das mesmas. Nos prédios rústicos em situação de herança indivisa de dimensão igual ou inferior à da unidade de cultura, estipular a sucessão na titularidade num único herdeiro, ficando este obrigado a compensar os demais em dinheiro ou em bens.

Rever alguns aspetos da fiscalidade do património rústico

Propomos a revisão da fiscalidade do património rústico de modo a refletir na tributação dos prédios rústicos as despesas públicas na prevenção e combate a incêndios; refletir os custos de oportunidade decorrentes do abandono, penalizando pousios expectantes nas áreas periurbanas, que aumentam o risco para as populações; incentivar o associativismo, o cooperativismo ou o arrendamento de prédios rústicos.

Instituir Contratos-Programa de Ordenamento e Gestão Florestal

Propomos que seja instituído um sistema de contratos-programa entre o Estado e associações organizações e associações de proprietários e produtores florestais que assegurem a gestão comum de espaços florestais em zonas de minifúndio e de elevado risco de incêndio, com prioridade para as Zonas de Intervenção Florestal existentes ou a constituir[FC1] , de modo a incentivar de forma efetiva e duradoura as associações de proprietários e produtores florestais ativas. As zonas de intervenção florestal (ZIF) foram criadas a partir de 2006 e visam superar os constrangimentos da fragmentação fundiária e do abandono, constituindo unidades com a dimensão suficiente para uma gestão comum e sustentável. Passada uma década, foram criadas mais de 170 ZIF, que cobrem quase um milhão de hectares. Mas os seus resultados têm ficado muito aquém do pretendido com a sua criação e para alterar esta situação terão que ser criados incentivos muito mais efetivos do que até ao presente. Para serem bem-sucedidas, as ZIF devem executar tarefas muito vastas, exigentes e complexas, só se obtendo o merecido retorno em benefícios de natureza privada e pública a médio e longo prazos, em regra, superiores a 20 ou 30 anos. É, pois, fundamental que os incentivos públicos à atividade de cada ZIF, além de suficientes para cumprirem a sua missão, sejam congregados em contratos-programa, que estabeleçam de modo coerente e previsível esses incentivos e as modalidades de acompanhamento e avaliação da sua utilização e resultados. Dada a imensidão desta tarefa, o seu horizonte temporal e a diversidade de meios a mobilizar, terá que lhe corresponder uma organização focalizada na sua concretização, capaz de mobilizar vontades e recursos diversificados, nomeadamente no domínio das fontes de financiamento público.

Considerar o risco de incêndio como um critério fundamental na proposta de reprogramação do PDR 2020

Propomos que o risco espacial de incêndio seja um critério fundamental de orientação da reprogramação do Programa de Desenvolvimento Rural para o Continente (PDR 2020), alterando para futuro o que não esteja bem: primeiro, a dotação disponível para ação de apoio à defesa preventiva da floresta (ação 8.1.3) parece ser muito insuficiente, pois ainda estamos a meio do atual período de programação; segundo, a atribuição dos apoios da ação 8.1.3 tem sido realizada nos termos da portaria n.º 134/2015, que determinou que o risco de incêndio deixasse de ser um critério de aprovação das candidaturas. Estas circunstâncias conduziram a que as entidades que, apoiadas pelo PRODER (2007-2013), tinham executado a maioria das ações de prevenção nas zonas de minifúndio afetadas por incêndios, deixassem de ser apoiadas pelo PDR 2020, que tem destinado a maior parte dos apoios a zonas onde o risco de incêndio é baixo.

Criar núcleos de defesa da floresta contra incêndios com base nas atividades de resinagem e silvopastorícia

Propomos a inclusão de uma medida no PDR 2020 para financiar a defesa da floresta contra incêndios através do incentivo às atividades de resinagem e à silvopastorícia. Não existem outras atividades que garantam uma presença humana na floresta e nas áreas de matos tão ativa como estas. A medida deverá prever o pagamento dos serviços de interesse público de defesa da floresta contra incêndios a resineiros ou pastores, quando integrados numa lógica de defesa de um território, pelo profundo conhecimento que têm do terreno e pelo seu interesse direto na defesa da floresta e no valor dos pastos.

Promover a coordenação supraministerial do plano nacional de defesa da floresta contra incêndios

Propomos a criação da figura de um coordenador das políticas, das instituições e dos programas relevantes para a gestão o risco de incêndio, sob a dependência do Primeiro-Ministro ou Presidência do Conselho de Ministros. O coordenador assegurará a gestão do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, a mobilização das partes interessadas e o apoio ao desenho consistente das políticas públicas, estímulos e instrumentos e operações, garantindo a coordenação supraministerial, suprarregional e o equilíbrio entre os investimentos de prevenção e de combate aos incêndios. O coordenador assegurará também as boas práticas de gestão e governação, nomeadamente transparência, reporte de contas, avaliação e promoção de ciclos de melhoria e revisão de processos. Definir a gestão ativa dos espaços arborizados, de matos e agrícolas abandonados, que constituem hoje a maioria do território, como uma prioridade política do Governo.

Promover a coordenação supramunicipal e comando e controlo operacional da prevenção

Propomos a criação de uma instituição pública, tutelada pelo Governo, para liderar a defesa dos espaços florestais, trabalhando com as atuais estruturas do sistema – públicas, associativas e privadas, devendo articular-se no exercício das suas competências com o coordenador referido na proposta anterior, nos termos que o Governo deverá determinar de modo preciso nos instrumentos jurídicos que regularem a tutela, orgânica, competências e integração hierárquica da instituição. Focada na execução de tarefas de gestão de vegetação, a organização será constituída por cerca de novecentos profissionais certificados e com funções polivalentes, dedicados intervir anualmente sobre uma área de 120 mil hectares e a trabalhar na floresta durante todo o ano. Com mais de 90% de operacionais – recrutados preferencialmente entre sapadores florestais, bombeiros e militares – contribuirá para a criação de emprego qualificado em zonas económica e socialmente deprimidas. A criação duma instituição com estas atribuições vai, finalmente, ao encontro do espírito e da letra da Lei de Bases de Política Florestal, que desde há mais de 20 anos identifica a necessidade de uma “estrutura nacional, regional e sub-regional com funções de planeamento e coordenação das ações de prevenção e deteção e de colaboração no combate aos incêndios florestais” (alínea d) do artigo 10.º da Lei n.º 33 de 17 de Agosto de 1996).

Recuperar as áreas queimadas

Propomos a criação de uma estrutura de Missão, com carácter regional e temporário, responsável por planear, coordenar e executar todas as ações de estabilização e recuperação das áreas afetadas pelos grandes incêndios. Desta forma e com uma escala supra-municipal, será possível aumentar a eficácia e eficiência regional das ajudas públicas e privadas. A médio prazo, as suas atribuições e programa operacional, serão gradualmente transferidas para as entidades competentes (ICNF, CCDR, municípios, etc.). A estrutura de missão elaborará um programa de recuperação, a submeter à aprovação do Governo. Uma vez aprovado, para se garantir a sua eficácia, todos os terrenos não agricultados incluídos na área ardida serão submetidos ao regime florestal parcial obrigatório, ficando os proprietários e a posterior gestão em sede de ZIF, a constituir, vinculados ao cumprimento do programa de recuperação.
José Miguel Cardoso Pereira, Professor, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa

Francisco Cordovil, Professor, ISCTE
Tiago Oliveira, Coordenador executivo da proposta técnica do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios 2005
Paulo Fernandes, Professor, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Henrique Pereira dos Santos, Arquitecto Paisagista
Pedro Bingre do Amaral, Professor no Instituto Politécnico de Coimbra"


quinta-feira, 13 de julho de 2017

A estrada panorâmica Moyenne Corniche (Riviera Francesa)

"LES CORNICHES

Situado entre Nice e Menton , as Corniches da Riviera sao compostas por três percursos distintos, cada um oferecendo uma perspectiva particular na costa do Mediterrâneo: a Grande, Média e Pequena Corniche. Corniche, em francês, quer dizer: estrada localizada ao lado da montanha.
As Corniches da Riviera são particularmente populares entre os turistas, mas não só. A esplêndida paisagem que elas oferecem também conquistou muitos cineastas. Assim, Alfred Hitchcock dirigiu Grace Kelly e Cary Grant em Ladrão de Casaca. Da mesma forma, Pierce Brosnan e estrelas como James Bond em Olhos de Ouro .

Grande Corniche

A Grande Corniche começa na Avenida des Diables-Bleus em Nice, e é a mais bonita e a mais agradável. Foi construída por Napoleão I e segue a antiga estrada romana Via Julia Augusta.
Demora-se cerca de três horas para percorrer os 31 quilômetros que liga Nice a Menton.

Deixando Nice contornando o Monte Boron, a Grande Corniche sobe muito alto, superior a 500m de altura, oferecendo vistas de perder o fôlego que são as melhores do Mar Mediterrâneo. 

Sempre seguindo o traçado da antiga Via Julia Augusta, ela nao passa por nenhum centro de cidade a não ser  pela cidade de La Turbie , cidadezinha que vê Mónaco do alto e onde o famoso troféu de Augusto desafia o tempo por 21 séculos. Ela passa bem pertinho de Vistaero (hotel debruçado sobre o vazio com uma bela vista de Monaco, de Eze e da Riviera Italiana ), antes de descer para o nível de Roquebrune Menton.

Média Corniche

No século XX, o advento do automóvel mudou a situação: precisava-se de estradas mais rápidas. Com suas inúmeras curvas, o percurso da Grande Corniche não estava adaptado à velocidade. Por esta razão, o trabalho de uma nova estrada teria início após a guerra de 14-18. Em duas secções, Nice – Mónaco (1927) e Mónaco – Cap Martin (1939), a Corniche Moyenne nasce.
Passando ao longo da maravilhosa aldeia ” ninho-de-águia ” de Eze, a 472 metros do nível do mar, ela contorna o Principado de Mónaco sem entrar – estava fora de questão que uma estrada nacional francesa entrasse em território estrangeiro – e vai voltando lentamente ate chegar à Baixa Corniche em Cap Martin.

Baixa Corniche

Esta Corniche, normalmente a que está sempre com engarrafamento, está a 50 metros acima do nível do mar e, a partir de Nice, leva ao pequeno porto de Ville Franche tão lindamente entalhado.  Uma vez passando a entrada da península de Cap Ferrat, a quase ilha de milionários, a estrada entra em Beaulieu-sur-Mer, um pequeno resort chique que ainda carrega as cicatrizes da prestigiada Belle Époque. Depois de deixar a zona chamada de “Pequena África”, aninhada nos pés das falésias, a Baixa Corniche passa por Eze sur Mer, Cap d’Ail onde pode admirar-se a sua pequena enseada de águas cristalinas. É lá a última parada francesa antes de chegar ao principado.
Além do facto de que estas vias são destinos de excursão, por si só pela sua beleza, elas também fornecem o acesso a alguns museus excepcionais, incluindo a famosa Fondation Ephrussi de Rothschild em Cap Ferrat, e a vila grega “Kérylos” em Beaulieu-sur-Mer."
FONTE: 
Blog Riviera Francesa https://rivierafrancesa.wordpress.com 
(Receptivo Brasileiro na Riviera Francesa para particular e pequenos grupos)

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O desvendar de alguns mitos...

in: fnac.pt
in: http://observador.pt/2017/07/03/

"BELEZA E BEM ESTAR

Homeopatia? Detox de pés milagroso? “Não se deixe enganar”


Livro da Comunidade Céptica Portuguesa desconstrói mitos e teorias da conspiração. Porque "se parece demasiado bom para ser verdade, muitas vezes é" dizem ao Observador. Eis alguns mitos desvendados.
Os medicamentos homeopáticos são água com açúcar e não curam coisa nenhuma, sendo um mero placebo. Há tratamentos detox efetuados em várias clínicas e gabinetes de estética que só servem para enganar as pessoas. As campanhas de anti-vacinação são perigosas para a sociedade e, nesta mesma sociedade, há quem tenha escolhido o glúten como inimigo número um a abater, mesmo sem ter qualquer intolerância à proteína. A Comunidade Céptica Portuguesa lançou o seu primeiro livro e é nele que desmonta várias medicinas alternativas e teorias da conspiração, sem qualquer medo de represálias ou processos.
Quem sintoniza a TV portuguesa de manhã tem fortes probabilidades de acabar a ver uma senhora a dar conselhos e previsões com base num baralho de cartas ou numa bola de cristal. Pelo meio, até é capaz de produzir uma espécie de “feitiço” contra o mau-olhado. Embora haja quem acredite em fenómenos paranormais, estes são menos credíveis para as novas gerações. Atualmente, o grande problema está em filtrar o excesso de informação, e em diferenciar conclusões e estudos sustentados cientificamente de outros menos sérios.
Há dois anos, por exemplo, foram publicadas várias notícias sobre um estudo que concluía que comer chocolate “aumenta significativamente” as hipóteses de emagrecer durante uma dieta. O estudo não passava de uma criação do jornalista John Bohannon, que inventou mesmo um instituto, o “Institute of Diet and Health”. Depois, foi só enviar as conclusões para publicações duvidosas, esperar que alguma publicasse e aguardar que jornalistas pouco especializados não percebessem. Foi precisamente o que aconteceu.
Todos os dias, a Comunidade Céptica Portuguesa (Comcept) escreve textos onde desmonta a pseudociência. Tratamentos detox que parecem milagrosos, dietas sem esforço nenhum, medicinas alternativas sem sustentação científica, enfim, tudo a que os seus 24 membros se puderem dedicar nos intervalos do trabalho do dia-a-dia. Diana Barbosa, Leonor Abrantes, Marco Filipe e João Lourenço Monteiro foram mais longe e escreveram Não Se Deixe Enganar. Editado pela Contraponto, pretende “munir as pessoas de ferramentas que lhes permitam defender-se destas armadilhas”, explica Diana Barbosa, que esteve no Porto a apresentar o livro.
Em primeiro lugar, é importante não confundir ceticismo com negacionismo. São termos opostos, uma vez que o negacionismo recusa aceitar um facto mesmo diante de todas as provas. Ser cético significa procurar essas mesmas provas e fundamentos antes de acreditar nas verdades fáceis, que circulam cada vez a uma maior velocidade. Por isso, Diana Barbosa e João Lourenço fazem questão de frisar ao Observador: “Não acreditem em nós, acreditem nas fontes que citamos e noutras, desde que fundamentadas cientificamente.”
O ceticismo ajuda as pessoas a desconfiar da banha da cobra, explicam os autores. A desconfiarem de dietas milagrosas, de tratamentos detox quase mágicos. Se parece bom demais, é porque provavelmente é. Os jornalistas têm, aqui, um papel fundamental, ao terem o dever de selecionar entre o que é verdade e o que é uma farsa, entre o que é uma opinião sustentada e o que é uma opinião. Como tem acontecido, por exemplo, com as correntes recentes de anti-vacinação, baseadas num estudo feito com apenas 12 crianças que toda a imprensa divulgou em 1998.
“Percebo a intenção dos jornalistas de quererem mostrar o contraditório, mas há outro objetivo que se deve sobrepor, que é o de informar. Principalmente quando o contraditório não vem de fontes fidedignas nem credíveis. As crenças não têm o mesmo peso que informação científica”, afirma João Lourenço.
Apesar de procurarem repor a verdade perante negócios e organizações poderosas, garantem que nunca foram alvo de “ameaças reais”. “Só os insultos típicos de redes sociais”, conta Diana. O post que mais reações negativas gerou foi sobre os “chemtrails”, teoria da conspiração que defende que o rasto branco deixado no céu pelos aviões é uma pulverização química ou biológica propositada sobre as populações, que ameaça a sua saúde.
O que pode de facto ameaçar a saúde das pessoas são pseudotratamentos e artefactos que prometem tratar da saúde dos utentes, em troca de dinheiro, fazendo-as desconfiar de tratamentos médicos comprovadamente eficazes. O Observador mergulhou nas 240 páginas de Não Se Deixe Enganar e reuniu aqui algumas respostas a perguntas que tanta gente tem.

Os tratamentos detox são fundamentais à nossa saúde?

“Com a exceção dos metais pesados ou outras substâncias venenosas, o nosso corpo é perfeitamente capaz de dar conta do recado”, escrevem os autores. O recado é a desintoxicação, se a quisermos chamar assim. O fígado é o orgão-chave neste processo, por ter como função processar as substâncias nocivas através de reações químicas, eliminando-as de seguida. Os rins também dão uma ajuda na purificação do organismo. A resposta é, por isso, negativa.

Mas eu já vi um tratamento detox de pés e a água ficou suja, por causa das toxinas que saíram.

As primeiras perguntas a fazer a quem fornece tratamentos detox são: que toxinas específicas é que o “tratamento” vai eliminar? E que sintomas causam essas toxinas para termos de nos livrar delas? Para atestar os efeitos do tratamento, seria importante medir a quantidade de determinada toxina no corpo antes do tratamento e depois do tratamento, e saber que consequências reais essa eliminação teve no bem-estar do cliente. Ninguém o faz.
Um dos “tratamentos” que se está a popularizar é o detox de pés. Estes banhos aos pés consistem em adicionar à água sais e aditivos à base de ervas. Preparada a água, o utente só tem de colocar os pés. De seguida, o funcionário coloca um dispositivo no recipiente, que depois se liga a uma máquina. Passados uns minutos, a água começa a ganhar cor: amarelada, acastanhada, preta. A sujidade só pode ser das toxinas que estão a sair do corpo, certo? Errado.
É apenas uma reação química entre os elementos. E a água fica com ferrugem. Na prática, o cliente paga por um banho em água com ferrugem. Não há estudos científicos que provem que o corpo liberta qualquer impureza com este método. Contudo, em caso de dúvida, basta fazer o preparado, ligar a máquina mas não colocar os pés lá dentro. Se a água ficar suja na mesma, é porque se trata de um esquema.

E o tratamento de cera?

Há velas conhecidas por “ear candling”, de formato cilíndrico e interior oco, utilizadas para fazer detox. O “tratamento” consiste em colocar a extremidade mais fina no ouvido e acender a extremidade oposta, que não tem pavio. A orelha fica protegida por um pano, ou por um prato de papel, de modo a evitar que a cera quente caia para o canal auditivo. À medida que a chama vai queimando a vela, o terapeuta vai removendo a parte já queimada.
“Segundo os praticantes desta modalidade, o ar quente faz com que se crie uma diferença de pressão, levando a que as toxinas do corpo saiam pelo canal auditivo e fique retidas no interior oco da vela”, explicam os autores no livro. Para provar que as toxinas saíram do organismo, no final do tratamento abre-se a vela e verifica-se que estão lá uns grânulos de uma cor que varia entre o amarelado e o castanho escuro.
“Na realidade, são partículas resultantes da combustão da vela”, desmascaram os autores, após terem queimado duas velas iguais, uma colocada junto do ouvido de uma pessoa e outra colocada no orifício de um objeto inanimado semelhante ao canal auditivo, como um castiçal. No final, ambas tinham o mesmo conteúdo no interior. Toxinas não são, certamente.

Todos devemos fazer uma dieta sem glúten ?

Há uma autêntica caça ao glúten atualmente, razão pela qual, por brincadeira, a contracapa do livro Não Se Deixe Enganar refira que não contém glúten. É verdade que esta proteína provoca sérios problemas para os celíacos mas, para o resto da população que não possui esta doença auto-imune, a proteína é inofensiva e deve ser incluída numa alimentação que se quer variada.
Há ainda pessoas que dizem sofrem de sensibilidade não celíaca ao glúten, uma condição ainda controversa que carece de consenso científico. A moda do sem glúten é cada vez mais um grande negócio e os alimentos “gluten free” são mais dispendiosos. “Uma breve pesquisa na Amazon revela mais de 12.400 livros sobre dietas sem glúten e é até possível encontrar produtos tão absurdos como champôs e desodorizantes sem glúten”, escreve a Comcept. Por um lado, faz com que muita gente passe a acreditar que esta proteína é prejudicial à saúde. Mas há uma vantagem em tudo isto: os doentes celíacos passaram a ter muito mais restaurantes onde ir e uma maior oferta de produtos que têm em conta a sua condição.

As vacinas fazem parte de uma conspiração para a indústria farmacêutica lucrar milhões?

Não. A indústria farmacêutica lucra milhões em algumas áreas, mas as vacinas representam apenas uma pequena parte do lucro. Na verdade, se as pessoas não estivessem protegidas pelas vacinas, aí sim a indústria farmacêutica ia começar a lucrar a sério, com os tratamentos necessários para enfrentar doenças que, graças às vacinas, estavam já erradicadas. E que têm reaparecido devido a movimentos anti-vacinação sem qualquer fundamento científico.
Nesta fase, a patranha que mais enfurece João Monteiro e Diana Barbosa é precisamente a da antivacinação. “Porque tem consequências muito graves, não só para as pessoas que não são vacinadas como para a sociedade em geral. Porque se muita gente deixar de se vacinar, perde-se o efeito de proteção de grupo”, diz João. “E porque afeta a vida de pessoas inocentes, as crianças, que podiam não estar doentes ou não morrer”, acrescenta Diana. “Já houve mortes em Portugal e na Europa e começou a ressurgir a tosse convulsa, que é uma doença horrível para os bebés e que pode levar à morte. É revoltante vermos bebés a sofrerem por causa de uma campanha de desinformação total, com os pais a serem enganados.”
reacendimento das dúvidas em relação às vacinas deve-se a uma relação feita entre o autismo e a vacina tríplice, que inclui a vacina contra o sarampo, feita em 1998 por Andrew Wakefield. Muitos cientistas questionaram a opção de publicação de um estudo que incluía apenas 12 crianças e que, portanto, não poderia ser conclusivo. Ainda assim, várias equipas diferentes tentaram replicar o estudo sem nunca terem obtido o mesmo tipo de resultados. Mais tarde descobriu-se que os dados apresentados tinham sido manipulados e que o autor tinha recebido dinheiro de partes interessadas para publicar esta informação corrompida. O artigo científico foi considerado fraudulento e o autor perdeu a licença para exercer. Ainda assim, há quem continue a usar esta publicação para fazer valer os seus argumentos, que não têm fundamentação científica.

Os medicamentos homeopáticos são mais saudáveis porque não têm químicos?

Se há tema que cria divisões atualmente é a homeopatia, uma forma de terapia alternativa à medicina que defende que as doenças se curam recorrendo às mesmas substâncias que a provocaram. O princípio ativo dos “medicamentos” homeopáticos é retirado de animais, vegetais ou minerais, mediante o problema de saúde do doente. Se, por exemplo, este foi mordido por uma cobra, o tratamento homeopático receitado deverá ter veneno de cobra. O princípio ativo é depois diluído em água ou álcool. Os homeopatas acreditam que quanto mais diluídos, mais potentes são os remédios. O produto dessa diluição é tão alto que, sujeitos a análises independentes, os medicamentos homeopáticos revelam que na solução já não resta qualquer vestígio do princípio ativo. Sobra água e açúcar.
A terapia tem mais de 200 anos e não evolui desde então. Mas a ciência tem evoluído. Os homeopatas não negam que as diluições em série removem o ingrediente ativo, conforme provado pela química com o Número de Avogadro. Como resposta, passaram a defender que a água consegue lembrar-se dessa substância. “Mas porque é que a água se lembraria da substância original, mas não de ter passado pela bexiga de alguém?”, questiona a Comunidade Céptica Portuguesa.
Desde que começou a ser avaliada de forma objetiva, a homeopatia tem falhado consistentemente em demonstrar efeitos superiores ao de um simples placebo. É legal vender produtos homeopáticos em Portugal, vendendo-se até em farmácias. Contudo, de acordo com a lei portuguesa, o rótulo e o folheto informativo devem conter a indicação “medicamento homeopático”, posta de forma bem visível e legível, em maiúsculas e em fundo azul, seguido da menção “Sem indicações terapêuticas aprovadas“.
Todos os anos, há grupos que se juntam publicamente em várias partes do mundo e tomam dezenas de comprimidos homeopáticos de uma vez, para mostrarem a ausência de princípio ativo. Os investigadores Carlos Fiolhais e David Marçal, que assinam o prefácio de Não Se Deixe Enganar, já o fizeram em Portugal. Quanto ao facto de os medicamentos terem “químicos”, toda a natureza tem elementos químicos. É simplista utilizar a expressão “químicos” sem compreender quais são e quais as consequências.

Mas eu conheço quem se tenha curado com homeopatia…

As experiências pessoais contam pouco para a ciência. Há pais que dizem só tratar os filhos com soluções homeopáticas e estas melhoram. O que vemos é mais forte do que aquilo que lemos, mas nem sempre analisamos uma experiência pessoal de forma correta. É preciso ter em conta que, por exemplo, as constipações têm uma durabilidade curta e acabam por passar, mesmo que a pessoa não tome nenhum medicamento. E que problemas como alergias ou asma têm ciclos. Por vezes parecem desaparecer na infância, podendo regressar na idade adulta. Para eliminar fatores como coincidências é que existem estudos científicos, que fazem testes em ambiente controlado e apresentam resultados objetivos. A homeopatia tem falhado sempre nesta parte.

A pulseira do equilíbrio funciona?

Apenas como placebo, tal como a homeopatia ou o reiki, para citar alguns exemplos. Estas pulseiras, assim como a nova moda dos autocolantes que se colam ao corpo, fazem parte do lote de produtos que normalmente são apresentados com linguagem científica, mesmo se depois aplicam os termos erradamente. A esmagadora maioria das pessoas não compreende os conceitos e o produto passa por credível ao tentar parecer científico.
A resposta é um redondo não. As Power Balance, marca pioneira nas pulseiras do equilíbrio, custavam 37€ e justificavam o valor elevado por terem “dois hologramas quânticos de Mylar que estão especificamente programados com frequências que interagem, de forma natural, com o campo eletromagnético do corpo humano. Uma tecnologia exclusiva e patenteada que tem uma forte influência holística, uma vez que a Pulseira Power Balance foi concebida para otimizar a energia natural do organismo humano.”
Em vez de provas científicas, este tipo de patranhas costuma valer-se, para além da linguagem complicada onde são frequentes os termos “quântico”, “eletromagnético” e “energias”, de testemunhos pessoais que atestam o seu bom funcionamento. Se forem celebridades, tanto melhor para a marca, que consegue convencer assim mais gente a comprar o produto.
Vários testes independentes foram feitos em grupos onde algumas pessoas usavam a pulseira com o holograma e outras uma pulseira falsa. Em nenhum se provou que as pulseiras melhoravam o equilíbrio do utilizador e a sua força. Em 2011, a Power Balance foi obrigada pela justiça australiana a admitir publicamente que as pulseiras não funcionavam e a reembolsar os compradores que quisessem devolver a pulseira.

Finalmente… Como é que as pessoas podem distinguir melhor um site credível de outro com textos e informações sem fundamento científico?

“No livro damos algumas dicas para ajudar a perceber se a informação é credível ou não. Parte dessas dicas vem de propostas do Carl Sagan, a que ele chamava o kit da deteção da treta, e que são uma série de perguntas que a pessoa deveria fazer, não perante tudo o que lê e vê, mas perante algumas coisas que despertem dúvidas”, afirma Diana Barbosa, licenciada em Biologia. Sobretudo, perante tudo o que parece demasiado bom para ser verdade. “Realmente, às vezes é difícil perceber se um artigo científico vem de uma revista fidedigna ou não, se o trabalho está bem feito ou não, e aí era importante ter jornalistas de ciência especializados nessa área, que saibam ver as diferenças”, defende.
João Lourenço dá mais algumas dicas: “Não é com um só artigo que se vai obter a aproximação à verdade. É preciso ler vários artigos dessa equipa para compreender o contexto, e isso dá algum trabalho. Depois, tentar perceber a que resultados é que chegaram outras equipas independentes.” Mais: “Estudos na área da saúde com uma amostra muito pequena e que analisam várias causas em simultâneo” não são de fiar."
in: comcept.org