sábado, 2 de março de 2013
sexta-feira, 1 de março de 2013
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
«Nem só de pão vive o homem»!
É tempo de Quaresma!
Logo, é tempo de reflexão:
"Naquele tempo, Jesus cheio de Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será Teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: 'Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto'». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: 'Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem' e ainda: 'Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra'». Jesus respondeu-lhe: Está mandado: 'Não tentarás o senhor teu Deus'». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.
Logo, é tempo de reflexão:
"Naquele tempo, Jesus cheio de Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será Teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: 'Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto'». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: 'Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem' e ainda: 'Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra'». Jesus respondeu-lhe: Está mandado: 'Não tentarás o senhor teu Deus'». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.
Evangelho segundo São Lucas, Lc 4, 1-13
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Um Poema "Matemático"... de autor desconhecido!
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar:
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar:
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
De autor desconhecido.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
O que é um anel de sinete?
Sinete
Um sinete ou selo é uma peça que, mesmo existindo desde o inicio do 3º milénio a.C. na Grécia Antiga, foi de larga utilização nos séculos XVI a XVIII.
É um pequeno objeto de metal como ouro ou prata (placa, coluna e até anel)
usados como assinatura do proprietário para selar e autenticar
documentos e cartas. Após a assinatura, a impressão é feita com um pouco
de cera que é derramada sobre o papel no qual é pregado com o sinete, deixando um desenho pessoal, como um brasão ou um símbolo.
Anéis de sinete
Os sinetes anéis eram os mais populares dos sinetes, tendo na maioria das vezes um brasão, que foi entalhado em metal ou pedra preciosa.Os mais usados eram feitos de ouro ou de ágata. Era uma tradição nobre na Europa, existindo na Alemanha, Itália e Inglaterra, indicava quando uma pessoa estava casada. O anel de sinete do papa é chamado Anel do Pescador, sendo usado desde o século XIII.
FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinete
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
"A História Secreta da Renúncia de Bento XVI" - um artigo de Eduardo Febbro
Eduardo Febbro é um Jornalista argentino, nascido em 1956. Trabalha na redação da Rádio France Internationale e é correspondente para o jornal Página 12 em Paris.
A história secreta da renúncia de Bento XVI
O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.
Paris
- Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI
decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem
ao México e a Cuba.
Naquele
momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des
Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma
continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um
informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais
nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras
fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre
facções, lavagem de dinheiro.
O
Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites
nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações,
traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas
prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.
Muito
longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de
Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph
Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres
pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas.
Bento
XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João
Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando
vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da
libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da
doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto
fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos
citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão
reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas
do mundo moderno.
O
Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003,
tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um
dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”.
Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente.
Depois
do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do
papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria
qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para
isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei
e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox.
Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha
ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há
nada de claro na cúpula da igreja católica.
A
divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo
do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma
operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos:
operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone,
conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um
italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de
segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a
Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de
redesenhar.
Bento
XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas
são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas
da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a
figura do Papa.
Não
é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu
consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os
partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e,
por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada
que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de
ultradireita do mundo.
Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira.
Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira.
O
Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que
surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o
dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João
Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.
Em
setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi
para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR),
o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco
Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação
da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa
Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e
propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial.
Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do
Vaticano.
As
contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro
cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a
justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo
norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente
do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.
João
Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para
evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia
muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não
contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade,
algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais.
Marcinkus
terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, no meio de um gigantesco
buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários
cadáveres.
No
dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de
Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do
Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de
corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica
Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o
próprio IOR de Marcinkus.
Ettore
Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três
anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por
supostas “irregularidades” em sua gestão.
Tedeschi
saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa,
justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por
suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro.
Na
verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra
entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a
elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas
secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários,
construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina
Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no
IOR por meio de laranjas.
Aí
começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o
banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros
do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um
inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que
fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada
pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de
documentos roubados do papa.
Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção.
Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção.
A
hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de
decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos:
corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de
poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo
pontual e decadente da própria decadência do sistema.
Tradução: Katarina Peixoto
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Vaticano
Vamos rir um pouco? Quando eles se queixam ao médico...
Um
senhor de certa idade queixa-se ao médico :
- Doutor, estou preocupado ... quando faço sexo, ouço assobios.
Ao que o médico responde :
- Normal ! Na sua idade o que esperava ouvir, aplausos???
- Doutor, estou preocupado ... quando faço sexo, ouço assobios.
Ao que o médico responde :
- Normal ! Na sua idade o que esperava ouvir, aplausos???
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domingo, 24 de fevereiro de 2013
Quousque Tandem Abutere Patientia Nostra? Para refletir...
Transcrição de um texto de Rita Veloso no www.queselixeatroika.net
"Quando eu era criança, o meu pai vivia num forte que parecia um castelo.
E isso era normal — normal, quer dizer, era ...extraordinário! Mais ninguém tinha o pai a viver num castelo, rodeado de mar!
Era normal apanhar o comboio ou a camionete, de madrugada, aos fins de semana, para ir ao castelo visitar o meu pai. Ele enchia-me de prendas (que afinal era a minha mãe que levava), fazia-me desenhos, emoldurava os que eu fazia para ele e eu gostava. Era normal falar com ele através de um vidro com uma rede de metal e só raramente conquistar um colo, amansando com os meus lindos olhos de azul inocente o agente que vigiava a entrada do parlatório.
O meu pai era um preso político, o que queria dizer que não tinha sido preso por roubar bancos ou carros. Quando mais tarde prenderam um primo meu não percebi o alvoroço familiar: estar preso era normal.
Um dia houve uma revolução e eu percebi que afinal normal era as pessoas não estarem presas e os colos serem um direito.
A liberdade tornou-se normal e isso queria dizer que já podia cantar em todo o lado aquilo que dantes só podia cantar em surdina ou em casa. Já não era preciso baixar a voz quando chegava à parte do «ou vai-te embora, pulga fascista».
Nessa altura, toda a gente saía à rua para participar na liberdade; reuniam, planeavam, decidiam, envolvendo-se naquilo que dantes era normal ser decidido por outros.
Passou a ser normal a política ser feita por todos, que todos tivessem os mesmos direitos e que a riqueza de um país fosse usufruída em igualdade; bastava ser-se humano, já não era preciso pertencer a elites. Fez-se uma constituição para garantir que seria assim.
Para nós, crianças, isso significava que o mundo deixaria de ter dois lados, um com «prédios bem altos e mais jardins floridos muita luz e muitas cores», outro com «barracas escuras feitas nem sabe de quê e miúdos a chorar e onde os brinquedos são pedras e a lama são os jardins», como o Zé Pimpão mostrou à Maria-dos-olhos-grandes. Só podia ser normal querer que houvesse apenas um lado do mundo, «com todos do mesmo lado», e que, se não houvesse jardins para todos, se dividissem os canteiros e, se os canteiros não chegassem, uma flor para cada um e, se as flores fossem poucas, haveria pétalas, enfim, cheiro, mas todos teriam igual. Fomos pelo sonho e o mundo tornou-se a nossa casa.
Depois vieram as eleições e afinal não era normal que todos quisessem partilhar as flores ou as enxadas. Não fazia mal, mais tarde ou mais cedo haveriam de perceber que a Maria-dos-olhos-grandes tinha razão.
Mas não. Pouco a pouco, começaram a convencer-nos de que a política se fazia apenas por quem percebia do assunto e o assunto era muito complicado. E as pessoas confiaram. Confiaram que podiam viver as suas vidas e que os partidos em que votavam se encarregavam da política. Para muitos, a política tornou-se uma chatice. A esquerda voltou a ser o bicho papão, que só queria virar o país do avesso, com essas ideias radicais de dividir jardins, canteiros, flores, pétalas, enfim, cheiros, por todos os seres humanos. E o PS e o PSD, com ou sem CDS, passaram a revezar-se no trono, como os únicos partidos que garantiam que o país não se virava do avesso e que quem tinha jardins os podia guardar só para si. E muitos deixaram de votar. Para quê, se já se sabe que eles só se interessam em ajudar os amiguinhos? Para quê, se nada muda?
Mas aos poucos muito ia mudando. De revisão constitucional em revisão constitucional, de lei em lei, de governo em governo, fomos perdendo direitos e ganhando obrigações, fomos passando de senhores a vassalos. As contribuições que fazíamos para garantir que todos vivêssemos com qualidade, em igualdade de direitos, foram-se transformado em rendas a pagar pelo privilégio de existir e viver neste país.
Aos poucos, o Estado tinha sido privatizado e as eleições serviam apenas para definir os accionistas-governo que iriam assegurar a gestão nos quatro anos seguintes. E os accionistas começaram a especular na bolsa com a riqueza que devia ser nossa — que é nossa! E sentiram-se impunes. Aliaram-se aos comparsas internacionais mais poderosos e, avidamente, decidiram estrangular a galinha dos ovos de ouro. Sofregamente, quiseram transformar os vassalos em servos. Em pouco mais de um ano empobreceram milhares para aumentar as fortunas de dezenas, transformaram direitos em favores, a serem usados com parcimónia. Começaram a vender bens públicos aos amigos para pagar as dívidas que contraíam ao jogo nos mercados. Como garantia, os amigos exigiam que nos reduzissem ainda mais os direitos, que tivéssemos de pagar os favores — o favor de estudarmos, de termos assistência na saúde, o favor de existimos. Em coro, asseguram-nos que é tudo normal e que os protestos são coisa de arruaceiros.
A mudança foi tão brutal que um dia olhámos em volta e não reconhecemos o país. O normal tornara-se absurdo. E o absurdo entra-nos em casa diariamente. Há nababos com riquezas pessoais de milhares de milhões de euros enquanto famílias são desalojadas, crianças passam fome, milhares de jovens são obrigados a emigrar e muitos, novos e velhos, ficam sem assistência médica. Perdoam-se distracções na declaração ao fisco de milhões de euros em rendimentos e perseguem-se aqueles que não têm dinheiro para pagar descontos obrigatórios mas injustos, já que não têm vínculos laborais nem rendimentos estáveis para assegurar a própria sobrevivência. Condena-se quem rouba duas latas de comida para animais e enaltece-se quem enriquece, de forma corrupta, à conta do estado.
Nada do que vemos é normal, mas até quando iremos esperar passivamente que tudo se resolva? Quando iremos perceber que temos de resistir e combater o absurdo, saindo à rua e defendendo os nossos direitos?
O que leva um povo massacrado a dizer «basta!»?
Quanto mais tempo passar, mais dolorosa será a nossa luta: a mesa do comércio, ainda posta e já gasta, poderá acabar como jangada para evacuar fugitivos da fogueira incendiada pelos outrora cativos.
Queremos fazer a luta com cravos, mas não deixaremos de a fazer se os cravos não forem eficazes. Os nossos pais não tiveram medo e mostraram-nos que vale a pena.
No dia 2 de Março sairemos à rua gritando «basta!» e exigiremos que nos devolvam o nosso país. Nesse dia, levaremos cravos."
E isso era normal — normal, quer dizer, era ...extraordinário! Mais ninguém tinha o pai a viver num castelo, rodeado de mar!
Era normal apanhar o comboio ou a camionete, de madrugada, aos fins de semana, para ir ao castelo visitar o meu pai. Ele enchia-me de prendas (que afinal era a minha mãe que levava), fazia-me desenhos, emoldurava os que eu fazia para ele e eu gostava. Era normal falar com ele através de um vidro com uma rede de metal e só raramente conquistar um colo, amansando com os meus lindos olhos de azul inocente o agente que vigiava a entrada do parlatório.
O meu pai era um preso político, o que queria dizer que não tinha sido preso por roubar bancos ou carros. Quando mais tarde prenderam um primo meu não percebi o alvoroço familiar: estar preso era normal.
Um dia houve uma revolução e eu percebi que afinal normal era as pessoas não estarem presas e os colos serem um direito.
A liberdade tornou-se normal e isso queria dizer que já podia cantar em todo o lado aquilo que dantes só podia cantar em surdina ou em casa. Já não era preciso baixar a voz quando chegava à parte do «ou vai-te embora, pulga fascista».
Nessa altura, toda a gente saía à rua para participar na liberdade; reuniam, planeavam, decidiam, envolvendo-se naquilo que dantes era normal ser decidido por outros.
Passou a ser normal a política ser feita por todos, que todos tivessem os mesmos direitos e que a riqueza de um país fosse usufruída em igualdade; bastava ser-se humano, já não era preciso pertencer a elites. Fez-se uma constituição para garantir que seria assim.
Para nós, crianças, isso significava que o mundo deixaria de ter dois lados, um com «prédios bem altos e mais jardins floridos muita luz e muitas cores», outro com «barracas escuras feitas nem sabe de quê e miúdos a chorar e onde os brinquedos são pedras e a lama são os jardins», como o Zé Pimpão mostrou à Maria-dos-olhos-grandes. Só podia ser normal querer que houvesse apenas um lado do mundo, «com todos do mesmo lado», e que, se não houvesse jardins para todos, se dividissem os canteiros e, se os canteiros não chegassem, uma flor para cada um e, se as flores fossem poucas, haveria pétalas, enfim, cheiro, mas todos teriam igual. Fomos pelo sonho e o mundo tornou-se a nossa casa.
Depois vieram as eleições e afinal não era normal que todos quisessem partilhar as flores ou as enxadas. Não fazia mal, mais tarde ou mais cedo haveriam de perceber que a Maria-dos-olhos-grandes tinha razão.
Mas não. Pouco a pouco, começaram a convencer-nos de que a política se fazia apenas por quem percebia do assunto e o assunto era muito complicado. E as pessoas confiaram. Confiaram que podiam viver as suas vidas e que os partidos em que votavam se encarregavam da política. Para muitos, a política tornou-se uma chatice. A esquerda voltou a ser o bicho papão, que só queria virar o país do avesso, com essas ideias radicais de dividir jardins, canteiros, flores, pétalas, enfim, cheiros, por todos os seres humanos. E o PS e o PSD, com ou sem CDS, passaram a revezar-se no trono, como os únicos partidos que garantiam que o país não se virava do avesso e que quem tinha jardins os podia guardar só para si. E muitos deixaram de votar. Para quê, se já se sabe que eles só se interessam em ajudar os amiguinhos? Para quê, se nada muda?
Mas aos poucos muito ia mudando. De revisão constitucional em revisão constitucional, de lei em lei, de governo em governo, fomos perdendo direitos e ganhando obrigações, fomos passando de senhores a vassalos. As contribuições que fazíamos para garantir que todos vivêssemos com qualidade, em igualdade de direitos, foram-se transformado em rendas a pagar pelo privilégio de existir e viver neste país.
Aos poucos, o Estado tinha sido privatizado e as eleições serviam apenas para definir os accionistas-governo que iriam assegurar a gestão nos quatro anos seguintes. E os accionistas começaram a especular na bolsa com a riqueza que devia ser nossa — que é nossa! E sentiram-se impunes. Aliaram-se aos comparsas internacionais mais poderosos e, avidamente, decidiram estrangular a galinha dos ovos de ouro. Sofregamente, quiseram transformar os vassalos em servos. Em pouco mais de um ano empobreceram milhares para aumentar as fortunas de dezenas, transformaram direitos em favores, a serem usados com parcimónia. Começaram a vender bens públicos aos amigos para pagar as dívidas que contraíam ao jogo nos mercados. Como garantia, os amigos exigiam que nos reduzissem ainda mais os direitos, que tivéssemos de pagar os favores — o favor de estudarmos, de termos assistência na saúde, o favor de existimos. Em coro, asseguram-nos que é tudo normal e que os protestos são coisa de arruaceiros.
A mudança foi tão brutal que um dia olhámos em volta e não reconhecemos o país. O normal tornara-se absurdo. E o absurdo entra-nos em casa diariamente. Há nababos com riquezas pessoais de milhares de milhões de euros enquanto famílias são desalojadas, crianças passam fome, milhares de jovens são obrigados a emigrar e muitos, novos e velhos, ficam sem assistência médica. Perdoam-se distracções na declaração ao fisco de milhões de euros em rendimentos e perseguem-se aqueles que não têm dinheiro para pagar descontos obrigatórios mas injustos, já que não têm vínculos laborais nem rendimentos estáveis para assegurar a própria sobrevivência. Condena-se quem rouba duas latas de comida para animais e enaltece-se quem enriquece, de forma corrupta, à conta do estado.
Nada do que vemos é normal, mas até quando iremos esperar passivamente que tudo se resolva? Quando iremos perceber que temos de resistir e combater o absurdo, saindo à rua e defendendo os nossos direitos?
O que leva um povo massacrado a dizer «basta!»?
Quanto mais tempo passar, mais dolorosa será a nossa luta: a mesa do comércio, ainda posta e já gasta, poderá acabar como jangada para evacuar fugitivos da fogueira incendiada pelos outrora cativos.
Queremos fazer a luta com cravos, mas não deixaremos de a fazer se os cravos não forem eficazes. Os nossos pais não tiveram medo e mostraram-nos que vale a pena.
No dia 2 de Março sairemos à rua gritando «basta!» e exigiremos que nos devolvam o nosso país. Nesse dia, levaremos cravos."
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Política/Sociedade
Os Portugueses sem presente...
A revista Visão publicou o artigo de opinião, da autoria do
filósofo José Gil, intitulado "O roubo do presente" que passo a transcrever, por achar que é importante este texto ser lido, do princípio ao fim, pois:
- transmite tudo aquilo por que os portugueses andam a passar (estamos autenticamente a ser aniquilados, como seres humanos...)
- faz constatar o desaparecimento da classe média, em Portugal
- confirma uma taxa de desemprego fenomenal
- dá-nos a perceção da ausência de trabalho para quem ainda precisa de trabalhar e principalmente para quem "quer começar" - os jovens
- faz-nos sentir que sofremos uma austeridade obsessiva
"Nunca uma situação se desenhou assim para o
povo português: não ter futuro, não ter perspetivas de vida social,
cultural, económica, e não ter passado, porque nem as competências nem a
experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o
tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do
nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro.
O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.
O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stresse, depressões, patologias borderline enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens).
O presente não é uma dimensão abstrata do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público.
Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.
Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espetral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.
Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."
O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.
O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stresse, depressões, patologias borderline enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens).
O presente não é uma dimensão abstrata do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público.
Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.
Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espetral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.
Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."
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