The Story of Wounda the Chimpanzee
O abraço de reconhecimento que o chimpanzé-fêmea dá à sua amiga que dele tratou.
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Um Poema dedicado ao Namibe
ROMAGEMMEU SER ORGULHOSO EXIBEA SAUDADE QUE O ASSOLA:SAUDADE DO MEU NAMIBE,SAUDADE DA MINHA ANGOLA.1Quero ver Namibe, Huila,Onde o meu passado mora,Numa romagem tranquilaIr por essa Angola foraDo mar à fronteira Leste,Da fronteira Leste ao mar,Por chanas, serras agrestes,Minha saudade adoçarNos sabores divinais,Nas majestosas miragens,Nos sons ledos, celestiais,Nos odores, nas paisagens.2Ouvir silvar a garrôa,A calema marulhar,Apanhar cacimbo à-toa,No Vento-Leste abrasar;Botar colar de missanga,Pulseira de couro usar,Vestir panos, vestir tanga,Sandália de pneu calçar;Queimar-me ao Sol nas anharas,Molhar-me à chuva nas chanas,Sentir gelar-me na caraÀ noite o ar da savana.3Jogar o balde e, puxando,Tirar água da cacimba,Deixar na sanga, pingando,Beber, fresca, da muringa;Ir de chata ao alto mar,Machimbombo em rota longa,Camangas ir garimpar,Fazer venda na kandonga;Ir de ginga p’los muceques,Dar pé num forro de arromba,Entre cafekos, moleques,Dar semba ao som de um kizomba;Ouvir guizos de chingange,Cazumbis sentir no ar,Ouvir trinar o kissange,Gemendo a puíta soar.4Pegar saltão no deserto,Aranhuço no capim,Ver um olongo de perto,De longe a onça ou afim;Botar pedra na chifutaP’ra chirikuata caçar,Pôr visgo em galho de frutaBico-de-Lacre pegar;Pôr rede p’ra Papa-Areia,Armar laço ao garajau,Ver no fogo que se ateiaO haraquiri do lacrau5Sentir no corpo, qual forno,Palúdica tremideira,Ter do makulo o transtorno,Da bitacaia a coceira;Sentir o ardente pruridoDo ferrão do marimbondo,O ruborizar doridoDa picada do kissonde.6Comer maboque, pitanga,Sape-sape, fruta pinha,Anona, abacate e manga,Cola e mandioca em farinha;Comer múkua, tamarindo,E tabaibo, e miramgôlo,Beber bulunga e, convindo,De caxipembe um bom golo;Pegar milho e fazer fuba,Tirar do dendem o azeite,Comer doce de jinguba,Do coco sugar o leite;Fazer fogueira no chão,Na brasa mulamba assar,Comer com funje ou pirãoE jindungo de abrasar;Comer guibulo gostoso,Mucunza, ginguinga rica,Um gulungo saboroso,Uma pesada cangica;Comer mukeca e fartar-me,Em muamba me empanturrar,De muzonguê lambuzar-meCom farofa a acompanhar;De peixes comer a zaza,De carapau o bufete,Chôco seco assar na brasa,Saborear o mufete;Comer matete adoçada,Pirão frito, tapioca,Beber Cuca acompanhadaDe salgadinha macoca;P’ra terminar numa boa,Por sobremesa sublime,Um dionjo ou dinhangoa,Quitando ou, talvez, mahime.7De recordações liberto,De sabores satisfeito,No ar puro do desertoRevitalizar o peitoE partir com ar soleneNessa viagem tão lindaQue ligue a foz do CuneneAo Chiloango, em Cabinda.Ver os Tigres, ver o Pinda,Ter o Iona na retina,S. João do Sul e, ainda,O Coroca e Ponta Albina;Transpor do Namibe as dunasP’ra ver Tômbua, a cidade,Recordar naus e escunasDo Cabo Negro a saudade;Admirar tômbua, a planta,Espreguiçando ao deserto.E a cidade-mãe que encantaQual milagre em céu aberto.8Ver florir as oliveirasNo meio do areal,Pender cachos das videirasNesse Namibe infernal;Sentir do mar as aragens,Desde o Saco ao Pau-do-Sul,Ir à Praia das Miragens,Praia Amélia e Praia Azul;Ir ao Cabo Submarino,A Santa Rita, ao Quipola,Torre-Tombo onde, menino,Brinquei, cresci, fui à escola;Ir às ostras na Lucira,Ao burrié no Farol,Secar choco em bruto ou tirasNo Chapéu Armado, ao Sol;No Canjeque pescar mero,Nas Furnas rever as grutas,Beber das águas do Bero,Ir às Hortas roubar fruta;Ir ao Pico do Azevedo,Olhar o Morro Maluco,Ver a Bibala e, sem medo,Aventurar-me p’lo Bruco.9Subir a Chela de diaPela Leba, essa obra-prima,Enquanto o olhar se extasiaNa paisagem, serra a cima;Sentir Lubango defrontePelos perfumes que exala,Ir à Senhora do Monte,À fenda da Tundavala;Olhar a terra fecunda,Ver a beleza da muíla,Ver Humpata, ir à Mapunda,Chibia, Kipungo e Huila;Ir a Hoque e Capelongo,Ver as minas no Cassinga,Ir a Ondjiva e Menongue,A Nriquinha e Mavinga.10Do Lumbala ao Cazombo ir,Por Luau Luena ver,Passar Munhango e seguirP’ra Kamacupa rever;Passar Wama, ir ao Andulo,No Kuito ver a embala,Ao Huambo dar um pulo,Ir mais p’ra Sul na Kaala;De Caconda ir ver o marEntre Lobito e Benguela,Na Restinga descansar,Ver Cavaco e Catumbela;De Sumbe à Cela subirPara à Gabela descer,Ir à Quibala e partirP'ra Calulo à vista ter.11Dondo e Massangano olharE por Muxima passandoSeguir em frente e buscarCatete e Ndalatando;Ir a Malanje e Saurimo,Embrenhar-me em densas matas,Rever Cacolo e Luachimo,Lucala e as cataratas;Caungulo descobrir,Ver Uíge, Sanza Pombo,Kuango, Dambe, e prosseguirAté Maquela do Zombo;Ir de Mbanza a Cabinda,Ver do Zaire a foz tão bela,Nzeto, Quimbambe e, ainda,Quiteche e Camabatela,Por Nambuangongo passar,Ir a Quibaxi e Caxito,No Cacuaco findarEste deambular bonito.PORQUE PERTO, JUNTO AO MAR,JÁ LUANDA SE PRESSENTE,DA PÁTRIA NATAL ALTAR,DESTA SAUDADE SEMENTE.José António Teixeira
Este texto está no DN de 29/12/2013
Remorsos de um encenador de teatro
Muita gente me acusa de ser o culpado do estado de desgraça do nosso país por ter reprovado Pedro Passos Coelho numa audição em que eu procurava um cantor para fazer parte do elenco de My Fair Lady. Até o espertíssimo gato fedorento Ricardo Araújo Pereira já afirmou que eu devia ser chicoteado em público todos os dias até Passos Coelho desistir de ser primeiro-ministro, como insistentemente o aconselha o Dr. Soares.Na verdade, confesso que em 2002, quando preparava os ensaios para levar à cena My Fair Lady fiz uma série de audições a cantores para procurar o intérprete do galã apaixonado por Elisa Doolittle, a pobre vendedora de flores do Covent Garden, personagem saída da cabeça brincalhona e maniqueísta de Bernard Shaw, genial dramaturgo que no seu tempo se fartou de gozar com políticos. Entre muitos concorrentes à audição, apareceu Pedro Passos Coelho dejeans, voz colocada, educadíssimo e bem-falante. Era aluno de Cristina de Castro, uma excelente cantora dos tempos de glória do São Carlos que tinha sido escolhida por Maria Callas para contracenar com a diva na Traviata quando da sua passagem histórica por Lisboa. As recomendações portanto não podiam ser melhores e a prova foi convincente. Porém, Passos Coelho era barítono e a partitura exigia um tenor. Foi por essa pequena idiossincrasia vocal que Passos Coelho não foi aceite, o que veio a ditar o futuro do jovem aspirante a cantor que, em breve, ascenderia a actor protagonista do perverso musical da política. Se não fosse a sua tessitura de voz de barítono, hoje estaria no palco do Politeama na Grande Revista à Portuguesa a dar à perna com o João Baião, a Marina Mota, a Maria Vieira, e talvez fosse muitíssimo mais feliz. Diria mal da forma como o Estado trata a cultura em Portugal, revoltar-se-ia com os impostos que o teatro é obrigado a pagar, saberia que um bilhete que é vendido ao público a dez euros, sete vão para o Estado, teria um ataque de nervos contra os lobbies da Secretaria de Estado da Cultura, há quarenta anos sempre os mesmos... não saberia sequer o nome do obscuro e discretíssimo secretário da Cultura oficial, não perceberia porque em Portugal não há uma Lei do Mecenato que permita aos produtores de espectáculos cativar os mecenas, tal é a volúpia cega dos impostos, saberia que cada vez mais há artistas no desemprego em condições miserabilistas e degradantes, que fazer teatro, cinema ou arte em Portugal se tornou um acto de loucura e de militância esquizofrénica. Mas a cantar no palco do Politeama estaria bem longe da bomba-relógio do Dr. Paulo Portas, cada vez mais fulgurante comopop-star, da troika, agora terrível e pós-seguramente medonha, das reuniões de quinta-feira com o Senhor Professor, do Gaspar que se pisgou para o Banco de Portugal, dos enredos do partido bem mais enfadonhas do que as animadas tricas dos bastidores do teatro, das reuniões intermináveis com os alucinados ministros, das manifestações dos professores, dos polícias, dos funcionários públicos, dos pescadores, dos estivadores, dos reformados, dos trabalhadores de tudo o que mexe e não mexe em cima deste desgraçado país, ah!, e das sentenças do Palácio Ratton que agora são chamadas para tudo, só para tramarem a cabeça intervencionada do pobre Pedrinho... não bastava já as constantes birrinhas do Tó Zé Seguro, as conversas da tanga do Dr. Durão Barroso, o charme cínico e discreto de Madame Christine Lagarde, as leoninas exigências da mandona da Europa para Bruxelas assinar a porcaria do cheque. Valha-me o Papa Francisco que tudo isto é de mais para um barítono!Assumo o meu mais profundo remorso. Devia ter proporcionado ao rapaz um futuro mais insignificante mas mais feliz. Mas, tal como Elisa Doolittle, que depois de ser uma grande dama prefere voltar a vender flores no mercado de Covent Garden, talvez o nosso herói renegue todas as vaidades e vicissitudes da política e suba ao palco do Politeama para interpretar a versão pobrezinha mas bem portuguesa de Os Miseráveis!
PS. O artigo foi escrito em português antigo. No Teatro Politeama nem as bailarinas russas aderiram ao Acordo Ortográfico.* Encenador e dramaturgo. Diplomou-se em Londres com uma bolsa da Fundação Gulbenkian, foi diretor da Casa da Comédia. Com "What happened to Madalena Iglésias" iniciou e revitalizou o teatro ligeiroFILIPE LA FÉRIA*