quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

1º de dezembro - o feriado mais antigo de Portugal

Porque hoje dia 1 de Dezembro é feriado? - Mundo Português
imagem obtida in mundoportugues.pt

O que nos diz sobre o 1º de dezembro o Sumário de História de Portugal, de Tomás de Barros? 

Sim, o que podemos ler nesse livrinho tão antigo por onde estudámos História na nossa instrução primária? Refiro-me obviamente aos que a estudaram nos anos 50/60...

Passo a transcrever:

"Revolução de 1640  

A Pátria já não podia suportar mais afrontas; a situação tornara-se insuportável. Mas chegava o momento ajustado. Ao amanhecer o dia 1º de Dezembro de 1640, quarenta fidalgos chefiados pelo Dr João Pinto Ribeiro, lançaram-se na redentora aventura: penetraram no paço da Ribeira onde vivia a vice-rainha, Duquesa de Mântua, e mataram o seu secretário - português traidor - Miguel de Vasconcelos. Ali mesmo proclamaram rei de Portugal D. João, 8º Duque de Bragança, com o nome de D. João IV. Estava ganha a revolução. Portugal tinha sacudido a dominação espanhola, que durara 60 anos, e restaurado a sua independência. Assim começou a 4ª dinastia, chamada de Bragança ou Brigantina.

Observação - os 40 fidalgos planearam a revolução de 1640 no palácio de Dom Antão de Almada, onde se reuniram, apoiados pelo Duque de Bragança. Além do Dr. João Pinto Ribeiro e de D. Antão de Almada, merecem referência mais os seguintes conjurados: Dr. Sanches de Baena, D. Miguel de Almeida, Pinto de Mendonça, P.e Nicolau da Maia, D. Pelo de Meneses, D. Carlota de Noronha, etc. Conta-se que D. Luísa de Gusmão, esposa do Duque de Bragança, quando este lhe contou o plano da revolução, aplaudiu-o, acrescentando: "Vale mais viver reinando do que acabar servindo".

ANOTAÇÕES

Portugueses Ilustres 

No decurso deste período são dignos, também, de especial referência: 

Reinado de Filipe I 

- Paulo Dias de Novais, conquistador de Angola e fundador da cidade de São Paulo de Luanda.

Reinado de Filipe II 

André de Mendonça, heróico defensor das Molucas. 

- Manuel Godinho Herédia, notável cosmógrafo e descobridor da Austrália.

- Manuel de Sousa Coutinho (frei Luís de Sousa), insigne homem de letras. 

Reinado de Filipe III

Manuel de Faria e Sousa, fecundo escritor.

...(...)... (...)...

Quanto tempo durou a dominação Filipina?

Durou 60anos, de tristes recordações.

FONTE: Sumário de História de Portugal, de Tomás de Barros (Com narrativa dos factos principais, iconografia dos Chefes de Estado, recapitulação em questionário e variados exercícios para a 4ª CLASSE do ensino Primário e Admissão aos Liceus. 24ª Edição - Editora Educação Nacional de Adolfo Machado - Rua do Almada, 125 - Porto)

terça-feira, 29 de novembro de 2022

TRABALHO - a história complexa desta palavra e a sua etimologia!

Ao procurar a etimologia da palavra "trabalho" encontrei uma explicação que achei interessante. Tem uma história que eu quase diria "inimaginável", de tão complexa que é!

Transcrevo de seguida o texto em português (tentativa de tradução minha, com "ajuda" do Google...) e mais abaixo, o original em língua francesa, resultado da minha pesquisa sobre a origem desta palavra tão importante como é o "trabalho" e o que ele representa para todos nós. 

Gostei da explicação e da sua verdadeira história: sim, porque todas as palavras têm uma "história" por mais "dura" que possa ser!

Outrora um instrumento de tortura, o trabalho abriu caminho 

Ao contrário da palavra “emprego”, a que está associada, a etimologia de “trabalho” é atormentada. Derivado do latim "tripalium", que designava máquina de ferrar bois, o trabalho hoje serve como laço social 

Florêncio Artigot * 
Publicado a 15 de janeiro de 1999 
Esfoladas, desmembradas, esmagadas, inchadas por uns, castradas por outros, as palavras acabam por se tornar, como estas camadas geológicas depositárias de um passado, as testemunhas das mentalidades que atravessaram. 
Refletindo certos costumes, a linguagem não passa pela história sem marcas. "Trabalho" e "emprego", na boca de todos hoje, estão entre aquelas palavras que a história não poupou. Se esses termos são hoje carregados de valores positivos, é porque eles são o último elo social, uma espécie de cordão umbilical, entre o indivíduo e a sociedade. O emprego, esta fonte de rendimento e integração na sociedade, está cada vez mais raro e, por força das circunstâncias, está a tornar-se um bem raro. Nesse sentido, a etimologia da palavra trabalho, ou seja, a história de sua vida, é no mínimo surpreendente. Voltar atrás no tempo toca em origens distantes, sejam latinas ou francas. “Trabalho” vem da palavra latina baixa tripalium, que é literalmente uma máquina feita de três estacas. No entanto, o tripalium foi este instrumento usado em 1000 para ferrar bois e cavalos difíceis e caprichosos. Mas era comumente usado quando era necessário punir pecadores e recalcitrantes. Para os animais, era uma ferramenta de trabalho, para os homens, um instrumento de tortura. Origens e raízes privam esta palavra de seu brilho e brilho.

O Trabalho como valor 

Durante o segundo milénio, o seu significado deteriora-se  e enfraquece. No século XII, o francês antigo usava invariavelmente "trabalhar" e "fazer sofrer". Moral ou fisicamente, nem é preciso dizer. Mais tarde, trabalhar significa 'molestar', 'danificar' ou 'bater'. A frase "trabalhar as costelas de alguém" vem daí. Dá então origem a outra metáfora: "trabalhar o adversário ao corpo", que sugere que o referido adversário terá de passar um mau quarto de hora. Então o espírito, na vida desta palavra, assume o corpo. "Trabalhar a mente" e seu uso coloquial "trabalha a mente" são apenas algumas expressões entre muitas que marcam a mudança. Ao mesmo tempo, como Alain Rey, autor do recente "Dicionário Histórico da Língua Francesa" ** aponta, "a ideia de transformação da matéria prevalece gradualmente sobre a de fadiga ou dor". No final, o domínio do homem sobre a natureza só pode ser alcançado através do trabalho. Isso requer esforço, é claro, mas esse esforço será recompensado e a mãe natureza dominada.

Abundância de trabalho, escassez de emprego

Trabalhamos o ferro enquanto trabalhamos a massa. Nós deformamos as coisas, nós as transformamos. A máquina começa a funcionar, o que reduz o sofrimento humano. A técnica é introduzida nos processos de fabricação e o trabalho é elevado ao patamar de grandes valores. Conseguimos criar criando a nós mesmos, pelo menos é o que dizem alguns teóricos para quem o trabalho é o caminho para a liberdade. Curioso destino desse instrumento de tortura, o tripalium, que finalmente permitirá ao homem sofrer menos. A vida da palavra "emprego" é um rio mais calmo. Poucas variações de significado. Se “empregar” vem do latim implicare, que significa “dobrar” ou “torcer, enredar”, esta palavra é usada principalmente no sentido de “colocar, fazer uso”. Na Chanson de Roland, as armas eram usadas à medida que os golpes eram usados. A partir do século XVII, empregar alguém era fazê-lo trabalhar por conta própria. A noção de serviço foi inoculada no termo. No mundo do show business, a expressão figurativa "ter a cara do ofício" mostra até que ponto a cara é a ferramenta de trabalho do ator, esse prestador de serviços. Mas a palavra "emprego", embora a sua história nos leve às fontes do latim, afirmou-se e ocupou o seu lugar no nosso vocabulário desde o momento em que se associou à economia e ao inglês.
Na verdade, esse termo como é usado hoje é a tradução de emprego e empregar. Assim, a ideia de função e carga vinda do inglês torna-se dominante. A forma "pleno emprego", tradução literal de pleno emprego apenas confirma essa relação de parentesco. Mas a confusão pode ser grande entre esses dois termos. Se o emprego é escasso, o trabalho é abundante. Muitas vezes visto como um bem, o trabalho é, na verdade, apenas um recurso. É apenas um contributo utilizado com maior ou menor eficiência num processo produtivo. Se a população ativa aumenta, por exemplo, o recurso mão-de-obra também aumenta, porque há mais mãos para trabalhar e mais cabeças para pensar. O mesmo não ocorre com o emprego, que é uma demanda de serviços e know-how por parte das empresas. No entanto, é esta procura (emprego) que tende a escassear. É ela que em certos segmentos da economia tende a encolher. Quando certos políticos se propõem a repartir a obra, sendo esta superabundante, fazem, ao lapidar esta catástrofe semântica, apenas para aumentar a confusão e perturbar o debate. 
Como escreve Alain Rey: “Essas palavras, acreditamos que as usamos, quando muitas vezes são elas que nos conduzem, pela carga que a história colocou nos sons e nas letras”.

** “Dicionário histórico da língua francesa”, Alain Rey. Edições Robert, Paris, 1998. 
* Economista, Universidade de Neuchâtel.

FONTE:
in https://www.letemps.ch/economie/jadis-instrument-torture-travail-su-faire-chemin


Agora, segue-se o texto pesquisado e cujo original é em língua francesa


tripalium – DIÁRIO DE UM LINGUISTA
image obtenue in diariodeumlinguista.com


Jadis instrument de torture, le travail a su faire son chemin

Contrairement au mot «emploi», auquel on l'associe, l'étymologie du «travail» est tourmentée. Issu du latin «tripalium», qui désignait une machine à ferrer les bœufs, le travail sert aujourd'hui de lien social

Florencio Artigot *

Publié 15 janvier 1999 

Ecorchés, dépecés, broyés, boursouflés par certains, castrés par d'autres, les mots finissent par devenir, comme ces couches géologiques dépositaires d'un passé, les témoins des mentalités qu'ils ont traversées. Reflet de certaines coutumes, la langue ne traverse pas l'histoire sans cicatrices. «Travail» et «emploi», aujourd'hui sur toutes les lèvres, font partie de ces mots que l'histoire n'a pas ménagés. Si ces termes sont aujourd'hui chargés de valeurs positives, c'est qu'ils sont le dernier lien social, sorte de cordon ombilical, entre l'individu et la société. L'emploi, cette source de revenu et d'intégration à la société, se raréfiant, devient par la force des choses une denrée rare.

En ce sens, l'étymologie du mot travail, c'est-à-dire l'histoire de sa vie, est pour le moins surprenante. La remontée dans le temps effleure les origines lointaines, qu'elles soient latines ou franciques. «Travail» est issu du bas latin tripalium, qui est littéralement une machine faite de trois pieux. Or, le tripalium était cet instrument utilisé en 1000 pour ferrer les bœufs et les chevaux difficiles et capricieux. Mais on en faisait couramment usage lorsqu'il fallait punir les pécheurs et les récalcitrants. Pour les animaux, il s'agissait d'un outil de travail, pour les hommes, d'un instrument de torture. Les origines et les racines enlèvent à ce mot partie de son lustre et de sa brillance.

Le travail comme valeur

Pendant le deuxième millénaire, son sens s'altère et s'affaiblit. Au XIIe siècle, l'ancien français utilise invariablement «travailler» et «faire souffrir». Moralement ou physiquement, cela va de soi. Plus tard, travailler veut dire «molester», «endommager» ou «battre». L'expression «travailler les côtes de quelqu'un» vient de là. Elle donne ensuite naissance à une autre métaphore: «travailler l'adversaire au corps», qui laisse à penser que ledit adversaire devra passer un mauvais quart d'heure. Puis l'esprit, dans la vie de ce mot, prend le dessus sur le corps. «Travailler l'esprit» et son emploi familier «ça le travaille» ne sont que quelques expressions parmi tant d'autres qui marquent le changement. En même temps, comme le souligne Alain Rey, auteur du récent «Dictionnaire historique de la langue française»**, «l'idée de transformation de la matière l'emporte peu à peu sur celle de fatigue ou de peine». L'emprise de l'homme sur la nature ne peut finalement se faire que par le travail. Cela demande un effort certes, mais cet effort sera récompensé et dame nature maîtrisée.

Abondance du travail, rareté de l'emploi

On travaille le fer comme on travaille la pâte. On déforme les choses, on les métamorphose. La machine se met à travailler, ce qui réduit les souffrances de l'homme. La technique s'introduit dans les procédés de fabrication et le travail est élevé au rang des grandes valeurs. On arrive à créer tout en se créant, c'est du moins ce que disent certains théoriciens pour qui le travail est le chemin de la liberté. Curieux destin que celui de cet instrument de torture, le tripalium, qui va finalement permettre à l'homme de moins souffrir. La vie du mot «emploi» est un fleuve plus tranquille. Peu de variations de sens. Si «employer» est issu du latin implicare, qui signifie «plier dans» ou «entortiller, emmêler», ce mot est surtout utilisé dans le sens de «placer, faire usage de». Dans la Chanson de Roland, on employait des armes comme on employait des coups. A partir du XVIIe siècle, employer quelqu'un, c'était faire travailler cette personne à son compte. La notion de service était inoculée dans le terme. Dans le monde du spectacle, la locution figurée «avoir la gueule de l'emploi» montre à quel point le visage est l'outil de travail de l'acteur, ce prestataire de service. Mais le mot «emploi», bien que son histoire nous amène aux sources du latin, s'est affirmé et a pris place dans notre vocabulaire à partir du moment où il s'est acoquiné à l'économique et à l'anglais. En fait, ce terme tel qu'il est utilisé de nos jours est la traduction de employment et de to employ. Ainsi, l'idée de fonction et de charge en provenance de l'anglais devient dominante. La forme «plein-emploi», traduction littérale de full employment ne fait que confirmer cette relation de cousinage. Mais la confusion peut être grande entre ces deux termes. Si l'emploi est rare, le travail abonde. Trop souvent vu comme un bien, le travail n'est en fait qu'une ressource. Ce n'est qu'un input utilisé avec plus ou moins d'efficacité dans un processus de production. Si la population active augmente, par exemple, la ressource travail augmente aussi car il y a plus de bras pour œuvrer et de têtes pour réfléchir. Il n'en va pas de même pour l'emploi, qui est une demande de service et de savoir-faire de la part des entreprises. Or, c'est cette demande (l'emploi) qui tend à se raréfier. C'est elle qui dans certains segments de l'économie tend à se réduire comme peau de chagrin. Lorsque certains politiques proposent de partager le travail, alors que celui-ci est surabondant, ils ne font, en lustrant cette catastrophe sémantique, qu'augmenter la confusion et troubler le débat. Comme l'écrit Alain Rey: «Ces mots, nous croyons nous en servir, alors que bien souvent ce sont eux qui nous entraînent, par la charge que l'histoire a mise dans les sons et les lettres.» 

** «Dictionnaire historique de la langue française», Alain Rey. Editions Robert, Paris, 1998.

* Economiste, Université de Neuchâtel.

SOURCE: in https://www.letemps.ch/economie/jadis-instrument-torture-travail-su-faire-chemin