sábado, 26 de julho de 2014
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Ariano Suassuna morre aos 87 anos
Escritor brasileiro Ariano Suassuna morre aos 87 anos no Recife
Luís Miguel Queirós
(actualizado às )
Autor de O Auto da Compadecida, obra central da moderna dramaturgia brasileira, e do influente romance A Pedro do Reino, Suassuna foi um incansável defensor da cultura popular brasileira
http://www.publico.pt/ |
Depois do romancista João Ubaldo Ribeiro e do
filósofo, pedagogo e psicanalista Rubem Alves, que morreram,
respectivamente, nos dias 18 e 19, é o terceiro grande escritor que o
Brasil perde no espaço de uma semana.
Conhecido sobretudo como dramaturgo – e em particular pela peça O Auto da Compadecida,
que em 1956 o tornou célebre no Brasil e o deu a conhecer no
estrangeiro –, tem também uma breve mas relevante obra ficcional, da
qual se destaca Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), vulgo A Pedra do Reino, e ele próprio prezava a sua obra de poeta e lamentava que esta fosse comparativamente ignorada pelo público e pela crítica.
Activo
até ao fim, desempenhava funções como assessor do governador de
Pernambuco, último dos vários cargos públicos que ocupou, e que
incluíram diversos mandatos como secretário de Cultura do Estado de
Pernambuco.
Em Março deste ano, numa entrevista à TV Globo Nordeste, explicou que estava a acabar o seu novo livro, O Jumento Sedutor, no qual começara a trabalhar há mais de trinta anos.
Ariano Suassuna já tinha publicado poemas e várias peças de teatro – algumas delas premiadas, como Uma Mulher Vestida de Sol ou Auto de João Cruz, inspirado em folhetos de literatura de cordel, quando O Auto da Compadecida,
publicado em 1955, se torna um sucesso nacional. A peça seria depois
várias vezes adaptada ao cinema, primeiro pelo húngaro George Jonas (o
autor do livro em que Steven Spielberg baseou o seu Munique),
em 1969, com actores como Regina Duarte e Antônio Fagundes, e depois por
Roberto Farias e Guel Arraes, respectivamente em 1987 e 2000. Também o
seu romance A Pedra do Reino, que começou a escrever em 1958 e só publicou em 1971, deu origem a uma série televisiva, exibida em 2007 pela Globo.
Até
meados dos anos 50, Ariano Suassuna foi acumulando a escrita literária
com a advocacia, tendo depois trocado esta última pela docência
universitária. Em 1956, torna-se professor de Estética na então
Universidade do Recife (hoje Universidade Federal de Pernambuco), na
qual deu aulas durante mais de 30 anos, até se aposentar em 1989.
O
escritor foi ainda um dos fundadores e principais mentores do Movimento
Armorial, lançado no início da década de 70, que pretendia desenvolver o
conhecimento das diversas formas de expressão popular nordestina, da
música e da dança à literatura de cordel ou ao teatro de bonecos, e
criar as bases de uma arte erudita ancorada nessas raízes. Aos romances
que publicou nessa década de 70, o já citado Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão. Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificou-os o próprio autor como exemplos de “romance armorial-popular brasileiro”.
O assassinato do pai
Oitavo dos nove filhos do jurista e político João Suassuna e de Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano Suassuna nasceu a 16 de Junho de 1927 na cidade da Paraíba (hoje João Pessoa), capital do Estado homónimo. Mais precisamente, veio ao mundo no Palácio da Redenção, sede do Governo, uma vez que seu pai era então presidente (hoje dir-se-ia governador) do Estado da Paraíba.
Oitavo dos nove filhos do jurista e político João Suassuna e de Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano Suassuna nasceu a 16 de Junho de 1927 na cidade da Paraíba (hoje João Pessoa), capital do Estado homónimo. Mais precisamente, veio ao mundo no Palácio da Redenção, sede do Governo, uma vez que seu pai era então presidente (hoje dir-se-ia governador) do Estado da Paraíba.
Em 1928, o pai termina o mandato e regressa ao
interior, às suas origens sertanejas, instalando-se com a família numa
das suas propriedades, a fazenda Acauhan. Tornar-se-á depois deputado
federal e, nos poucos anos que lhe restam, viverá entre a sua
propriedade e a capital do Estado.
Envolvido nos acontecimentos
que precederam a revolução de 1930, que levaria ao poder Getúlio Vargas,
João Suassuna foi falsamente acusado de cumplicidade no assassinato de
João Pessoa, seu sucessor no governo do Estado da Paraíba e apoiante de
Vargas. Embora não tivesse tido qualquer intervenção no crime, o pai de
Ariano Suassuna foi morto a tiro em Outubro de 1930, no Rio de Janeiro,
num acto de retaliação pela morte de Pessoa.
Ariano tinha apenas
três anos e esta morte trágica iria marcar a sua vida e a sua obra. Do
pai, um homem culto, grande leitor, e que também cantava e compunha
versos, o futuro escritor herdou uma vasta biblioteca, na qual leu os
românticos ingleses, os romances de Eça de Queiroz – apreciava
especialmente A Cidade e as Serras –, ou Os Sertões, de Euclides da Cunha.
in http://www.publico.pt/
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Ricardo Salgado
noticias.pt.msn.com |
Publicado às 09.42, atualizado hoje às 19:24
Ricardo Salgado
deixou as instalações do Central de Instrução Criminal sob caução, de
três milhões de euros. O ex-presidente do BES seguiu para casa como
arguido, sob acusação de burla, falsificação de documentos e
branqueamento de capitais e abuso de confiança, após cerca de sete horas
de audição.
Ricardo Salgado foi detido, esta quinta-feira
de manhã, no âmbito da Operação Monte Branco. O ex-presidente executivo
do BES começou a ser ouvido na qualidade de arguido pelo juiz Carlos
Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), cerca das
10.30 horas. O interrogatório foi interrompido para almoço e recomeçou
após as 14 horas, tendo terminado por volta das 18 horas.
Ricardo Salgado sai em liberdade, mas sujeito ao pagamento de uma caução de três milhões de euros. O ex-presidente do BES, conhecido como o banqueiro mais poderoso do país, estará formalmente acusado de pelo menos quatro crimes: burla, falsificação de documentos e branqueamento de capitais e abuso de confiança.
O advogado de Ricardo Salgado, Francisco Proença de Carvalho, disse à saída do TCIC que o seu constituinte "colaborou com a justiça, prestou a sua visão sobre os factos e assim continuará, e agora seguirá para sua casa, normalmente".
Num comunicado divulgado depois, a Procuradoria-Geral da Republica (PGR) informa que, de acordo com a promoção do Ministério Público, foram aplicadas ao arguido as medidas de coação de "sujeição a caução, no montante de três milhões de euros, proibição de ausência do território nacional e proibição de contactos com determinadas pessoas".
Segundo a PGR, está em causa a "eventual prática de crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais".
A nota acrescenta que Ricardo Salgado manifestou o "propósito de prestar
declarações e de colaborar com a justiça para o esclarecimento dos
factos".
A PGR esclarece ainda que, no âmbito do processo Monte Branco, "foram identificados movimentos financeiros" que, numa primeira fase, levaram à inquirição como testemunha de Ricardo Salgado.
"Após essa audição prosseguiram diligências de investigação com a cooperação da Autoridade Tributária e Aduaneira, designadamente com a obtenção de elementos de prova por via da cooperação judiciária internacional, tendo sido recolhidos novos indícios que justificaram um conjunto de diligências de busca que, ontem [quarta-feira], foram levadas a cabo", explica o comunicado.
A detenção de Ricardo Salgado surge na sequência de buscas efetuadas na quarta-feira a várias entidades do Grupo Espírito Santo.
Ricardo Salgado sai em liberdade, mas sujeito ao pagamento de uma caução de três milhões de euros. O ex-presidente do BES, conhecido como o banqueiro mais poderoso do país, estará formalmente acusado de pelo menos quatro crimes: burla, falsificação de documentos e branqueamento de capitais e abuso de confiança.
O advogado de Ricardo Salgado, Francisco Proença de Carvalho, disse à saída do TCIC que o seu constituinte "colaborou com a justiça, prestou a sua visão sobre os factos e assim continuará, e agora seguirá para sua casa, normalmente".
Num comunicado divulgado depois, a Procuradoria-Geral da Republica (PGR) informa que, de acordo com a promoção do Ministério Público, foram aplicadas ao arguido as medidas de coação de "sujeição a caução, no montante de três milhões de euros, proibição de ausência do território nacional e proibição de contactos com determinadas pessoas".
Segundo a PGR, está em causa a "eventual prática de crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais".
A PGR esclarece ainda que, no âmbito do processo Monte Branco, "foram identificados movimentos financeiros" que, numa primeira fase, levaram à inquirição como testemunha de Ricardo Salgado.
"Após essa audição prosseguiram diligências de investigação com a cooperação da Autoridade Tributária e Aduaneira, designadamente com a obtenção de elementos de prova por via da cooperação judiciária internacional, tendo sido recolhidos novos indícios que justificaram um conjunto de diligências de busca que, ontem [quarta-feira], foram levadas a cabo", explica o comunicado.
A detenção de Ricardo Salgado surge na sequência de buscas efetuadas na quarta-feira a várias entidades do Grupo Espírito Santo.
in http://www.jn.pt/
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Notícias Nacionais
quarta-feira, 23 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
segunda-feira, 21 de julho de 2014
"...as agências de 'rating' estão aí outra vez."
Ontem 00:06
As agências voltaram para mal dos nossos pecados
António Costa
antonio.costa@economico.pt
Três anos depois da dívida pública
portuguesa cair na situação de ‘lixo' aos olhos dos investidores
internacionais, e de Portugal precisar da ajuda da ‘troika' para pagar
as suas contas, o peso e a força das agências de ‘rating' estão aí outra
vez.
Para nos recordarem que não há almoços grátis, e não
serão apenas as empresas e o banco apanhados nesta crise dos Espírito
Santo, também o próprio país.
Sabia-se que o sector bancário em Portugal não estava isento de pecados, sobretudo quando alimentou um Estado, e um Governo, até ao limite das suas possibilidades, quando andou meses a comprar dívida pública para disfarçar o que se verificou, o pedido de ajuda externa. Mas ninguém ousava antecipar, há seis meses, o que está hoje a suceder, por mais afirmações de que já se sabia tudo. Não se sabia, e, pior, do que se sabe, fica a sensação de que o pior ainda está para vir, os efeitos de choque num universo familiar e empresarial. Se isso já seria suficientemente mau, haverá ondas de choque macroeconómicas ainda difíceis de antecipar.
Há uma, evidente, que já se pode constatar. A confiança que o país recuperou nos últimos três anos, interrompida pela crise política do último Verão, está a perder-se todos os dias, bem-medida pela queda sucessiva da bolsa portuguesa, e mal-medida pelas decisões de investimento em Portugal que, a partir de agora, vão ficar no congelador.
A crise no GES/BES é que é um verdadeiro murro no estômago dos portugueses, as decisões negativas do Tribunal Constitucional às leis do Governo são uma brincadeira em comparação com os efeitos negativos que estão a verificar-se todos os dias, agravados pelas decisões das sempre-presentes agências de ‘rating'. Não podemos viver com elas, não podemos viver sem elas.
A bem do BES, do sistema financeiro e do país, a falência organizada do Grupo Espírito Santo (GES) deve avançar tão rapidamente quanto possível. É a única maneira de pôr fim a um ‘abcesso', como diz Fernando Ulrich, que pode infectar tudo o que está à volta.
PS: Henrique Granadeiro não fará parte da administração da nova empresa que resultar da fusão da PT e da Oi. Não podia. É o preço a pagar, a primeira factura, pela decisão de aumentar a aplicação da PT na Rioforte para 900 milhões de euros e ajudar um amigo. Mas terá sido o próprio a antecipar o que seria uma decisão inevitável dos accionistas no conselho de administração de quarta-feira da PT, quando foi selada a revisão do acordo da PT e da Oi, com prejuízo evidente para os portugueses. Não foi um pedido de demissão, foi um último acto de dignidade. O que lhe restava."
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Sociedade Aberta
domingo, 20 de julho de 2014
Homem ou mulher?
Homem ou mulher, eis a questão!
José António Saraiva, 28Mai2014
(in http://www.sol.pt/Mobile/noticia/106632)
Tenho
escrito com alguma frequência sobre os sinais de decadência da
civilização ocidental. Foi uma civilização que engordou, aburguesou-se e
perdeu o nervo. Esses sinais de decadência são, em geral, comuns a
outras civilizações em iguais períodos. No declínio do Império Romano
verificaram-se muitos dos sintomas que hoje observamos nos corpos
doentes das nossas sociedades: sobrevalorização do prazer em detrimento
do dever, explosão dos sentidos, confusão de valores, desaparecimento de
referências, ausência de ojectivos colectivos, avanço da
homossexualidade, instabilidade familiar, etc. Quando abrimos a TV, há
uma frase que se ouve constantemente nos programas de grande audiência:
"Isto é superdivertido!". O mais importante nos dias de hoje é ser
'superdivertido'.
O
último sinal deste trajecto descendente do nosso mundo foi o último
Festival Eurovisão da Canção, onde uma mulher com barba - uma cantora
com nome de homem ou vice-versa - saiu vencedora. A impressão causada
foi de confusão total. E mesmo quem, de espírito aberto, se dispusesse a
perceber o que estava a acontecer, deve ter tido a sensação de que tudo
está a andar depressa demais.
Uma mulher com barba ganhar o eurofestival? Será possível?
E
qual terá sido o objectivo de quem criou tão insólita figura - e,
sobretudo, de quem a premiou? Dizer que o género não existe? Que homem e
mulher tendem a fundir-se num ser sem género, nem homem nem mulher?
Pensar nisto recorda-me, vá lá saber-se porquê, uns animais híbridos que
são produto dos cruzamentos entre os cavalos e os burros. Chamam-se
'machos' e 'mulas', e não podem reproduzir-se porque são estéreis. Mas
se a mensagem 'filosófica' do eurofestival foi essa, então estamos
perante uma manifestação de nihilismo, de desesperança, de anúncio do
fim dos tempos. Claro que isto não teria qualquer importância e seria
levado à conta de brincadeira se tivesse acontecido num qualquer
festival alternativo ou num concurso promovido por canais de televisão
tipo SIC Radical. Mas o que causa perplexidade é ter ocorrido num
concurso organizado por estações de referência e contar com os votos de
350 milhões de telespectadores. Parece que o culto do absurdo, que até
pouco era apanágio de minorias que desafiavam o status quo, se tornou
subitamente um fenómeno de massas. E isso assusta. Que as minorias sejam
respeitadas (e até acarinhadas), é saudável. Que as minorias ocupem
subitamente o palco e transformem as suas práticas minoritárias em
hábitos correntes, tal constitui um sinal muito perigoso pois conduz
directamente à perda de referências.
O
que pensará uma criança de cinco anos ao ver no ecrã da sua televisão
uma mulher com barba a cantar num palco iluminado, aplaudida por
milhares de pessoas?
Repetem
os apoiantes da mulher barbuda que se tratou de uma demonstração de
liberdade, para mostrar que toda a gente pode fazer o que quer desde que
não interfira com a liberdade do outro. A questão da liberdade não é
assim tão simples. Um dia destes, um canal transmitia um programa sobre
nudistas em que um deles protestava porque o padre da aldeia não os
deixava entrar nus na igreja. E dizia que isso era uma manifestação de
"mentalidade medieval", acrescentando, porém, que havia cada vez menos
pessoas assim. Esta última frase vai ao encontro do apoio à mulher
barbuda. Todas as sociedades vivem de convenções, de regras não escritas
mas comummente aceites. Quando essa base estala, sucede-se a confusão e
o caos.
Enquanto
a farsa do eurofestival sucedia do lado de cá, do outro lado da antiga
'Cortina de Ferro' o senhor Putin, um homem gelado e sem escrúpulos,
sorria. Mais tarde, o vice-presidente do Parlamento, Vladimir
Zhirinovsky, diria: "Eles já não têm homens e mulheres. Têm 'aquilo'.
Libertámos a Áustria há 50 anos mas não o devíamos ter feito". Nós
rimo-nos desta frase. Mas não devíamos fazê-lo. É muito perigoso rir dos
nossos inimigos. Sobretudo quando são poderosos.
Vladimir
Putin assiste aos sinais de decadência da Europa ocidental e nós vamos
dando-lhe razões para sorrir. Quando os ucranianos reclamam pela ligação
ao Ocidente, quando denunciam o imperialismo russo, o
vice-primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Rogozin, responde: "[O
eurofestival] mostrou aos que defendem a integração europeia o seu
futuro europeu: uma rapariga de barba".
Esta
vitória de uma drag queen no maior festival europeu de música ligeira
foi um inesperado presente que a Europa deu aos russos no momento em que
se discute a Crimeia e o futuro da Ucrânia. Porque do lado de lá
presta-se ao ridículo e do lado de cá enfraquece a opinião pública.
Muitos europeus, sobretudo os conservadores mas não só, começam a
duvidar dos caminhos por onde isto vai - e a olhar com um misto de
inveja e receio para o lado de lá, onde há ordem, autoridade e ainda não
se confundem os sexos…
A
democracia tornou-se uma barriga de aluguer onde estão a germinar todas
as sementes da sua destruição. A indisciplina nas escolas; a
dificuldade que a Justiça revela de punir e condenar os culpados; a luta
política constante e desgastante, dificultando a identificação de
objectivos nacionais; a generalização do consumo de drogas; a perda de
uma base de regras comummente aceites - tudo isto se volta contra a
democracia e a enfraquece. Em vez de se fortalecer, de se enrijar com o
tempo, a democracia vai-se desfazendo, como a madeira corroída pelo
caruncho. O regime democrático já não tem nada a que se agarrar para lá
do voto - e aí as coisas também não estão bem, pois a abstenção é cada
vez maior.
E
isto não é um problema dos governos, nem dos défices, nem da
austeridade, nem dos cortes de salários e pensões, nem de nada disso.
Aliás, a senhora Merkel - educada no Leste - é que tem, ainda assim,
posto alguma ordem no convento. Caso contrário, o regabofe seria maior:
cada país fazia o que queria, não havia controlo das contas nem de nada,
era a rebaldaria completa.
Por
razões de vária ordem, eu tive uma educação bastante avançada para o
seu tempo. Depois de acabar o liceu, tirei o curso superior numa Escola
de Belas-Artes onde o ambiente era muito permissivo, recheado de
candidatos e candidatas a 'artistas', com todos os sinais exteriores que
poderão imaginar-se. Quando ainda estudava, comecei a trabalhar num
ateliê de arquitectura (liderado pelo arquitecto Manuel Tainha) onde
todos abraçávamos entusiasticamente as correntes modernistas. E depois
dirigi durante mais de duas décadas um jornal (o Expresso) onde o
ambiente era efervescente. Convivi permanentemente com a modernidade e
pratiquei-a, conheci muita gente à frente do seu tempo. Vi e li muito.
E, no entanto, se me dissessem que uma cantora com barba ia ganhar um
dia o Festival da Eurovisão, eu consideraria isso uma completa
impossibilidade.
Julgo
que muita gente que vai atrás destes fenómenos, que abraça sofregamente
o politicamente correcto, não o faz por convicção mas por medo de
parecer antiquada, old fashion, bota-de-elástico. Ninguém quer parecer
mal. É sempre a história do rei vai nu. Como sucedeu neste caso, a
sociedade ocidental pode pôr-se subitamente a representar uma peça de
Ionesco pensando que é a própria realidade.
A
explosão dos media, do online, das redes sociais, faz-nos viver
aceleradamente tempos perigosos. Entrou-se noutra dimensão. Os fenómenos
de imitação, por mais absurdos que por vezes se apresentem, alastram
como fogo em palha. Embora eu não seja católico, perante esta vitória
de uma mulher barbuda num festival organizado pelos canais ditos
'sérios' e emitido em canal aberto no horário nobre das televisões, só
me ocorre dizer: "Valha-nos Deus!".
imagem obtida em: caras.sapo.pt |
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