sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ariano Suassuna morre aos 87 anos

Escritor brasileiro Ariano Suassuna morre aos 87 anos no Recife



Autor de O Auto da Compadecida, obra central da moderna dramaturgia brasileira, e do influente romance A Pedro do Reino, Suassuna foi um incansável defensor da cultura popular brasileira
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Conhecido sobretudo como dramaturgo, 
Ariano Suassuna tem também uma breve 
mas relevante obra ficcional 
Depois do romancista João Ubaldo Ribeiro e do filósofo, pedagogo e psicanalista Rubem Alves, que morreram, respectivamente, nos dias 18 e 19, é o terceiro grande escritor que o Brasil perde no espaço de uma semana.
Conhecido sobretudo como dramaturgo – e em particular pela peça O Auto da Compadecida, que em 1956 o tornou célebre no Brasil e o deu a conhecer no estrangeiro –, tem também uma breve mas relevante obra ficcional, da qual se destaca Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), vulgo A Pedra do Reino, e ele próprio prezava a sua obra de poeta e lamentava que esta fosse comparativamente ignorada pelo público e pela crítica.  
Activo até ao fim, desempenhava funções como assessor do governador de Pernambuco, último dos vários cargos públicos que ocupou, e que incluíram diversos mandatos como secretário de Cultura do Estado de Pernambuco.
Em Março deste ano, numa entrevista à TV Globo Nordeste, explicou que estava a acabar o seu novo livro,  O Jumento Sedutor, no qual começara a trabalhar há mais de trinta anos.
Ariano Suassuna já tinha publicado poemas e várias peças de teatro – algumas delas premiadas, como Uma Mulher Vestida de Sol ou Auto de João Cruz, inspirado em folhetos de literatura de cordel, quando O Auto da Compadecida, publicado em 1955, se torna um sucesso nacional. A peça seria depois várias vezes adaptada ao cinema, primeiro pelo húngaro George Jonas (o autor do livro em que Steven Spielberg baseou o seu Munique), em 1969, com actores como Regina Duarte e Antônio Fagundes, e depois por Roberto Farias e Guel Arraes, respectivamente em 1987 e 2000. Também o seu romance A Pedra do Reino, que começou a escrever em 1958 e só publicou em 1971, deu origem a uma série televisiva, exibida em 2007 pela Globo.
Até meados dos anos 50, Ariano Suassuna foi acumulando a escrita literária com a advocacia, tendo depois trocado esta última pela docência universitária. Em 1956, torna-se professor de Estética na então Universidade do Recife (hoje Universidade Federal de Pernambuco), na qual deu aulas durante mais de 30 anos, até se aposentar em 1989.
O escritor foi ainda um dos fundadores e principais mentores do Movimento Armorial, lançado no início da década de 70, que pretendia desenvolver o conhecimento das diversas formas de expressão popular nordestina, da música e da dança à literatura de cordel ou ao teatro de bonecos, e criar as bases de uma arte erudita ancorada nessas raízes. Aos romances que publicou nessa década de 70, o já citado Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão. Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificou-os o próprio autor como exemplos de “romance armorial-popular brasileiro”.
O assassinato do pai
Oitavo dos nove filhos do jurista e político João Suassuna e de Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano Suassuna nasceu a 16 de Junho de 1927 na cidade da Paraíba (hoje João Pessoa), capital do Estado homónimo. Mais precisamente, veio ao mundo no Palácio da Redenção, sede do Governo, uma vez que seu pai era então presidente (hoje dir-se-ia governador) do Estado da Paraíba.
Em 1928, o pai termina o mandato e regressa ao interior, às suas origens sertanejas, instalando-se com a família numa das suas propriedades, a fazenda Acauhan. Tornar-se-á depois deputado federal e, nos poucos anos que lhe restam, viverá entre a sua propriedade e a capital do Estado.
Envolvido nos acontecimentos que precederam a revolução de 1930, que levaria ao poder Getúlio Vargas, João Suassuna foi falsamente acusado de cumplicidade no assassinato de João Pessoa, seu sucessor no governo do Estado da Paraíba e apoiante de Vargas. Embora não tivesse tido qualquer intervenção no crime, o pai de Ariano Suassuna foi morto a tiro em Outubro de 1930, no Rio de Janeiro, num acto de retaliação pela morte de Pessoa.
Ariano tinha apenas três anos e esta morte trágica iria marcar a sua vida e a sua obra. Do pai, um homem culto, grande leitor, e que também cantava e compunha versos, o futuro escritor herdou uma vasta biblioteca, na qual leu os românticos ingleses, os romances de Eça de Queiroz – apreciava especialmente A Cidade e as Serras –, ou Os Sertões, de Euclides da Cunha.
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