Ontem 00:06
As agências voltaram para mal dos nossos pecados
António Costa
antonio.costa@economico.pt
Três anos depois da dívida pública
portuguesa cair na situação de ‘lixo' aos olhos dos investidores
internacionais, e de Portugal precisar da ajuda da ‘troika' para pagar
as suas contas, o peso e a força das agências de ‘rating' estão aí outra
vez.
Para nos recordarem que não há almoços grátis, e não
serão apenas as empresas e o banco apanhados nesta crise dos Espírito
Santo, também o próprio país.
Sabia-se que o sector bancário em Portugal não estava isento de pecados, sobretudo quando alimentou um Estado, e um Governo, até ao limite das suas possibilidades, quando andou meses a comprar dívida pública para disfarçar o que se verificou, o pedido de ajuda externa. Mas ninguém ousava antecipar, há seis meses, o que está hoje a suceder, por mais afirmações de que já se sabia tudo. Não se sabia, e, pior, do que se sabe, fica a sensação de que o pior ainda está para vir, os efeitos de choque num universo familiar e empresarial. Se isso já seria suficientemente mau, haverá ondas de choque macroeconómicas ainda difíceis de antecipar.
Há uma, evidente, que já se pode constatar. A confiança que o país recuperou nos últimos três anos, interrompida pela crise política do último Verão, está a perder-se todos os dias, bem-medida pela queda sucessiva da bolsa portuguesa, e mal-medida pelas decisões de investimento em Portugal que, a partir de agora, vão ficar no congelador.
A crise no GES/BES é que é um verdadeiro murro no estômago dos portugueses, as decisões negativas do Tribunal Constitucional às leis do Governo são uma brincadeira em comparação com os efeitos negativos que estão a verificar-se todos os dias, agravados pelas decisões das sempre-presentes agências de ‘rating'. Não podemos viver com elas, não podemos viver sem elas.
A bem do BES, do sistema financeiro e do país, a falência organizada do Grupo Espírito Santo (GES) deve avançar tão rapidamente quanto possível. É a única maneira de pôr fim a um ‘abcesso', como diz Fernando Ulrich, que pode infectar tudo o que está à volta.
PS: Henrique Granadeiro não fará parte da administração da nova empresa que resultar da fusão da PT e da Oi. Não podia. É o preço a pagar, a primeira factura, pela decisão de aumentar a aplicação da PT na Rioforte para 900 milhões de euros e ajudar um amigo. Mas terá sido o próprio a antecipar o que seria uma decisão inevitável dos accionistas no conselho de administração de quarta-feira da PT, quando foi selada a revisão do acordo da PT e da Oi, com prejuízo evidente para os portugueses. Não foi um pedido de demissão, foi um último acto de dignidade. O que lhe restava."
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