sábado, 28 de dezembro de 2013

"Um dia no ano 2014...", por Concha Caballero


EL DIA QUE ACABO LA CRISIS por CONCHA CABALLERO
Concha Caballero
imagem obtida em: http://teatrevesadespertar.wordpress.com
O Dia em que acabou a crise.

Quando terminar a recessão teremos perdido 30 anos de direitos e salários.

Um dia no ano 2014 vamos acordar e vão anunciar-nos que a crise terminou. Correrão rios de tinta escrita com as nossas dores, celebrarão o fim do pesadelo, vão fazer-nos crer que o perigo passou embora nos advirtam que continua a haver sintomas de debilidade e que é necessário ser muito prudente para evitar recaídas. Conseguirão que respiremos aliviados, que celebremos o acontecimento, que dispamos a atitude critica contra os poderes e prometerão que, pouco a pouco, a tranquilidade voltará à nossas vidas.

Um dia no ano 2014, a crise terminará oficialmente e ficaremos com cara de tolos agradecidos, darão por boas as politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrocel da economia. Obviamente a crise ecológica, a crise da distribuição desigual, a crise da impossibilidade de crescimento infinito permanecerá intacta mas essa ameaça nunca foi publicada nem difundida e os que de verdade dominam o mundo terão posto um ponto final a esta crise fraudulenta (metade realidade, metade ficção), cuja origem é difícil de decifrar mas cujos objetivos foram claros e contundentes
- Fazer-nos retroceder 30 anos em direitos e em salários.

Um dia no ano 2014, quando os salários tiverem descido a níveis terceiro-mundistas; quando o trabalho for tão barato que deixe de ser o fator determinante do produto; quando tiverem feito ajoelhar todas as profissões para que os seus saberes caibam numa folha de pagamento miserável; quando tiverem amestrado a juventude na arte de trabalhar quase de graça; quando dispuserem de uma reserva de uns milhões de pessoas desempregadas dispostas a ser polivalentes, descartáveis e maleáveis para fugir ao inferno do desespero, então a crise terá terminado.

Um dia do ano 2014, quando os alunos chegarem às aulas e se tenha conseguido expulsar do sistema educativo 30% dos estudantes sem deixar rastro visível da façanha; quando a saúde se compre e não se ofereça; quando o estado da nossa saúde se pareça com o da nossa conta bancária; quando nos cobrarem por cada serviço, por cada direito, por cada benefício; quando as pensões forem tardias e raquíticas; quando nos convençam que necessitamos de seguros privados para garantir as nossas vidas, então terá acabado a crise.

Um dia do ano 2014, quando tiverem conseguido nivelar por baixo todos e toda a estrutura social (exceto a cúpula posta cuidadosamente a salvo em cada sector), pisemos os charcos da escassez ou sintamos o respirar do medo nas nossas costas; quando nos tivermos cansado de nos confrontarmos uns aos outros e se tenham destruído todas as pontes de solidariedade. Então anunciarão que a crise terminou.

Nunca em tão pouco tempo se conseguiu tanto. Somente cinco anos bastaram para reduzir a cinzas direitos que demoraram séculos a ser conquistados e a estenderem-se. Uma devastação tão brutal da paisagem social só se tinha conseguido na Europa através da guerra.
Ainda que, pensando bem, também neste caso foi o inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as condições do armistício.

Por isso, não só me preocupa quando sairemos da crise, mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só fazer-nos mais pobres e desiguais, mas também mais cobardes e resignados já que sem estes últimos ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam entraria novamente em disputa.

Neste momento puseram o relógio da história a andar para trás e ganharam 30 anos para os seus interesses. Agora faltam os últimos retoques ao novo marco social: Um pouco mais de privatizações por aqui, um pouco menos de gasto público por ali e“voila”: A sua obra estará concluída.

Quando o calendário marque um qualquer dia do ano 2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa rendição.

Concha Caballero é licenciada em Filologia Espanhola e professora de literatura num instituto público.

Abandonou a politica dececionada com a coligação eleitoral do seu partido.

Há anos que passou do exercício da politica ativa para analista e articulista, social e politica, de vários meios de comunicação, com destaque para o EL PAÍS.

É uma amante da literatura e firmemente humana com as questões sociais.

Clique no link abaixo e leia o artigo Original em Castelhano

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Bom Natal, Festas Felizes...

Letra da canção de Natal "Natal d'Elvas"

imagem obtida em: http://aagora.blogspot.pt/2012/12/resumo.html
NATAL D'ELVAS 
Hei-de ir ao Presépio 

Eu hei-de m'ir ao presépio 
A assentar-me num cantinho
 A ver com'o Deus Menino 
Nasceu lá tão pobrezinho. 
 Ó meu Menino Jesus,
 Que tendes, por que chorais? 
Deu-me minha mãe um beijo, 
Choro por que me dê mais. 
 O Menino chora, chora, 
Chora por muita razão: 
Fizeram-lhe a cama curta 
Tem os pezinhos no chão.

Natal d'Elvas

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A consoada...

visao.sapo.pt
















O significado de consoada é:

con·so·a·da (latim consolata, feminino de consolatus, -a, -um, particípio de consolo, -are, consolar) substantivo feminino 1. Pequena refeição que os católicos tomam à noite quando jejuam. 2. Banquete ou refeição festiva na noite de Natal. 3. Presente que se dá pelo Natal. Palavras relacionadas: consolo, , consoar, natalício, consoltório, consoladamente, console. "consoada", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/consoada [consultado em 27-12-2013]. http://www.priberam.pt/dlpo/consoada

www.caestamosnos.org 
www.caestamosnos.org 
imagem conseguida em:ericeiravillas.wordpress.com

domingo, 22 de dezembro de 2013

Um texto delicioso...

imagem obtida em: esabelsalazar.pt
Estão na moda as despedidas da escrita antiga, 
agora que o Acordo Ortográfico vai, contra ventos, 
marés e Graças Mouras, entrar definitivamente em 
vigor.

Ontem, chegou-me este delicioso texto:

"Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou 
pirraça, o computador retira automaticamente o 
c na pretensão de me ensinar a nova grafia. 
De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, 
eu próprio vou tirando as consoantes que, 
ao que parece, estavam a mais na língua 
portuguesa. 

Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto 
fizeram por mim. 

São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma 
discreta e silenciosa como todos estes cês 
e pês me acompanharam em tantos textos e 
livros desde a infância. 
Na primária, por vezes gritavam ofendidos na 
caneta vermelha da professora: 
não te esqueças de mim! 

Com o tempo, fui-me habituando à sua existência 
muda, como quem diz, sei que não falas, 
mas ainda bem que estás aí. 
E agora as palavras já nem parecem as mesmas. 
O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um 
dia para o outro, passei a trabalhar numa 
redação, que há espetadores nos espetáculos e 
alguns também nos frangos, que os atores 
atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus 
sapatos. 

Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou 
algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como 
neorrealismo ou autorretrato. 
Caíram hifenes e entraram erres que andavam 
errantes. É uma união de facto, para não errar tenho 
a obrigação de os acolher como se fossem família. 

Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma 
linha entre eles, porque já não se entendem. 
Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, 
os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu.
E os meses perderam importância e dignidade, não 
havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, 
março são tão importantes como peixe, flor, avião. 
Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas 
palavras são uma autêntica deceção, mas por outro 
lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos. 
Como um menino que muda de escola, sei que vou 
ter saudades, mas é tempo de crescer e 
encontrar novos amigos.

Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do 

cê não me faça perder a direção, nem me fracione, 
nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. 
Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser 
atual nem atuante com um cê a atrapalhar."

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O texto está muito interessante, mas é pena não se saber quem é o autor...!