domingo, 20 de março de 2011

Nos tempos que correm...

Não há dúvida de que estamos a passar por tempos muito difíceis e, permanentemente, são denunciadas situações sociais bem graves.

Algumas delas, citadas no artigo que se segue, fazem-nos pasmar e deixam-nos revoltados, pois devido a elas, há tantas diferenças entre uns e outros; assim se explica por que "uns, têm tudo, e outros...nada"! Parece uma "expressão já muito batida", mas está a tornar-se cada vez mais verdadeira.

Há uns, que encontram facilidades em tudo o que pretendem atingir na vida; por outro lado, há  outros que têm de travar uma luta constante e "herculea", para conseguir uma vida normal, condigna, sofrendo as maiores agruras! E quantas vezes, mesmo lutando herculeamente, há quem nada consiga...

Há articulistas que têm conhecimento comprovado (só assim o posso aceitar) de muitas situações inaceitáveis em relação ao que devem ser os princípios e valores pelos quais nos devemos reger.

Por isso, corajosamente, decidem trazer a lume a verdade e, também por  isso decidi transcrever esta que acabei de ler, por achar importante que todos nós tomemos conhecimento dela. Servirá, não só para reflexão como decerto, nos ajuda a comprender por que razão o nosso país passa frequentemente, por momentos tão dramáticos, onde pretender levar uma vida normal, quase parece inacessível.


"Ontém, vendo os meus feitores"

Obrigadinho pela vergonha

FERREIRA FERNANDES, artigo publicado no DN, 2011-03-03

A todos os bancários com 58 anos que estão há dez anos na reforma.

A todos os jornalistas com dentaduras como teclados de piano pagas quase de borla antes que lhes tirassem essa trafulhice.

A todos os maus professores que subiram na carreira só porque passaram tantos anos no ensino quanto os passados pelos bons professores.

A todos os mestrandos com idade para saber que nunca exercerão o que estudam, mas que vão aproveitando porque entretanto sempre vai pingando a bolsa obtida graças à influência de um familiar.

A todos os condutores de Mercedes que o têm porque o seu nível de patamar do emprego diz "direito a carro de classe X", quando a qualidade com que exercem o trabalho seria mais para andar de burro.

A todos os autarcas que fizeram obras em casa e não precisaram de pagar por elas.

A todos, pobres e ricos, donos de jantes de liga leve e filhos com educação ainda mais leve.

A todos os que lá em casa bebem vinho vulgar mas durante a semana, com factura metida na tesouraria da empresa, hesitam entre o Pera Manca e um Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa.

A todos os empresários que declaram às Finanças prejuízo e aos amigos declaram que este ano vai ser Maldivas.

A todos: obrigado. Ontem, vendo os meus feitores, humildes e com a boina enrodilhada nas mãos, prestando contas à dona alemã da quinta, senti a minha parte da vergonha.

Mas a todos, obrigado: graças a vocês sei que há maiores culpados."
 
Palavras para quê?

As únicas que me ocorrem são: "Vamos lutar todos juntos para que isto deixe de acontecer"!

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