Não há dúvida de que estamos a passar por tempos muito difíceis e, permanentemente, são denunciadas situações sociais bem graves.
Algumas delas, citadas no artigo que se segue, fazem-nos pasmar e deixam-nos revoltados, pois devido a elas, há tantas diferenças entre uns e outros; assim se explica por que "uns, têm tudo, e outros...nada"! Parece uma "expressão já muito batida", mas está a tornar-se cada vez mais verdadeira.
Há uns, que encontram facilidades em tudo o que pretendem atingir na vida; por outro lado, há outros que têm de travar uma luta constante e "herculea", para conseguir uma vida normal, condigna, sofrendo as maiores agruras! E quantas vezes, mesmo lutando herculeamente, há quem nada consiga...
Há articulistas que têm conhecimento comprovado (só assim o posso aceitar) de muitas situações inaceitáveis em relação ao que devem ser os princípios e valores pelos quais nos devemos reger.
Por isso, corajosamente, decidem trazer a lume a verdade e, também por isso decidi transcrever esta que acabei de ler, por achar importante que todos nós tomemos conhecimento dela. Servirá, não só para reflexão como decerto, nos ajuda a comprender por que razão o nosso país passa frequentemente, por momentos tão dramáticos, onde pretender levar uma vida normal, quase parece inacessível.
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"Ontém, vendo os meus feitores"
Obrigadinho pela vergonha
FERREIRA FERNANDES, artigo publicado no DN, 2011-03-03
A todos os bancários com 58 anos que estão há dez anos na reforma.
A todos os jornalistas com dentaduras como teclados de piano pagas quase de borla antes que lhes tirassem essa trafulhice.
A todos os maus professores que subiram na carreira só porque passaram tantos anos no ensino quanto os passados pelos bons professores.
A todos os mestrandos com idade para saber que nunca exercerão o que estudam, mas que vão aproveitando porque entretanto sempre vai pingando a bolsa obtida graças à influência de um familiar.
A todos os condutores de Mercedes que o têm porque o seu nível de patamar do emprego diz "direito a carro de classe X", quando a qualidade com que exercem o trabalho seria mais para andar de burro.
A todos os autarcas que fizeram obras em casa e não precisaram de pagar por elas.
A todos, pobres e ricos, donos de jantes de liga leve e filhos com educação ainda mais leve.
A todos os que lá em casa bebem vinho vulgar mas durante a semana, com factura metida na tesouraria da empresa, hesitam entre o Pera Manca e um Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa.
A todos os empresários que declaram às Finanças prejuízo e aos amigos declaram que este ano vai ser Maldivas.
A todos: obrigado. Ontem, vendo os meus feitores, humildes e com a boina enrodilhada nas mãos, prestando contas à dona alemã da quinta, senti a minha parte da vergonha.
Mas a todos, obrigado: graças a vocês sei que há maiores culpados."
Palavras para quê?
As únicas que me ocorrem são: "Vamos lutar todos juntos para que isto deixe de acontecer"!
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