sexta-feira, 25 de maio de 2018

Homenagem a Júlio Pomar

in:expresso.sapo.pt

Presto aqui a minha homenagem a um dos nossos maiores artistas plásticos! Júlio Pomar, foi um importante pintor português contemporâneo, um grande nome da cultura portuguesa.




"Personagem fundamental da pintura neorrealista portuguesa, que ajudou a definir desde 1945, Pomar construiu, depois, a partir de meados dos anos 50, uma obra marcada pela metamorfose formal e pela abrangência temática. Gente do seu tempo, figuras mitológicas, acontecimentos, histórias e os seus escritores, ideias, corpos. Aparentemente, pintou tudo e de muitas maneiras, com humor e acutilância e assim, como poucos, ajudou a configurar o imaginário visual português da segunda metade do século XX. Nascido em Lisboa em 1926, frequenta ainda adolescente a Escola António Arroio e a Escola de Belas-Artes de Lisboa que trocará, em 1944, pela do Porto. É num contexto de militância política que participa na aventura do neorrealismo, um movimento empenhado na transformação social e na luta contra a ditadura (que o prende em 1947) cujos modelos estéticos se filiam mais evidentemente no muralismo mexicano de Orozco e Siqueiros ou no regionalismo do americano Thomas Hart Benton do que no realismo socialista soviético. A produção desses anos, em que expôs nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (1945-56), inclui algumas das obras mais marcantes como o “Gadanheiro” (1945) quadro-manifesto do neorrealismo ou “O almoço do trolha” (1946-50) e é acompanhada por uma especulação teórica continuada (iniciada no suplemento Arte do jornal A Tarde em 1945) que, em grande medida, definir os contornos do movimento para além do realismo “imitativo”, na recusa da abstração e em favor de uma pintura que fosse uma linguagem rica e expressiva mas socialmente comprometida. A sua pintura começa a afastar-se do programa neorrealista em meados de 50, libertando o gesto pictórico e diversificando as temáticas o que não exclui definitivamente a erupção do popular e do social. Os anos 60 ficam marcados pela sua partida para Paris (1963) e por um conjunto de séries como as “Tauromaquias” e “Les Courses” (Corridas de Cavalos) onde se exprime uma figuração mais fluída e dinâmica repleta de sobreposições cromáticas. Uma outra metamorfose nos espera no final da década com os ciclos dedicados ao Rugby e ao Maio de 68 nos quais predominam as formas sintéticas quase abstratas que se manifestarão ainda, e de forma diferente, nos corpos fragmentados e nos retratos dos anos 70. Outros caminhos são depois explorados através da incorporação continuada da colagem em desconstruções eróticas e pela recorrência da figura do tigre. A literatura, que esteve sempre presente através da prática da ilustração, ganha nova predominância na década de 80: os universos de Baudelaire, Pessoa, Poe ou a mitologia, mas também os índios xingu da amazónia, com quem convive uma temporada, entram na sua pintura em tons feéricos e linhas vibrantes. Esta estética inconfundível vai ampliar-se em formato e alcance em pinturas dos anos 90 e já do século XXI, assimilando ou retomando referências tão diversas como a Odisseia, Frida Kahlo, Lewis Carroll ou D. Quixote. Simbolicamente, o início dos anos 90 fica ainda marcado pela realização do retrato oficial do presidente Mário Soares que se destaca pela sua informalidade. No caso de Pomar, porém, falar da pintura é contar só parte da história. A sua produção estende-se abundantemente a áreas como o desenho, ilustração gravura, cerâmica, escultura e “assemblage” para além da arte pública (Por ex. o cinema Batalha, no Porto; a estação de metro do Alto dos Moinhos em Lisboa, mas também intervenções em Brasília ou Bruxelas), do ensaísmo e da poesia. Nas últimas décadas a sua obra foi sendo profusamente reexaminada: a Fundação Gulbenkian dedicou-lhe uma retrospetiva em 1978. Uma exposição antológica itinerou pelo Brasil em 1990. “Autobiografia” (Museu Berardo, Sintra) e a “A Comédia Humana” (CCB) mostraram-se em 2004 e, em 2008, foi a vez de Serralves apresentar “Júlio Pomar: cadeia da relação”. Mais recentemente, vem sendo revisitado em diálogo com artistas de gerações posteriores (de Julião Sarmento a Rui Chafes ou Igor Jesus) no atelier-museu Júlio Pomar, em Lisboa, com uma naturalidade que ajuda a perceber porque a sua obra se mantém relevante tantas décadas depois do seu início. Ao mesmo tempo, foram-se sucedendo as distinções: em 1993 é lhe atribuído o prémio AICA; em 2000, o prémio Celpa/Vieira da Silva e, em 2003, o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. As condecorações incluem a Grã-Cruz da ordem do mérito; a Ordem da Liberdade, em 2004. A França tornou-o cavaleiro da ordem das artes e das letras no mesmo ano. Agora que se conclui, um olhar retrospectivo sobre esta obra ajuda a entender como ela permaneceu fiel a um conjunto de condições (a figuração, a consciência do mundo, o alimento literário) ao mesmo tempo que se ia abrindo estilisticamente a uma multiplicidade de contaminações sem nunca perder a sua identidade essencial nem o lugar central que há muito possui no panorama artístico português."
(in: expresso.sapo.pt 22.05.2018
"Júlio Artur da Silva Pomar (Lisboa, 10 de janeiro de 1926 — Lisboa, 22 de maio de 2018) foi um artista plástico/pintor português. Pertenceu à 3ª geração de pintores modernistas portugueses, sendo autor de uma obra multifacetada, centrada na pintura, desenho, cerâmica e gravura, com importantes desenvolvimentos nos domínios da tridimensão (esculturaassemblage) ou da escrita. Os primeiros anos da sua carreira estão ligados à resistência contra o regime do Estado Novo e à afirmação do movimento neorrealista em Portugal, marcando a especificidade deste no contexto europeu. Teve uma ação artística e cívica intensa ao longo das décadas de 1940 e 1950 e é consensualmente considerado o mais destacado dos cultores do neorrealismo nacional. Começa a distanciar-se do ativismo político e do idioma figurativo inicial na segunda metade da década de 1950 e, em 1963, radica-se em Paris. Sem nunca abandonar o pendor figurativo, liberta-se do compromisso neorrealista, enveredando pela "exploração de práticas pictóricas diversas que o centrarão na pintura enquanto tal, interrogando as suas formas, composições e processos, pintando das mais variadas maneiras na exploração ou na recusa das possibilidades que o seu tempo lhe abriu". Ao longo das últimas quatro décadas tem abordado uma grande variedade de universos temáticos, da reflexão autorreferencial ao erotismo, do retrato às alusões literárias e matéria mitológica. E do ponto de vista formal encontramos idêntica riqueza de meios e soluções. "A obra de Júlio Pomar constrói sucessivas cadeias de relações formais e semânticas entre os diferentes materiais, processos e técnicas". Grandes exposições realizadas nas últimas décadas (Fundação Calouste GulbenkianMuseu de Arte Contemporânea de SerralvesSintra Museu de Arte Moderna – Coleção Berardo; museus de São PauloRio de JaneiroBrasília; etc.) consagraram a sua obra, que se destaca como uma das mais significativas expressões da criação artística portuguesa contemporânea."
(in: pt.wikipedia.org)

"Júlio Pomar
Júlio Pomar nasceu em Lisboa, em 1926. Aos 8 anos um escultor amigo da família leva-o a frequentar como aluno livre as suas aulas de desenho na, então, Escola de Arte Aplicada António Arroio. Na adolescência frequenta esta escola, onde se prepara para ingressar na Escola de Belas Artes de Lisboa, na qual é admitido em 1942. A sua permanência nesta escola é relativamente curta, ao fim de dois anos de frequência abandona-a. Em 1944 Pomar transfere-se para a Escola de Belas Artes do Porto. Com o fim da II Grande Guerra e a derrota do Nazi-fascismo, o regime de Salazar fica mais exposto e as suas contradições tornam-se mais evidentes. Tal como outros jovens artistas da época, Júlio Pomar é influenciado por escritores que se impunham no panorama literário português, como Alves Redol ou Soeiro Pereira Gomes, ligados ao Partido Comunista Português. O momentâneo fortalecimento da oposição a Salazar e uma temporária permeabilidade da censura promovem a entrada em Portugal de influências decorrentes da reconstrução cultural do pós-guerra. Complementarmente as obras de artistas como Portinari e os grandes muralistas mexicanos - OrozcoRivera e Siqueiros - encorajam os jovens artistas portugueses, como Júlio Pomar, a fazer da sua arte um veículo de intervenção sócio-política. Ainda em 1945, Pomar expõe uma das suas obras paradigmáticas - O Gadanheiro - na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA). Mário Dionísio escreve a propósito um artigo intitulado "O princípio de um grande pintor?" Pomar assume-se então como um agitador da contestação ao regime, promovendo a 1ª Exposição da Primavera no Ateneu Comercial do Porto, onde se agrupam artistas que recusam qualquer colaboração com o regime salazarista. Esta participação activa no movimento de oposição ao regime leva-o a integrar a comissão central do Movimento de Unidade Democrática. A sua intervenção nas lutas estudantis custa-lhe a interdição da frequência da Escola de Belas Artes do Porto. Para a decoração do Cinema Batalha naquela cidade é-lhe encomendado um grande mural, mandado destruir pela polícia política poucos meses depois da abertura da sala ao público. Pomar regressa então a Lisboa, onde viria a ser preso durante quatro meses. Nesse período um dos seus quadros, intitulado Resistência, é apreendido na II Exposição Geral de Artes PlásticasEm 1950, realiza uma exposição individual na SNBA, em Lisboa, onde apresenta obras marcantes da pintura portuguesa do século XX, como O Almoço do TrolhaMenina com um Gato MortoVarina Comendo Melancia ou O Cabouqueiro. Ainda com conteúdo neo-realista, estas obras prenunciam, pela marca do gesto na pintura, o início de um percurso autónomo que se irá progressivamente libertando das fórmulas enunciadas nos postulados da ideologia política que inicialmente tinham orientado o seu trabalho. No mesmo ano, Pomar desloca-se a Espanha, onde estuda o trabalho de Goya, o qual marcará fortemente a sua pintura, sobretudo mais tarde, em 1957, em Maria da Fonte e os Cegos de Madrid. Na Galeria de Março, em 1952, expõe desenhos, aguarelas, guaches e cerâmicas. Nos anos seguintes trabalha em retratos de proeminentes intelectuais como Maria Lamas, Mário Dionísio e outros. Participa ainda na experiência colectiva que ficou conhecida por Ciclo do ArrozEm 1956, em conjunto com outros artistas, como Rogério Ribeiro e José Júlio, funda a Gravura, cooperativa de produção e divulgação de obras gráficas, da qual será o principal animador até 1963. O movimento adquire na pintura de Pomar um papel primordial, assumindo-se como a marca da sua pintura a partir desta altura, surgindo descontinuado, agitado, contraditório, reflectindo-se nos temas que escolhe - movimentos de multidão e cenas de trabalho - de que são exemplos os quadros Maria da Fonte e Pescadores. Em 1960 Pomar realiza trinta pequenas pinturas a preto e branco para ilustrar uma versão de D.Quixote, de Aquilino Ribeiro, seguidas por outros trabalhos de escultura e pintura versando o mesmo tema. Neste mesmo ano dá inicio à   série TauromaquiasA proximidade do novo atelier, em Paris, do campo de corridas de cavalos de Auteuil, vai influenciar o aparecimento de uma nova série de trabalhos em que o movimento atinge na sua pintura um maior protagonismo. Les Courses são expostos na Galeria Lacloche onde, em 1964, Pomar já tinha apresentado Tauromachies. Em 1968, inspirado nos acontecimentos de Paris, realiza uma série subordinada ao tema da insurreição, reflectindo o desejo de registar um acontecimento pintando a História. Nesta fase Pomar abandona quase por completo a pintura a óleo, adoptando o acrílico como material de eleição para a sua pintura. Até 1975, o trabalho do pintor incide principalmente no retrato, com recurso ao desenho e à pintura. Deste período destacam-se a utilização da cor saturada e o rigor geométrico. Os planos monocromáticos ocupam a quase totalidade da superfície da tela, estabelecendo o diálogo entre o vazio e a representação pontual de partes do corpo e da fisionimia do sujeito retratado. Quando se dá o 25 de Abril de 1974 Pomar encontra-se em Lisboa, onde permanecerá nos meses seguintes ao golpe de Estado, vivendo os acontecimentos revolucionários que se lhe seguiram. Em 10 de Junho participa, com 48 artistas, na elaboração de um painel colectivo destinado a comemorar a queda do regime. Em 1983, expõe na Galeria 111 a série Os Tigres. Um ano depois realiza a decoração da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, adoptando como tema quatro poetas ligados à cidade de Lisboa - Camões, Bocage, Pessoa e Almada. Em 1988, Pomar permanece dois meses no Brasil, em Mato Grosso, acompanhando a rodagem do filme de Ruy Guerra, Kuarup. Após a convivência com a realidade dos índios do Alto Xingu, dá início a uma série dedicada a esta temática. Em 1994 realiza a exposição Fables et Portraits na Galerie Piltzer, em Paris, e o O Paraíso e Outras Histórias na Culturgest em Lisboa. Naquela galeria parisiense apresenta, em 1996, Les Méfaits du Tabac ou l'année du couchon, que em conjunto com a série anterior são testemunho de uma forma de encarar a pintura e a vida com um humor que se encontra muito distante dos sorumbáticos anos do neo-realismo. Em 1997, apresenta no Centro Cultural da Gandarinha, em Cascais, as obras produzidas em 1958-1960, para a publicação D. Quixote de Aquilino Ribeiro, e na sua sequência até 1963, acompanhadas de um trabalho de 1997,< em quatro elementos, intitulado D. Quixote e os Carneiros.

Vítor Casimiro 
in http://www.citi.pt/cultura/artes_plasticas/desenho/alvaro_cunhal/pomar.html)


Sem comentários: