Miguel Torga elogiou o Porto, desta forma:
(...) "Chão humoso das nossas caseiras virtudes e defeitos. Porto de Portugal e não da Europa ou do mundo, quem o enquadrar, como eu, numa visão espectral da pátria, há-de por força senti-lo também embalado numa toada velha e diligente de socos a roer granito. (...) O Porto representa apenas, como não podia deixar de ser, um retalho precioso do pequeno mapa que nos coube na lotaria do globo. Esse pouco, porém, chega e sobra. O granito é mica, quartzo e feldspato, - mas é granito. (...)
Se, de resto, Garrett pôde nascer no calor do seu coração, se António Nobre pôde morar em paz dentro de suas portas, e se mesmo numa das suas cadeias pôde ser escrito O Amor de Perdição, que demónio é preciso mais para honrar os pergaminhos de alguém?
Ah! Eu gosto do Porto!" (...) Gosto de um Porto cá muito meu, de que vou dizer já, e amo-o de um amor platónico, avivado de ano a ano à passagem para a minha terra natal, quando o Menino Jesus acena lá das urgueiras. (...)
De vez em quando perco a cabeça, estrago os horários e vou ao Museu Soares dos Reis ver o Pousão, passo pela igreja de S. Francisco, ou meto-me num eléctrico e dou a volta ao mundo, a descer à Foz pela Marginal e a subir pela Boavista. (...)
Como aqueles nossos velhos solares que, limpos das teias de aranha, fazem corar de vergonha qualquer arranha-céus de cimento construído ao lado, o Porto só precisa de ser espanejado do pó do tempo para competir com qualquer terra que se lhe queira medir." (...)
in Portugal, Miguel Torga
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