sábado, 12 de março de 2011

Rimas infantis para ir cantando aos mais pequeninos



Ando a reler um livro de Adolfo Coelho, "Jogos e Rimas Infantis", e acho interessante dar a conhecer algumas dessas actividades lúdicas que o autor sugere, não só pela sua criatividade e diversidade, como também pelo modo como podem ser executadas.

Com esta leitura, têm-me assolado ao espírito as muitas brincadeiras que fizeram parte da minha infância e a sensação de felicidade que me davam quando as partilhava com os da minha idade - em casa, na rua ou na escola, naquela África, onde todos, de qualquer raça ou religião, nos juntávamos para as praticar.

 
"Os contos e rimas infantis parecem ser como o leite materno, que nenhuma preparação, por mais adiantada que esteja a ciência, poderá igualar." (Coelho, Adolfo - Os Elementos tradicionais da Educação - Estudo Pedagógico, Lisboa:Livraria Universal, 1833, p.65.).

Partindo desta afirmação do autor, vou tentar interpretar o que ele nos pretende transmitir: esses jogos e rimas infantis são como que "criações inconscientes da humanidade", produzidas pela natureza, constituindo uma fórmula onde cabem o ritmo, a melodia, a regularidade métrica, a sonoridade, as rimas e as repetições, não esquecendo a mímica, os gestos, o aspecto lúdico...

São transmitidos de viva voz, o que pressupõe que os elementos que brincam uns com os outros se encontram próximos, em pleno convívio e comunicação. As rimas tradicionais ocupam um lugar importante no desenvolvimento da linguagem e da inteligência da criança.

Por exemplo, no livro é citado Wallon, que defende a concepção de uma fase verbal na criança entre os 3 e os 6 anos em que esta brinca com as palavras, fazendo jogos com elas, de uma forma puramente lúdica, não precisando de compreender as rimas que consegue formar, mas sentindo enorme prazer ao fazê-lo.

O povo português tem alguns "Cantos de Berço" com quadras muito simples, delas fazendo parte tanto a vertente religiosa como a mítica. Um exemplo:

Ó meu menino
Ru-ru...
Cantam os anjos,
Dormirás tu.

O meu menino é d'oiro,
D'oiro é o meu menino;  
                                              
Hei-de levá-lo aos anjos
Enquanto ele é pequenino.

Vai-te embora, passarinho,
Deixa a baga do loureiro;
Deixa dormir o menino,
Que está no sono primeiro.

Rola, rola, meu menino,
Quem te há-de dar a mama?
O teu pai foi para o moinho,
Tua mãe caiu na lama.

O meu menino tem sono,
Tem sono e quer dormir:
Venham os anjos do céu
Ajudá-lo a cobrir.

O meu menino tem sono,
Tem sono e quer nanar:
Venham os anjos do céu
Ajudá-lo a embalar.

"Cavalgar" - quando o bebé já se senta com facilidade, pega-se nele e põe-se sobre o nosso joelho, e como que a trotar, brandamente, seguram-se-lhe as mãozinhas, para o equilibrar bem e com o ritmo adequado, segundo as localidades, diz-se, por exemplo:

Arre burrinho
Para a Mealhada,
Sete vinténs
De levar a carrada.
               (Coimbra)

Arre burro
Para Azeitão,
Que os meninos 
Já lá vão.
           (Lisboa)
                               











Arre burrinho
Para São Martinho,
                                    Carregado
                                    De pão e vinho.
                                                    (Alcobaça)
Tantarantana
Minha carapuça!
Tantarantana
Que assim baila a ruça!

Tantarantana
Meu carapuço!
Se ele tem febre
Apalpa-lhe o pulso!
                     (Coimbra)

Minha vida,
Vamos a Benfica,
Vamos ver o padre (*o monge)
Que está na botica.

Para a próxima haverá mais exemplos...

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