quinta-feira, 21 de julho de 2011

Dois lindíssimos poemas de Florbela Espanca



Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras


Em que rí e cantei, em que era querida,

Parece-me que foi outras esferas,

Parece-me que foi numa outra vida...


E a minha triste boca dolorida

Que dantes tinha o rir das primaveras,

Esbate as linhas graves e severas

E cai num abandono de esquecida!


E fico, pensativa, olhando o vago...

Toma a brandura plácida dum lago

O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,


Ninguém as vê brotar dentro da alma!

Ninguém as vê cair dentro de mim!



A Mulher

Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosas duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém.
Doce alma de dor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
                            Florbela Espanca
                      

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