A ODE, numa definição simples, é uma composição poética lírica de assunto elevado, própria para ser cantada.
"Ode é uma composição poética que surgiu na Grécia Antiga, e era cantada e acompanhada pela lira, ou simplesmente liricos. Ode, em grego, significa canto.
Ela se divide em estrofes semelhantes entre si, tanto pelo número como pela medida dos versos, geralmente de quatro versos ou dividida em três partes recorrentes quando coral.
Os poetas gregos Alceu, Safo e Anacreonte escreveram odes.
Já em Roma, onde era chamada mais comumente de carmem, teve cultores como Catulo e Horácio. No século XIX teve vasta produção na Itália, com Gabriele d'Annunzio; na França, com Victor Hugo; na Espanha, com Manuel José Quintana entre outros.
No dicionário Houaiss da língua portuguesa temos:
- entre os antigos gregos, poema lírico destinado ao canto.
- poema lírico composto de estrofes de versa igual, sempre de tom alegre e entusiástico
Poema lírico de forma complexa e variável, a ode caracteriza-se pelo tom elevado e sublime com que trata determinado assunto. As literaturas ocidentais modernas aproveitaram sobretudo, do ponto de vista da forma, a ode composta por três unidades estróficas, correspondentes, no desenvolvimento da ideia do poema, à estrofe, à antístrofe (cantada pelo coro, originalmente) e ao epodo (conclusão do poema). A ode comportava uma série de esquemas métricos e rítmicos, de acordo com os quais era classificada.
Na música, as odes modernas são compostas mais para solistas e coro orquestra. Foi empregada por autores como Haendel, Henry Purcell e Beethoven, que utilizou a Ode à alegria, texto de Schiller, na sua 9° Sinfonia. Também na literatura portuguesa houve escritores e poetas que aderiram a esta forma de escrita tais como Camões, Correia Garção, Cruz e Silva, Fernando Pessoa e, atualmente, Miguel Torga."
http://pt.wikipedia.org/"
http://pt.wikipedia.org/"
Ode à Lua
Detém um pouco, Musa, o largo pranto
que Amor te abre do peito;
e vestida de rico e ledo manto,
dêmos honra e respeito
àquela cujo objeito
todo o mundo alumia,
e quando escuro está é mais que o dia.
Ó Délia, que, apesar da névoa grossa,
cos teus raios de prata
a escura noite fazes, que não possa
encontrar o que trata,
e o que n’alma retrata,
Amor por teu divino
rosto, por que endoudeço e desatino:
Tu, que de fermosíssimas estrelas
coroas e rodeias
teus cabelos d'argento e faces belas,
e os campos fermoseias
co as rosas que semeias,
co as boninas que gera
o teu celeste amor na Primavera:
Pois, Délia, dos teus céus vendo estás quantos
furtos de puridades,
suspiros, mágoas, ais, músicas, prantos,
as amantes vontades,
üas por saudades,
outras por crus indícios,
fazem das próprias vidas sacrifícios;
vejo teu Endimião por estes montes,
suspenso o Céu, olhando,
e o teu nome, cos olhos feitos fontes,
embalde e em vão chamando,
pedindo e suspirando,
mercês à tua beldade
sem em ti achar üa hora piedade.
Por ti feito pastor de branco armento,
as selvas solitárias
acompanhado só do pensamento,
conversa as alimárias,
de todo amor contrárias,
mas não como ti duras,
onde lamenta e chora desventuras.
Por ti guarda o sitio fresco d'Ílio
suas sombras fermosas;
para ti, Erimanto e o lindo Epilio
as mais purpúreas rosas;
e as drogas cheirosas
deste nosso Oriente
também Arábia Felix eminente.
De que pantera, tigre, ou leopardo
as ásperas entranhas
não temeram o agudo e fero dardo,
quando pelas montanhas
mui remotas e estranhas
ligeira atravessavas,
tão fermosa que Amor de amor matavas?
Das castas virgens sempre os altos gritos,
clara Lucina, ouviste,
renovando lhe a força e os espritos;
mas os daquele triste
já nunca consentiste
ouvi los um momento,
para ser menos grave seu tormento.
Não fujas de mim assi, nem assi te escondas
dum tão fiel amante!
Olha como suspiram estas ondas,
e como o velho Atlante
o seu colo arrogante
move piadosamente,
ouvindo a minha voz fraca e doente.
Triste de mim, que o pior é queixar-me,
pois minhas queixas digo
a quem já ergue as mãos para matar-me,
como a crue imigo;
mas eu meu fado sigo,
que a isto me destina
e isto só pretende e só me ensina.
Quantos dias há que o Céu me desengana,
e eu sempre porfio
cada vez mais na minha teima insana!
Tendo livre alvedrio,
não fujo o desvario;
e este, que em mim vejo,
para esperança minha e meu desejo.
Oh! quanto milhor fora que dormissem
um sono perenal
estes meus olhos tristes, e não vissem
a causa de seu mal
fugir, a tempo tal,
mais que dantes, por teima,
mais cruel que ussa fera, mais que ema.
Ai de mim, que me abraso em fogo vivo,
com mil mortes ao lado,
e, quando mouro mais, então mais vivo!
Porque assi me há ordenado
meu infelice estado
que, quando mais me convida
a morte, para a morte tenha vida.
Minha secreta amiga, mansa noite,
estas rosas (porquanto
ouviste meus queixumes) ora dou te
este fresco adianto,
húmido ainda do pranto
e lágrimas da esposa
do cioso Titã, branca e fermosa.
Luís Vaz de Camões
in http://lugardaspalavras.no.sapo.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário