sábado, 29 de dezembro de 2018

"Blue Christmas" interpretada por Elvis Presley e Martina McBride

I'll have a Blue Christmas without you
I'll be so blue just thinking about you
Decorations of red on a green Christmas tree
Won't be the same dear, if you're not here with me
And when those blue snowflakes start falling
That's when those blue memories start calling
You'll be doin' all right, with your Christmas of white
But I'll have a blue, blue blue blue Christmas
You'll be doin' all right, with your Christmas of white
But I'll have a blue, blue Christmas

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

"Santa Claus is coming to town", by Jackson 5!




Vamos pensar em preparar os menus para amanhã,  DIA DE NATAL? Então, aqui vai uma ajudinha com algumas sugestões que encontrei em:

https://www.e-konomista.pt/artigo/melhores-receitas-de-natal-portuguesas/


As 6 melhores receitas de Natal portuguesas: delícias com o nosso ADN

Cada ‘zona’ do país tem a sua tradição e em Portugal tem um pouco de tudo na Ceia de 24 de dezembro e almoço de 25. Do polvo assado às incontornáveis rabanadas, há opções de receitas de Natal Portuguesaspara todos os gostos.
Confira abaixo seis sugestões de pratos que deviam ser obrigatórios em todas as mesas dos portugueses!

6 RECEITAS DE NATAL PORTUGUESAS A INCLUIR NA SUA MESA


CANJA DE GALINHA DE NATAL

receitas de Natal PortuguesasFonte: Pixabay / Anestiev
Descrição: almoço/jantar
Mais comum nas ilhas, a canja de galinha é uma das receitas de Natal portuguesas que enche qualquer alma (e barriga!) e é excelente entrada ou sopa para aquecer uma noite fria de Natal.
Ingredientes
3 peitos de galinha
1 cubo de caldo de galinha
80g massinhas estrelinha ou pevide
1 cenoura
1 ramo de cebolinho
Sal q.b.
Modo de preparação
  1. Coza os peitos de galinha e reserve tanto a água como os peitos.
  2. Corte-os aos cubinhos e volte a colocar nesta água.
  3. Adicione um cubo de caldo e leve a lume brando.
  4. Entretanto, pique a cebola e a cenoura e coloque no tacho. Deixe cozinhar em lume lento e retifique os temperos.
  5. Adicione a massa, deixe cozer mais os 10 a 12 minutos até a massa ficar tenra e volte a retificar os temperos.
  6. Pique o cebolinho e coloque na canja antes de servir. Saboreie bem quente!
Tempo aproximado de confeção: 35 minutos
Porções: 8

POLVO ASSADO

Polvo na Bimby: receitas simples, rápidas e perfeitas
Descrição: almoço/jantar
O polvo é um prato delicioso para o Natal. Apesar de ser um pouco trabalhoso, compensa muito o esforço. Afinal, trata-se de uma data bem especial e este ingrediente faz parte de uma das receitas de Natal Portuguesas mais típicas de algumas regiões!
Ingredientes
1,5kg de polvo
1kg de batata
1 cebola
2 dentes de alho
1 malagueta
½ copo de água
1 copo de vinho tinto
1dl de azeite
1c chá de colorau
3c sopa de margarina
Sal e pimenta q.b.
Modo de preparação
  1. Lave e limpe muito bem o polvo.
  2. Bata-o contra a banca da cozinha e lave novamente, retirando os tentáculos.
  3. Coloque numa panela o azeite, a cebola às rodelas e o alho picado. Ligue o lume e deixe caramelizar.
  4. Junte o colorau e mexa rapidamente, acrescentando a água, o vinho e a malagueta. Adicione agora o polvo.
  5. Ao polvo cozido adicione as batatas inteiras e deixe-as cozer, mexendo de vez em quando para não pegarem ao fundo.
  6. Assim que as batatas estiverem prontas, retire tudo do lume e verta para um tabuleiro.
  7. Coloque a margarina por cima do polvo e leve ao forno para alourar.
  8. Acompanhe esta iguaria com um pouco de pão caseiro tostado e delicie-se!
Tempo aproximado de confeção: 1h30
Porções: 10

RABANADAS

Duas receitas de rabanadas de Natal [com vídeo]
Descrição: almoço/lanche/jantar
Quem não adora umas belas rabanadas? Se há receitas de Natal Portuguesas obrigatórias, são estas fatias de pão douradas e húmidas.
Ingredientes
1 saco de pão para torradas
1 garrafa de óleo vegetal
7 ovos
2l leite
1 casca de limão
1c há extrato de baunilha
Canela q.b.
Açúcar q.b.
Modo de preparação
  1. Deixe o pão a secar com pelo menos 24 horas de antecedência.
  2. Aqueça o leite com a casca de limão e com uma colher de chá de extrato de baunilha e rserve tapado.
  3. Bata muito bem os ovos e verta para uma travessa.
  4. Vá aquecendo o óleo numa frigideira.
  5. Entretanto, misture o açúcar com a canela numa travessa.
  6. Passe as fatias de pão pela seguinte ordem: leite (de ambos os lados) e ovos batidos (de amboso os lados).
  7. Frite cada uma das fatias em óleo bem quente e retire para uma travessa com bastante papel absorvente.
  8. Passe todas as rabanadas pela mistura de açúcar e canela e sirva-as à temperatura ambiente.
Tempo aproximado de confeção: 1h00
Porções: 16

ARROZ DOCE

receitas de Natal PortuguesasFonte: Pixabay / TLink
Clássico doce do Natal, mas bom de comer todo o ano, o arroz doce é um verdadeiro imprescindível nesta quadra.
Descrição: almoço/lanche/jantar
Ingredientes
150g de arroz para arroz doce
250ml de água
1l de leite
25g de manteiga
5 gemas
150g de açúcar
Casca de 1 limão
1 pau de canela
1 pitada de sal
Canela q.b.
Modo de preparação
  1. Leve o arroz ao lume com água e uma pitada de sal e deixe ferver até a água ser toda absorvida.
  2. Misture o leite, a casca de limão e o pau de canela e deixe cozer mais um pouco em lume médio, até o arroz ficar cozido.
  3. Junte o açúcar e a manteiga e mexa mais um pouco.
  4. Bata as gemas à parte e retire uma colher do líquido a ferver, juntando bem devagar às gemas, com muito cuidado para não talhar.
  5. Verta a mistura das gemas para dentro da mistura de leite e arroz e mexa até engrossar, sem ferver.
  6. Prove e retifique algum tempero.
  7. Coloque em pequenas taças, polvilhe com canela e bom apetite!
Tempo aproximado de confeção: 45 minutos
Porções: 8

SONHOS

Esta será talvez uma das receitas de Natal Portuguesas mais tradicionais e mais apetecíves também! Deliciosos frios ou mornos, nem parece Natal enquanto não comermos um sonho, não é verdade?
Descrição: almoço/lanche/jantar
Ingredientes
Para a massa:
400ml de água
200g farinha
50g manteiga
30g açúcar
50g farinha tipo maizena
5 ovos
Casca de 1 limão
1 pitada de sal
Para a calda:
500g de açúcar
1 casaca de limão
1 casca de laranja
1 pau de canela
Modo de preparação
  1. Comece por preparar a massa: num tacho, coloque a água, a manteiga, o açúcar, uma casca de limão e uma pitada de sal. Leve tudo ao lume até levantar fervura.
  2. Retire a casca de limão e comece a juntar as farinhas peneiradas e misturadas.
  3. Mexa tudo bem com uma colher de pau até criar uma bola, retire a panela do lume e coloque a massa dentro de uma tigela grande, mexendo sempre até a massa arrefecer completamente.
  4. Junte os ovos à massa, batendo sempre cada vez que juntar um ovo.
  5. Aqueça o óleo quente q.b.
  6. Deite colheradas de massa no óleo enquanto os sonhos forem alourando e depois de bem louros, retire-os para papel absorvente até arrefecer.
  7. Prepare a calda: leve ao lume a ferver 300ml de água, junte o pau de canela, as cascas de limão e laranja e deixe ferver 15 minutos até criar ter uma consistência mais suave.
  8. Retire as cascas e o pau de canela e deixe arrefecer antes de juntar aos sonhos.
  9. Depois de escorrido do excesso de óleo, coloque os sonhos na calda de açúcar e polvilhe com açúcar e canela a gosto.
Tempo aproximado de confeção: 1h00
Porções: 20
Boas festas e bom apetite!

sábado, 22 de dezembro de 2018

"So this is Christmas", por Céline Dion




Estamos quase a chegar à Noite de Natal. Então, vamos pensar nisso?

MENU DA CONSOADA: 

Não há tradição mais portuguesa, que o Bacalhau na noite de Consoada. Se quer manter essa mesma tradição e não sabe como a fazer ou se tem dúvidas como a sua preparação, veja aqui a nossa receia para o Bacalhau da Consoada.

  • 4 Postas de bacalhau demolhado
  • 600 g de Pão de milho
  • 2 Kg Batatas
  • 2 Couves galegas
  • Azeite e vinagre
  • 4 Ovos cozidos
  • Alhos

  1. Cozinhe o bacalhau e à parte as batatas com as couves.
  2. Guarde cerca de 1 litro de água do bacalhau.
  3. Coloque o pão fatiado no fundo do tacho de barro, espalhando por cima os alhos triturados.
  4. Regue com a água quente do bacalhau, temperando com azeite.
  5. Coloque o bacalhau por cima com couves e batatas.
  6. Regue novamente com azeite, alhos e vinagre e decore o prato com pedaços dos ovos cozidos.

OU

(1 por pessoa)
  • Postas de bacalhau
  • Couve portuguesa
  • Batatas
  • Ovos (1 por pessoa)
  • Azeite
  • Dentes de alho
  • Vinagre e sal q.b.

  1. Começa-se por cozer as postas de bacalhau, previamente bem demolhadas, juntamente com a couve portuguesa.
  2. À parte, cozem-se as batatas com pele e um ovo por pessoa.
  3. Na altura de servir, descascam-se os ovos e pelam-se as batatas.
  1. Leva-se ao lume uma porção de azeite (0,5 dl por pessoa) com alguns dentes de alho abertos ao meio.
  2. Quando levantar fervura, retira-se do lume e junta-se um pouco de vinagre.
  3. Serve-se numa molheira.
(Encontrei esta receita em: 
https://www.receitasemenus.net/bacalhau-consoada/)

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Os enfermeiros em greve cirúrgica

imagem injornalenfermeiro.pt



É, sem dúvida, uma greve constrangedora para o país, principalmente para quem se encontra verdadeiramente doente e na expectativa de poder obter ajuda para melhorar a sua saúde. 

Os enfermeiros mostram o seu descontentamento cumprindo uma greve prolongada. E por causa desta greve já houve mais de 7.500 cirurgias adiadas em Portugal! 

Mas será que vai resultar? Os seus protestos vão ser atendidos? E os doentes (7.500!) que estão à espera das cirurgias? Será uma forma "humana" de se resolverem os problemas da classe?
 
O melhor é conhecermos a maneira como tudo se organizou com o objetivo de ser eficaz! 

Vera Novais diz no seu artigo sobre a greve dos enfermeiros, no observador.pt:

Uma greve “cruel”, “estranha” e “não aceitável”; um “problema nacional”, “extremo” e “preocupante”; e uma falta de “bom senso” e de “consciência”. As críticas vão ganhando volume à medida que crescem os números de cirurgias adiadas nos cinco principais centros hospitalares do país. Até esta quarta-feira, estima-se que possam ter sido cerca de 7.500. 

Parados até 31 de dezembro, os enfermeiros preparam já mais uma greve —sem o apoio do sindicato mais representativo (que fala em “greve populista”) e mesmo depois de o Governo dizer que não se senta à mesa das negociações enquanto não voltarem todos ao trabalho. 

Até agora, estão a ser cumpridos apenas os serviços mínimos. Cirurgias programadas e consideradas não urgentes, são inevitavelmente adiadas — mesmo na pediatria. E ninguém parece disposto a ceder. O que explica a eficácia desta greve? E como foi cirurgicamente pensada para durar o tempo que for preciso — com consequências extremas? 
Máximo impacto com o mínimo de perdas no vencimento 

O descontentamento dos enfermeiros não é de agora — dura, pelo menos, desde 2009. Ouve-se nas ruas e nos corredores dos hospitais e centros de saúde, mas também no Facebook. O grupo dos enfermeiros naquela rede social tem mais de 40 mil participantes e foi aí que nasceu a ideia da greve mais longa que já fizeram. 

De uma publicação que foi muito bem recebida pela comunidade, a um grupo de WhatsApp que excedeu a lotação, os enfermeiros estavam cheios de ideias para um novo protesto — e diferente dos anteriores. Os membros mais ativos criaram, então, um grupo mais pequeno, uns saíram, outros entraram, mas a ideia manteve-se: a Greve Cirúrgica começava, assim, a ganhar forma. 

O desejo era ter uma paralisação por tempo indeterminado. Acabaram por ter uma greve prolongada — de 22 de novembro a 31 de dezembro, com possibilidade de ser alargada por mais 45 dias ou tantos quantos forem precisos. 

Claro que era preciso garantir uma adesão que justificasse o esforço, com a garantia de que ninguém ia desistir. E, para isso, primeiro era preciso perceber se os colegas estavam dispostos a contribuir para um fundo social que apoiasse os grevistas. Depois, era preciso saber se os enfermeiros dos blocos operatórios estavam disponíveis para fazer greve e se queriam servir de elos de ligação dentro dos hospitais, conta ao Observador Catarina Barbosa, uma das enfermeiras do grupo de cinco que lançou a Greve Cirúrgica. “Tivemos um feedback muito positivo.” Até os colegas emigrados quiseram contribuir com donativos. 

No dia 10 de outubro, o grupo lançou, assim, uma campanha de angariação de fundos, no site PPL, para viabilizar o protesto. O que queriam era garantir que conseguiam ter a maior adesão possível, por um período de tempo alargado, com o mínimo de perda remuneratória para os enfermeiros, como o próprio movimento afirmava. Já tinham contactado todos os sindicatos, mas só tinham recebido apoio de dois — o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) e a Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) — ambos criados em 2017. Ainda assim, apoio não significava que houvesse garantias de que os sindicatos avançassem com o pré-aviso de greve. 

O grupo arriscou — mesmo sem o apoio da Federação Nacional do Sindicatos dos Enfermeiros (FENSE). “É uma greve populista que nasceu fora das estruturas por um grupo anónimo”, diz ao Observador José Azevedo, presidente do Sindicato dos Enfermeiros, um dos dois sindicatos representados na federação. Além disso, as negociações entre a FENSE e o Governo estavam bem encaminhadas, garante José Azevedo — o que afastava o cenário de greve, pelo menos no imediato. 

Ao fim de 17 dias, a campanha da Greve Cirúrgica já tinha conseguido angariar 50% do valor necessário. Mas os promotores estavam preocupados que a campanha chegasse ao fim sem se ter atingido os 300 mil euros — que implicaria a devolução de todo o dinheiro doado. Não foi preciso esperar pelo final do prazo — cinco dias depois, a campanha já tinha o valor pedido e ainda lhe sobrava quase duas semanas para continuar a juntar dinheiro. No final, tinham conseguido 360.297 euros, de 14.415 apoiantes — uma média de 25 euros por pessoa. 


A definição do valor também não foi deixada ao acaso. O grupo já tinha feito contas a quanto dinheiro poderia precisar para apoiar os colegas que quisessem fazer greve. “Quando decidimos o valor do crowdfunding já tínhamos tudo preparado.” Catarina Barbosa garante que o dinheiro é suficiente para pagar a todos os colegas que se inscreveram para beneficiar do fundo, mas não quis dizer quantos são. 

Alfredo Preto, sindicalista no Sindepor, diz ao Observador que os enfermeiros em greve não chegam aos dois mil. Mas nem todos precisam de recorrer ao fundo, conforme explica Catarina Barbosa. Alguns só faltaram ao trabalho dois ou três dias e abdicaram dessa compensação, outros estão em greve, mas como estão escalados para os serviços mínimos são pagos pela entidade patronal. É o caso desta enfermeira, que trabalha no bloco operatório do Centro Materno-Infantil do Norte (Porto). Quem precisar, vai receber do fundo de 42 euros por cada dia de greve, mediante a apresentação da folha de vencimento com os dias descontados. 

Sobre a origem do dinheiro doado, Catarina Barbosa rejeita as acusações de que tenha vindo de empresas ou de hospitais privados, alegadamente interessados em criar o caos no Serviço Nacional de Saúde, em benefício próprio. “As pessoas que têm contribuído são pessoas individuais”, diz. Os valores máximos recebidos de cada vez situam-se na casa dos 100 euros. As exceções são os serviços dos hospitais que se juntaram e depositaram o dinheiro em conjunto — aí pode ter chegado aos mil ou 1.200 euros, afirma. 

A segunda campanha — Greve Cirúrgica 2 — foi lançada esta terça-feira, e pretende angariar 400 mil euros. O objetivo é ter 45 dias de greve em 2019, mas ainda não está definido em quantos centros hospitalares, nem que centros serão escolhidos. Em dois dias, a campanha já juntou mais de 20 mil euros e tem mais 33 dias pela frente. 
Greve só às cirurgias — e só em cinco hospitais 

“A ideia inicial sempre foram os blocos operatório”, diz Catarina Barbosa. Para os enfermeiros era claro: são os blocos operatórios que fazem entrar dinheiro nos hospitais e bloqueá-los é fazer secar a fonte. Essa seria a única maneira de colocar os administradores hospitalares a enfrentar a tutela. “A nossa perspetiva estratégica é pressionar a tutela, não sacrificar os doentes”, diz a enfermeira. Mesmo que, para isso, milhares estejam a ver as suas cirurgias adiadas. 

Esta não é a primeira vez que os enfermeiros param, nem que há cirurgias canceladas, mas nenhuma outra greve teve um impacto igual. O segredo estará no facto de ser limitada a um serviço específico, por estar a ter uma grande adesão — 95% diz a bastonária da Ordem dos Enfermeiros — e pela duração. Além disso, há um apelo a que a Greve Cirúrgica seja estendida às cirurgias extraordinárias, feitas aos sábados de forma voluntária — mas pagas a peso de ouro —, integradas nos programas especiais de combate às listas de espera. 

Escolhido o serviço, a proposta do grupo era que a greve se realizasse em três hospitais centrais — Centro Hospitalar São João (Porto), Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Centro Hospitalar Lisboa Norte. Parecem poucos, mas só por si já era uma medida suficientemente inovadora e difícil de implementar, assumia o grupo de enfermeiros. O pré-aviso foi lançado para iniciar a greve 8 de novembro, mas os 10 dias úteis à justa fizeram com que houvesse quem questionasse a legalidade da paralisação. “Uma fonte do setor”, diz Catarina Barbosa, citando (e criticando) a informação avançada pelo Diário de Notícias. 

Para não correrem o risco de terem falta injustificadas, como tinha acontecido no ano anterior, decidiram cancelar esta greve e anunciar outra uns dias mais tarde, com uma ameaça: “Já que mexeram connosco, vamos ser mais agressivos”, conta a enfermeira. E foi assim que o Centro Hospitalar e Universitário do Porto e Centro Hospitalar de Setúbal se juntaram à lista de hospitais em greve. 

As contas tinham sido feitas para apoiar os colegas de três hospitais, não de cinco, mas “Setúbal tem poucos enfermeiros” e “no Santo António do Porto basta que um terço dos enfermeiros faça greve para bloquear o serviço”, conta Catarina Barbosa. O fundo beneficiou ainda do facto de existirem serviços mínimos alargados, porque quem está de greve, mas a cumprir serviços mínimos recebe o dia normalmente. Não só os serviços mínimos decretados pelo tribunal arbitral foram muitos, como os sindicatos negociaram com as administrações de todos os hospitais para duplicarem esses serviços, conta Alfredo Preto. 

“O Hospital de Santa Maria foi o único que não quis negociar”, diz Catarina Barbosa. Carlos Ramalho, presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), acrescenta uma crítica a esta unidade hospitalar: “O Centro Hospitalar de Lisboa Norte podia ter-se reorganizado e transferido as cirurgias para outras unidades, mas não o fez”. Ainda assim, Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, diz que teve a garantia dos cinco enfermeiros diretores, dos cinco centros hospitalares, que em nenhuma situação tinha sido colocada em risco a vida dos doentes. 

Um dos pontos que tem feito a greve funcionar tão bem é que o movimento e, consequentemente, os sindicatos, têm elos de ligação dentro dos hospitais, que lhes vão fornecendo informações sobre como estão a decorrer as greves em cada local. 

Outro, é que os enfermeiros estão ligados à greve, não aos sindicatos, como lembra Alfredo Preto. Isto quer dizer que os enfermeiros em greve podem pertencer ou não a um sindicato. Os que pertencem, muito provavelmente serão associados do Sindicato dos Enfermeiros — o mais representativo do setor, com mais de 10 mil enfermeiros (em todos os serviços) —, apesar de esta organização não aprovar a paralisação. 

Muitos deles estarão, por isso, a mudar de sindicato, para aquele que apoiaram o protesto. Carlos Ramalho diz que os enfermeiros estão descontentes com as plataformas tradicionais e veem no Sindepor e na ASPE uma alternativa de representação. “As pessoas reveem-se num sindicato que tem outra perspetiva das coisas.” 
As negociações que terminaram sem chegarem ao fim 

Os enfermeiros tinham, em 1991, uma carreira com cinco categorias, mas em 2009 foram negociadas apenas duas categorias. Não fosse isso suficientemente mau, na opinião dos enfermeiros, o pior é que uma delas nunca chegou a ser implementada. Trata-se da categoria de enfermeiros principais, que incluiria os chefes, supervisores e especialistas. Além disso, há enfermeiros com contratos diferentes para as mesmas funções, o descongelamento das progressões não está a ser feito de forma justa e o subsídio do enfermeiro-especialista não está a ser dado a todos os enfermeiros que teriam o direito de o receber, acrescenta ao Observador Carlos Ramalho, presidente do Sindepor. 

As negociações entre os sindicatos e o Ministério da Saúde começaram ainda com Adalberto Campos Fernandes. “O anterior ministro disse que as reivindicações eram justas, mas que o entrave era o Ministério das Finanças”, conta Alfredo Preto, do Sindepor. No entanto, no mesmo período, foram negociadas as carreiras de outros grupos profissionais na área da saúde, como a dos farmacêuticos, contesta o sindicalista. A justificação para deixar os enfermeiros de fora é a de que seriam muitos, diz. 

O Sindepor quer discutir com o Governo os estatutos da carreira, progressões feitas da mesma forma para todos e contratos individuais de trabalho com os mesmos direitos de quem contratos de trabalho em funções públicas. Mas Alfredo Preto diz que o Governo tem dificuldade em ouvir. “Se se consultar as atas das 30 reuniões em que estivemos presentes, vê-se que são praticamente iguais: o Governo chega e diz que não tem nada de novo para propor.” ​A bastonária da Ordem dos Enfermeiros confirma que a proposta do Governo não foi assinada pelos sindicatos. “Não era uma proposta séria. É o que se tem desde 2009.” E, desde então, as condições de trabalho só se degradaram, lamenta Ana Rita Cavaco. 

A Federação Nacional do Sindicatos dos Enfermeiros tem tido mais sucesso nas negociações que iniciou em agosto do ano passado. José Azevedo, presidente do Sindicato dos Enfermeiros, diz que já conseguiram que o acordo coletivo de trabalho se aplicasse a todos os enfermeiros do serviço nacional de saúde e que se definissem três categorias na carreira profissional — enfermeiro, enfermeiro-especialista e enfermeiro-diretor. Os profissionais de categorias distintas teriam funções diferentes, assim como teriam uma formação distinta para as desempenhar e, naturalmente, remunerações ajustadas. Neste momento, mesmo quem tem formação complementar e é especializado está integrado na categoria de enfermeiro. 

Embora partilhem algumas exigências, a FENSE e o Sindepor não concordam na forma de as resolver. Foi por isso que, embora tivessem estado sentados à mesma mesa negocial, optaram por se separar. Apesar das divergências, estes sindicatos apontam o dedo a todos os governos e ao sucessivo desinvestimento no serviço nacional de saúde. “Tudo tem sido feito para descredibilizar o setor público e privilegiar o privado”, diz Alfredo Preto. “A greve só veio evidenciar as fragilidades do serviço nacional de saúde”, acrescenta Carlos Ramalho. 

Enfermeiros e sindicatos dizem que está nas mãos do Governo decidir quando acaba a greve. E a Ordem está disponível para mediar as negociações, diz a Bastonária. Mas a ministra da Saúde, Marta Temido, já disse que não fala com os grevistas. Ao Observador, o gabinete da ministra sublinha que é esta a postura assumida pelo Governo — embora a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, tenha aberto uma exceção com os estivadores. Uma exceção que os enfermeiros não se cansam de lembrar. 
Solução está nos privados? 

A mais de duas semanas do fim da greve atual — e com uma nova paralisação longa já a ser preparada — o Ministério da Saúde continua à procura de soluções para atenuar os efeitos do protesto. A ministra, Marta Temido, diz que a prioridade, para já, é tentar que “todas as cirurgias que neste momento não estão a ser realizadas possam ser reagendadas no mais curto prazo possível”. Haverá, ainda, a tentativa de conseguir que, “ainda dentro do período da greve, algumas das cirurgias que não correspondem ao padrão de serviços mínimos” possam ser realizadas. 

Nas declarações feitas na terça-feira, à margem da sessão de encerramento das comemorações dos 20 anos da Ordem dos Médicos Dentistas, Marta Temido admitia ainda um plano C — começar a enviar alguns doentes para os hospitais privados, da lista dos 7.500 que se estima que, por esta altura, podem já ter visto as suas cirurgias adiadas. “Temos tido alguma colaboração dos piquetes de greve no sentido do alargamento de salas para alguns casos específicos ou para que essas cirurgias possam ser realizadas noutros hospitais, preferencialmente do Serviço Nacional de Saúde”, mas “se for necessário também com hospitais privados”, explicou. 

Mas isso, sublinha a ministra, não pode ser a regra, porque uma greve dos enfermeiros não pode servir para promover o setor privado “Este tipo de movimento, que tem por objetivo a defesa de reivindicações dos trabalhadores, não pode dar azo a algo relativamente ao qual certamente todos temos algumas reservas que é a questão de reforçar o setor privado, que tem o seu espaço próprio, em detrimento de uma fragilidade aparente, criada, do serviço público.” 

A acontecer, servirá para engrossar a lista, cada vez maior, de doentes enviados para os hospitais privados, por incapacidade de resposta do SNS — e o valor da dívida do Estado por esses serviços. Nos primeiros sete meses do ano, o número de vales-cirugia já tinha ultrapassado o total emitido em 2017 e as dificuldades para pagar as dívidas aos privados iam crescendo. Segundo o Expresso, em outubro eram já mais de 40 milhões de euros, com pagamentos a demorarem, em alguns casos, cerca de dois anos. 

Na preparação deste artigo, o Observador tentou falar com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), mas não foi possível obter declarações dos seus dirigentes. 

Correção: os contratos individuais de trabalho também dizem respeito ao setor público, mas são diferentes dos contratos de trabalho em funções públicas. Têm as mesmas funções, mas direitos diferentes. 

in: observador.pt  13 dezembro 2018, por Vera Novais

domingo, 25 de novembro de 2018

Festa do Cristo-Rei: Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo!

imagem in divinavontade.com


Tendo assistido à missa neste domingo, 25 de novembro, festa do Cristo-Rei, gostava de deixar aqui alguns cânticos que me deixaram muito emocionada, enquanto os ouvia toda embevecida, acompanhados por um belíssimo Coro, na Paróquia da Igreja da Senhora da Conceição, no Porto. 

"Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo"

ENTRADA
Glória, glória ao Senhor
pelos séculos dos séculos, 
glória, glória, glória, glória ao Senhor

SALMO RESPONSARIAL
O Senhor é Rei mum trono de luz
O Senhor é Rei.

APRESENTAÇÃO DAS OFERTAS
COMUNHÃO
O Senhor está sentado como Rei eterno.
O Senhor abençoará o seu povo na paz.

FINAL
Ó Pastor de Israel,
que conduzes
os descendentes de Josué
como um rebanho.
Tu que tens o teu trono
sobre os querubins,
desperta o teu poder
e vem salvar-nos.
Aleluia!




Aleluia! Aleluia! Aleluia!  


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 18, 33-37)

33Naquele tempo Pilatos entrou de novo no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?» 34Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» 35Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?» 36Jesus respondeu: «A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá.» 37Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!». Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.»


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Remodelação no Ensino é desejável. Irá o 2º ciclo acabar?


Vamos ter de esperar, para ver o que vai acontecer a nível do Ensino nas escolas, nos próximos tempos. 

Que algo tem de mudar, parece não haver dúvidas. 

"É preciso mexer nos alicerces do sistema educativo", dizem os especialistas! 

Os três ciclos nas escolas vão ter de ser repensados, é o que parece, depois da leitura deste artigo!

A ideia foi deixada pelo Conselho Nacional de Educação. 
Especialistas defendem que mudar o sistema seria desejável. 
Menos certo é que isso possa ajudar a diminuir os chumbos nos anos de transição.

O ano letivo de 2016/2017 foi um ano bem sucedido em termos de aproveitamento escolar: teve a mais baixa taxa de chumbos da última década, ao mesmo tempo que teve a maior taxa de conclusão do ensino básico (até ao 9º ano) nesse período. Ainda assim, a presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Emília Brederode Santos, está preocupada com as elevadas taxas de retenção: cerca de 30% dos alunos chumbaram pelo menos uma vez até aos 15 anos.
Nos últimos anos, a taxa de chumbos tem tido uma evolução positiva em todos os ciclos do ensino básico, mas os níveis continuam a ser particularmente altos nos anos de transição entre ciclos, como o 5.º e 7.º ano, e também no 2.º ano (quando se podem chumbar os alunos pela primeira vez). Estes factos levam a presidente do CNE a considerar que “a própria organização do sistema deveria ser repensada e as didáticas mais fortemente apoiadas”.
Aos jornalistas, durante a apresentação do relatório anual sobre o estado da educação, Maria Emília Brederode Santos disse que um dos pontos a avaliar nessa possível reorganização é a remodelação do 2.º ciclo, embora não tenha explicado como. O objetivo é reduzir a taxa de retenções. O Observador quis ouvir pessoas ligadas à educação para perceber até que ponto faz sentido acabar com o 2.º ciclo e se isso levaria a uma redução do insucesso escolar.

Faz sentido ter três ciclos no ensino básico?

O ensino básico em Portugal, do primeiro ao nono ano de escolaridade, está dividido em três ciclos: os quatro anos da antiga escola primária, os dois anos do antigo ciclo preparatório e mais três anos que, no passado, já fizeram parte do ensino secundário. Esta terça-feira, a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Emília Brederode Santos, defendeu que a organização em três ciclos deveria ser repensada, em particular a existência do 2.º ciclo que tem apenas dois anos — um de entrada e outro de saída.
O 2.º ciclo do ensino básico, que inclui o 5.º e o 6.º ano, é um assunto mal resolvido, mas não é de agora. “Foi um ciclo criado para reforçar a escolaridade de seis anos, adotada em 1964, e depois nunca se resolveu”, disse ao Diário de Notícias David Justino, ex-ministro da Educação e, então, presidente do CNE, em 2016. Este ciclo preparatório do ensino secundário serviria de transição entre o ensino primário (até à então quarta classe) e o ensino secundário (o agora sétimo ano).
Era uma ideia experimental que foi ficando, disse ao Observador Joaquim Azevedo, professor da Universidade Católica Portuguesa. Com a Lei de Bases do Sistema Educativo, criada em 1986, perdeu-se a oportunidade de decidir se este ciclo era incluído no ensino primário ou não. Acabou por ficar pendurado e autónomo. A discussão sobre a alteração da organização dos ciclos começou logo no final dos anos 1990 e chegou mesmo a ser votada em Assembleia da República, em 2004, quando David Justino tutelava essa pasta. Mas a Lei de Bases da Educação, que alterava a lei de 1986, acabou por ser vetada pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, que defendia que era preciso um consenso parlamentar mais alargado para um compromisso que se quer para muitos anos. Na altura, só a coligação PSD/CDS-PP votou a favor.
À semelhança do que era defendido nessa proposta de alteração à lei de bases, Joaquim Azevedo defende que o primeiro ciclo de ensino tenha seis anos, porque a infância só termina aos 11 ou 12 anos e não faz sentido obrigar a criança a uma transição tão grande aos 9 anos — mudar de um professor na escola primária para muitos professores com disciplinas específicas a partir do 5.º ano. “Perturba o desenvolvimento”, disse o especialista em políticas de educação. “A maior parte dos países resolveu a questão mantendo o ensino primário a acompanhar a infância, mas em Portugal não se resolveu no momento certo.”
Quem tem a responsabilidade de promover esta alteração é a Assembleia da República, afirmou Joaquim Azevedo, que acusa os sindicatos dos professores de serem os principais opositores a esta mudança. Ter um ciclo de seis anos poderia implicar que os professores do 5.º e 6.º ano passassem a trabalhar por áreas de saber e não por disciplinas e os sindicatos preocupam-se com a perda de lugares para professores nas escolas. A verdade, diz Joaquim Azevedo, é que “não existem estudos sobre as implicações da afetação dos lugares dos professores” caso estas alterações aconteçam. Logo, não se sabe se poderá ser prejudicial para os professores ou não.
João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE), confirmou ao Observador que a mudança dos grupos de recrutamento — professores de 1.º e 2.º ciclo a serem recrutados num único ciclo — poderia ter consequências para os professores, nomeadamente na previsibilidade da colocação. No entanto, “não é a questão determinante”, afirmou. “Não são os interesses dos professores que estão em causa, mas o que é melhor para os alunos.” Certo é que os professores têm de estar convencidos das vantagens das mudanças porque são eles que as vão implementar.
A proposta de alteração da lei de bases não se focava só os seis anos de ensino básico, sugeria também um ciclo de seis anos para o ensino secundário. Uma ideia que também é defendida por Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas. “Esta discussão tem de ir até ao secundário”, disse ao Observador. “Porque o modelo de acesso ao ensino superior dá primazia aos exames. O secundário é um ciclo perdido, porque os alunos só se preocupam em ‘empinar’ para os exames nacionais.”
Joaquim Azevedo e Filinto Lima concordam que este tema merece uma discussão séria e alargada, porque é preciso mexer nos alicerces do sistema educativo. Ambos referem que seria a melhor solução para os estudantes, em particular para os alunos nos primeiros seis anos do ensino básico.

Acabar com o ciclo de dois anos diminuiria os chumbos?

As dificuldade apresentadas pelos alunos nos anos de transição, como o 5.º e o 7.º ano, são um dos motivos que justificam as propostas de alteração que têm surgido nos últimos cerca de 30 anos. Com um único ciclo do ensino básico, até ao 6.º ano, e um ciclo de ensino secundário, do 7.º ao 12.º ano, passaria a haver apenas um ano de transição. Se tudo corresse bem, os alunos chegariam muito melhor preparados a esta fase.
Mas se diminuir a transição entre ciclos, como a que acontece entre o 4.º e o 5.º ano — do primeiro para o segundo ciclo — é uma ideia bem acolhida por Joaquim Azevedo e Filinto Lima, o mesmo não podem dizer sobre a ideia de que eliminar as transições faça diminuir os chumbos, como propôs Maria Emília Brederode Santos na apresentação do relatório “Estado da Educação 2017”. Citada pela Agência Lusa, a presidente do CNE disse que a existência do 2.º ciclo “não é uma boa prática” tendo em conta o elevado número de reprovações, mas o professor da Universidade Católica e o presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos não concordam que a alteração dos ciclos tenha uma influência direta nas taxas de retenção.
A reorganização dos ciclos de ensino não pode ser feita a pensar na diminuição dos chumbos, “deve ser feita tendo em conta os princípios educativos e de desenvolvimento das crianças”, afirma Joaquim Azevedo. Saber porque é que os alunos reprovam de ano é um assunto completamente diferente, depende das crianças, das condições em que vivem, das escolas e das práticas pedagógicas.
Por sua vez, o ministro da Educação, na reação à ideia, lembra que as taxas de retenção no 2º ciclo do ano letivo de 2016/2017 são muito inferiores às de 2012/2013 — quando se atingiram os níveis mais altos dos últimos 10 anos. “Não nos parece, pelos números que vemos, que este 2.º ciclo tenha uma implicação na reprovação e cultura de retenção, como é dito”, disse Tiago Brandão Rodrigues, que lembra que é preciso “mitigar os efeitos de mudar de escola, mudar de ciclos, de mudar da monodocência para a pluridocência”.
É certo que a transição do 4.º para o 5.º ano pode ser perturbadora para algumas crianças, mas isso acontece porque as crianças já trazem dificuldades do primeiro ciclo, garante Joaquim Azevedo. “Os professores dizem que os alunos vêm mal preparados”, confirma Filinto Lima. E isso pode justificar porque é que o 5.º ano tem um taxa tão elevada de retenções. Mas a taxa de chumbos mais alta continua a ser a do 7.º ano e aqui, mesmo com a alteração dos ciclos de ensino, continuaria sempre a existir uma transição entre o 6.º ano (do ciclo do ensino básico) com o 7.º ano (do ciclo do ensino secundário).
Um ciclo de seis anos poderia, eventualmente, diminuir os chumbos no 7.º ano, mas não pela medida em si, diz Filinto Lima. Se houvesse uma visão mais integrada do ensino não superior, se a avaliação fosse pensada ao nível de cada ciclo e se os alunos terminassem o primeiro ciclo de ensino (os tais seis anos) com os conhecimentos básicos bem consolidados, aí sim, seria possível acreditar que as retenções iriam diminuir.
Também é por isso que Joaquim Azevedo defende que se devia dar mais atenção ao que acontece às crianças no 1.º ciclo. “Se as dificuldades de aprendizagem não ficam resolvidas duram toda a vida. Se os alicerces não forem bem construídos à partida, nunca mais se vai resolver.”

Devia acabar-se com a possibilidade de chumbar alunos?

Na introdução ao relatório sobre o estado da educação, Maria Emília Brederode Santos critica a “cultura de retenção” e diz que é “incompatível com o direito de todos a uma educação de qualidade”. Filinto Lima coloca o problema de outra forma: “Se houvesse uma educação de qualidade, não deveria haver retenção”. E questiona mesmo: “O que é uma educação de qualidade?”. Para o diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, é ter um ensino mais personalizado, com turmas mais pequenas no 1.º ciclo — que tenham muito menos do que os 24 alunos permitidos — e sempre com dois professores na sala de aula (o professor que acompanha a turma e mantém o vínculo pedagógico, auxiliado pelo professor da área de especialidade que estiver a ser tratada). “Um primeiro ciclo bem feito iria reduzir substancialmente os chumbos nesse ciclo e nos ciclos seguintes.”
“A prática da retenção e repetição de ano revela-se ineficaz e pedagogicamente inútil”, escreve a presidente do CNE, citando o projeto aQeduto — Avaliação, qualidade e equidade em educação. “O chumbo é, normalmente, desmotivador”, concorda Filinto Lima, acrescentando que as escolas e professores “devem fazer tudo por tudo para que o aluno tenha sucesso” — mas um sucesso real, não uma passagem administrativa (em que mesmo sem notas para passar, os professores decidem não chumbar o aluno). E apoiar os alunos passa por muito mais do que o trabalho que é feito no contexto de sala aula, diz o diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos. As tutorias — uma estratégia de apoio e orientação pessoal e escolar do aluno —, o desporto escolar ou outras formas de envolvimento do aluno com a escola podem ajudar a que se sinta mais motivado para prosseguir os estudos e conseguir ter melhores resultados. “Os alunos não são burros”, afirma Filinto Lima. “Os alunos são espertalhões e, se forem devidamente acompanhados, têm sucesso.”
Maria Emília Brederode Santos critica não só a existência de retenção, como que esta comece tão cedo. O único ano em que as crianças não podem chumbar é no 1.º ano, mas a taxa de retenção no 2.º ano — a mais alta de todo o 1.º ciclo — revela que muitos alunos não estão preparados para avançar. Joaquim Azevedo admite que pode fazer sentido reter crianças em alguns anos da escola primária porque há alunos que demoram mais do que quatro anos para consolidar as aprendizagens básicas, como aprender a ler e escrever, saber calcular ou conhecer o meio que nos envolve. O que não pode é haver crianças que chegam ao final do 2.º ciclo com dificuldades nessas áreas. Com o formato atual do 2.º ciclo, os professores do 5.º e 6.º ano não têm tempo para ajudar os alunos a adquirir essas competências básicas. Um ciclo de seis anos daria mais tempo para que essas aprendizagens fossem melhor consolidadas.
Para Joaquim Azevedo e Filinto Lima, é claro que não se pode simplesmente acabar com os chumbos, o que se pode é melhorar a qualidade do ensino para aumentar o sucesso escolar e, aí sim, diminuir o abandono, o insucesso e as retenções. E melhorar a qualidade do ensino passa por fazer mudanças na organização, quer na estrutura dos ciclos, quer, por exemplo, na flexibilidade dos currículos.

As escolas têm capacidade para estas alterações?

“Nunca estamos preparados para a mudança”, diz Joaquim Azevedo, que acredita, no entanto, que as escolas tenham capacidade para se adaptar. Em termos de infraestruturas será o mais fácil. Quanto ao resto, como o número de professores por ciclo, as áreas de conhecimento ou as cargas horárias, é preciso desenhar cenários, investigar as implicações práticas de cada um desses cenários e chegar a um modelo. Tendo esse modelo, é preciso traçar um plano para a mudança, porque não vai acontecer de um dia para o outro.
João Dias da Silva reforçou que é um processo complexo e que a mudança, a acontecer, deve ser lenta e progressiva. O secretário-geral da FNE não nega que o debate possa ser feito, mas considerou que “não é um debate urgente”. É preciso identificar o melhor caminho, definir as condições de alteração e conseguir um amplo consenso que garanta a durabilidade da mudança, porque não se devem fazer alterações a cada ciclo político.
Para os primeiros anos, Joaquim Azevedo defende que deveriam existir mais professores aproximando-se mais do que acontece hoje em dia com o 2º ciclo, mas, por outro lado, o 5.º e 6.º ano deveriam ter uma estrutura mais próxima do 4º ano do que do 7º.  Filinto Lima acrescenta que, a partir do 3.º ano, os alunos deveriam ir além da língua portuguesa, matemática e estudo do meio, e incluir outras áreas do conhecimento. Como as competências dos professores passariam a estar relacionadas com áreas do saber e não com disciplinas, isso implicaria, necessariamente, uma alteração dos cursos no ensino superior, o que obrigada a um envolvimento das universidades e reitores neste processo. As mudanças da formação inicial e contínua dos professores também são uma das preocupações apontadas por João Dias da Silva.
Mas antes de perguntar se as escolas estão preparadas para a mudança, é preciso perguntar se o Governo e os restantes partidos com assento parlamentar estão preparados para a mudança, porque incluir o 2.º ciclo num 1.º ciclo de seis anos implicaria uma mudança à Lei de Bases do Sistema Educativo. Em 2016, pais, professores e diretores de escola já se tinham mostrado a favor da alteração para dois ciclos de seis anos cada um.

Ter um 2.º ciclo de dois anos é uma “originalidade portuguesa”?

“O 2.º ciclo é uma originalidade portuguesa”, disse a presidente do CNE à agência Lusa. “Só nós é que temos aqueles dois anos: que é um ano para entrar e um ano para sair e já se viu que não é uma boa prática.”
A forma como estão estruturados os ciclos do ensino obrigatório (até ao 12.º ano) e os currículos associados até podem ser uma ideia exclusivamente portuguesa, mas existem outras originalidades e muita diversidade em termos europeus, como mostra o relatório da rede Eurydice da Comissão Europeia, um organismo que fornece informações sobre os sistemas educativos de 38 países (os 28 Estados-membros da União Europeia mais 10 países que participam no programa Erasmus+).
Para o ano letivo de 2018/2019, a rede Euridyce analisou 43 sistemas educativos destes 38 países e classificou-os em três grupos principais:
  1. Aqueles cujo ensino é contínuo sem distinção entre ciclos, como na Dinamarca ou na Letónia;
  2. Aqueles que depois do ensino primário entram num primeiro nível de ensino secundário (que corresponde ao nosso 3.º ciclo) que é comum a todos os alunos, como em Portugal ou no Reino Unido;
  3. E aqueles que o primeiro nível do ensino secundário já é diferenciado e especializado, como na Alemanha ou na Áustria.
Apesar de considerar que, do 1.º ano ao 9.º ano, Portugal tem três ciclos de ensino básico, a Eurydice, baseada na Classificação Internacional Tipo da Educação, considera que o 3.º ciclo é a primeira etapa do ensino secundário e que o 1.º e 2.º ciclo, entre os seis e os 12 anos, fazem parte do ensino primário. Tendo esta classificação em conta, Portugal não é o único com mais do que um ciclo no ensino primário: França tem dois ciclos, um de três anos e outro de dois, entre os seis e os 11 anos de idade, e o Luxemburgo tem três ciclos, de dois anos cada um, entre os seis e os 12 anos.
A Eurydice assume que o normal é que o ensino primário tenha seis anos, mas assinala que o número de anos pode variar entre os quatro e os sete. Entre os países cujo ensino primário não chega aos 12 anos de idade está o Chipre, que termina aos onze anos e meio; Itália e Inglaterra, onde termina aos 11; Alemanha e Áustria aos 10 anos; e Turquia aos nove anos e meio. Comum a todos os países é a frequência obrigatória pelo menos até aos 15 anos de idade (14,5 no caso da Sérvia).
in observador.pt por Vera Novais, 22.11.2018