A Professora Ana Paula Laborinho, da Faculdade de Letras de Lisboa, escreveu um artigo no JL nº 1050, de 29 de Dezembro de 2010, com o título "O Livro dos Fingimentos", ajudando-nos a conhecer melhor este autor.
Considera a obra um texto "deslumbrante" por este ter uma característica interessante: a de intimar o leitor, como que lhe dirigindo a palavra para perguntar alguma coisa.
A leitura crítica desta obra tem desencadeado grandes controvérsias, chegando-se ao ponto de, ora se achar que o autor a encheu de fantasias e mentiras, ora defendendo-a e dando-a como verdadeiramente vivida.
Já antes de ser publicada, por volta de 1614, quando Mendes Pinto a escrevia em casa, a obra chamava a atenção dos que conheciam o manuscrito e até doutros que o não tinham lido, referindo que o relato era fantasioso.
Ana Paula Laborinho refere que, Herrera Maldonado, "autor da versão em castelhano", na 1ª edição de 1620, tomou o partido de F.M.P., contrariando essa ideia e chegando a incluir mesmo uma Apologia em favor do autor português.
A verdade é que a obra acabou por obter sucesso ao longo do século XVII, sendo lida como romance de aventuras (em vez do relato autobiográfico), o que na época era muito apreciado, e foi traduzida em castelhano, em francês , em holandês, em inglês e em alemão.
Em Portugal, uma das vozes que se levantou contra "a veracidade do relato" foi a do jesuíta João Rodrigues (o intérprete), ex-companheiro de F.M.P. comentando a chegada dos primeiros portugueses ao Japão, na História da Igreja do Japão (Macau, 1630) e que dizia assim:"Fernão Mendes Pinto, no seu Livro dos Fingimentos, se quer fazer um destes três (portugueses) e que se achou ali neste Junco, mas é falso, como o são muitas outras coisas do seu Livro, que parece compôs mais para recriação que para dizer verdades; porque (não há) Reino, nem acontecimento em que não finja achar-se."
Reconhecendo-se que a obra é de caráter autobiográfico, por vezes o autor dá a ideia de ceder o seu lugar a outras personagens, sendo ele um companheiro de aventuras ou um contador de outras histórias, fazendo parte da estrutura da Peregrinação.
Resta-me referir que, segundo a citada autora deste artigo do JL, é nos capítulos de iniciação e conclusão da obra que "ressalta o sentido religioso e reflexivo da Peregrinação ao longo da qual, além da revisitação dos lugares, o sujeito percorre a sua consciência, percurso atribulado que o fará partir em busca de riqueza para regressar 20 anos depois, alterado e outro, percebendo os perigos da cupidez que não se cansará de denunciar."
"O trocadilho em torno do nome do autor (Fernão, mentes? Minto.) acentuou o carácter fabuloso desta história." (in O Livro dos Fingimentos, de Ana Paula Laborinho, página 7, Jornal de Letras, 27.12.10 a 11.1.11.
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