Pedro – O grande embuste
Por: João César das Neves
Recebi este texto por e-mail e gostava de partilhar com os que lêem os meus posts apenas algumas notas referentes ao autor do mesmo:
Por: João César das Neves
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- quem escreveu este artigo não é de esquerda
- não é, nem comunista nem sindicalista
- também não é revolucionário ou agitador
- é, sim, economista e católico
BONDADE, CARIDADE, SOLIDARIEDADE
Amigo
Pedro, hoje dirijo-me a ti. O camarada Van Zeller foi passar o ano nas
Maldivas, está demasiado longe para que a minha voz lhe chegue. Acabei
agora mesmo de ler a tua mensagem de Natal no Facebook e só posso
dizer-te que me sinto profundamente desiludido. Afinal, Pedro, és tão
piegas quanto a maioria dos portugueses. A época natalícia
desmascarou-te, despiu-te da armadura de ferro, amoleceu-te. Falas-nos
como se fosses um convidado da Oprah ou um entrevistado do Alta
Definição, esvaindo-se em lágrimas de menino pendurado numa qualquer
parede de um qualquer solar português.
Dizes,
ó Pedro, que este Natal não foi o Natal que merecíamos. Reconhece-lo
depois de teres acabado com essa gordura social do décimo terceiro
salário. Convenceste-nos de que precisávamos de fazer dieta, e agora
vens vender-nos a banha da cobra em que terás banhado as azevias da
Laura.
Lamentas
que muitas famílias não tenham gozado na Consoada “os pratos que se
habituaram”, como se os pratos tivessem hábitos. E que muitos não
conseguiram ter a família toda à mesma mesa, como se isso fosse um
problema para quem já nem mesa tem. Quanto mais família! Deves pensar
que andamos todos a cultivar afectos, estimulados quiçá pela literatura
da E. L. James. Mas tu não vês, ó Pedro, que os velhos foram
abandonados, as criancinhas deglutidas e os gérmenes secados que nem
figos? Não andas a escutar com atenção o Presidente da República. Se
escutasses, também tu questionar-te-ias sobre o que mais é preciso fazer
para que nasçam crianças em Portugal. E também tu ficarias fascinado
com a mungidura das vacas e os méritos do bolo-rei em bocas amordaçadas.
Os
portugueses que não puderam dar aos filhos um simples presente deviam
dar os filhos a este Pedro. Ele que os crie com pratos de Sacavém. Ó
Pedro, tu não és assim. Tu és outra coisa qualquer, tu és um Trinitá da
política portuguesa. Resta-me a esperança de que esta tua metamorfose
não seja, em boa verdade, tão piegas quanto aparenta. Talvez sejas um
menino da lágrima a verter crocodilos pelos olhos. Afirmas, numa sintaxe
elíptica de fazer inveja aos maiores poetas da língua portuguesa, que
“já aqui estivemos antes”. Interrogo-me sobre onde será o aqui em que
estivemos, tu e eu, Pedro, os dois, antes.
A
comida que então esticava para todos lembrou-me a sardinha para três de
que tantas vezes me falou meu pai, mas nesse tempo não havia presentes
maiores nem menores, as pessoas não lavavam os dentes e poupavam no
banho. Não havia presentes, nem solas nos sapatos. Ponto final
parágrafo. Este ano que para muitos foi um ano cheio de sacrifícios,
Pedro, não foi “apenas” mais um ano. Foi o ano em que vimos a excelência
administrativa de um Oliveira e Costa a ser premiada com mesas exíguas
na Consoada das famílias portuguesas. Pergunta ao José Oliveira e Costa
de que tamanho era a mesa dele, e que prendas deu à filha Iolanda, e
pergunta ao Caprichoso que pratos lhe levaram à mesa, e ao Monteverde se
dividiu as sardinhas, e ao Duarte Lima se comeu bacalhau ou se
partilhou com o filho uma lata de atum, pergunta ao Arlindo Carvalho e
ao Almerindo Duarte e ao Dias Loureiro, e ao Aprígio e ao Joaquim
Coimbra e ao Fernando Fantasia e ao Catum, que conhecerás bem melhor do
que qualquer um de nós, pergunta-lhes, Pedro, os sacrifícios que têm
feito.
Pergunto-te
eu, Pedro, se é neles que pensas quando pensas nos que estão a sofrer.
Se não é, devia ser. Devias pensar mais neles e noutros como eles, como
esses a quem vais dando abrigo nas tuas lágrimas de Pedro. Pergunta ao
Relvas se dividiu o bacalhau com os angolanos. Ou então aprende com o
César das Neves e deixa de ser piegas, varre essas mensagens de facebook
para debaixo do tapete como fizeste com todas as promessas que te
trouxeram ao poder. Emigra, ó Pedro, faz desta crise uma oportunidade,
desperta o que de melhor há em ti, mata-te, emigra, enclausura-te num
mosteiro, faz qualquer coisa de útil para todos nós. Leva a Laura a
passear à Sibéria e não regresses. Porque não é com orgulho que fazemos
sacrifícios, estimado Pedro, muito menos supondo que esses sacrifícios
trarão aos nossos filhos um futuro melhor. Mas qual futuro, ó Pedro? Tu,
que ainda vês futuro onde já só se avista desesperança, explica-nos
como alegrar os dias num país onde a morte ultrapassa a vida. Tu não
percebes, Pedro, que estás a falar para 900 mil desempregados e outros
tantos perto de o serem? Ou julgarás que só a Jonet e o César das Neves
fazem um país inteiro?
Pedro, ao pé de ti o embuste Artur da Silva é uma anedota para entreter meninos, uma piada de mau gosto, um número de stand-up comedy.
Tu sim, Pedro, tu és o grande embuste que nos saiu na rifa, tu mais as
tuas garantias e a alegria misericordiosa das Jonet e dos César das
Neves, o vaselina Ulrich e o Relvas da consciência tranquila. Tenho a
certeza de que caberão todos a uma mesma mesa, a mesa dos caras-de-pau.
À bondade, caridade e solidariedade da tua estirpe, eu continuo a
preferir sentar-me à mesa da liberdade, da igualdade e da fraternidade…
Pedro.
Encontrei aqui:
http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.pt/2012/12/bondade-caridade-solidariedade.html (consulte, p.f.)
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