Diogo Infante e Ana Padrão, dois dos protagonistas da série |
Depois do Adeus, os retornados agora na ficção da TV
Em 2011, o romance premiado O Retorno, de Dulce Maria Cardoso, foi talvez o corolário da atenção de várias gerações de autores portugueses ao efeito disruptivo da descolonização na sociedade portuguesa - nos que nasceram ou emigraram para África e lá deixaram vidas depois de 1975 e nos “continentais”, como descreve o actor João Reis, que num período de redesenho social e político (não) acolhem os chamados retornados. Para Luís Marinho, director-geral de conteúdos da RTP, Depois do Adeus “retrata um período histórico controverso, e a série também será controversa por isso”.
Depois do Adeus, título emprestado da canção de Paulo de Carvalho que foi a senha para a revolução de Abril e que agora toca no genérico da série, propõe-se como uma viagem do 25 de Abril (no qual terminava Conta-me como foi, série de época de sucesso da RTP1 e que fez a direcção de programas querer “completar o ciclo”) à eleição de Ramalho Eanes, com paragens no Verão Quente ou no 25 de Novembro através da vida de famílias vindas de Angola e residentes em Lisboa.
Tem carochas e colarinhos pontiagudos, a ponte aérea, maoístas e nostálgicos de Luanda. Cada um dos 26 episódios está ligado a acontecimentos da época, não só pela cronologia, mas também por imagens dos arquivos da RTP (a Antena 1 lançou também o programa Começar de Novo, com histórias e sons do período, e a webradio Antena 1 Memória - Depois do adeus, começar de novo).
Tudo para contar “um passado recente em relação ao qual temos algumas mágoas”, resume o actor Diogo Infante que, como João Reis, interpreta um retornado na série protagonizada por Ana Nave e José Carlos Garcia e produzida pela SPTV. "Contamos esse passado agora porque são “histórias absolutamente extraordinárias de fuga, de sobrevivência, de resistência e portanto é normal que, como qualquer povo, gostemos das nossas boas histórias”, diz Helena Matos.
Se Diogo Infante vê em Depois do Adeus uma ligação directa com o momento actual - “Daqui a 20 anos talvez possamos estar a fazer uma série sobre os tempos de hoje e o sofrimento de famílias que vivem momentos dramáticos; a ficção devolve-nos essa realidade humana” -, João Reis acredita que a reaproximação a este passado, seja pela série documental A Guerra, pela literatura ou com esta nova série, conheceremos melhor “o modus operandi do português”. Helena Matos é peremptória: “A história destas pessoas e do país nos anos de 1975 e 76 mostra que há sempre uma saída”.
http://www.publico.pt/cultura/noticia/depois-do-adeus-os-retornados-agora-na-ficcao-da-tv-1580718
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