quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Perguntas a alunos de 5º ano de escolaridade sobre orientação sexual...

in:radioportuense.com

Na escola Francisco Torrinha, no Porto, foi entregue uma ficha "sociodemográfica" para os alunos de 5º ano de escolaridade preencherem e onde havia questões como: "Nacionalidade...Escola...Ano e Turma...Namoras atualmente?...Já namoraste anteriormente?...Sinto-me atraído/a por homens, mulheres, ambos...Com quem vivo...Encarregado de educação...".

Todas estas questões provocaram grande celeuma devido aos miúdos serem crianças de apenas 9/10 anos. A imagem do inquérito foi fotografada por um dos alunos e partilhada nas redes sociais, tornando-se viral.

Questionado sobre o assunto, o Ministério da Educação diz ser um caso pontual e não ter conhecimento do referido inquérito da escola, mas vai tentar apurar informação junto da escola. Entretanto, sabe-se que, para já, tanto a escola como a Direção de Agrupamento não prestaram quaisquer declarações.

Na minha opinião, a escola devia ter informado os encarregados de educação de que necessitava de colocar estas questões aos filhos destes (sobre orientação sexual...) e qual o objetivo em mente; ou então, e ainda melhor, era colocar primeiro essas questões aos próprios encarregados, pois dado o seu caráter tão "íntimo", está bom de ver que não iria passar assim tão despercebido... Não passou, e a polémica estalou mesmo...

Alguns especialistas nesta matéria, depois de entrevistados pelo DN, responderam assim: 

"Perante o questionário e o teor das perguntas, a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos é perentória. "É um atentado à dignidade humana. Não se faz, porque as pessoas têm de ser respeitadas na sua intimidade", afirma ao DN. Defende que este tipo de perguntas de orientação sexual não deve ser feito a alunos desta faixa etária, 9, 10 anos, porque aborda a intimidade das crianças. "Os pais têm de autorizar o inquérito, têm de ver o teor do inquérito. Os pais como primeiros educadores da criança têm de ver e dar autorização ao inquérito, e saber o objetivo da escola", considera a especialista.
Ana Vasconcelos defende uma escola inclusiva e reconhece a necessidade de conhecer o aluno, não através destas iniciativas. "Têm de ser através dos pais no que respeita a assuntos íntimos, como a saúde, a orientação sexual e a consciência de género", defende. Mas aos 9, 10 anos já se pode falar em orientação sexual? "A partir dos 3, 4 anos pensa-se que a criança já tem consciência do seu género. E antes do 5º ano, com 10 anos, as crianças já podem verbalizar que não se sentem no género que têm e que lhes foi atribuído. Pode acontecer", explica.


A Associação de Pais fez saber ainda, em comunicado enviado à Lusa, que "os pais estão calmos e a maior parte dos alunos não percebeu bem a questão que lhes foi colocada". "O Ministério da Educação está a par e vai agora tentar esclarecer a situação", adianta a associação.
O facto de as crianças não terem percebido a questão reforça a opinião de Ana Vasconcelos. "Sempre que eu faço uma pergunta a uma criança, há várias hipóteses. E se eu sei que a pergunta não vai ser compreendida não a faço", explica a pedopsiquiatra, que considera ser importante saber o objetivo da escola com esta "ficha sociodemográfica". "A intenção pode ser boa, mas saiu torto."
O facto de poder ser um inquérito anónimo não altera a opinião da pedopsiquiatra. E explica porquê? "Mesmo que não seja atribuída a identidade, os miúdos ficam a pensar naquilo. As perguntas que não percebem, que não sabem responder, causam impacto no seu pensamento." 
"Não vejo qual é o interesse em perguntar a uma criança de 9 anos por quem se sente atraído", refere o sexólogo Júlio Machado Vaz
O psiquiatra e sexólogo Júlio Machado Vaz foi uma das pessoas que partilhou a fotografia do inquérito com a legenda: "Aguardo com espantada - e talvez ignorante, claro... - curiosidade uma explicação." Ao DN justifica o porquê? "Não vejo qual é o interesse em perguntar a uma criança de 9 anos por quem se sente atraído, pode ser que haja uma explicação científica em que eu não tenha pensado."
(in DN de 11 de outubro 2018)

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