in algarvemarafado.com |
ESTÔMBAR - Origem do nome e significado: "Parece vir de um étimo céltico derivado de set, 'outeiro', alterado por influência arábica."
(pesquisei e encontrei em: www.infopedia.pt)
(pesquisei e encontrei em: www.infopedia.pt)
"Estômbar, (freguesia., conc. Lagoa) - Os árabes batizaram de Sanabus a localidade, situada no interior de um castelo chamado Abenabeci, conquistado pelas tropas de D. Sancho I, no início da última década do século XII. O tempo acabaria por, supõe-se, fazer evoluir a denominação para o atual topónimo." (pesquisei e encontrei em: dicionário do nome das terras, por João Fonseca, editora casa das letras, maio 2007)
in barlavento.pt |
Nunca esquecerei esta terra, porque era para lá que íamos passar as nossas férias de verão em família, numa casa de campo que começámos a alugar, a partir da década de 80, em setembro, pertencente a uns emigrantes portugueses que tinham ido trabalhar para França.
À noite, ouviam-se os grilos e quando subíamos à açoteia víamos os pirilampos a piscarem as suas luzinhas verdes. Durante o dia, as cigarras (os machos cantores) não se calavam, com o seu fratenir, produzindo sons estridentes, no topo das árvores que se encontravam no meio das alfarrobeiras e figueiras.
Lembro-me que era uma casa muito quente e tinha janelas de madeira que só abríamos à noite, para refrescar as divisões todas; se as abríssemos durante o dia, a casa tornava-se um autêntico forno e enchia-se de mosquitos.
Era por isso que quando lá chegávamos para passar férias, a primeira coisa que fazíamos, depois de nos instalarmos, era ir às compras; não só para nos abastecermos, como para adquirir "inseticida", primeira palavra que constava da lista, infalivelmente; sem isso, não conseguíamos dormir!
Ali passámos os nossos melhores momentos de verão durante algumas décadas, onde éramos recebidos por um casal que estava encarregue de tomar conta da casa e de todo o pomar circundante. Eram os caseiros e tinham um filho ainda bebé.
Ano após ano, quando acabávamos de chegar, a caseira vinha trazer-nos sempre uma terrina com fruta. A partir de uma certa altura, já era o filho quem vinha bater à porta com uma grande travessa cheia de peras e que os pais enviavam para nos darem as "boas vindas".
Assim que nos ouvia chegar da praia, ele vinha ter connosco e ali ficava a ver-me lavar os fatos de banho no pequeno tanque, e a estendê-los na corda, a querer ajudar, metendo as mãos na água e gostando de sentir os salpicos no seu rosto.
Até que, passados uns cinco anos, veio outro bebé; mais um rapaz! Muito risonho e muito dado. Lembro-me que era um bebé muito afetuoso.
Nós saíamos de manhã e passávamos o dia a passear conhecendo muitos lugarejos, bem como cidades e praias. Normalmente íamos para as praias da Rocha ou do Alvor e era lá que almoçávamos e bebíamos o cafezinho que eu levava no termos. Corríamos o Algarve, de lés a lés. Antes de regressarmos a casa, o banho do final da tarde em Ferragudo, era sagrado.
Para preparar o nosso farnel para todo o dia, eu tinha de me levantar cedo para ir fazer as compras à vila. Era sempre acordada por um "despertador" especial, um comboio que passava na linha férrea que ficava apenas a uns metros da casa, por volta das oito da manhã, apitando ruidosamente durante uns minutos à passagem por Estombar.
E logo a seguir, eu saía de casa. No trajeto até à estrada, eu parava sempre diante de uma figueira carregada de figos de mel já bem maduros e provava alguns. Atravessava então a estrada para o outro lado, entrando na freguesia de Estômbar, afim de comprar o necessário para o passeio. Subia uma rua íngreme que passava mesmo ao lado da Junta de Freguesia, e deliciava-me a olhar as casinhas todas juntas, com as portadas abertas, e as pessoas que, simpaticamente, vinham à porta cumprimentar-me. Eu subia devagar, a rua quase parecia "de pé", sentindo os músculos das pernas muito presos pelo esforço, mas a cada dia mais vigorosos, tal era o exercício!
E lá chegava um pouco esbaforida à padaria, mesmo no topo da vila, depois da Igreja Matriz. Comprava o pão para as sandes e também umas "línguas de sogra", tão estaladiças, tão douradinhas, com um sabor tal a canela, que não me lembro de ter voltado a experimentar semelhante até aos dias de hoje!
vista da vila de Estômbar in algarvemarafado.com |
Ano após ano, quando acabávamos de chegar, a caseira vinha trazer-nos sempre uma terrina com fruta. A partir de uma certa altura, já era o filho quem vinha bater à porta com uma grande travessa cheia de peras e que os pais enviavam para nos darem as "boas vindas".
Assim que nos ouvia chegar da praia, ele vinha ter connosco e ali ficava a ver-me lavar os fatos de banho no pequeno tanque, e a estendê-los na corda, a querer ajudar, metendo as mãos na água e gostando de sentir os salpicos no seu rosto.
Até que, passados uns cinco anos, veio outro bebé; mais um rapaz! Muito risonho e muito dado. Lembro-me que era um bebé muito afetuoso.
Nós saíamos de manhã e passávamos o dia a passear conhecendo muitos lugarejos, bem como cidades e praias. Normalmente íamos para as praias da Rocha ou do Alvor e era lá que almoçávamos e bebíamos o cafezinho que eu levava no termos. Corríamos o Algarve, de lés a lés. Antes de regressarmos a casa, o banho do final da tarde em Ferragudo, era sagrado.
Ferragudo - Praia dos Caneiros in tripadvisor. com.br |
Para preparar o nosso farnel para todo o dia, eu tinha de me levantar cedo para ir fazer as compras à vila. Era sempre acordada por um "despertador" especial, um comboio que passava na linha férrea que ficava apenas a uns metros da casa, por volta das oito da manhã, apitando ruidosamente durante uns minutos à passagem por Estombar.
E logo a seguir, eu saía de casa. No trajeto até à estrada, eu parava sempre diante de uma figueira carregada de figos de mel já bem maduros e provava alguns. Atravessava então a estrada para o outro lado, entrando na freguesia de Estômbar, afim de comprar o necessário para o passeio. Subia uma rua íngreme que passava mesmo ao lado da Junta de Freguesia, e deliciava-me a olhar as casinhas todas juntas, com as portadas abertas, e as pessoas que, simpaticamente, vinham à porta cumprimentar-me. Eu subia devagar, a rua quase parecia "de pé", sentindo os músculos das pernas muito presos pelo esforço, mas a cada dia mais vigorosos, tal era o exercício!
E lá chegava um pouco esbaforida à padaria, mesmo no topo da vila, depois da Igreja Matriz. Comprava o pão para as sandes e também umas "línguas de sogra", tão estaladiças, tão douradinhas, com um sabor tal a canela, que não me lembro de ter voltado a experimentar semelhante até aos dias de hoje!
Afeiçoámo-nos uns aos outros, ao longo dos anos; as crianças dos caseiros cresceram, mas quando chegávamos para as nossas férias, já não nos largavam, sempre a bater à nossa porta para nos verem e brincarem com as nossas, que, claro, também iam crescendo.
Passámos alguns serões juntos, a petiscar umas deliciosas caracoletas com Knorr e orégãos, confeccionadas pelo caseiro, cujo sabor se tornou inesquecível! Eram "regadas" com um vinho da Lagoa, outras vezes o Lezíria de Almeirim, que ele ia buscar. Tudo isto acompanhado de broa de centeio ou pão cozido no forno doméstico.
in: eueaminhacomida.blogspot.com |
Um pormenor interessante: para puxarmos as caracoletas cozinhadas para fora da sua "casa", aproveitando-as bem, o caseiro munia-nos de uns picos de folha de palmeira que ele ia buscar ao campo e preparava. Assim, ao espetarmos o pico na caracoleta, ela vinha inteira. Outras vezes, os caseiros assavam nas brasas do fogareiro as sardinhas que eu encomendava na peixaria, logo de manhã; isto, se eu tivesse ouvido o carro do peixe a buzinar por toda a vila!!! É que esse sinal sonoro era "um código especial" passando a mensagem de que havia muito peixe fresco à venda. Também havia febras assadas. No fim, melão ou melancia fresquinhos rematavam a nossa refeição. E foi assim, durante décadas.
Até que um dia, o proprietário da casa resolveu vendê-la e a partir daí, em cada ano, tivemos de começar a procurar apartamento noutros locais, para podermos gozar as nossas férias, que passaram a ser em julho ou agosto, partindo à descoberta de Quarteira, Vilamoura, Albufeira, Monte Gordo...
Os nossos filhos, agora já adultos, adaptaram-se bem e nós acompanhámo-los, o ser humano adapta-se às mudanças. Mas dentro de mim, nunca esqueci Estômbar, os caseiros e os filhos, a casa no campo, a padaria e a Igreja, o Restaurante São Gabriel e o Palmeira, os outros em Portimão, e as nossas noites de passeio no carro ouvindo música, depois de termos jantado; ou passeando a pé pela Praia da Rocha, parando para comer gelados.
Os nossos filhos, agora já adultos, adaptaram-se bem e nós acompanhámo-los, o ser humano adapta-se às mudanças. Mas dentro de mim, nunca esqueci Estômbar, os caseiros e os filhos, a casa no campo, a padaria e a Igreja, o Restaurante São Gabriel e o Palmeira, os outros em Portimão, e as nossas noites de passeio no carro ouvindo música, depois de termos jantado; ou passeando a pé pela Praia da Rocha, parando para comer gelados.
Também os caseiros se mudaram para uma casa em Monchique e como os amigos não se esquecem, visitamo-los aí ou encontramo-nos quando nos é possível. Para além de tentarmos manter contacto pelo WhattsApp, falamos do presente e recordamos aquele passado que tantos momentos felizes nos proporcionou.
É por tudo isto que Estômbar se tornou inesquecível para mim! Para além de continuar a gostar muito dessa vila, todo tão branca e tão especial, com alguns nomes de poetas árabes importantes nas suas ruas e os beirais das casas onde as andorinhas chilreiam, sinto sempre uma forte emoção misturada com saudade quando me lembro daquelas férias de verão, nas décadas de 80 e 90!
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