quarta-feira, 1 de julho de 2020

Emissões de CO2 voltaram depois da pandemia

Há uns tempos atrás, constatámos que com o confinamento obrigatório em todo o mundo, os níveis de poluição no planeta tinham diminuído. 

As notícias pareciam boas, ficámos mais satisfeitos, mas agora, com o gradual desconfinamento dos países, em que ponto nos encontramos?

Vamos já fazer o ponto da situação necessário para que nos consciencializemos que a nossa atitude para com o planeta vai ter de mudar


Há uns meses, numa altura em que todos precisávamos de boas notícias, gerou-se algum otimismo à volta do que parecia ser o único aspeto positivo do confinamento a que a pandemia condenou o mundo: pelo menos, com os transportes, a indústria e o comércio parados, as emissões poluentes estavam a cair a pique. Desde cedo, porém, o setor ambientalista alertou para o perigo do argumento. No fim do confinamento, tudo voltaria ao normal.

Agora, um estudo feito por um conjunto de cientistas de vários países vem mostrar isso mesmo. Os 13 investigadores recorreram a múltiplas fontes oficiais de informação para construir a base de dados mais completa até ao momento sobre a forma como as emissões de dióxido de carbono evoluíram em todo o mundo, por país e por setor de atividade, ao longo dos primeiros seis meses de 2020. Foi a partir dessa base de dados que preparámos uma série de gráficos que ilustram o regresso em força das emissões de CO2 no mundo e em Portugal.


(imagem in observador.pt)

A nível global, conclui-se que as emissões de dióxido de carbono atingiram o mínimo nos primeiros dias do mês de abril, altura em que o maior número de países em simultâneo estiveram sob confinamento. Nessa semana, o mundo emitiu cerca de 17% menos CO2 para a atmosfera relativamente aos valores médios registados até janeiro. Foram menos 17 milhões de toneladas de CO2 por dia. Em Portugal, o mínimo verificou-se praticamente ao longo de todo o mês de abril.

Contudo, em poucos dias, as emissões voltaram a subir. Em meados de junho (últimos dados disponíveis), o mundo já estava apenas 5% abaixo das emissões habituais. Mas em vários países (por exemplo, a China) e setores de atividade (por exemplo, o consumo de eletricidade), os valores já estavam, em junho, ao nível dos registados no início do ano. No fim do ano, os cientistas estimam que a redução temporária registada nestes meses venha a ter um impacto entre os 4% e os 7% nas emissões anuais.

Significativo? Sem dúvida. Suficiente para cumprir os limites definidos pelo acordo de Paris? Garantidamente não.

Aviação elétrica está um passo mais perto

Mas o período da pandemia trouxe outras boas notícias com potencial para não desaparecerem depois do confinamento. Numa discreta manhã de maio, em que as atenções do mundo se focavam exclusivamente na propagação do coronavírus, um consórcio de duas empresas conseguiu operar com sucesso o primeiro voo experimental do maior avião 100% elétrico alguma vez construído.

Numa altura em que as companhias aéreas lutam pela sobrevivênciaapós mais de três meses com os aviões em terra, são muitos os apelos para que os governos condicionem os apoios financeiros ao cumprimento de metas de sustentabilidade, já que a aviação é o setor mais poluente na área dos transportes. Ao mesmo tempo, a possibilidade de acabar de vez com os combustíveis fósseis na aviação civil está cada vez mais perto.

Ou, vá lá, menos longe. A verdade é que o maior avião elétrico do mundo ainda é só a versão adaptada de um pequeno Cessna Caravan 208B, que em condições normais tem capacidade para apenas nove passageiros, e que na versão modificada só tinha um lugar — o do piloto. Ainda assim, o voo de meia-hora do eCaravan deixou o setor da aviação confiante no desenvolvimento de novos sistemas de propulsão elétricos capazes de fazer descolar aviões maiores.

Grande parte do processo passa agora pelos expectáveis avanços no setor das baterias elétricas, que têm de ser capazes de armazenar mais energia em menos espaço físico, para que um avião elétrico possa transportar dezenas de pessoas entre continentes. Uma coisa é certa: vai ser muito mais barato. O voo de meia-hora do eCaravan custou 6 dólares em eletricidade. O combustível para um voo igual teria custado mais de 300 dólares.

(O texto é do jornalista João Francisco Gomes, que escreve no observador.pt  quarta 1 de julho 2020)

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