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Aquela cativa
Aquela cativa,
que me tem cativo
porque nela vivo,
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que para meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
nem no céu estrelas
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados, pretos e cansados,
mas não de matar.
Uma graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.
Pretidão de amor, tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor..
Leda mansidão
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas bárbora não.
Presença serena
que a tormenta amansa;
nela, enfim, descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo.
E pois nela vivo,
é força que viva.
LUÍS VAZ DE CAMÕES
Lírica de Luís de Camões
(endechas a uma cativa
com quem andava
de amores na Índia,
chamada Bárbora)
"Endechas: poema em verso de redondilha, não submetida a mote.
Este poema célebre, dedicado a uma escrava, apresenta, para já, o interesse de oferecer um retrato feminino que que foge ao padrão europeu da tez clara, olhos verdes e cabelos louros; por outro lado, ele é todo construído com base em jogos de palavras de intenção antitética: cativa/cativo; vivo/viva; senhora/cativa; estranha/bárbara (no sentido de estrangeira, estranha)..."
REFERÊNCIA: Baseei-me na obra de Amélia Pinto Pais,"Eu cantarei de amor", lírica de Luís de Camões, Areal Editores, 1987
1 comentário:
Gostei imenso!Camoes,a sua lírica…incomparável!
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