terça-feira, 24 de setembro de 2024

Um poema de Luís de Camões

Luís Vaz de Camões, quem foi? Estilo, escola literária e ...
imagem obtida in: https://conhecimentocientifico.r7.com


Aquela cativa

Aquela cativa,

que me tem cativo

porque nela vivo, 

já não quer que viva.


Eu nunca vi rosa

em suaves molhos, 

que para meus olhos 

Fosse mais fermosa.


Nem no campo flores, 

nem no céu estrelas

me parecem belas

como os meus amores.


Rosto singular,

olhos sossegados, pretos e cansados,

 mas não de matar.


Uma graça viva, 

que neles lhe mora, 

para ser senhora

de quem é cativa.


Pretos os cabelos,

onde o povo vão

perde opinião

que os louros são belos.


Pretidão de amor, tão doce a figura,

que a neve lhe jura

que trocara a cor..


Leda mansidão

que o siso acompanha;

bem parece estranha, 

mas bárbora não.


Presença serena

que a tormenta amansa;

nela, enfim, descansa

toda a minha pena.

Esta é a cativa 

que me tem cativo.

E pois nela vivo,

é força que viva.


LUÍS VAZ DE CAMÕES

Lírica de Luís de Camões


(endechas a uma cativa 

com quem andava 

de amores na Índia,

 chamada Bárbora)

"Endechas: poema em verso de redondilha, não submetida a mote.

Este poema célebre, dedicado a uma escrava, apresenta, para já, o interesse de oferecer um retrato feminino que que foge ao padrão europeu da tez clara, olhos verdes e cabelos louros; por outro lado, ele é todo construído com base em jogos de palavras de intenção antitética: cativa/cativo; vivo/viva; senhora/cativa; estranha/bárbara (no sentido de estrangeira, estranha)..."

REFERÊNCIA: Baseei-me na obra de Amélia Pinto Pais,"Eu cantarei de amor", lírica de Luís de Camões, Areal Editores, 1987

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei imenso!Camoes,a sua lírica…incomparável!