sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Qual é a origem da nossa língua? (Parte I)

Marco Neves - YouTube
(Marco Neves)
imagem obtida em youtube.com

Quando frequentei a Faculdade de Letras do Porto, licenciando-me em Línguas e Literaturas Modernas, Variante Português/Francês, descobri que tinha uma certa propensão para conhecer as origens da nossa língua e a etimologia das palavras, e isso passou a fascinar-me definitivamente.

Ao pesquisar o tema do título do meu post no livro Almanaque da Língua Portuguesa, de Marco Neves, Autor e Guerra e Paz, Editores,,  S.A. 2020.
A presente edição não segue a grafia do novo ortográfico.
Encontrei uma explicação que passo a partilhar :

"Qual é a origem da nossa Língua? Que língua falava Afonso Henriques?
Quando Afonso Henriques se tornou Rei de Portugal, que línguas ouvíamos nas ruas de Guimarães? Seria latim?  Seria português?
O latim clássico não era certamente: entre a chegada dos Romanos ao Ocidente da Península e o momento em que Afonso Henriques se torna rei passam séculos e séculos - mais séculos, aliás,  dos que já passaram entre o tempo de Afonso Henriques e o nosso próprio tempo.
Não só a nossa língua provém do latim vulgar, das, ruas, e não do latim clássico, como seria de estranhar que o latim, ao longo de mais de 1000 anos, não mudasse. Mudou - e mudou muito.
No momento em que Afonso Henriques nasce, nas ruas já ouvíamos algo com características que hoje consideraríamos muito portuguesas e muito menos latinas. Como exemplo, já se notaria a queda do / n / e do / l /  em muitas palavrasque, noutras línguas (como o castelhano), ainda se mantêm - por exemplo, a "luna" latina passou a "lua" em português e manteve-se "luna" no castelhano.
Apesar  de ser já, em traços largos, a nossa língua, ninguém utlizava a designação "português" para a língua. O termo comum seria "linguagem", a linguagem do "dia-a-dia" desprezada e sem forma escrita. Era, no entanto, uma língua completa. 
As línguas vão mudando ao longo dos séculos, transformando-se e dividindo-se, mas nunca estão numa fase imperfeita ou decadente. Estão sempre em contínua mudança.
Agora a surpresa: a tal linguagem que saía da boca de Afonso Henriques desenvolveu-se, a partir do latim vulgar, no Norte de Portugal, mas também na Galiza. Naquele momento, não havia uma fronteira linguística entre o novo reino e o reino a norte. A língua de Afonso Henriques era a língua latina própria do território da Antiga Galécia romana, que incluía o Norte de Portugal e a Galiza.
Nos primeiros séculos da nossa nacionalidade, a tal linguagem da rua, a língua da Galécia, começou a ser escrita ~e há, aliás, muito boa literatura naquilo que hoje chamamos "galego-português" (um nome que ninguém usou até muitos séculos depois). A língua própria da antiga Galécia era uma língua que chegou a ser usada pelos reis castelhanos para escrever poesia -e foi usada, sem dúvida, por D. Dinis na sua poesia e, cada vez mais, em documentos oficiais.Era o nosso português antes de se chamar português.
A língua da Galécia tornou-se a língua do novo reino de Portugal.
Com alguma naturalidade, tempos depois, começou a aparecer o nome de "português" como designação da língua do reino - sem que a língua deixasse de ser a mesma que se falava ainda a norte do Minho, na Galiza.

Almanaque da Língua Portuguesa
imagem obtida em wook.pt

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