sexta-feira, 5 de março de 2010

Ser MULHER e MÃE!


in: biblideols.wordpress.com

Comprei há dias uma revista francesa, a "Femme Actuelle"  e nela encontrei uma entrevista muito interessante, focando um tema sempre actual, que gostaria de partilhar com os leitores.

Elisabeth Badinter é uma escritora e filósofa francesa. A "Femme Actuelle" entrevistou-a a propósito do que se passa com a MULHER nos nossos dias...; é uma feminista convicta e denuncia, num livro seu, aquilo que ela considera como uma regressão para o estatuto das mulheres: "Trabalho, filhos... a pressão sobre as mulheres é demasiado forte".

Alerta para o problema com um novo ensaio "O conflito, a mulher e a mãe" depois de, há 30 anos, ter escrito "L'amour en plus, histoire de l'amour maternel". Hoje, para ela, é urgente parar de glorificar a mãe perfeita!

Esta intelectual denuncia o regresso da maternidade, em grande, ao seio da identidade francesa. Explica que houve várias correntes de pensamento vindas dos EUA que "reinstauraram" a imagem da mulher como mãe, acima de tudo. O que não se pode esquecer é que, simultaneamente, as obrigações maternais tomaram uma enorme dimensão, com um peso tremendo!

Hoje, a MÃE é responsável por  tudo o que diz respeito aos seus filhos, pois tem de olhar pelo seu bem-estar físico e psíquico, dar-lhes educação, acompanhá-los nos estudos,  levá-los às variadíssimas actividades... Se nos conformarmos com essas regras "impostas", então uma "boa mãe" terá que ser uma mãe a tempo inteiro!

Quando a entrevistadora lhe perguntou se não era o que já se passara anteriormente, Elisabeth Badinter referiu que, antes dos anos 80, a maternidade na mulher dos países industrializados, era um factor essencial nas suas vidas mas, de modo algum, o único; essas mulheres trabalhavam mas desejavam também o seu próprio bem-estar físico e intelectual, ocupando-se ainda dos filhos.

Segundo a entrevistada,  elas conseguiam conciliar tudo;  achavam normal "dar o biberão" aos filhos ou entregá-los a uma ama; o "biberão" era o símbolo de uma certa liberdade; o pai tinha a possibilidade de partilhar desses momentos, chegando, mesmo, a substituir a mãe.

A dada altura, a entrevistadora questiona-a sobre a crítica de o  biberão marcar o regresso da maternidade a tempo inteiro. Elisabeth Badinter, argumenta que, por exemplo, em Espanha, em Itália, na Áustria ou até na Alemanha, "o biberão é sinónimo de egoísmo maternal"; tudo isto faz com que muitas mulheres não tenham outra opção, senão a de amamentar por um período de seis meses, chegando ao ponto de ficarem  em casa durante dois anos.

Acrescenta que se passa o mesmo nos países escandinavos, em que é apresentada "...uma taxa de amamentação de 70%, sob uma pressão "écolo-morale". Para aquelas que recusam, é o julgamento e a culpabilização assegurados! A França, graças a Deus fica como a má aluna (taxa de aleitamento inferior a 20% depois dos três meses). Mas por quanto tempo?"

Esta filósofa refere que há correntes de pensamento que aos poucos conseguiram impor a ideia de que era preciso voltar às normas da natureza, com uma desconfiança pelo não-natural...

Em relação à amamentação, defende que as mulheres devem ser livres na escolha da alimentação que facultam aos filhos,  "sem pressão culpabilizante".

A propósito do preço alto que a mulher tem de pagar por ter de conjugar  marido, filhos, trabalho, esgotando-se completamente, Elisabeth Badinter confessa que ficou "assombrada", quando ao trabalhar no seu ensaio, constatou que nos desembaraçámos de uma grilheta - a do patriarcado milenar - para a partir dele receber uma nova, que é a sobrecarga de deveres que a mulher tem de assumir em relação aos filhos.

É, sem dúvida, uma pressão muito forte e  a mulher sente-a em casa e no trabalho. Leva a vida num corropio e ainda tem de pensar em tudo o que tem de fazer antes de regressar a casa; são as novas regras da sociedade, exigindo que a mulher faça de tudo para que seja a mãe perfeita...de filhos perfeitos...

Ela explica que pode parecer que era o caso das nossas mães e avós, mas não o é: não se pode comparar a pressão de agora com a de outrora. Basta referir que uma socióloga americana, Michele Stan Worth, em meados dos anos 80, calculou que para educar duas crianças, era preciso tempo e energia como se se educassem seis, nos anos 50; claro que 20 anos mais tarde, é bem pior!

No final da entrevista, muito oportunamente Elisabeth Badinter refere que os seres humanos têm limitações;  a sobrecarga  sobre os ombros da mulher traz como consequência que esta não possa investir tanto no trabalho como o homem...a menos que as mulheres resistam à grande pressão da pretensão da "mãe perfeita"... Se assim for,  decerto que a vida do casal  correrá melhor.

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