quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dr. Daniel Sampaio insurge-se "contra a escola-armazém"

Ao ler um artigo do Dr.Daniel Sampaio no PUBLICO.pt, em que este comenta a proposta da CONFAP Confederação Nacional das Associações de Pais) a propósito da sugestão que esta faz para que a escola funcione a tempo inteiro (7.30 - 19.30 ?), não posso deixar de estar de acordo com os argumentos que ele apresenta contra "a escola-armazém".

O Dr. Daniel Sampaio declara que compreende a proposta, pois todos sabemos que os pais passam o dia inteiro a trabalhar, considerando-se a escola como um espaço seguro para lá deixarem os filhos.

Refere que quando citou o filme Paranoid Park, de Gus Von Dant, no PÚBLICO, de 7 de Fevereiro, teve apenas a intenção de referir que, tanto em casa, como na escola, as crianças não criam laços de afecto com os mais velhos, porque estes não se disponibilizam para tal. O Dr. Daniel Sampaio declara: "É que não consigo conceber um desenvolvimento da personalidade sem um conjunto de identificações com figuras de referência, nos diversos territórios onde os mais novos se movem".

Chegado a este ponto, o médico argumenta que, ao  desejar-se que a escola funcione a tempo inteiro, vai resultar que as crianças ali passem muitas horas, pedindo aos professores para serem substitutos das famílias. E vai mais longe: por que razão as associações de pais não lutam por melhores condições laborais a atribuir aos pais, para que estes tenham mais tempo para os filhos?

Hoje em dia os professores têm um papel decisivo junto dos seus alunos. Dão-lhes instrução, ensinam-lhes regras de convivência com os outros, transmitem-lhes valores. São os docentes que orientam os estudantes para que estes abarquem o mundo que os envolve. Acha que já se pediu demasiado à escola e aos professores: "... não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional."

Daniel Sampaio observa que o convívio dos adultos com os mais novos e a vida em família estão afectados, não podendo ser substituídos pela escola. Os pais têm de lutar junto das instituições/entidades competentes para terem mais tempo para os filhos "depois do seu nascimento"...

Termina a sua reflexão com um conselho aos professores:  "... (...) ... conviria que não aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais."



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