quinta-feira, 8 de julho de 2010

Um Poema de Fernando Pessoa




AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.


Finge tão completamente


Que chega a fingir que é dor


A dor que deveras sente.






E os que lêem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,


Não as duas que ele teve,


Mas só a que eles não têm.






E assim nas calhas da roda


Gira, a entreter a razão,


Esse comboio de corda


Que se chama o coração.





Sem comentários: