imagem encontrada em: anoiteceacontece.blogspot.com Quadras de São João: Eu sou a fonte vadia Dum S. João vagabundo Que mata a sede à folia Da maior noite do mundo Meu balão não é d'espanto! Não tem vinda, só tem ida, Leva risos, leva pranto… Tudo faz parte da vida. Com tua mão presa à minha Fui à fonte e não bebi, estranha sede que tinha Era só sede de ti! Ninguém conhece ninguém. Rusgas, ervas, festas a rodos. Quando a madrugada vem Já todos conhecem todos! Oh! a raiva com que fico Desse teu jeito de acaso. Olhar preso ao manjerico, Mãos em festinhas ao vaso. Tirou na roda a chinela P'ra bailar de pé no chão, Que o fogo que ardia nela Já lhe queimava o tacão! Não mandes beijos, amor, Beijar é face com face. A água tem mais sabor Junto da fonte onde nasce. Por eu ser pobre e tu rico, Não julgues que o mundo é teu: Se tu tens o manjerico, Quem tem o vaso sou eu. Ninguém se sente sozinho Na noite de S. João: O de mais longe é vizinho, O de mais perto é irmão. Eu saltei sempre a fogueira Sem temer ficar queimada Que a vida passa ligeira E sem chama é mal passada És uma fonte de vida Onde eu sempre quis beber; Andava a água perdida E eu de sede a morrer Fazes promessas na rua, Em casa dizes que é tarde… Não sei que fogueira é a tua Que não se apaga nem arde!... Ninguém me culpe por ter Mais que uma fonte na vida, Pois da sede de qualquer Só Deus conhece a medida… Deixaste-me só na rua, Hoje amor, por brincadeira, E lenha que não foi tua, Fez-me arder a noite inteira. As cascatas que fizemos Em cada nesga de rua Vão do chão onde vivemos Até ao balão da Lua. Não dês aval à riqueza Se não sabes de onde veio Há muita lareira acesa Com a lenha do alheio. Já nem sei o que sentir Na noite de S. João Ao ver o balão subir E o povo sempre no chão A fogueira, de atiçada, Vejo trémula, e desmaia, Por certo que fascinada Do jeito que dás à saia. Quanta gente vive à solta Nas rodas que a vida tem Esperando a melhor volta Para bailar com alguém. Fonte de trás da parede, Não me cantes à noitinha, Que eu não vou matar a sede Em fonte que não é minha. É tua boca vermelha Um bonito cravo aberto. Cuidado com uma abelha Que anda a zumbir muito perto. (JN, junho 2006) Referência: http://pimentanegra.blogspot.pt |
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