imagem conseguida em: grupoielp1.wordpress.com |
Não posso deixar de transcrever um artigo bastante pertinente que acabei de ler no Jornal Público e que considero da maior importância dá-lo a conhecer, tentando, assim, que as nossas consciências despertem...
Eu própria estudei cinco anos de Latim, tendo compreendido quão fundamental essa língua considerada "morta" em todo o mundo, estava afinal bem "viva" dentro de mim, e não aceitando, claro, porque é que ela é tida como tal - uma língua morta -...
Só quem a estuda e a vai assimilando bem, é que pode avaliar a sua grande importância na compreensão de muitos vocábulos "difíceis" que surgem nas mais diversificadas leituras que fazemos no nosso quotidiano, e que, com a base do Latim, conseguimos descortinar o seu significado. Para não falar de como é lindíssima a leitura de textos em Latim...!
Só quem a estuda e a vai assimilando bem, é que pode avaliar a sua grande importância na compreensão de muitos vocábulos "difíceis" que surgem nas mais diversificadas leituras que fazemos no nosso quotidiano, e que, com a base do Latim, conseguimos descortinar o seu significado. Para não falar de como é lindíssima a leitura de textos em Latim...!
Foram muitas horas de estudo para além das aulas com professores dedicadíssimos...; recordo, especialmente, uma época da minha vida com muitas horas de explicações, em grupo, com um professor que nos obrigava a ir aos domingos e feriados...e ninguém se atrevia a faltar...!!!
Por isso, nunca aceitei que em Portugal esta língua não faça parte dos currículos, tanto nos Cursos de Letras, como nos de Ciências. Ainda mais: acho que deveria ser lecionada a partir do 5º ano de escolaridade (há muito que está provado que a aprendizagem das línguas deve ser o mais precocemente possível).
E sempre me lembro, quando estudava, de os professores nos dizerem: "O Latim é a matemática das línguas"! Sim, a "ginástica mental" e o "raciocínio constante" a que esta língua nos obriga, é algo de fabuloso! O nosso cérebro torna-se imparável...
Sempre que nas minhas aulas de Português ou Francês precisei de explicar aos meus alunos de 2º e 3ºciclos certos conteúdos, socorrendo-me do que aprendera no liceu e Faculdade, a Latim, constatei, de um modo geral, que os aceitavam e percebiam bem...e sem qualquer relutância...
"O latim representa mais de dois mil anos de cultura. Foi nele que o
mundo ocidental produziu, até ao século XVIII, a sua ciência, filosofia,
religião; a sua história é a matriz das línguas românicas, tendo
significativos ecos em línguas como o inglês e o alemão. Aprender esta
língua é ter acesso a uma cultura milenar que fundou, juntamente com o
grego, a sociedade moderna e cujos valores transportam saberes, desde a
área jurídica à educação e à medicina.
Países como Inglaterra, Alemanha e Espanha colocam, actualmente, nos seus curricula
o ensino do Latim, por perceberem a sua relevância na aprendizagem de
matérias tão diversas que vão desde a matemática à biologia, à
filosofia, à literatura e à aprendizagem das línguas, entre elas o
inglês e o alemão. Em Portugal segue-se o caminho oposto.
Aos
poucos, a aprendizagem do latim tem vindo a morrer, sendo vários os
factores que estão na génese desta lenta agonia; os principais são a
ignorância e o desconhecimento da importância desta língua por parte de
quem decide. Num país onde se aplica um acordo ortográfico que renega a
matriz do português, não é de espantar que se olhe para o latim como uma
língua menor.
A recentíssima proposta de formação de professores
de Português que divide a formação de professores da língua materna em
duas opções – Português e Português/Latim – é a machadada final da morte
há muito anunciada. Com o actual estado do ensino do Latim, onde o
número de alunos escasseia, a escolha por parte dos futuros docentes da
vertente da formação de professores de Português/Latim será ínfima e,
num país onde não há alunos, deixará muito em breve de haver
professores.
Alguns países, nomeadamente a Inglaterra e a
Alemanha, iniciam o ensino do Latim a partir do 5.º ano de escolaridade,
por considerarem que a aprendizagem desta língua deve ter lugar o mais
precocemente possível. Em Portugal, os alunos portugueses só podem
estudar Latim a partir do 10.º ano, e, atenção, é uma disciplina
opcional de um leque que engloba a Geografia, algumas línguas modernas e
a Literatura Portuguesa, destinando-se somente aos alunos dos cursos de
humanidades, restringindo o acesso aos alunos de ciências. Questão:
terão os alunos portugueses capacidades inferiores aos alunos alemães e
ingleses para não conseguirem aprender Latim a partir do 5.º ano? Qual a
razão fundamentada para impedir o acesso dos alunos de ciências à
aprendizagem de uma língua na qual quase todo o universo científico,
desde a biologia à medicina, à própria tecnologia, tem a sua génese?
Será
possível que ninguém queira aprender Latim em Portugal? Que nenhum
aluno se interesse pelo mundo antigo e pelas histórias que percorrem a
arqueologia da humanidade? Que os jovens portugueses sejam tão
diferentes dos seus congéneres europeus? Há verdadeiramente interesse,
por parte de quem decide, que a situação mude? Já alguém, que tenha
poder decisório, tentou averiguar honestamente e sem cair em
lugares-comuns o que se passa com o ensino do Latim em Portugal?
Na
Escola Secundária de Pedro Nunes e na Escola Secundária de Passos
Manuel, em Lisboa, os seus directores decidiram que nas suas escolas o
Latim não morreria! Consequentemente, os alunos de todas as áreas,
humanidades, artes, ciências e de todos os ciclos, desde o 7.º ano ao
12.º ano, têm acesso a um curso livre de Latim. E a verdade é que há
dois grupos de alunos na Escola Secundária de Pedro Nunes, um de 3.º
ciclo e outro de secundário, sendo que um deles já se encontra no 2.º
ano de Latim. O Liceu Passos Manuel abriu o curso este ano lectivo e já
conta com três grupos, um de 3.º ciclo e dois de secundário, sendo, no
secundário, a maioria dos alunos de ciências. A metodologia aplicada foi
desenvolvida pela Universidade de Cambridge e o seu sucesso leva a crer
que o problema reside muito mais no modo como esta língua tem sido
ensinada do que nela mesma. É de salientar que estes cursos são de
frequência livre e a taxa de absentismo é quase nula.
Afinal, em
que ficamos? Onde reside a origem do problema? Não há alunos
interessados em aprender Latim ou não há interesse em que os alunos o
aprendam?
Susana Marta Pereira
Susana Marta Pereira
Professora de Português e Latim"
in http://www.publico.pt/cultura/noticia/portugal-e-o-latim
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